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a boa-fé nas relações de trabalho

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Project Study Paper
A Discussion of the Legal Principle of Good Faith in Contract Law and Its Connection to European Union Law
Submitted by: Lucianne Keijok Spitz Costa
Course: LLM03c_Brazil
Instructor: Prof. Dr. Arnold Rainer
Closing date: May 22, 2018.
A Discussion of the Legal Principle of Good Faith in Contract Law and Its Connection to European Union Law
TABLE OF CONTENTS
1. Introdução									3
2. Direitos Fundamentais							5
2.1 Conceito e história dos Direitos Fundamentais			5
2.2 Eficácia vertical e horizontal da boa-fé				6
3. O princípio da boa-fé objetiva						8
3.1 A história da Boa-fé							8
3.2 O conceito de boa-fé objetiva e suas vertentes			9
3.3 A boa-fé objetiva e suas funções 					10
3.4 A boa-fé contratual							12
4. Relações de Trabalho							15
4.1 Conceito									15
4.2 As modalidades das relações de trabalho				16
5. Conclusão 									19
6. Referencias 								21
1. INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 trouxe para todo o nosso ordenamento jurídico que a dignidade da pessoa humana fosse vista como a base para a criação de todas as leis, inclusive ela própria. Ou seja, esse princípio passou a ser considerado assim, como clausula geral em se tratando da efetivação dos direitos fundamentais. 
Atualmente, vemos que a dignidade da pessoa humana tem dois fundamentos importantes, que são eles: ele tem como objetivo a garantia jurídica necessária para a existência digna da pessoa, transformando-se assim em norma fundamental para toda a sociedade, e também, também é vista como uma garantidora direta para o futuro da sociedade.
Através da inclusão dos princípios norteadores da dignidade da pessoa humana na criação da Constituição Federal de 1988 afastou da mesma a ideia de que seria uma manifestação conceitual jusnaturalista, ou seja, esse princípio acabou trazendo para a Constituição Federal a imagem de que as expectativas sociais estavam sendo controladas e observadas a todo o momento. 
De acordo com Sarlet:
“a qualificação da dignidade da pessoa humana como princípio fundamental traduz a certeza de que o artigo 1º, inc. III, de nossa Lei Fundamental não contém apenas uma declaração de conteúdo ético e moral (que ela, em última análise, não deixa de ter), mas que constitui norma jurídico-positiva com status constitucional e, como tal, dotada de eficácia, transformando-se de tal sorte, para além da dimensão ética já apontada, em valor jurídico fundamental da comunidade[footnoteRef:1]”. [1: SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 5. ed., rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 111-112.] 
Dessa forma, é inegável que a dignidade da pessoa humana tem um grande valor para as relações jurídicas, principalmente quando falamos a respeito de contratações para prestações de serviços, ou seja, se tratando de mercado de trabalho. 
Neste estudo, iremos ver além da problemática definição conceitual da dignidade da pessoa humana, restará claro que este princípio tem uma ligação forte com a proteção jurídica do trabalhador e automaticamente a garantia dessa tutela para os mesmos.
É fato que existe uma ligação quando falamos de garantia da integridade do trabalhador e da dignidade da pessoa humana, e é a partir desse ponto que realizaremos nossos estudos, apresentando em até que ponto eles se relacionam.
Quando falamos de contratos, é necessário que abordemos a atuação do principio da boa-fé, pois, é através dele que vemos o dever de agir legalmente de ambas as partes, dentro dos limites de confiança, inclusive quando falamos de relação de emprego.
Por exemplo, cabe a ambas as partes envolvidas no contrato laboral o dever de informar, ou seja, tanto o contratante deve informar as condições de serviço, regras, deveres e etc, quanto ao do contratado de responder questionários no momento das entrevistas, onde acabam por se expor de maneira que pode gerar prejuízo a si próprio. 
É comum que acabamos por ver um embate quando falamos do principio da dignidade humana e o dever de informar encontrado no princípio da boa-fé, já que, o dever de informar pode, no momento da realização de testes de aptidão para o cargo, colocar o candidato em uma situação embaraçosa, como por exemplo, orientação sexual, religião, que podem com muita facilidade gerar uma interpretação equivocada.
É por isso que é tão importante hoje em dia que o instituto da boa-fé objetiva, deve ser visto como um ponto fundamental quando falamos da importância na modernização e atualização dos contratos laborais mais recentes.
Por muito tempo, a boa-fé objetiva foi negligenciada pelo nosso ordenamento jurídico, e só passou a ser visto em nosso sistema legal ao final da década de XX, com a divulgação do Código de Defesa do Consumidor, porém, até hoje, nossas legislações vigentes ainda não trataram explicitamente do mesmo.
Isso explica o porquê é tão importante que todos esses assuntos sejam tratados em conjunto, já que é clara a necessidade de que eles se complementem entre si, e deixem de colidirem, e também, focando na proteção ao trabalhador, sendo esse o maior desafio encontrado no atual direito trabalhista.
2. Direitos Fundamentais
2.1 Conceito e história dos Direitos Fundamentais
A partir dos entendimentos de Miguel Reale, que escreveu em sua obra editada pela Editora Saraiva “Nova Fase do Direito Moderno”, que constatou que no direito moderno existiram três fases, a primeira, que foi denominada de liberalismo jurídico e do Estado Liberal, e a segunda fase, que nos interessa nesse momento, chamada de o Estado do Bem Estar social.
Na segunda metade do século XIX, que ocorreu o surgimento da segunda fase do direito moderno, ou seja, o direito social, que trouxe a sociedade o constitucionalismo social, onde, as constituições passaram a tratar em seu texto, partes específicas relacionadas aos direitos trabalhistas.
O constitucionalismo social passou a ser visto a partir da Constituição Francesa criada no ano de 1848, foi vista também, algumas décadas depois, mais especificamente no ano de 1917 na Constituição Mexicana, e também em 1919 na Constituição de Weimar. 
No Brasil, o constitucionalismo social passou a ser visto a partir da Constituição Federal de 1934, onde tratou de consagrar os direitos trabalhistas como princípios programáticos, ou seja, não existia eficácia imediata.
A universalização dos Direitos Humanos virou um fenômeno, e com a chegada do mesmo, principalmente após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, criada no ano de 1948, trouxe consigo outro fenômeno jurídico, que passou a ser conhecido como o da internalização dos direitos humanos nos textos constitucionais direitos fundamentais.
E a partir dai, os direitos humanos passou a ser tratado em alguns países como direitos fundamentais, como por exemplo, a Constituição alemã criada em 1949, a portuguesa em 1976m a espanhola em 1978 e também a brasileira no ano de 1988.
 A partir dos entendimentos pós-positivista de Alexy[footnoteRef:2] e Dworkin[footnoteRef:3], os direitos fundamentais, de primeira geração (direitos da cidadania), de segunda geração (direitos econômicos, sociais e trabalhistas) e os de terceira geração (direitos de solidariedade e da fraternidade) são considerados pela constituição como princípios normativos, terão sua aplicação conforme previsto pelos artigos 18, I da Constituição da República Portuguesa e 5º, parágrafo 1º da Constituição da República Federativa do Brasil. [2: ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Título original: Theorie der Grundrechte. Traduzido por: Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.] [3: DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. Tradução Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.] 
2.2 Eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais
Para começar, temos a eficácia vertical dos direitos fundamentais, na qual esta relacionada às entidades publica, ou seja, na qual abrange os órgãos do executivo, legislativo e judiciário.
No começo, as entidades do poder publico, deveriam respeitar os direitosda cidadania, ou seja, a dimensão dos direitos fundamentais era tida como subjetivas. Com o passar do tempo, os órgãos públicos passaram a ter uma conexão positiva em relação os direitos fundamentais, ou seja, eles passaram a ter como base a defesa e a agir de acordo com o fundamento desses princípios, respeitando-o. Ou seja, a prestação de serviços públicos passou a ser focado nos direitos sociais em se tratando de saúde, segurança publica, educação, habitação e etc.
O Tribunal Federal do Trabalho alemão, trouxe no ano de 1954, através do relator o jus-laboralista Hans Carl Nipperdey, adotou a Drittwirkung, a igualdade salarial entre homem e mulheres que exerciam as mesmas funções nas empresas, trazendo assim, a vinculação dos particulares aos direitos fundamentais.
Também na Alemanha, em 1954, o caso Lüth ganhou visibilidade, onde, tratou da liberdade de expressão, esta passou vista como a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, ou seja, os valores passados por esses, são enraizados por todo ordenamento jurídico, chegando a todas as dimensões da vida social.
A questão levantada por estudiosos é quanto à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, onde consiste a duvida se a mesma se da de forma mediata e indireta ou de forma imediata e direta.
Aqueles que defendem esta última veem a necessidade de lembrar que para eles, é necessária a proteção do principio da dignidade da pessoa humana como determina o art. 1º, III, da Constituição Federal, já que, ele é considerado como o principio fundamental para a criação das leis brasileiras.
Aqueles que defendem a linha mediata e indireta acreditam que deva ser preservada a liberdade nas relações privadas, e também alertam para a importância que o poder judiciário tem em relação à regulamentação dos direitos constitucionais, já que, é através dele que é feito o intermédio de ambos.
A aplicação das clausulas gerais da boa-fé objetiva e os seus direitos anexos devem ser observadas de acordo com a aplicação dos direitos fundamentais existentes nas relações privadas. As clausulas gerais são de ordem pública, sendo encontradas no art. 2035 do Código Civil Brasileiro, na qual, deixa a cargo do juiz a aplicação dos mesmos nos casos concretos, inclusive, criando uma exceção ao princípio da congruência, na qual a decisão não seja tida como extra ou ultra petita. 
3. O princípio da boa-fé objetiva
3.1 A história da boa-fé
Como sabemos, a boa-fé acompanha o homem desde as primeiras ideias e manifestações do Direito. A boa-fé na antiguidade romana era imposta a todos, de forma que se exigia o uso da mesma para todas as relações pessoais possíveis.
Esse princípio, na Roma antiga passou a ser visto através do respeito demonstrado pelos cidadãos de forma que acabassem por criar todo um sistema comportamental. 
As primeiras demonstrações da fides foi encontrada na caracterização do instituto da posse, na qual, era necessário o uso da mesma para solucionar casos de usucapião, assim como herdou da época da antiguidade em Roma. Essa demonstração caracteriza a boa-fé subjetiva, e ao longo dos anos, essa mesma vertente se expandiu, até que chegou ao campo negocial, o seja, era usado para firmar as manifestações de vontade de ambas as partes.
A fides passou a versar sobre a equidade no momento em que Roma invadiu a Grécia, onde a mesma passou a ser baseada em valores morais, partindo do princípio de conduta do sujeito, fazendo assim, com que perdesse o sentido da boa-fé.
No período da Idade Média, a boa-fé era encontrada apenas no direito Canônico, de forma subjetiva, passando assim, por esquecimento quase total em outros locais[footnoteRef:4]. [4: ARAÚJO, Francisco Rossal de. A boa-fé no contrato de emprego. São Paulo: LTr, 1996, p. 26.] 
E foi através do Corpus Juris Civilis que a fides voltou a ser lembrada, sendo assim, retirado das sombras na qual passou por um bom tempo. Mesmo assim, o instituto da boa-fé só era visto através de sua vertente subjetiva, e só mudou de figura através da Escola Pandectista. 
Apesar disso, a bona fides clássica passou a ter um significado diferente da que até então tinham sido atribuídos, e isso trouxe para as mesmas consequências consideráveis que posteriormente seriam lembrados pelo Direito. 
O ocidente passou a trazer para sua sociedade as ideias liberais e individualistas trazidas como consequência da Revolução Francesa, que nesse momento, já ocorria. E então, a bona fides caiu novamente no esquecimento, já que, a autonomia de vontade passou a ser um principio, e assim, ganhou espaço nas atividades negociais ao redor do mundo. 
Por isso, que no século XIX e em parte do século XX, a boa-fé pouco foi vista e mencionada por textos legais e doutrinárias, onde quase não se existiu nenhum avanço nos estudos, pelo contrario, ocorreu um desenvolvimento precário a respeito da mesma.
E então, a boa-fé só passou a ser lembrada recentemente, onde, o mundo contemporâneo criado após a Nova Revolução Industrial voltou a falar e legislar sobre esse princípio. 
No Brasil, o tratamento dado para esse princípio foi encontrado no Código de Defesa do Consumidor, e posteriormente, no Novo Código Civil, onde, tem por objetivo, concretizar os desejos sociais em se tratando de atividades contratuais.
Porém, apesar o princípio da boa-fé já ser encontrado em alguns pontos de nossa legislação, no que se refere ao âmbito trabalhista, a mesma ainda permanece omissa, o que acaba que por trazer duvidas e até mesmo prejuízos para nossa sociedade.
2.2 O conceito de boa-fé objetiva e suas vertentes
A boa-fé não possui um significado especifico, ou seja, não se tem como conceituar a mesma, e de certa forma, com essa característica de incapacidade de preenchimento e conteúdo da mesma, pois, esse é o objetivo do mesmo, ou seja, integrar as relações jurídicas. A bona fides tem valor supralegal, que parte do principio motivador do mesmo, visando as atividades intrapessoais e julga essas atividades, ou seja, ela não deve ser entendida como algo essencial ao sentimento da sociedade.
Como visto anteriormente, a boa-fé tem duas vertentes, a subjetiva, que versa sobre princípios próprios, ou seja, da própria consciência do individuo do que é certo ou errado em se tratando do direito, e a objetiva, que junta os valores e princípios de toda a sociedade, que a partir dai, visualizam e estudam todas as relações sociais.
A partir dai, vemos que para as relações contratuais trabalhistas, a vertente que importa é a boa-fé objetiva, na qual, o direito pode firmar uma conduta correta entre as partes interessadas. Também pelo fato desse principio na forma objetiva, traz uma ideia geral de justiça encontrada na sociedade, que julga as situações mais adequadas encontradas nas relações sociais e situações do cotidiano.
2.3 A boa-fé objetiva e suas funções
A boa-fé objetiva possui três funções essenciais, são elas: a de cânone hermenêutico-integrativo, a de norma ditadora dos deveres jurídicos entre as partes e a de norma limitadora dos direitos subjetivos.
De acordo com Judith:
 “a potencialidade da boa-fé objetiva para atuar não como um vago cânone de ordem ética, um standard de cunho moral impreciso e incerto, mas como verdadeiro elemento de identificação da função econômico-social efetivamente perseguida pelo contrato”[footnoteRef:5]. [5: Martins-Costa, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999; 2ª tiragem, 2000, p. 418.] 
A função de cânone hermenêutico-integrativo é a mais conhecida das funções do princípio da boa-fé. A mesma se subdivide em duas vertentes, a que defende ser a boa-fé o fator essencial e competente para preencher as brechas existentes nas mais diversas relações contratuais, e a outra que se posiciona no sentido que a bona fides está presente nas relações contratuais sem o consentimento e vontade das partes, não sendo o uso da mesma opcional.
A segunda função da boa-fé age no sentido de determinar o comportamento que as partes devem adotar no momento da realização contratual, ou seja,ela quem cria os deveres jurídicos para esse momento, ou seja, a parte contratante e contratada deverá adotar uma postura ética e moral para a realização de tal negócio jurídico, independente de sua vontade, como pena de desfazimento contratual. Assim, as partes contratantes acabam tendo o conhecimento dos direitos e deveres impostos a elas com cada contrato, resguardando-os do cumprimento de tais atos, mas, sempre de acordo com a finalidade econômico-social que serão impostas não somente pelas partes, mas também pela sociedade.
Na terceira função da bona fides acaba sendo uma consequência lógica da segunda, que limita as partes o exercício de direitos subjetivos, ou seja, no momento da criação do contrato, também se cria a limitação dos direitos das partes, e a mesma veda qualquer ato que contrarie o exercício contratual que ocorre sem lealdade.
Conforme observamos até o momento, a ligação existente entre o princípio da boa-fé e a dignidade da pessoa humana é grande, pois, juntas, elas demostram a necessidade e importância da existência das mesmas nos contratos trabalhistas, de forma que traga para esses contratos, das duas partes, atitudes honestas e de lealdade.
Além das funções essenciais da boa-fé vistas anteriormente, também temos o direito de informar, que se faz necessária para firmar a integridade de ambas as partes no momento dos contratos.
Nos contratos trabalhistas, o nosso estudo parte para o dever de informar no momento precontratual, quando começa os primeiros contatos entre empregador e futuro empregado. É nesse momento em que o empregador tem de expor sua necessidade, as regras entre outras coisas e que cabe ao candidato e vaga indicar suas qualidades, capacidades e também suas dificuldades, para melhor atender as finalidades pretendidas.
2.4 A boa-fé contratual
As primeiras teorias contratuais foram baseadas na civilização clássica grega, que não relacionava os mesmos a exigências humanas, e sim, acreditava-se que esse sistema deveria ser subordinado a uma ordem maior. Não era possível existir uma decisão individual nas contratações, não existia na época a liberdade individual, apenas quanto a status politico. 
O que se sabia sobre os contratos, era vistos nas atividades dos cidadãos que gozavam de liberdade, e, aproveitavam o tempo para voltar a sua atenção em estudos filosóficos do homem.
Em todo o período da Idade Média, com orientação da Igreja Católica, a atividade negocial por dispensada no que se tangia ao crescimento e evolução das sociedades, construindo-se assim um dogma sobre esse quesito.
Apenas na Revolução Francesa e seus ideais filosóficos que o ato contratual passou a ser visto com liberdade, porém, essa liberdade contratual veio como forma de favorecer a burguesia para que a mesma pudesse expandir sua mão de obra visando o aumento de sua produção. 
No período do Iluminismo, a sociedade passou a reagir contra as autoridades que se posicionasse apenas como tal, sem nenhuma preocupação em observar para o conteúdo que aquela posição lhe trazia, e dessa forma, os argumentos de conduta, passaram a ser fundamentados desde então, o que passou a ser visto como reação da razão ao dogma.
Desde então, a ideia de ampla liberdade foi construída e só assim as doutrinas conseguiram estudar e prosperar. Porém, quando tratamos de matéria contratual, não se é possível falar de liberdade irrestrita, ou seja, o liberalismo não conseguiu concretizar suas intenções. 
E não demorou muito para que as instruções do filósofo Protágoras, que acreditava que o único fundamento das leis é o poder dos mais fortes, e assim, os trabalhadores que passaram serem afastados dos meios de produção, começaram a laborar em condições desumanas e precárias. Dessa forma, o comercio que nesse momento já havia sido monopolizado por alguns, trouxe ainda mais as diferenças de classes sociais, e consequentemente trouxe para os grandes latifúndios o êxodo rural.
Essa filosofia liberal atingiu limites em todo o planeta, o que desencadeou a Revolução Industrial, que trouxe para as atividades laborais, um desrespeito enorme a dignidade daqueles trabalhadores.
 “Autonomia da vontade, liberdade individual e propriedade privada transmigraram dos fundamentos teóricos e ideológicos do Estado Liberal para os princípios de Direito, com pretensão de universalidade e intemporalidade”[footnoteRef:6]. [6: LÔBO, Paulo Luiz Netto. Contrato e Mudança Social, p. 41.] 
Então, com essa ideia de poder ao individuo de criar e seguir suas próprias leis trouxe para a sociedade atos abusivos baseados nas ideias de liberdade que ele próprio admitia, e nesse tempo, era um absurdo se falar em regras trabalhistas. 
Ate hoje, para alguns, o Direito do Trabalho é considerado excessivamente oneroso diante de uma sociedade que visa crescer economicamente e ao mesmo tempo garantir condições mínimas aos trabalhadores.
 Diante do novo contexto sociológico relacionado aos contratos, uma característica nova lhe foi atribuída, a de refletora do antagonismo nas classes sociais, já que, é necessário que cada classe tenha seus sentimentos e ideologias próprias, conforme vemos diariamente ocorrendo entre patrões e empregados entre outras formas de contrato.
As classes sociais não se misturam mais, criando a característica em toda uma sociedade de heterogeneidade, com a tecnologia trazida para a produção, e consequentemente a massificação criada pelas novas técnicas de produção, trouxe para a imagem da pessoa humana uma característica de universalidade, isso acabou prejudicando traços personalizados dos indivíduos. 
Não resta duvidas de que a despersonalização de fato aconteceu, porem, ela se concentrou apenas no âmbito interno das classes sociais, de forma que, a distancia entre essas classes ficam cada vez maior quando somados com traços de semelhança entre os participes das mesmas.
Ocorre que, desde os ideais da Revolução Francesa, até os tempos do socialismo e do capitalismo, a realidade de classes sociais antagônicas foi vistas com descaso total, e então, criou-se um modelo de contrato que vigorava por toda legislação ocidental, e por ser o mesmo criado sob a face da autonomia da vontade individual não visava os interesses coletivos, tornando-se assim, completamente inadequado.
Para que as novas formas de contratação sejam protegidas, é necessário que se haja o reconhecimento das lutas de classes que existem entre elas, e deixar que os contratos ocorram de forma que exista a preocupação da função social que essas atividades trazem pata as classes sociais, de acordo com as disposições do art 421 do Código Civil. 
Os interesses necessitados de visualização no momento dos contratos são os encontrados na expectativa caracterizadora dos mais diversos grupos sociais existente, na qual, os indivíduos haja sempre baseados na boa-fé. 
4. Relações de trabalho 
4.1 Conceito
O conceito de relação de trabalho não pode ser limitado, pois, o fundamento deste conceito se da na pessoa do empregado, para qualquer que seja a modalidade de serviço na qual for prestado. 
O professor acrescenta sobre a relação de trabalho:
 “De todos os contratos de atividade, somente o de emprego é trabalhista. Entretanto, todos eles têm por sujeito a pessoa do trabalhador, não mais apenas a do empregado, o que mostra a realidade de que o novo critério da determinação da competência passou a ter seu centro, ou eixo, na pessoa do trabalhador, o qual atrai para si toda matéria de suas relações possíveis, seja ela trabalhista (quando o trabalhador é empregado) ou cível (quando o trabalhador não é empregado)”[footnoteRef:7] [7: “A Emenda Constitucional nº 45/2004 e a Justiça do Trabalho”. In Revista LTr, São Paulo, nº 05/09, p. 525.] 
A relação de trabalho é o vinculo que o trabalhador cria com uma pessoa física ou jurídica na qual irá remunera-lo pelos serviços prestados, correspondendo assim ao vinculo jurídico estipulado, seja ele de forma expressa ou tacitamente. Ou seja, a relação de trabalho cria o vinculo entre duas pessoas, onde o sujeito da obrigação é uma pessoa física ea outra parte tem o direito subjetivo de exigir o trabalho na qual contratou o outro. Os trabalhadores autônomos se diferenciam dos empregados de forma que eles mesmos assumem os riscos da atividade profissional que exercem.
Para Sergio Pinto Martins “o prestador de serviços será necessariamente uma pessoa física e o tomador dos serviços uma pessoa física ou jurídica”, restando claro que a subordinação na qual vivencia o trabalhador nessas “não existe na relação do trabalhador autônomo com o tomador dos serviços”.
As grandes maiorias dos contratos de prestação de serviço exigem a pessoalidade, porém, para a configuração da relação de emprego, é de suma importância que seja especificado a direção na qual a prestação pessoal de serviços contratados deve seguir. Mas, ainda assim, o mais importante fator é a aceitação dos riscos inerentes daquela atividade.
De acordo com Renato Corrado:
“A noção de subordinação, pela generalidade de sua concepção e pela multiplicidade que assume na linguagem técnica, não pode ser de muita ajuda para a definição do contrato de trabalho, se não esclarecer o sentido específico que se lhe pretenda atribuir”[footnoteRef:8]. [8: MARTINS, Sergio Pinto. Elementos para a caracterização do trabalho. InSuplemento Trabalhista. In Revista LTr. São Paulo: LTr, n. 78, 2005, p. 345.] 
Não é valido que o empregado assuma riscos quanto ao negocio em uma relação de contrato de trabalho, ou seja, os riscos gerados pela atividade que empreende cabem única e exclusivamente ao contratante conforme nosso ordenamento jurídico.
	Segundo Jean-Claude Javillier, “no regime capitalista o empregador assume todo o risco econômico. O empregado, nenhum. A subordinação é, portanto, o reflexo dessa relação de produção”[footnoteRef:9]. [9: CORRADO, Renato. Tratado di diritto del lavoro. Turim: Uted, 1966, v. 1, p. 246. ] 
Os trabalhadores autônomos se diferenciam do empregado pois eles além de executarem o próprio trabalho, também assumem os riscos das atividades que eles executam, utilizando de sua força de trabalho para beneficio próprio, conforme veremos a seguir:
 “Trabalhador autônomo é aquele que exerce habitualmente, e por conta própria, atividade profissional remunerada.” (art. 4º, alínea c, da Lei nº 5.890/1973)[footnoteRef:10] [10: Manual de droit du travail. Paris: LGDJ, 1978, p. 50.] 
4.2 As modalidades das relações de trabalho
A primeira modalidade que veremos são os contratos de empreitadas, onde o “locador de serviços obriga-se a fazer ou mandar fazer certa obra, mediante retribuição determinada ou proporcional ao trabalho executado”[footnoteRef:11]. Dessa forma, o pagamento para esses tipos de contratos são acordados anteriormente determinados pelo serviço a ser realizado, onde quem irá executar é o próprio empreiteiro ou alguém na qual o mesmo contratou, e os materiais a serem utilizado serão de responsabilidade dele ou do contratante, a ser firmado no momento do contrato. [11: BEVILACQUA, Clóvis. Direito das obrigações. 3.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1931, p. 351.] 
Em nosso código Civil, as empreitadas estão regulamentadas nos art. 610 a 626, é válido ressaltar que nesses contratos, a má realização dos serviços e a qualidade do material utilizado é de responsabilidade do empreiteiro, desde que, esse forneça os mesmos. Se o empreiteiro só é contratado para realização de mão de obra, os riscos da atividade não caem sobre ele, sendo inteiramente do contratante.
Nos casos de locação de serviços, tanto de pessoas jurídicas ou físicas, é uma situação delicada, pois tem sido muito utilizada para que haja fraude na aplicação da legislação social-trabalhista, por isso, deve ser visualizada com muito cuidado.
Nesses casos, é importante que a atividade na qual fora contratada para exercer, não seja atividades permanentes ao empreendimento econômico contratante, e também, que o contratado seja profissionais especializados, podemos citar como exemplo dessa contratação os vigilantes, higienização desses locais entre outros. Essa modalidade só é possível nas hipóteses de trabalho temporário que determina a lei nº 6.019/1974.
Na modalidade de representantes comerciais, são aqueles que executam a venda dos produtos na quais representam, fazem o pedido ao representado e para concluir a operação, aguarda a decisão da empresa representada. 
Sabemos que nem os mandatários, nem os agentes comerciais e nem os representantes comerciais são empregados, porém, a proteção do direito trabalhista, pode criar uma confusão perante aos conceitos juridicamente distintos dos mesmos.
Os representantes comerciais autônomos tem uma lei própria para regulamentar a suas atividades, sendo ela a lei nº 4.886, de 9.11.1965, e por isso, é necessário deixar claro que ocorrem mesmo nessa modalidade de trabalho a subordinação. A exclusividade desse cargo a favor do representado, está elencada no art. 27, alínea i da lei citada acima.
De acordo com Orlando Gomes, 
“um ato jurídico unilateral, que não se vincula necessariamente ao mandato e, mais do que isso, que tem existência independentemente da relação jurídica estabelecida entre quem o atribui e quem o recebe”[footnoteRef:12]. [12: GOMES, Orlando. Contratos. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 423.] 
Um empregador pode conferir a um contratado a função de representação, porém, esses mesmos passam a ter a visão de cargos de direção, sendo assim, visto como cargo de confiança da empresa, atribuindo a esse trabalhador as exigências e vantagens desse cargo.
Tanto como a representação comercial, o cargo de corretor de imóveis se encontra regulamentado através de lei especifica, sendo ela a lei nº 6.530, de 12.5.1978, que dispõe:
“Compete ao corretor de imóveis exercer a intermediação na compra, venda, permuta e locação de imóveis, podendo, ainda, opinar quanto à comercialização imobiliária”[footnoteRef:13]. [13: Lei 6.530 de 12 de Maio de 1978] 
A função de corretor, pode ser exercida por pessoa física como também por jurídica conforme dispõe o parágrafo único do art. 3º da lei, e que traz consigo a autonomia e independência dos mesmos. Porém, existem casos que o trabalhador corretor segue com o serviço exatamente com as mesmas características das relações de emprego, e nesses casos, existe uma simulação de fraude em lei, pois, não existem contratos de corretagem.
CONCLUSÃO
Em virtude da hipossuficiência econômica do trabalhador, a tutela dos trabalhadores torna incontestável a edição de leis voltadas à proteção dos contratantes com menor poder econômico. Em tempos de retórica neoliberal, não tornou esta uma conquista fácil.
“No caso do Brasil, as poucas mudanças realizadas no campo trabalhista atrelaram o destino dos excluídos à vontade dos incluídos e aos respectivos representantes dos grupos de pressão. Resultado: elas ajudaram muito pouco os que mais precisavam delas”[footnoteRef:14]. [14: PASTORE, José. Patamares Mínimos de Proteção no Novo Mundo do Trabalho, , REVISTA DO Tribunal Superior do Trabalho. Porto Alegre: Síntese, v. 66, n. 1, jan./mar. 2000. 382 p. pg. 86.] 
Nesse sentido, podemos verificar que a boa-fé, apesar de não estar descrita expressamente na legislação brasileira, é importante a sua utilização no momento da contratação de emprego, pois ela, como instituto jurídico, traduz os interesses sociais, visualizando sempre a conduta utilizada pelas partes contratantes para que ocorra tudo conforme a dignidade da pessoa humana, e trazendo para as relações negociais, os valores impostos pela própria sociedade.
Para as relações negociais atuais, não podemos pensar apenas nas formas e estruturas. Nos contratos firmados na contemporaneidade passaram a visar à proteção do trabalhador além de seguir o raciocínio constitucional de dignidade da pessoa humana. O modelo tradicional de contrato se tornou com o passar do tempo, um obstáculo para as mudanças sociais e a proteção do direito do trabalhador.
Conforme vimos anteriormente, as nossas leis trabalhistas não lidam com a boa-fé como principio, e muito menos como clausula geral de contratação.A Consolidação das Leis Trabalhistas, não possui em seu corpo uma “norma expressa a respeito da atuação do princípio da boa-fé”[footnoteRef:15]. [15: ARAÚJO, Francisco Rossal de. A Boa-fé no Contrato de Emprego, São Paulo, LTr, p. 235.] 
Não tem como negar que a boa-fé trouxe uma grande contribuição para a realização do principio da proteção, que está elencado e reconhecido como fundamento das leis trabalhistas, inclusive, contribuindo também com a dignidade da pessoa humana.
Uma das melhores contribuições feitas pela boa-fé, está no sentido de oferecer aos trabalhadores maiores condições de caracterizar o abuso de poder econômico vindo do empregador, mostrando com maior clareza o abuso das clausulas e condições contratuais, além de que, mostra também, a existência de procedimentos discriminatórios. 
A boa-fé vivenciada nas relações trabalhistas acaba que por obrigar o empregador deixar claras e inequívocas todas as informações necessárias para a realização das atividades pela qual o empregado foi contratado, além do desenvolvimento destas atividades.
Porém, a aplicação da bona fides não tira do trabalhador o direito de que informações atentatórias a sua dignidade sejam resguardadas, podendo até mesmo serem escondidas pelo mesmo, ou seja, atendendo ao comando do principio da dignidade humana.
Alguns estudiosos afirmam que através dessas novas regras de proteção ao trabalhador que não coincidem com o estado atual de interesses e economia. Porém, não podemos aceitar que essa assertiva prospere em uma sociedade que preferiu a dignidade da pessoa humana e a proteção do trabalhador como alicerce de sua organização.
Além disso, nunca é demais falar em proteções das mais diversas em um país que se vê rodeado de problemas sociais, sendo praticamente necessária a criação desses novos sistemas de proteção.
 “A criação de novas instituições de proteção é urgente também para a manutenção da coesão social. Pelo fato de os seres humanos valorizarem a segurança e a previsibilidade, eles estão sempre prontos a aderir à sociedade que oferece instituições que desempenham bem essas funções. Ao se verem desamparados, eles se tornam inseguros e frustrados, o que compromete severamente a coesão social”[footnoteRef:16]. [16: PASTORE, José. Patamares Mínimos de Proteção no Novo Mundo do Trabalho, REVISTA DO Tribunal Superior do Trabalho. Porto Alegre: Síntese, v. 66, n. 1, jan./mar. 2000. 382 p. pg. 81-82.] 
	Com a necessidade social de segurança, sem a criação dessas normas de proteção, a mesma passa a se sentir inseguras, o que faz ocorrer o comprometimento da coesão social.
REFERÊNCIAS
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81-82.
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