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Manejo do potencial doardor- Medicina de Emergência

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MANEJO DO POTENCIAL DOADOR
O manejo e cuidado do potencial doador é es-
sencial tanto na unidade de terapia intensiva quan-
to na sala de emergência para maximizar a função 
dos órgãos com potencial de transplante. Etapas 
importantes: diagnóstico correto da morte encefá-
lica (ME), identificação do potencial doador pela 
equipe da OPO e avaliação dos critérios de elegibi-
lidade, além do apoio familiar e entrevista. 
A ME induz importantes alterações metabóli-
cas, hormonais e hemodinâmicas, que devem ser 
adequadamente tratadas para evitar o colapso cir-
a) Ventilação mecânica: recomenda-se ventilação de proteção pulmonar com volume entre 6 e 8 mL/kg de peso 
corporal previsto e PEEP de 8-10 cm H 2O, com ajuste da FiO2 e PEEP para obter SaO2 > 90% ou PaO2 > 90 mmHg 
(baixo nível de evidência, forte recomendação).
O uso de ventilação protetora pulmonar em pulmões normais e o teste de apneia com CPAP têm sido relacionados a 
maior elegibilidade para doação de pulmão, embora cerca de 30-45% dos potenciais doadores desenvolvam 
síndrome do desconforto respiratório agudo. Manobras de recrutamento alveolar não devem ser realizadas 
rotineiramente, pois nenhum estudo randomizado demonstrou benefício nesses casos. 
b) Suporte hemodinâmico: 
Expansão volêmica: após a tempestade simpática, ocorrem períodos de hipotensão que são atribuídos a múltiplos 
fatores, tais como hipovolemia, disfunção cardíaca e vasodilatação. O manejo inicial requer a administração de fluidos 
para manter um volume circulante adequado, objetivando a normovolemia. Em pacientes instáveis com hipovolemia ou 
fluidorresponsíveis, é recomendada expansão de volume inicial com 30 mL/kg de cristaloide. Avaliar a resposta ao fluido 
e após estabilidade manter balanço hídrico neutro ou negativo após atingir (considerado como boa prática clínica). 
Vasopressor: permanência da hipotensão (PAM < 60 mmHg) após a reposição hídrica adequada, recomenda-se a 
infusão de baixa dose de vasopressina, que é eficaz no tratamento do choque distributivo e na redução da necessidade 
de catecolaminas para suporte pressórico, além de tratar diabetes insipidus, se presente. O uso de vasopressina está 
associado a um aumento da taxa de recuperação de órgãos. A dose infundida pode variar entre 0,01 e 0,1 U/min. 
Para hipotensão persistente, o próximo passo é determinar se é devido à baixa resistência vascular sistêmica ou 
disfunção miocárdica. O uso do ultrassom point-of-care é útil nesses casos. Se houver sinais de disfunção miocárdica, é 
recomendada a adição de ionotrópicos, tais como dopamina, dobutamina ou epinefrina. Agora, se não houver disfunção 
miocárdica, recomenda-se a associação de norepinefrina para manter PAM > 65 mmHg (Figura 1).
c) Manejo endócrino-metabólico:
	� Diabetes insípido: no contexto da morte encefálica, a hipófise é comprimida no momento da herniação cerebral, 
potencialmente levando ao desenvolvimento de diabetes insipidus (DI) central, manifestado por alto débito urinário (> 
1.000 mL/hora ou > 4 mL/kg/h) e evolução de hipernatremia e hipotensão. Sugere-se o início da vasopressina em 
doadores com hipotensão apesar de ressuscitação volêmica adequada ou com débito urinário excessivo, enquanto a 
desmopressina (DDAVP) pode ser usada para hipernatremia sem hipotensão. A dose de DDAVP é de 1 a 2 µg IV a 
cada 6 h.
	� Hormônios da tireoide: embora alguns autores recomendem reposição de T3, em pacientes com instáveis com 
altas doses de vasopressores e/ou fração de ejeção < 45%, não há um consenso sobre o uso rotineiro. 
	� Controle glicêmico: para pacientes com hiperglicemia, sugere-se manter o controle glicêmico com uma infusão 
contínua de insulina, normalmente visando uma glicemia de 120 a 180 mg/dL. A hiperglicemia pode causar diurese 
osmótica e hipovolemia.
	� Eletrólitos: sugere-se manter níveis de sódio sérico < 155 mEq/dL, potássio entre 3,5 e 5,5 mEq/L e magnésio > 1,6 
mEq/dL. O diabetes insipidus aumenta as perdas urinárias de magnésio, fosfato e potássio, portanto, os níveis séricos 
desses eletrólitos devem ser monitorados e repostos conforme necessário.
	� Corticoide: os corticosteroides têm propriedades anti-inflamatórias que contribuem para a eficácia do transplante 
pulmonar e reduzem a disfunção hepática pós-transplante, por isso o uso dessas substâncias é recomendado. Além 
disso, a insuficiência adrenal que acompanha a ME piora a instabilidade hemodinâmica, sendo indicada a 
administração de 100 mg IV 8/8 h após o diagnóstico. 
d) Infecção: em geral, infecções bacterianas do doador que são tratadas com antibióticos de maneira adequada não 
são uma contraindicação para a doação de órgãos. 
(continua)
culatório, bem como melhorar as chances de su-
cesso de um futuro transplante. Quanto maior for 
a demora até a retirada do órgão, piores são a res-
posta inflamatória e os resultados do transplante. 
Por isso, o intervalo recomendado entre o diag-
nóstico de ME e a remoção dos órgãos é de 12 a 
24 h. 
O Brasil possui uma força-tarefa com 27 espe-
cialistas (intensivistas, coordenadores de transplan-
tes, cirurgiões transplantadores e epidemiologistas) 
que realizaram revisões sistemáticas rápidas quan-
to à qualidade da evidência das recomendações 
preconizadas no manejo de pacientes em ME.
2 MANEJO DO POTENCIAL DOADOR
(continuação)
e) Temperatura corporal: para manter a homeostase corporal, é fundamental manter a temperatura dentro dos limites 
fisiológicos (36-37,5°C). Quando o paciente está evoluindo para morte encefálica ou já está com morte cerebral, o 
hipotálamo para de funcionar e a temperatura do organismo tende a se igualar à do ambiente. Nesse contexto, é 
importante identificar a hipotermia o quanto antes possível e tratá-la com mantas térmicas. 
f) Transfusão de sangue: a perda do tônus vasomotor periférico após o diagnóstico de ME causa uma distribuição 
irregular do fluxo sanguíneo e má perfusão de alguns órgãos podem ocorrer, apesar da saturação sistêmica de oxigênio e 
estabilidade hemodinâmica. A fim de fornecer uma oferta adequada de oxigênio, os pacientes com níveis de 
hemoglobina inferiores a 7 g/dL devem receber transfusão de sangue. Quando a hemoglobina está entre 7 e 10 g/dL, a 
transfusão de sangue deve ser realizada exclusivamente se as medidas de ressuscitação não atingirem as metas de 
pressão arterial média (PAM). 
FIGURA 1 Manejo hemodinâmico de potenciais doadores.
PAM < 60 mmHg
E euvolemia
Avaliar função 
miocárdica
Se persistir PAM 
< 60 mmHg Noradrenalina
Vasopressina
FE < 45% FE > 45%
Dobutamina
Dopamina 
10 mcg/kg/min