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DESCRIÇÃO
A produção do conhecimento e o desenvolvimento científico nas áreas de saber do profissional de
Educação Física.
PROPÓSITO
Compreender as múltiplas áreas científicas em que o profissional de Educação Física pode atuar de
modo a facilitar a escolha e ampliar as possibilidades de atuação profissional.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer a evolução histórica de construção do conhecimento da Educação Física
MÓDULO 2
Identificar a produção científica da aprendizagem, do controle motor e da psicologia do esporte
MÓDULO 3
Reconhecer as pesquisas das ciências biológicas aplicadas desde a fisiologia humana até às respostas
metabólicas ao exercício
INTRODUÇÃO
Os três pilares de uma Universidade são o ensino, a extensão e a pesquisa, e estes devem caminhar
sempre juntos. A célebre frase do Dr. Carlos Chagas Filho (1910 – 2000), expoente da ciência brasileira,
ressalta a importância da pesquisa científica para a transferência de conhecimento através das
estratégias pedagógicas de ensino e aprendizagem: “Na Universidade se ensina porque se pesquisa!”
 Pilares universitários.
A produção do conhecimento por meio das diferentes linhas de pesquisa na Educação Física é
fundamental para o seu crescimento individual e profissional, permitindo a construção da capacidade de
reflexão sobre diversos desafios. Um olhar crítico favorece a proposição de soluções e avanços
que podem beneficiar toda a comunidade que nos cerca e a sociedade como um todo. A pesquisa
gera conhecimento e desenvolvimento intelectual, profissional e tecnológico.
NESTE CONTEÚDO, DISCUTIREMOS O PAPEL DO
PROFISSIONAL NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DAS
DIFERENTES LINHAS DE PESQUISA DA EDUCAÇÃO
FÍSICA. ESTUDAREMOS AS MÚLTIPLAS
POSSIBILIDADES, PASSANDO PELAS CIÊNCIAS
APLICADAS AO MOVIMENTO HUMANO E PELA
COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO MOTOR
HUMANO E DAS RESPOSTAS FISIOLÓGICAS,
BIOQUÍMICAS E METABÓLICAS FRENTE AO
EXERCÍCIO.
MÓDULO 1
 Reconhecer a evolução histórica de construção do conhecimento da Educação Física
O contexto histórico das primeiras escolas de Educação Física no Brasil teve grande influência nas
linhas de estudo e pesquisa nessa área, especialmente até a década de 1980.

As primeiras escolas destinadas à formação de profissionais de Educação Física surgiram no final da
década de 1930, com a fundação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos − integrada à
Universidade do Brasil, com gestão federal − e da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo,
com gestão estadual.
A partir da década de 1980, os conhecimentos da Educação Física, especialmente nas áreas das
ciências humanas e sociais, se ampliaram.


A regulamentação da profissão, em 1998, representa um marco, colocando a Educação Física como um
meio de promoção de cultura, inclusão social, desenvolvimento humano e sinônimo de vida saudável.
1930
O cenário político-cultural da época estava permeado pelos pensamentos higienistas e militaristas, que
foram determinantes para a produção de conhecimento nessa área durante as décadas seguintes.
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 Universidade do Brasil.
O envolvimento dos profissionais de Educação Física na produção científica, principalmente nas áreas
das ciências biológicas, vem ganhando cada vez mais relevância. A Educação Física é uma ciência que
não só promove saúde, mas também é uma importante estratégia na prevenção de doenças, tendo
fundamental participação no desenvolvimento humano e nas manifestações culturais e desportivas que
envolvem o movimento corporal.
A HISTÓRIA DA ATIVIDADE FÍSICA SE
CONFUNDE COM A HISTÓRIA DO HOMEM
As atividades humanas na Pré-história dependiam do uso do corpo. Nas culturas primitivas, as
sociedades eram nômades, caçadoras e coletoras, por isso os humanos dependiam de capacidades
físicas como força, velocidade e resistência para sobreviver. Dentre as características que nos tornaram
melhor adaptados ao ambiente, podemos destacar a capacidade de preensão manual em função do
polegar opositor, o que representou uma vantagem psicomotora ao permitir a manipulação dos objetos
através da motricidade refinada.
 Homem pré-histórico.
COMO NÓS SABEMOS DISSO TUDO?
 RESPOSTA
Podemos dizer que a base de todo conhecimento da nossa história é fundamentado arqueologicamente em
evidências. O que se sabe decerto é fragmentado e representa recortes da realidade, que provavelmente foi
mais complexa, mas é o esforço racional, criterioso e metodológico da ciência que permite a produção de
conhecimento.
IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER A HISTÓRIA
É fundamental conhecer a própria história, de modo a não repetir os erros do passado e consultar as
experiências anteriores para solucionar novos problemas a partir de soluções conhecidas.
 Exercícios educativos.
A evolução das metodologias de ensino da natação, por exemplo, pode ser usada para demonstrar a
importância de se conhecer a história.
Dentre as concepções pedagógicas do ensino, a concepção analítica se caracteriza pela
sistematização de métodos e pela organização das estratégias por meio do uso de exercícios como
forma de aprendizagem, incluindo a figura do professor como mediador do processo − fatores que
representam pontos positivos dessa concepção. Essa concepção, no entanto, pode ser excessivamente
mecanizada, reduzindo toda a natação e adaptação ao meio líquido a movimentos isolados, inclusive
separando o próprio aprendiz do meio líquido.
Dentre as abordagens utilizadas no final do século XVIII e início do século XIX, incluiu-se o uso de
“engenhocas” para ensinar movimentos da natação fora da água, a chamada “natação a seco”.
Atualmente, sabemos que tais estratégias são pouco eficazes para ensinar um iniciante a nadar ou
se adaptar ao meio aquático.
 COMENTÁRIO
Caso você tenha a ideia “revolucionária” de construir um equipamento para ensinar pessoas que têm medo
de água a nadar fora dela, saiba que isso já foi tentado antes, sem muito sucesso. Assim, o conhecimento
da história garante que você não perca tempo repetindo um erro do passado.
CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA
A produção de conhecimento sobre qualquer aspecto da história envolve um esforço documental. É um
trabalho de levantamento de dados e documentos históricos e visitas a bancos de informações públicas
e privadas. Para isso, você precisa utilizar outros campos de conhecimento, incluindo o estudo das
práticas corporais nas perspectivas da sociologia, da antropologia ou da filosofia.
É NECESSÁRIO ESTUDAR OS CONTEXTOS DE CADA
ÉPOCA − ASPECTOS CULTURAIS, MORAIS E
COMPORTAMENTAIS − PARA GARANTIR A
FIDELIDADE DAS INFORMAÇÕES.
 História do futebol.
Cabe ao historiador reunir elementos que permitam recontar, recriar cenários e revelar novas
informações da nossa história. Para isso, é preciso se despir dos valores e conhecimentos
contemporâneos; o passado não pode ser julgado com a cabeça do presente. Ao mesmo tempo,
enquanto campo de pesquisa, a história busca narrar os mais importantes fatos e acontecimentos
passados na sociedade humana e debater as relações existentes entre eles. Assim, a História, como
ciência, é um campo de pesquisa e produção de conhecimento legítimo e necessário, pois quanto
melhor conhecermos nosso passado, mais bem preparados estaremos para os desafios futuros.
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Os cursos de Educação Física no Brasil oferecem, em seus currículos, a disciplina História da Educação
Física, que aborda um conteúdo normalmente dividido em cinco grandes períodos:

O primeiro período aborda a Pré-história, desde o aparecimento do homem até a antiguidade oriental.
O segundo período, denominado Clássico, recebe grande ênfase em função das influências ainda
presentes nos dias atuais, e inclui os relatos da cultura do esporte e do movimento da Grécia antiga até
o Império Romano.


O período que abrange a Idade Média é chamado de período Medieval, época em que o uso do corpo e
as manifestações culturais associadas ao movimento são desvalorizados.
O quarto período compreende do Renascimentoaté o século XIX.


O quinto e último período corresponde à história contemporânea, que retrata desde o século XX até os
dias atuais.
 Jogos na Grécia Antiga.
A oferta dessa disciplina nos cursos ressalta a relevância desse conhecimento e, consequentemente, a
necessidade da contínua produção de informações para documentar a história da Educação Física.
DICOTOMIA ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA
No Brasil, os médicos e militares foram os atores principais da construção histórica da Educação Física
e da organização e produção de conhecimentos que fundamentam essa atuação profissional.
Coube aos médicos a produção e organização do conhecimento teórico através de estudos científicos.

Os militares produziram manuais para a prática da ginástica, compondo, assim, as primeiras orientações
sobre as práticas na Educação Física.
 Cabo de guerra.
INFLUÊNCIA MILITAR NA CONSTRUÇÃO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA
A chegada da família real, em 1808, marcou o início da sistematização do conhecimento em várias
áreas do saber no Brasil, especialmente em função da criação de muitas instituições públicas, como a
Biblioteca Nacional, a Escola de Medicina e a Academia Militar Real.
O início da sistematização da ginástica se deu na Academia Militar Real, sob a influência dos métodos
ginásticos alemães e com a contratação de instrutores alemães para o treinamento de militares
brasileiros.
 VOCÊ SABIA
No antigo Ginásio Nacional − atual Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro − ocorreu, em 1837, a inclusão da
ginástica no currículo escolar, com a aplicação do método alemão por instrutores de origem militar.
Posteriormente, em 1854, a ginástica se tornou obrigatória no ensino primário e a dança, no ensino
secundário.
PRODUÇÃO TEÓRICO-CIENTÍFICA NO BERÇO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
As primeiras pesquisas publicadas no Brasil se deram por meio do esforço de médicos e estudantes da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que em 1845 produziram uma das primeiras teses
destacando a importância da atividade física: Algumas considerações sobre a Educação Física.
Os estudos dessa época já reconheciam a importância da atividade física e defendiam que sua prática
pode promover o aprimoramento físico, a saúde e um maior controle do uso do corpo e seus
movimentos.
TAMBÉM ERA DEFENDIDA A IDEIA DE QUE A
ATIVIDADE FÍSICA PODERIA AUXILIAR NO
EQUILÍBRIO DAS EMOÇÕES, ESPECIALMENTE COM
O INTUITO DE CONTROLAR OS VÍCIOS E INSTINTOS
DESTRUTIVOS, DE ACORDO COM OS CONCEITOS
CULTURAIS EXISTENTES.
FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS INSTRUTORES
Para atender à obrigatoriedade, os primeiros instrutores foram formados pela Academia Real Militar e
pela Escola Normal da Corte. Dentre esses instrutores, Arthur Higgins ganhou destaque com a
publicação de um compêndio de ginástica escolar, publicado em 1896, que se tornou referência na
época.
A obra de Higgins está alinhada ao discurso cultural do Brasil do final do século XIX, que traz uma
concepção higienista para a Educação Física, na qual as atividades físicas são creditadas como ações
para a regeneração da sociedade da época. Apesar de Higgins ser civil, suas ideias eram alinhadas ao
militarismo e, de fato, até os anos 1930, eram os militares que compunham a maioria dos instrutores de
ginástica no Brasil.
No início do século XX, porém, o método alemão foi gradualmente substituído pelo método francês − em
função da influência de militares franceses −, cujo princípio está orientado pela fisiologia.
AO COMPREENDER A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO
FÍSICA NO BRASIL, É POSSÍVEL PERCEBER QUE
MUITAS DESSAS INFLUÊNCIAS AINDA PODEM SER
OBSERVADAS ATUALMENTE, EM VÁRIOS
CONTEXTOS CULTURAIS E SOCIAIS. ESSE
EMBASAMENTO É FUNDAMENTAL PARA O FUTURO
DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL, POIS CERTAMENTE
PODE INFLUENCIAR A PRODUÇÃO DE NOVOS
CONHECIMENTOS E A CONTÍNUA EVOLUÇÃO.
EUGENIA ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Como vimos, a influência militar no início do século XX disseminou e sistematizou nacionalmente a
prática de atividades físicas. Por meio de várias instituições públicas militares recém-criadas − como o
Centro Militar de Educação Física do Exército na Vila Militar, no Rio de Janeiro, e outros centros
regionais em São Paulo e Minas Gerais −, fundamentou-se na prática da ginástica não só para atingir
objetivos na promoção da saúde, mas também para alcançar ideais de eugenia.
 SAIBA MAIS
Os ideais de eugenia são parte dos objetivos higienistas da Educação Física no começo do século, e
marcam um período triste na história da profissão. São construídos a partir de conceitos morais intuindo a
melhoria e a regeneração da raça branca, restringindo a proliferação de homens considerados inferiores.
Segundo a teoria, a prática de atividades físicas promoveria a higiene do corpo e do espírito, produzindo
indivíduos fortes, equilibrados, inteligentes e bonitos, com mais capacidade de ter filhos e, assim, conquistar
gradualmente uma predominância na sociedade.
PIONEIROS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
Já no século XIX, a Educação Física figurava como matéria dentre as propostas de programas para a
reformulação do ensino da época. Essa discussão ocorreu na esfera política, tendo Rui Barbosa (1849-
1923) como o relator de pareceres elaborados para fins de diagnóstico da educação brasileira,
apresentados à câmara de deputados em 1882 e 1883.
Durante o período do Estado Novo, entre os anos 1930 e 1940, as obras de Rui Barbosa são retomadas
para fundamentar a importância da Educação Física no currículo escolar, e a prática de Educação Física
tornou-se obrigatória na Constituição de 1937. Sendo assim, o Ministério da Educação, então gerido por
Gustavo Capanema, junto a um grupo autodenominado Pioneiros da Educação Física no Brasil, criou a
Divisão de Educação Física, órgão vinculado ao ministério e dirigido pelo Major João Barbosa Leite.
 Rui Barbosa.
Em 1943, esse órgão reconheceu Rui Barbosa e Jorge de Morais − médico, professor e político
brasileiro − como os vanguardistas da Educação Física no Brasil, ressaltando a importância de sua
produção para a compreensão das práticas desportivas, os exercícios físicos e o conhecimento do
movimento e do corpo como práticas higienistas e moralizantes.
A prática da ginástica foi inserida, então, nos currículos escolares e equiparada às outras disciplinas,
cuja fiscalização coube à Divisão de Educação Física. Além disso, o órgão ainda procurou normatizar
metodologicamente o ensino, com ascensão e influência do método francês de ginástica.
CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
Rui Barbosa (no final do século XIX), Jorge de Morais (no início do século XX) e Fernando de Azevedo
defenderam a criação de cursos de formação de professores de Educação Física, o que se concretizou
no final dos anos 1930.
 COMENTÁRIO
Apesar disso, a formação de professores permaneceu por muitos anos pouco normatizada pelo Estado e
carente de legitimação de um campo disciplinar.
Fernando de Azevedo se apoiou na obra de Rui Barbosa para se tornar um dos maiores defensores da
Educação Física baseada na ciência e na pedagogia. Preocupado com a formação dos professores que
atuavam nas escolas brasileiras na época, ajudou a promover, desde os anos 1920, o debate sobre a
necessidade da formação de professores de Educação Física.
COMO PODEMOS PERCEBER, NOSSA PROFISSÃO
TEM UMA HISTÓRIA RECENTE E SUA
ESTRUTURAÇÃO É ESTIMULADA POR
INTELECTUAIS, POLÍTICOS, MÉDICOS E MILITARES
RESPONSÁVEIS PELA ORGANIZAÇÃO INICIAL DA
PROFISSÃO.
ATIVIDADE FÍSICA PARA A SOCIEDADE CIVIL
Durante o governo de Getúlio Vargas, em 1933, o Centro Militar de Educação Física foi transformado em
Escola de Educação Física do Exército, e representou a base da formação de profissionais civis. Nessa
escola, foram formados os primeiros professores que compuseram o corpo docente da Escola Nacional
de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil. No entanto, foram ainda os médicos e
militares os principais gestores dessa escola e, consequentemente, os norteadores das
concepções acercada nossa profissão à época.
 Escola de Educação Física do Exército.
ESPORTE COMO CONTEÚDO HEGEMÔNICO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA
Após a Segunda Guerra Mundial, o esporte tomou gradualmente o papel hegemônico na Educação
Física escolar, com a intenção de iniciar os alunos em diferentes esportes. Nesse cenário, a aptidão
física era vista como referência da orientação pedagógica, influenciando a produção de conhecimento
até o final do regime da ditadura militar no Brasil.
OS MÉTODOS EDUCATIVOS PASSARAM A TER
CARÁTER COMPETITIVO, PARTINDO-SE DO
PRESSUPOSTO QUE A SOBREVIVÊNCIA E O
SUCESSO INDIVIDUAL REQUEREM
COMPETITIVIDADE.
Esses aspectos influenciaram a produção de conhecimento, negligenciando a cultura corporal do
movimento e impedindo a valorização do esporte como manifestação cultural e sem viés competitivo.
 Jogo de capoeira.
As lutas, por exemplo, podem ser ensinadas com a ideia de que luta-se com o outro, não contra o outro.
Essa reflexão é especialmente clara na capoeira, que é considerada uma manifestação cultural e não
uma luta e, assim como na dança, exige expressões corporais além de habilidades desportivas.
TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Na década de 1970, a Educação Física inicia um movimento em busca de uma identidade e
independência profissional, ampliando a produção de conhecimento e se aproximando das áreas da
educação, iniciando a redução da abordagem tecnicista. A partir da década de 1980, a Educação Física
começa a ganhar uma perspectiva de prática social.
A produção intelectual, a partir dessa época, passou a valorizar outras possibilidades de trabalho do
profissional de Educação Física, negando a competitividade exagerada e o reducionismo biológico
referente ao uso do corpo.
 SAIBA MAIS
Nesse período, muitas pesquisas aprofundaram discussões sobre a cultura corporal e os aspectos
pedagógicos, socioantropológicos e de promoção de saúde, consolidando essas pautas como linhas de
pesquisa e produção de conhecimento na Educação Física.
Essas perspectivas para a atuação levaram à reformulação dos currículos escolares e da formação
profissional. Esse debate iniciou um processo de mudanças, que incluiu a valorização da formação de
um profissional capaz de atuar em um ambiente interdisciplinar. Para isso, foi necessária uma maior
organização curricular, que dialogasse com os vários departamentos, institutos e setores nas
universidades, estreitando as relações entre ensino e pesquisa. Essas mudanças influenciam ainda nos
dias atuais, na formação e na adesão a programas de pós-graduação e na produção de conhecimento
em várias áreas do saber.
 Ambiente interdisciplinar.
MATRIZ PEDAGÓGICA
Pedagogia é uma atividade, um conjunto de estratégias e ferramentas a respeito do que fazer com a
educação e, nesse sentido, as práticas pedagógicas representam os meios para a formação
educacional.
 A pedagogia é um conjunto de estratégias.
A literatura divide a atuação do profissional de Educação Física em dois grandes grupos:
MATRIZ CIENTÍFICA
Que reconhece a Educação Física como área de conhecimento científico.
MATRIZ PEDAGÓGICA
Que reconhece a atuação como prática de intervenção pedagógica.
EM CONJUNTO, A EDUCAÇÃO FÍSICA PODE SER
CONCEBIDA COMO UM CAMPO DINÂMICO DE
PESQUISA E REFLEXÃO.
Na Educação Física escolar, as práticas pedagógicas são fundamentais para a formação sociocultural
dos alunos, além dos aspectos relacionados ao movimento corporal. Entretanto, para além da escola, a
partir do reconhecimento da sociedade, da valorização das diferentes manifestações culturais
desportivas e da sua importância na promoção da saúde, as práticas pedagógicas também se tornam
uma ciência relevante. Ciência essa que pode intervir para maximizar os resultados e o rendimento
desportivo de atletas profissionais e amadores.
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 Anatomia muscular na ciência do esporte.
Surge, assim, a ciência do esporte, cuja preocupação passa por investigar, identificar e propor métodos
pedagógicos mais eficazes para o ensino dos esportes, desde a iniciação até a especialização e o
refinamento de atletas.
 ATENÇÃO
Quanto melhor for o seu conhecimento sobre as estratégias pedagógicas de ensino dos esportes em que
estiver envolvido na sua atuação profissional, melhores serão os resultados obtidos pelos seus alunos,
clientes e atletas.
CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO
Nas últimas décadas, ocorreu uma ascensão da cultura corporal esportiva. Atualmente, os esportes em
suas diversas modalidades − como danças, ginásticas, artes marciais e jogos coletivos − são
importantes produtos de consumo.
Os múltiplos canais de mídia tornam as informações imediatamente disponíveis para todos, o que é uma
vantagem, por tornar o acesso à cultura corporal do movimento amplamente disponível. No entanto,
reforça a necessidade de aprimoramento contínuo dos métodos de ensino, por formar um público
consumidor cada vez mais exigente.
 Cultura corporal do movimento.
 COMENTÁRIO
Um ponto aparentemente contraditório é o fato de o estilo de vida de boa parte da população ainda não
valorizar ou permitir espaço para a cultura corporal de movimento. Apesar de as informações sobre a
importância das práticas de esporte e lazer para a saúde estarem o tempo todo nas mídias, a urbanização
precária e descontrolada, a ausência de espaços públicos para prática de esportes e lazer, a violência, a
poluição e a alimentação inadequada, dentre outros fatores, levam grande parcela da população ao
sedentarismo.
O aumento do tempo de tela, por parte das crianças, com os múltiplos aparelhos eletrônicos atualmente
disponíveis, favorece o abandono da cultura dos jogos infantis, substituindo a experiência da atividade
física pelo consumo dos jogos eletrônicos ou apenas vídeos de esporte. Essas mudanças
comportamentais reforçam a responsabilidade do profissional de Educação Física de perseguir
continuamente a excelência, a adaptação e a produção de metodologias que promovam o engajamento
da população na prática esportiva.
FINALIDADES DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Tendo em vista esse novo contexto social, as finalidades da Educação Física e suas práticas
pedagógicas devem ser repensadas. O papel do profissional de Educação Física, mesmo em sua
atuação como bacharel fora do ambiente escolar, é de assumir a responsabilidade de formar um
indivíduo capaz de se posicionar criticamente diante da cultura corporal do movimento.
 Manifestações desportivas.
Desse modo, o profissional pode colaborar com a integração do cidadão nas mais diversas
manifestações culturais, desportivas e promotoras de aptidão física, saúde, bem-estar e qualidade de
vida.
 RECOMENDAÇÃO
Não cabe apenas ensinar, portanto, as habilidades motoras, os gestos esportivos e as capacidades técnico-
táticas e físicas, mas também ensinar o indivíduo a se organizar socialmente para se tornar um sujeito
fisicamente ativo.
PARA ALÉM DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Quando colocamos a Educação Física como prática pedagógica no âmbito da cultura corporal do
movimento, a intervenção e o conhecimento profissional se tornam áreas pedagógicas para além da
escola, objetivando a melhoria qualitativa das práticas desportivas e toda a motricidade humana.
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 RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS
O papel dos profissionais de Educação Física fora da escola inclui auxiliar, por meio das interações
professor-beneficiário, o desenvolvimento de todas as possibilidades da cultura corporal do movimento,
desde os aspectos do progresso motor até o domínio e a especialização das práticas desportivas.
Para que fique claro que as práticas pedagógicas permeiam a nossa atuação para além da escola,
imagine a cinesiologia como conhecimento teórico e prático. Essa ciência estuda e explica o controle do
movimento corporal humano, e o objeto “movimento humano” assume formas culturais concretas, como
em um estilo ou ritmo musical, que podem ser aprendidos fora de ambientes educacionais escolares.
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICASPERMEIAM A
EDUCAÇÃO FÍSICA COMO UM TODO.
METODOLOGIAS E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
As metodologias e estratégias pedagógicas representam as ferramentas e os meios utilizados nos
processos de ensino e aprendizagem, cujo objetivo sempre deve ser perseguir o desenvolvimento dos
alunos e praticantes.
As principais estratégias se dão por meio da prática dos esportes com a utilização de:

Jogos recreativos, competitivos e cooperativos.
Sequências pedagógicas por meio da demonstração, do descobrimento guiado, da resolução de
problemas.


Jogos de mímica, simbólicos e rítmicos com música.
Exercícios em circuito.

Deve-se considerar, ainda, o avanço tecnológico e o surgimento de novas formas de comunicação como
possibilidades de meios de transformação, incentivo e educação para a prática desportiva. Essas novas
ferramentas − como o uso de aplicativos e o atendimento virtual − representam mudanças disruptivas
nas relações pessoais e profissionais, permitindo ampliar os campos de atuação, a abrangência e a
repercussão da atuação profissional através da orientação, da prescrição de exercícios e da produção
de conteúdo.
 Novas tecnologias de comunicação?
METODOLOGIA DE BASE LÚDICA
O componente de ludicidade na prática desportiva favorece a iniciação esportiva em qualquer idade,
especialmente para crianças e adolescentes. De fato, a escolha de objetivos e estratégias específicas
cabe ao professor, e talvez você reconheça de forma mais clara o uso de metodologias lúdicas nas
atividades da Educação Física direcionadas às crianças. É comum, no entanto, observarmos em vários
clubes, academias ou centro de treinamento a organização de aulas temáticas, eventualmente em datas
festivas, colaborando para a socialização, as relações afetivas e a fidelização dos alunos.
 Metodologias lúdicas.
NA SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL, NÃO HAVERÁ
LIMITES OU REGRAS ESPECÍFICAS QUANTO À
ESCOLHA E AO DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES
LÚDICAS DE ENSINO E AO CONTEXTO CULTURAL. O
GRUPO COM QUE VOCÊ TRABALHA E SUA
CRIATIVIDADE PODEM PERFEITAMENTE SERVIR DE
BASE PARA A PROPOSIÇÃO DE ESTRATÉGIAS E
METODOLOGIAS PEDAGÓGICAS DE BASE LÚDICA
EFICAZES.
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
Qualquer que seja a escolha de estratégias, os conteúdos específicos ou a produção de novas
abordagens no processo de ensino e aprendizagem, eles devem respeitar os princípios metodológicos.
 Inclusão e diversidade.
Os conteúdos ou as estratégias devem garantir e privilegiar a inclusão de todos, além de estarem
fundamentados na diversidade, sempre que possível.
Uma estratégia visando ao ensino e ao aprimoramento deve seguir:
PRINCÍPIO DA COMPLEXIDADE CRESCENTE
Quanto aos aspectos motores, iniciando a partir dos movimentos fundamentais até a especialização.
Sob o ponto de vista cognitivo, deve começar por informações simplificadas até chegar às reflexões
críticas.
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO
Deve ter como base as características, as capacidades e os interesses individuais.
AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
Qualquer estratégia pedagógica deve ter como fim a promoção do ensino. Dessa forma, é fundamental o
acompanhamento das transformações vivenciadas pelos alunos durante todo o processo.
Dentre as características fundamentais das atribuições de uma avaliação, deve:
Considerar uma avaliação continuada desde o início e ao longo do processo, que englobe vários
domínios, além das capacidades físicas e da qualidade dos movimentos.

Ser fundamentada em conhecimento científico, permitindo, assim, a elaboração clara de diagnósticos
para a orientação da atuação profissional e para a produção de novas estratégias pedagógicas de
ensino e métodos de avaliação.
INOVAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O termo “inovação” está associado à experimentação de novas estratégias e metodologias para a
contribuição da prática desportiva, da cultura do movimento corporal e da Educação Física na formação
de uma sociedade cada vez mais engajada e consciente da importância de um estilo de vida ativo para
promoção da saúde em todos os seus aspectos: físico, mental, social, cultural e econômico.
 ATENÇÃO
As inovações pedagógicas em Educação Física podem partir do ambiente escolar, mas podem repercutir na
atuação do bacharel em suas atribuições profissionais. No entanto, não é possível definir tecnicamente o que
seriam as inovações pedagógicas, devido às multiplicidades de práticas inovadoras e à liberdade que os
profissionais devem ter para utilizar novas estratégias.
A inovação das práticas pedagógicas em Educação Física cabe aos profissionais dessa área, sendo
influenciadas pela história e cultura de cada um. É importante destacar, porém, que estas devem ser
centradas nas realidades dos alunos e dos ambientes de intervenção, e direcionadas de acordo com as
necessidades, os interesses, as possibilidades e as limitações dos alunos.
A PARTIR DE TEORIAS PEDAGÓGICAS
CONHECIDAS, A ATUAÇÃO PROFISSIONAL PODE
SER RESSIGNIFICADA, ROMPENDO AS IDEIAS
TRADICIONAIS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO FÍSICA.
A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA APLICADA À
EDUCAÇÃO FÍSICA
O especialista Wagner Santos Coelho faz um resumo do conteúdo deste módulo. Assista!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Identificar a produção científica da aprendizagem, do controle motor e da psicologia do
esporte
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
O campo das ciências biológicas pode ser compreendido como uma ampla área de conhecimento que
estuda a vida, em todos os seus tipos, formas, aspectos ecológicos e de funcionamento dos organismos.
A produção de conhecimento nessas áreas remonta à Antiguidade, e os avanços tecnológicos e o
esforço de cientistas produzem novas descobertas, revelando constantemente informações que criam
linhas de investigação dentro do campo das ciências biológicas. Dentre esses ramos de investigação,
podemos destacar:
BIOMECÂNICA
BIOQUÍMICA
BIOLOGIA MOLECULAR
GENÉTICA
FISIOLOGIA HUMANA
APRENDIZAGEM E O DESENVOLVIMENTO MOTOR
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
 ATENÇÃO
Você pode presumir que sua atuação profissional − principalmente nos ramos do treinamento físico, da
promoção de saúde e da prescrição de exercícios − estará apoiada nos conhecimentos aplicados da
fisiologia do exercício, mas existem muitos outros importantes campos de conhecimento, como a bioquímica,
a biomecânica e a genética.
O MÉTODO CIENTÍFICO
A ciência moderna, especialmente nas ciências biológicas, é fundamentada no método científico
moderno atribuído a René Descartes (1596-1650), através da sua obra O discurso do método (1637),
embora outros cientistas e filósofos já defendessem ideias semelhantes. A contribuição de Descartes
para a produção de conhecimento se dá por meio:
Da instrumentalização da natureza

Do uso do pensamento lógico-matemático e racional para explicar os fenômenos

Da experimentação e observação para testar hipóteses e o pensamento
A RAZÃO É USADA PARA DEDUZIR CONCLUSÕES.
 O método científico.
Apesar de o método científico proposto por Descartes ter sido criticado e reformulado, principalmente a
partir das descobertas sobre a relatividade de Albert Einstein (1879- 1955) e dos conceitos de física
quântica de Niels Bohr (1885-1962), pode ser considerado como a base metodológica que permitiu o
desenvolvimento científico e tecnológico.
AS EXPERIÊNCIAS E OBSERVAÇÕES DEVEM SER
REALIZADAS POR MEIO DE UM CONJUNTO DE
REGRAS, A FIM DE PRODUZIR NOVOS
CONHECIMENTOS OU SOLUÇÕES PARA
PROBLEMAS.
 EXEMPLO
Imagine que, ao chegar em casa depois de um dia cansativo, você decida ligar a televisão para assistir à sua
série preferida. No entanto, ao acionar o controle remoto, nada acontece. Imediatamente, você tenta
descobrir o que pode ter acontecido, ou seja, formula hipóteses. Pensa que não haja energia elétrica na sua
residência, ou, como segunda alternativa, que o aparelho não esteja ligado à tomada. Primeiro você testa o
interruptor e verifica que não há problemas com a eletricidade, em seguida, confirma que a televisão está
ligada à tomada. Então, pensa mais um pouco e descobreque alguém retirou as pilhas do controle remoto.
Resolvido! Você vai assistir ao seu seriado preferido após usar o método científico para resolver um
problema.
TEORIAS ANTIGAS DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO
A explicação sobre como ocorre o desenvolvimento humano intrigou filósofos e cientistas há milhares de
anos. Antes mesmo da organização racional do método científico, e em função da impossibilidade de
testar hipóteses, muitas teorias foram postuladas para explicar a fecundação e o desenvolvimento
embrionário, levando à formação de um indivíduo semelhante aos pais.
PITÁGORAS
O grego Pitágoras (570-495 a.C.) propôs que o sêmen masculino percorria o corpo do homem
recolhendo vapores místicos de cada uma das partes, como os olhos, pelos e cabelos, formando uma
biblioteca que passava para a formação dos filhos. Ele defendia a teoria do espermismo, amplamente
aceita na época, segundo a qual o embrião derivava do espermatozoide, ou seja, o homem transmitia as
informações para o útero materno, e o óvulo apenas oferecia nutrientes para o desenvolvimento do feto.
ARISTÓTELES
Mais tarde, Aristóteles (384-322 a.C.) rejeitou essa teoria com a simples observação de que os filhos
podem ser parecidos com as mães e avós e de que não seria possível gerar mulheres a partir de
informações advindas somente do homem.
Aristóteles produziu um tratado intitulado Geração dos animais, que serviu como texto básico para a
genética humana. Nele, propôs uma teoria alternativa, defendendo que homens e mulheres contribuíam
com material para a formação e o desenvolvimento humano, uma ideia que, de forma abstrata, capta a
ideia central da hereditariedade.
PERCEBA QUE HAVIA A NOÇÃO DE QUE O
DESENVOLVIMENTO HUMANO ERA TRANSMITIDO
ATRAVÉS DE INFORMAÇÕES, MAS COMO ESSAS
INFORMAÇÕES ERAM CODIFICADAS?
 RESPOSTA
Nos anos 1520, o suíço Paracelso (1493-1541) propôs uma teoria chamada de pré-formação, que
dispensava a necessidade de um código de informações. Ele sugeriu que no sêmen masculino havia um “ser
humano em miniatura” já pronto, um minúsculo feto, que seria inflado até se desenvolver completamente e se
transformar em um bebê, sugerindo que o desenvolvimento humano era só uma questão de adicionar água.
Essas ideias sobre a embriogênese e o desenvolvimento humano só foram resolvidas com a descoberta
do genoma em meados do século XX, mais de dois mil anos depois de Pitágoras e Aristóteles, graças a
uma série de avanços tecnológicos que permitiu realizar experimentos e observações nunca sonhadas.
Repare como a produção de conhecimento caminha lentamente e depende da observação, da
experimentação e do avanço tecnológico. O que sabemos atualmente permite uma compreensão muito
mais precisa sobre o desenvolvimento humano.
CRESCIMENTO E MATURAÇÃO
Não se pode considerar, de forma alguma, que um feto seja um adulto em miniatura. Ele possui
características peculiares de fisiologia, biomecânica, metabolismo etc. Todos esses aspectos sofrerão
mudanças rápidas em poucos anos, graças aos processos contínuos de crescimento e maturação.
 Crescimento e maturação.
O desenvolvimento do corpo apresenta padrões e ritmos bem definidos, e os dois primeiros anos
representam o período em que ocorre a maior taxa de crescimento. Uma das coisas que nos diferencia
dos demais animais é o crescimento do cérebro e da cabeça. De fato, nós, seres humanos,
apresentamos a maior relação de tamanho do cérebro proporcionalmente ao corpo e, durante os dois
primeiros anos, a cabeça é a estrutura que mais cresce na criança, refletindo o grande crescimento do
cérebro. Esse crescimento está relacionado à habilidade do nosso organismo em processar
informações e solucionar os desafios do ambiente.
 SAIBA MAIS
As crianças, quando crescem durante a infância, melhoram significativamente o equilíbrio, a agilidade e a
coordenação, que ocorrem à mesma medida que o sistema nervoso se desenvolve.
Mas a relação proporcional da cabeça com o resto do corpo também impede que todo crescimento e
amadurecimento ocorra durante a gestação. Ao nascimento, nós ainda estamos imaturos em vários
aspectos e somos absolutamente dependentes. Dessa forma, após o nascimento é necessário que
muitos sistemas fisiológicos, metabólicos e imunológicos sofram processos de maturação.
 Estágios do desenvolvimento.
Perceba que um recém-nascido preserva principalmente movimentos reflexos e, à medida que cresce e
se desenvolve, vai adquirindo a capacidade de sustentar o peso da cabeça, rolar, sentar, ficar em pé
com apoio e, então, aprender a andar. Essas etapas levam, geralmente, de 10 a 15 meses, e são
consequência de uma série de processos de maturação neurofisiológica que garantem o
desenvolvimento e o controle motor, como a mielinização dos neurônios motores do sistema nervoso
motor.
Em virtude dos processos de crescimento e maturação, conseguimos adquirir possibilidades cada vez
mais complexas de aprendizado e desempenho motor. Pode-se dizer que o objetivo do
desenvolvimento humano até a puberdade seja levar um indivíduo a se tornar apto para a
sobrevivência.
EVOLUÇÃO DO NEOCÓRTEX HUMANO
Graças aos esforços de muitos pesquisadores, compreendemos cada vez mais os processos evolutivos
que nos tornaram o que somos atualmente. As descobertas arqueológicas nos permitem montar um
quadro dessa evolução ao longo da história dos hominídeos e entender as mudanças extraordinárias
que explicam nossas capacidades cognitivas.
 Evolução do Homem.
O tamanho do cérebro dos nossos ancestrais, como o Australopithecus afarensis (3,4 milhões de anos),
era comparável aos atuais chimpanzés e menor do que o dos gorilas modernos. A partir de várias
mudanças ocorridas no curso da evolução, o neocórtex desses primatas se desenvolveu e alcançou
dimensões formidáveis. O Homo habilis − primeiro primata do gênero Homo − surgiu há 1,9 milhões de
anos, com dimensões cerebrais maiores, atingindo um volume cerebral já comparável ao do Homo
sapiens atual e aproximadamente duas vezes maior do que o volume cerebral dos gorilas modernos.
 ATENÇÃO
O aumento de tamanho do cérebro é aceito como a principal característica que garantiu a sofisticação das
nossas funções cognitivas, com o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento motor do ser humano.
Certamente, aprender a andar com a postura bípede é um desafio que só um cérebro complexo pode ser
capaz de controlar.
CONTROLE MOTOR
O estudo do controle motor e a produção de conhecimento sobre esse tema é fundamental para a sua
atuação profissional. Você deve reconhecer que o movimento é essencial à vida, e esse campo de
investigação é direcionado ao estudo da natureza do movimento e como ele pode ser controlado.
A intervenção do profissional de Educação Física deve promover a educação para o movimento, desde
os movimentos fundamentais até os movimentos especializados na iniciação esportiva. É nosso papel,
também, atuar em equipes multidisciplinares, visando à reeducação e à terapia psicomotora. As
estratégias de intervenção podem ser projetadas para melhorar a qualidade e a quantidade de posturas
e movimentos essenciais para diversas funções.
A NEUROCIÊNCIA DO SISTEMA MOTOR
Por mais de dois mil anos, desde a Antiguidade até a explosão do saber do século XX, o esforço de
vários pensadores moldou o que sabemos acerca da integração do sistema nervoso sobre o
desenvolvimento e controle do sistema motor. Graças à produção de conhecimento ao longo desse
período, podemos compreender como o controle motor é exercido. Ou seja, como o sistema nervoso
central organiza e integra os músculos e as articulações em movimentos funcionais e como as
informações sensoriais do ambiente são decodificadas e usadas para selecionar e controlar o
movimento.
 Neurociência.
Estudos conduzidos por Thomas Willis (1621-1675) em pacientes com problemas neurológicos
dissecados após a morte levaram o pesquisador a postular as primeiras ideias de que os atributos
psicológicos humanos são funcionalmente dependentes docórtex. Contudo, apenas em 1861, Paul
Broca (1824-1880) apresentou a primeira evidência da especialização cortical. Ao realizar a autópsia de
um paciente que havia perdido a capacidade de falar, ele identificou uma lesão na região esquerda do
lobo frontal, sugerindo a existência de áreas especificas para controlar funções.
APESAR DESSAS EVIDÊNCIAS, A EXISTÊNCIA DE
UMA REGIÃO RESPONSÁVEL PARA O CONTROLE
MOTOR ERA QUESTIONADA.
Marie-Jean-Pierre Flourens (1794-1867) havia demonstrado, em 1858, que a ação motora envolvida na
respiração podia ser controlada ao nível da medula e não envolvia o córtex, levando à proposição de
que o cérebro controlava funções perceptivas e habilidades intelectuais, mas não exercia controle motor.
No entanto, em 1870, Gustav Fritsch (1838-1891) e Eduard Hitzig (1838-1907) evidenciaram a
existência do córtex motor, uma descoberta fundamental para o avanço sobre a compreensão de
como o movimento é controlado e aprendido.
Muitas outras descobertas se seguiram para que, nos dias atuais, tivéssemos a noção de que o controle
dos movimentos voluntários pode ser dividido em três fases:
PLANEJAMENTO

INICIAÇÃO

EXECUÇÃO
Quando idealizamos uma ação motora voluntária:

Áreas de associação cortical integradas ao cerebelo e os núcleos da base planejam o movimento,
utilizando memórias de vivências anteriores e o contexto do momento.
Em seguida, o córtex motor e o cerebelo iniciam o movimento através de impulsos nervosos que
comunicam aos músculos que irão executar a ação motora.


O movimento resultante é constantemente monitorado e, através do sistema nervoso sensorial, vias de
retroalimentação informam as estruturas do sistema nervoso central, permitindo que o encéfalo corrija
qualquer divergência entre o movimento planejado e o movimento real.
 Sistema nervoso motor.
ESSA NOÇÃO DE INTEGRAÇÃO NEUROMUSCULAR
É FUNDAMENTAL PARA O PROFISSIONAL
COMPREENDER A NATUREZA DO MOVIMENTO,
COMO PODEMOS APRENDER NOVOS GESTOS
MOTORES DESDE A INFÂNCIA ATÉ O ADULTO,
FAVORECENDO A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL.
NEUROPSICOLOGIA
A neurociência aliada à psicologia também se ocupa de investigar as capacidades cognitivas de
memória, atenção, raciocínio e aprendizagem. Para os profissionais de Educação Física, o interesse
maior é nas relações dessas capacidades cognitivas com o movimento.
Os psicólogos Lev Vygotsky (1896-1934) e Alexander Luria (1902-1977) foram alguns dos pioneiros na
explicação de como nós aprendemos.
Vygotsky defendia o conceito de aprendizagem mediada pelo professor, de demonstração e de vivências
para a aprendizagem.

Já Luria cunhou o termo “neuropsicologia” e defendeu a ideia de que as diversas partes anatômicas do
encéfalo estão integradas por cooperações funcionais complexas.
Luria propôs um modelo de sistema funcional dividindo o encéfalo em três unidades funcionais:
1ª
A primeira unidade funcional é representada pelo tronco encefálico, e atua para regular o estado de
vigília, o tônus muscular e os estados mentais.
2ª
A segunda unidade funcional é compreendida pelo córtex posterior, que recebe, analisa e armazena
informações provenientes do sistema sensorial.
3ª
A terceira unidade funcional reúne as regiões do córtex anterior e é responsável por programar, regular e
verificar a atividade.
Esses e outros estudos da neuropsicologia trazem importantes contribuições para o desenvolvimento de
metodologias de pesquisa sobre o desenvolvimento humano e para a compreensão dos processos de
ensino e aprendizagem, incluindo a aprendizagem motora − aspecto fundamental à sua futura atuação
profissional.
 Integração neurológica.
O ESTUDO DO MOVIMENTO HUMANO
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 Movimento humano.
Como já mencionado, a cinesiologia é o campo de investigação que estuda o movimento humano, área
tão importante para o profissional de Educação Física. Enquanto ciência, integra várias subdisciplinas,
como: biomecânica, educação física adaptada, fisiologia do exercício, comportamento motor,
treinamento desportivo, história, filosofia e arte do desporto, pedagogia e psicologia desportiva. Dessa
forma, a biomecânica é considerada uma subdisciplina da cinesiologia.
 SAIBA MAIS
Embora a preocupação com a análise do movimento humano nos remeta à Antiguidade, a consolidação da
biomecânica como campo de estudo é recente. Apenas na década de 1970 a comunidade internacional
adotou o termo biomecânica para descrever a ciência dedicada ao estudo dos sistemas biológicos por uma
perspectiva mecânica.
A produção de conhecimento por meio da biomecânica exige instrumentos da física mecânica, ramo de
conhecimento que envolve a análise das ações das forças para estudar os aspectos anatômicos e
funcionais do movimento. Assim, você precisará reunir vários conceitos para integrar esses campos de
investigação, como:
 Mecânica dos planos e eixos de movimento.
A ESTÁTICA
Que estuda os sistemas que se encontram em movimento constante ou em repouso.
A DINÂMICA
Que estuda os sistemas no qual o movimento sofre uma aceleração.
Outras subdivisões da biomecânica incluem a cinemática − que descreve o movimento, incluindo o
padrão e a velocidade dos movimentos realizados pelos segmentos corporais − e a cinética, que
representa o estudo das forças associadas ao movimento.
 ATENÇÃO
Para melhor compreensão das questões relacionadas à biomecânica, a produção de conhecimento
frequentemente envolve fatores antropométricos. A descrição do formato, do tamanho e do peso dos
segmentos corporais possibilita a realização de análises cinéticas para compreensão do movimento humano.
PROBLEMAS PERTINENTES À BIOMECÂNICA
Os problemas estudados pela biomecânica são diversificados em virtude dos diferentes campos
científicos. A análise da locomoção revelou que a maioria dos vertebrados, incluindo o ser humano,
durante uma caminhada, adota um comprimento e ritmo de passada em particular para determinar a
velocidade. Concluíram, então, que os padrões de marcha escolhidos otimizam a economia
bioenergética para determinada velocidade, embora esses padrões sejam individuais e possam ser
adequados a cada contexto, incluindo as modalidades desportivas. Contudo, na natação, os padrões
mecânicos dos movimentos dos nados são utilizados para correlacionar diretamente a economia de
energia com a eficiência e a capacidade técnica do nadador.
QUANTO MENOR FOR O NÚMERO DE BRAÇADAS
PARA PERCORRER DADA DISTÂNCIA, MAIOR É A
ECONOMIA DE ENERGIA METABÓLICA E A
EFICIÊNCIA MECÂNICA.
A biomecânica é, portanto, um campo fundamental de investigação desportiva, pois serve para
identificar os movimentos mais eficazes e potencializar as estratégias de treinamento. É possível,
ainda, investigar essa questão por uma ótica inversa: em vez de propor a biomecânica mais eficiente,
podemos investigar por que determinados atletas atingem a excelência desportiva.
Em muitas modalidades, o estilo ou padrão de movimento pode variar entre os atletas de sucesso, e
diferentes fatores podem explicar o êxito individual. Estudos biomecânicos demonstraram que para os
corredores de elite o estilo da corrida é individual, o que representa um desafio para esse campo de
pesquisa e para nossa atuação no cenário do treinamento.
 Uso de sensores para analisar os padrões de corrida.
Ao melhorar a eficiência do movimento, a biomecânica pode, ainda, auxiliar na prevenção de lesões e a
identificar fatores que limitam o desempenho humano. Contribuindo, assim, com o desenvolvimento de
equipamentos, calçados, roupas e outros aspectos ergonômicos que favoreçam o movimento e reduzam
os riscos da prática esportiva.
A biomecânica é, portanto, um campo de investigação amplo e importante, que auxilia na resolução de
muitas outras questões, entre elas:

O porquê de os esportes aquáticos não serem os melhores estímulos para indivíduos com osteoporose.
Qual deve ser a maneira mais segura de levantar um objeto pesado do chão.


Quais estratégias um idosopode adotar para aprimorar a estabilidade do movimento.
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
A biomecânica pode, ainda, tratar de questões ocupacionais e terapêuticas, auxiliando na reeducação
da marcha em etapas de reabilitação psicomotora ao longo da recuperação de lesões traumato-
ortopédicas ou neurológicas, promovendo a reorganização dos padrões de movimento e auxiliando na
recuperação da amplitude articular.
As pesquisas nessa área demonstraram que as dores lombares podem ser ocasionadas tanto pela
manipulação de materiais muito pesados como por desvios posturais. Doenças osteoarticulares
relacionadas ao trabalho podem ser reduzidas com adaptações ergonômicas e evitadas com exercícios
direcionados ao condicionamento físico associado à atividade laboral. Esse ramo de atuação para o
profissional de Educação Física − que ainda é pouco reconhecido, explorado e com muitas questões a
serem resolvidas − é a ginástica laboral.
A biomecânica ocupacional é um tema tão relevante que a agência espacial americana (NASA) financia
pesquisas destinadas a compreender os efeitos da microgravidade sobre o sistema muscular. Essa linha
de investigação auxilia na compreensão de questões que podem repercutir em toda a sociedade.
 VOCÊ SABIA
Uma das alterações relacionadas com as viagens espaciais é a perda de massa mineral óssea, devido à falta
de gravidade, em um processo semelhante ao observado com o envelhecimento que leva a osteopenia, que
pode progredir para a osteoporose.
IMPORTÂNCIA DA EPIDEMIOLOGIA PARA O
PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
A epidemiologia é, sem dúvida, um ramo de pesquisa que apoia a nossa compreensão de mundo.
Estudos epidemiológicos permitiram a proposição de um conceito denominado transição
epidemiológica, que é fundamentado nos padrões de mortalidade, morbidade e invalidez para
determinada população ao longo do século XX.
 EXEMPLO
No ano de 1930, as doenças infectocontagiosas eram responsáveis por 46% dos casos de óbito na
população brasileira e, a partir de então, verificou-se uma redução progressiva na frequência de mortes
decorrentes desse tipo de doença. No entanto, houve um aumento gradual na incidência e na taxa de
mortalidade de doenças cardiovasculares, que representavam apenas 12% dos casos em 1930. Atualmente,
as doenças infectocontagiosas e parasitárias representam menos de 10% das causas de morte, enquanto as
doenças do sistema cardiovascular e metabólicas ultrapassam 30%.
Esse fenômeno pode ser atribuído às mudanças socioeconômicas, ao avanço científico e tecnológico, à
explosão de saber do século passado, e às mudanças das relações de trabalho, lazer e cultura.
Passamos de um estilo de vida ativo para um estilo de vida sedentário, o que, aliado a um maior acesso
a alimentos processados e ultraprocessados, favorece o ganho de peso.
É POSSÍVEL PERCEBER QUE A ATUAÇÃO DO
PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA DEVE SER
CADA VEZ MAIS VALORIZADA. A ESCOLHA DE UM
ESTILO DE VIDA ATIVO É ESSENCIAL NA
PREVENÇÃO DAS DOENÇAS QUE MAIS MATAM
ATUALMENTE.
Outra grande mudança ocorrida nos últimos anos foi o aumento sem precedentes da expectativa de
vida, especialmente nos países desenvolvidos, mas também nos países em desenvolvimento, como o
Brasil. O avanço da medicina, o desenvolvimento de vacinas e a descoberta dos antibióticos e de outros
medicamentos favoreceram essa mudança, e o aumento da população idosa trouxe novos desafios para
a ciência e para a nossa profissão.
 Avanços da medicina.
EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO
A população brasileira, por exemplo, está em processo de envelhecimento. Estima-se um aumento de
80% no número de idosos para 2040 e de cerca de 150% para 2060, em relação a 2020. Isso
representa um desafio para os profissionais que atuam em ações que promovam a melhoria da
qualidade de vida, da independência funcional, das capacidades cognitivas e de outros fatores para a
saúde do idoso.
 Envelhecimento populacional.
Compreender o processo de envelhecimento é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de
envelhecimento saudável, e muitos estudos nessa área ainda são necessários.
AUTONOMIA FUNCIONAL DO IDOSO
Graças à produção científica, atualmente compreendemos que o declínio da massa muscular é uma das
condições associadas ao envelhecimento biológico que levam à deterioração das funções biomecânicas.
Esse processo é potencializado pelo sedentarismo, que representa um importante fator para a redução
das funções motoras, da autonomia funcional e da qualidade de vida dessa população.
A autonomia funcional representa um dos parâmetros mais importantes de saúde, aptidão física e
qualidade de vida da população idosa. Um indivíduo com autonomia é aquele que consegue executar de
forma independente e satisfatória suas atividades do cotidiano, mantendo suas relações e atividades
sociais, livre para exercer seus direitos e deveres como cidadão.
A PERDA DA AUTONOMIA REPRESENTA UM
ENORME PREJUÍZO PARA A SAÚDE E PARA A
QUALIDADE DE VIDA.
A combinação da perda progressiva de massa muscular e massa corporal leva à redução dos níveis de
força e ao aumento dos níveis de fadiga e fragilidade, o que pode comprometer a autonomia funcional.
Esse é um quadro patológico comum na população idosa, chamado de sarcopenia, que pode ser
amenizado pelo estilo de vida ativo. É importante, então, que sejam realizadas investigações científicas
para estabelecer estratégias eficazes na prevenção, no controle e na reversão desse quadro clínico.
 Perda de massa muscular aumenta o risco de queda.
TREINAMENTO DESPORTIVO
É um campo de pesquisa extremamente relevante, não apenas para apontar as melhores estratégias de
treinamento para o esporte, mas para a população geral. A preocupação com o aprimoramento técnico e
a melhoria do desempenho desportivo não é recente e, no século passado, sofreu uma explosão de
novos conhecimentos.
Com a realização das Olimpíadas a partir de 1896, em Atenas, na Grécia, aumentou o interesse dos
pesquisadores em aprimorar o desempenho dos atletas. Nessa área, muitos cientistas russos se
destacam, como:
Lev Pavlovich Matveev (1922-2006), que, na década de 1960, publicou uma monografia intitulada O
problema da periodização do treinamento desportivo e, em 1977, publicou o livro Fundamentos do treino
desportivo.
Yuri Verkhoshansky (1928-2010), que, também na década de 1960, criou o método de treinamento de
choque, utilizando estímulos para aprimorar a potência muscular.
ESSES AUTORES REPRESENTAM ALGUNS DOS
PESQUISADORES MAIS CLÁSSICOS NO ESFORÇO
DE SISTEMATIZAR O TREINAMENTO.
Atualmente, especialistas em treinamento desportivo de todo o mundo reconhecem a necessidade da
periodização e os princípios gerais do treinamento, como a individualidade biológica, a interdependência
volume-intensidade e a imprescindibilidade de continuidade e dos períodos de descanso. Muitos estudos
seguem criando estratégias de treinamento e são fundamentados nesses princípios.
 ATENÇÃO
A ciência do treinamento desportivo é capaz de reunir abordagens a respeito da biomecânica do movimento,
da fisiologia humana e do exercício, das respostas metabólicas e bioquímicas e da psicologia do esporte,
bem como aspectos históricos e culturais do esporte. Dessa forma, é um campo de produção de
conhecimento que integra muitas outras ciências.
NOVAS METODOLOGIAS DE TREINAMENTO
O High Intensity Interval Training (HIIT) − que, do inglês, significa “treinamento intervalado de alta
intensidade” − é uma das mais recentes metodologias de treinamento, cada vez mais prescrito por
treinadores. Esse crescimento se deve em grande parte aos resultados alcançados pelos praticantes e
ao aumento do interesse científico, que reflete no número de publicações.
 Treinamento intervalado de alta intensidade.
A busca na plataforma Medline do termo HIIT, em fevereiro de 2021, resultou em 2.433 artigos
relacionados, em comparação com o termo em inglês para “treinamento de força”, que resultou em
42.917 publicações. Isso sugere que, apesarde estar em crescimento, o HIIT ainda é uma
metodologia nova para o campo de investigação do treinamento desportivo.
 Programa de exercícios HIIT.
Essa metodologia consiste em séries curtas, repetitivas, de exercícios com intensidade acima de 80%
da frequência cardíaca máxima (FCmáx). As séries duram entre dez segundos a cinco minutos, e são
separadas por períodos de recuperação ativa, ou seja, com atividades de intensidade leve ou
recuperação passiva por meio do repouso. É considerado um método eficiente para a promoção de
condicionamento cardiovascular, controle do peso corporal e condicionamento físico, promovendo
resultados eficazes em curto prazo.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA APRENDIZAGEM,
CONTROLE MOTOR E PSICOLOGIA DO
ESPORTE
O especialista Wagner Santos Coelho faz um resumo do conteúdo deste módulo. Assista!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Reconhecer as pesquisas das ciências biológicas aplicadas desde a fisiologia humana até às
respostas metabólicas ao exercício
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO NA ANTIGUIDADE
NARRAR A HISTÓRIA DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
NÃO É SIMPLES, MAS A IDENTIFICAÇÃO DE
MARCOS HISTÓRICOS E O CONHECIMENTO DE
AVANÇOS IMPORTANTES CONTRIBUI PARA QUE
VOCÊ RECONHEÇA SUA RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL.
Na Antiguidade, havia o interesse em compreender o funcionamento do corpo durante o exercício e o
uso de estratégias de treinamento e alimentação para melhorar o desempenho físico humano. Assim, a
fisiologia do exercício surgiu nas civilizações antigas da Grécia e da Ásia Menor, embora existam
referências a esporte, jogos e práticas de saúde em civilizações ainda mais antigas, como no Egito, na
Síria, Pérsia, Índia e China.
 Hipócrates
CONTRIBUIÇÕES DE GALENO
O médico italiano Galeno (129-217 d.C.) despontou com o declínio do Império Romano. Suas
contribuições para a fisiologia do exercício são muito relevantes. Durante toda a vida, ele ensinou e
praticou o que denominava as “leis da saúde”, dentre elas a recomendação de exercitar-se
constantemente. Sua produção de conhecimento incluiu estudos sobre:

Anatomia
Fisiologia e nutrição humana


Crescimento e desenvolvimento
Compreensão dos efeitos do exercício


Prejuízos de um estilo de vida sedentário e suas relações com a obesidade
Seu trabalho foi muito influenciado pela escola hipocrática de medicina, e Galeno endereçou o
tratamento da obesidade através de práticas que são reconhecidamente eficazes até os dias atuais,
como a prática de exercícios e a dieta. Além disso, fez recomendações de exercícios terapêuticos para
reabilitação de lesões de gladiadores e militares.
 Descobertas de Galeno sobre a circulação sanguínea.
 SAIBA MAIS
As informações mais interessantes são provenientes das observações detalhadas sobre os tipos e as
variedades de exercícios “ágeis” e vigorosos, incluindo a indicação do número e da duração adequada,
apontando a ideia de que somente os movimentos intensos devem ser considerados como exercício.
AVANÇO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO DURANTE O
RENASCIMENTO
Durante o Renascimento, entre os séculos XV e XVI, várias descobertas romperam com o conhecimento
da Antiguidade. Descobertas complexas no campo da anatomia permitiram revelar mecanismos
circulatórios, respiratórios e excretórios.
 ATENÇÃO
A profusão de informações nas áreas das ciências biológicas preparou o terreno para novas descobertas
sobre o funcionamento do organismo em repouso e durante o exercício.
Durante esse período, o conhecimento da anatomia humana − com as contribuições de Leonardo da
Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564) e Andreas Vesalius (1514-1564), através de dissecação de
cadáveres − permitiu um avanço extraordinário do entendimento do corpo humano.
 Esboços de desenho de anatomia de Leonardo da Vinci.

William Harvey (1578-1657) descobriu que o sangue circula continuamente, dentro de um sistema
circulatório fechado, em uma única direção.
Giovanni Alfonso Borelli (1608-1679) desenvolveu modelos matemáticos para demonstrar que os
músculos eram os tecidos responsáveis pelos movimentos humanos e dos outros animais. Realizou
importantes descobertas sobre o papel do diafragma na ventilação pulmonar e descreveu a estrutura
dos capilares em volta dos sacos alveolares.


Robert Boyle (1627-1691), que, utilizando uma bomba a vácuo, demostrou que tanto a combustão de
uma vela quanto a respiração de um animal exigiam ar.
MUITAS OUTRAS DESCOBERTAS FORAM FEITAS
DURANTE O SÉCULO XVI, INCLUINDO O GÁS
OXIGÊNIO, O NITROGÊNIO E OS COMPONENTES
DOS CARBOIDRATOS, DOS LIPÍDEOS E DAS
PROTEÍNAS.
 COMENTÁRIO
O avanço científico dessa época é extraordinário e, embora possa parecer que essas descobertas não se
relacionam ao exercício físico, toda essa produção de conhecimento sustenta a base da fisiologia humana e
da fisiologia do exercício.
CONCEITO MODERNO DO METABOLISMO
Dentre os notáveis cientistas da época, Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) descreveu os conceitos
modernos do metabolismo, da nutrição e da fisiologia do exercício. Ele demonstrou que os elementos
químicos carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio envolvidos no metabolismo apareciam ou
desapareciam misteriosamente. Ao estudar a influência do trabalho muscular no metabolismo,
demonstrou que apenas o oxigênio participa da respiração animal.
 Lavoisier em seu laboratório.
Lavoisier foi capaz de demonstrar que o volume de oxigênio necessário para o corpo humano variava de
acordo com a temperatura ambiente, o consumo de alimentos e a prática de exercícios físicos. Essas
descobertas foram essenciais para o entendimento moderno sobre o equilíbrio energético e o
metabolismo, e determinaram as leis da termodinâmica. A partir disso, o esforço de vários outros
pesquisadores permitiu descobrir a composição química dos carboidratos, dos lipídeos e das proteínas,
e esclareceu o que atualmente chamamos de equação do equilíbrio energético, sustentando o
conceito de eficiência metabólica.
 SAIBA MAIS
A descoberta de que a produção do dióxido de carbono (CO2) aumentava de acordo com a intensidade do
exercício, até cair drasticamente no exercício extenuante, coube a William Prout (1785-1850). Foi ele quem
revelou o moderno conceito de cinética de troca gasosa, embora não tenha sido possível determinar a
quantidade exata de dióxido de carbono respirada por não existirem equipamentos capazes de medir a
frequência ventilatória na época.
Jean Baptiste Boussingault (1802-1884) foi capaz de calcular o efeito da ingestão de cálcio, ferro e
nitrogênio sobre o metabolismo energético. Em paralelo a essas descobertas, o pesquisador Justus
von Liebig (1803-1873) desenvolveu um equipamento em seu laboratório para analisar substâncias
orgânicas e inorgânicas, e concluiu que o esforço muscular dependia principalmente das proteínas
como fonte de energia, e não dos carboidratos e dos lipídeos.
No entanto, apesar de influenciarem a sociedade científica da época, essas conclusões não foram
embasadas em experiências fisiológicas. Foram, então, contestadas por estudos que mediram as
mudanças no nitrogênio excretado na urina durante uma escalada em montanha, sugerindo que a
proteína degradada não poderia ter fornecido toda a energia necessária para a longa caminhada.
TAIS CONTROVÉRSIAS DEMONSTRAM O QUÃO
IMPORTANTE É O CONHECIMENTO BASEADO EM
EVIDÊNCIAS, A IMPORTÂNCIA DO DEBATE
CIENTÍFICO E A NOÇÃO DE QUE AS IDEIAS PODEM
SER SEMPRE CONTESTADAS, À MEDIDA QUE
NOVAS INFORMAÇÕES E TECNOLOGIAS SE
TORNAM DISPONÍVEIS.
METABOLISMO ENERGÉTICO
Por volta de 1850, Louis Pasteur (1822-1895) concluiu que a fermentação do açúcar por leveduras era
fruto da ação do que ele denominou “fermentos”. Descreveu, ainda, que o consumo de glicose
apresenta um aumento de mais de dez vezes quando uma cultura de leveduras é transferida de um
ambiente aeróbio para um ambiente anaeróbio, relacionando o efeito regulador do oxigênio sobre o
metabolismo energético, o que foi denominado de Efeito Pasteur. O laboratório de Pasteur.
 EXEMPLO
Quando um corredor dispara próximo da linha de chegada, as suas células do músculo esquelético sofrem
um efeito semelhante ao descrito por Pasteur, garantindo que as concentrações celulares de ATP não
reduzam para sustentar o aumento da intensidade do exercício.
Louis Pasteur acreditava que os fermentos eram inseparáveis das estruturas das células de leveduras
vivas, um conceito chamado de força vital. Contudo, em 1897, Eduard Buchner (1860-1917)
demonstrou que o processo de fermentação continuava mesmo com extratos de leveduras, quando as
células já não estão mais vivas, dando início ao ramo das ciências biológicas que atualmente chamamos
de bioquímica. Mais tarde, esses “fermentos” foram chamados de enzimas.
Estruturas secundárias de uma enzima.
Estrutura 3D de uma enzima.
 ATENÇÃO
As reações químicas que ocorrem na fermentação catalisada pelas enzimas de uma levedura são
praticamente as mesmas que ocorrem nos músculos esqueléticos.
A glicose é chamada, no senso comum, de açúcar do sangue. A partir da glicose, o ATP (energia) é
reciclado em um processo chamado glicólise.
METABOLISMO ENERGÉTICO AERÓBIO
A glicólise é apenas a primeira etapa bioenergética da quebra e oxidação da glicose na presença de
oxigênio. O produto da glicólise é direcionado para o metabolismo mitocondrial, que, através de um
conjunto de reações bioquímicas, termina de oxidar a glicose e outros substratos energéticos,
transferindo a energia para a reciclagem do ATP.
A PRIMEIRA ETAPA DESSE PROCESSO É
CONHECIDA COM CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO OU
CICLO DE KREBS, EM HOMENAGEM A HANS KREBS
(1900-1981), DESCOBRIDOR DO PROCESSO.
Sob a ótica da fisiologia, em uma visão mais ampla, o termo “respiração” é associado à captação de
O2 e eliminação de CO2 através da ventilação pulmonar.

Já no sentido metabólico, a respiração é representada pela fase aeróbia do catabolismo, processo
molecular no qual as células consomem O2 e produzem CO2. Mais especificamente, é denominada de
respiração celular.
 Respiração celular.
TAXA METABÓLICA
Os conceitos de taxa metabólica se referem ao consumo energético de um organismo. Foram
estabelecidos pelos estudos de Henri Victor Regnault (1810-1878), que utilizou circuitos fechados de
ergoespirometria em animais para estudar o quociente respiratório − ou seja, a relação de CO2
produzido dividido pela concentração de O2 consumida. Nesses estudos, foi possível observar que a
privação de alimentos reduzia o quociente respiratório, e que os animais privados de alimentos
consumiam os próprios tecidos.
Análise de troca gasosa – Ergoespirometria.
Regnault estabeleceu as relações entre as diferentes dimensões corporais e as taxas metabólicas, que
auxiliaram a compreender a lei da área superficial usada em estudos de cinesiologia e fisiologia do
exercício até os dias atuais.
PRODUÇÃO HEPÁTICA DE GLICOGÊNIO
O glicogênio é um carboidrato complexo produzido pelo fígado e pelos músculos esqueléticos, que serve
como reserva de energia e pode ser utilizado quando necessário durante a atividade física.
Até a metade do século XIX, os cientistas acreditavam que apenas os vegetais fossem capazes de
sintetizar açúcares. Os estudos do fisiologista francês Claude Bernard (1813-1878), no entanto,
contestaram essa ideia ao observar a presença de açúcar na veia hepática de animais privados de
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carboidrato na dieta. Essas observações permitiram determinar uma nova função para o fígado, com a
secreção “interna” de açúcar.
 Degradação hepática de glicogênio.
SURGIMENTO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
COMO CAMPO CIENTÍFICO CONTEMPORÂNEO
Os interesses científicos sobre as respostas do organismo ao exercício são antigos, mas a fisiologia do
exercício como ciência moderna resulta da explosão de conhecimento na segunda metade do século
XIX.
AUSTIN FLINT JR. (1836-1915)
O fisiologista americano Austin Flint Jr. observou que a posição do corpo exercia forte influência sobre a
circulação sanguínea em repouso e durante o exercício. Ele identificou que o esforço físico faz
aumentar a frequência de pulsações do coração, e esse trabalho influenciou os primeiros professores
de Educação Física com treinamento médico e orientação científica.
EDWARD HITCHCOCK (1793-1864) E EDWARD HITCHCOCK
JR. (1828-1911)
Dois médicos, pai e filho, chamados Edward Hitchcock e Edward Hitchcock Jr., desbravaram o
movimento americano da ciência do esporte e produziram um livro voltado para a Educação Física
universitária, apresentando conceitos de anatomia e fisiologia. O trabalho do filho na universidade incluiu
a Educação Física como disciplina obrigatória e, em suas palestras, ele ensinava que a boa condição
do sistema muscular era fundamental para o estado geral de saúde do corpo.
Apesar desses e de outros esforços, os estudos sobre as respostas fisiológicas ao exercício e ao
treinamento físico só ganharam projeção na sociedade científica em meados do século XX, a partir das
publicações de revistas que dedicavam espaço a esse tema.
 EXEMPLO
É o caso da Journal of Applied Physiology, publicada pela primeira vez em 1948, e da Medicine and Science
in Sports and Exercise, publicada a partir de 1969. Até hoje, essas revistas são fontes valiosas de
conhecimento, comunicando as produções científicas, dentre as mais relevantes no campo da ciência do
exercício, à sociedade científica.
AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DA
ESTRUTURA CORPORAL
Os principais pesquisadores das ciências do esporte no final do século XIX e início do século XX
associavam ideais higienistas à prática de exercício físico. Alguns autores defendiam ainda que o
acúmulo de saúde adquirido pela prática de esportes garantia a capacidade de suportar horas seguidas
de trabalho.
Essa influência foi um dos motivos que levou o Dr. Hitchcock Jr., professor do departamento de
Educação Física e Higiene da Amherst College, a coletar medidas antropométricas de forma
sistematizada de quase todos os estudantes universitários entre os anos 1861 e 1888. Isso gerou um
grande volume de informações estatísticas − com mensurações de altura segmentar, circunferências,
largura, comprimentos, medidas de força muscular, capacidade pulmonar e distribuição de pelos −, que
fizeram parte de um compêndio contendo descrições detalhadas para fazer mensurações e testes.
 Medida de dobras cutâneas.
Esse trabalho, reconhecido como o primeiro manual dedicado à análise de informações antropométricas
e de força com base em dados detalhados, foi fundamental para a organização e o aparelhamento dos
ginásios universitários nos Estados Unidos nos anos seguintes. O objetivo era:
Aumentar e fortalecer os segmentos corporais

Aumentar o tamanho do tórax e a capacidade dos pulmões

Fortalecer os músculos de todos os segmentos corporais e corrigir desvios posturais
Simultaneamente a esse trabalho em âmbito acadêmico, as forças armadas, principalmente dos Estados
Unidos e da Inglaterra, iniciavam estudos antropométricos em militares para determinar as dimensões
corporais e os níveis de força, associados ao desempenho humano.
 COMENTÁRIO
Os procedimentos utilizados nessa época são muito semelhantes às práticas e aos equipamentos presentes
nos laboratórios de fisiologia de exercício atuais.
EXPLOSÃO DE SABER NO SÉCULO XX
Sem dúvida, o século XX representou uma explosão de conhecimentos na área da ciência do esporte.
Pesquisadores de todas as partes do mundo deram importantes contribuições para esse fenômeno.
A Dinamarca, primeiro país europeu a incluir o treinamento físico no currículo escolar, foi celeiro de
muitos cientistas importantes:
Os professores da Universidade de Copenhagen Johannes Lindhard (1870-1947) e August Krogh
(1874-1949) realizaram importantes descobertas sobre a oxidação relativa dos carboidratos e lipídeos
como fontes de energia, e investigaram a troca de gases nos pulmões e a redistribuição do fluxo
sanguíneo em diferentes intensidades do exercício.
Três outros pesquisadoresdinamarqueses − Erling Asmussen (1907-1991), Erik Hohwü-Christensen
(1904-1996) e Marius Nielsen (1903-2000) − contribuíram com estudos sobre: a arquitetura das fibras
musculares; a força muscular e o desempenho; e a resposta respiratória e cardiovascular em diferentes
intensidades de exercício e débito cardíaco.
Na Suécia, o fisiologista do exercício, Per-Olof Ästrand (1922-2015), colaborou no conhecimento sobre a
capacidade de trabalho físico de pessoas de ambos os sexos, de 4 a 33 anos de idade, e foi pioneiro
nos estudos das respostas fisiológicas do exercício de intensidade intermitente ao longo dos anos 1960.
 SAIBA MAIS
Alguns de seus estudantes introduziram a técnica de biópsia muscular, que proporcionou uma nova
abordagem no estudo das respostas da fisiologia do exercício.
É importante mencionar também o britânico Sir Joseph Barcroft (1872-1947), que foi o mais importante
pesquisador das adaptações fisiológicas a grandes altitudes, com trabalho fundamental para a
compreensão das funções da hemoglobina no transporte de oxigênio.
 Hemoglobina.
Na Alemanha, Otto Meyerhof (1884-1951), por sua vez, descobriu as relações entre o metabolismo
energético e a produção do ácido lático, extraindo e identificando as enzimas musculares que
transformam o glicogênio em lactato. Já o primeiro aparelho portátil para avaliação da troca gasosa em
seres humanos foi desenvolvido por Nathan Zuntz (1847-1920), e seus estudos comprovaram que os
carboidratos da dieta eram precursores para a síntese dos lipídeos.
LABORATÓRIO DE FADIGA DE HARVARD
David Bruce Dill (1891-1986) foi o único diretor científico desse laboratório que teve importância
extraordinária na produção de conhecimento na ciência do esporte no século XX.
DURANTE O PERÍODO EM QUE O LABORATÓRIO DE
FADIGA DE HARVARD ESTEVE EM
FUNCIONAMENTO, INÚMEROS ARTIGOS, LIVROS E
MONOGRAFIAS NAS ÁREAS DE FISIOLOGIA
BÁSICAS E APLICADAS DO EXERCÍCIO FORAM
PUBLICADOS.
As contribuições dessa produção científica ajudaram a estabelecer a fisiologia do exercício como uma
disciplina acadêmica. Dentre as muitas áreas de pesquisa, podemos destacar o esclarecimento de
questões sobre:

A especificidade da prescrição do exercício.
Os componentes genéticos da resposta ao exercício.


A diferenciação entre adaptações centrais e periféricas.
A identificação da existência de limiares celulares.


As ações de transmissores e a regulação de receptores.
Os mecanismos de transmissão e de retroalimentação que regulam o controle cardiorrespiratório e
metabólico.


Os mecanismos de equivalência entre a disponibilidade e o consumo do oxigênio.
O perfil de utilização de substratos energéticos.


As repostas adaptativas das unidades celulares e moleculares.
Os mecanismos responsáveis pela transdução de sinais e pela produção de lactato pelo músculo.


A plasticidade dos tipos de fibras musculares e das funções motoras da medula, dentre muitos outros
achados relevantes.
FRONTEIRA DO CONHECIMENTO
A fisiologia do exercício pode ser considerada uma ciência moderna, com recente aumento do interesse
por ela. A explosão de saber a partir da metade do século XIX também nos mostra que, para ser
compreendida, a fisiologia do exercício deve ser estudada sob a perspectiva molecular, genética,
metabólica e da nutrição humana.
 ATENÇÃO
Isso a caracteriza como uma ciência que aplica as respostas bioquímicas, moleculares e genéticas ao estudo
do organismo humano em resposta ao exercício físico.
Essa perspectiva se encontra na fronteira do interesse de muitos pesquisadores nessa área, que
aproximam o conhecimento científico à prática profissional. Eles assessoram atletas, clubes e
agremiações desportivas com prestações de serviço que unem a aquisição e a análise de dados. Dessa
forma, conseguem alimentar técnicos e comissões técnicas com informações objetivas sobre as
condições dos atletas, auxiliando no desempenho desportivo.
Atualmente, os pesquisadores e estudantes de fisiologia do exercício trabalham em conjunto. Muitas
vezes, suas abordagens metodológicas nos projetos de pesquisa exigem a aplicação de conhecimento e
de técnicas de várias ciências básicas, como: medicina clínica, biologia molecular, genética,
farmacogenética, epigenética, bioinformática, metabolômica etc.
OS PILARES DA BIOLOGIA MOLECULAR
 Estrutura do DNA.
A biologia molecular é uma ciência que se torna realidade a partir da descoberta da estrutura do DNA,
mas sua história começa antes. O marco dessa descoberta nos remete ao trabalho do fisiologista suíço
Friedrich Miescher (1844-1895), que, em 1869, identificou que células de tecidos humanos obtidas do
pus em curativos médicos descartados continham quantidade elevada de nitrogênio e fósforo dentro do
núcleo. Ele chamou essa substância de nucleína − que, mais tarde, passou a ser denominada ácido
nucleico.
Embora a questão da “semelhança” viesse preocupando cientistas e filósofos desde a Grécia antiga,
com teorias para explicar a hereditariedade propostas por Pitágoras e Aristóteles, até meados do século
XIX, pouco se havia avançado. Até então, ninguém conhecia o papel dos genes na transmissão de
informações hereditárias.
FOI O NATURALISTA INGLÊS CHARLES DARWIN
(1809-1882) QUEM, A PARTIR DE ANOS DE
OBSERVAÇÕES GEOLÓGICAS E BIOLÓGICAS AO
LONGO DA AMÉRICA DO SUL, DA OCEANIA E DE
OUTRAS REGIÕES, PROPÔS UMA TEORIA QUE
REVOLUCIONOU ESSE ENTENDIMENTO.
Após registrar as semelhanças e diferenças dos traços fenotípicos entre as espécies de regiões
isoladas, Darwin propôs uma teoria baseada na seleção natural de variantes mais adaptadas ao
ambiente, influenciando todo o processo de evolução das espécies de organismos vivos.
 Seleção natural.
Em paralelo a essas descobertas e ideias, Gregor Johann Mendel (1822-1884) rastreou minuciosamente
as características hereditárias de ervilhas por meio de um estudo muito elegante. Junto aos achados
anteriores, esses marcos formaram os pilares científicos que sustentaram o surgimento da biologia
molecular como um novo campo de pesquisa.
REVOLUÇÃO PROMOVIDA PELA BIOLOGIA
MOLECULAR
Em 1929, Phoebus A. T. Levene (1869-1940) revelou os elementos essenciais dos ácidos nucleicos,
embora o papel dessas moléculas ainda fosse desconhecido. Foi somente nos anos 1940 que uma série
de estudos confirmou que essa substância contendo fósforo, chamada nucleína, era transmitida de “pai
para filho”: o material genético.
 A descoberta de Francis Crick e James Watson.
A partir daí, uma série de descobertas e avanços científicos ocorreram:

Em 1966, a identificação de todo o código genético.
Em 1972, foi elaborada a técnica de junção de fragmentos de DNA, que permitiu o desenvolvimento da
engenharia genética.


Em 1981, o primeiro animal transgênico foi criado.
Em 1997, foi realizada a clonagem da ovelha Dolly.


Entre 2000 e 2004, o genoma humano foi decifrado e, em seguida, a criação de linhagens de células
tronco.
Toda essa produção de novos conhecimentos foi fundamental para nossa compreensão sobre as
características hereditárias, incluindo a origem de uma série de doenças e, consequentemente, os
fatores capazes de modular e influenciar as características genéticas.
EXERCÍCIO FÍSICO E MODULAÇÃO GÊNICA
Graças a esses avanços extraordinários, atualmente a ciência do esporte produz, de forma contínua,
novas informações sobre o papel do exercício sobre a modulação gênica. E é possível compreender os
aspectos metabólicos, hormonais e bioquímicos por trás das respostas da prática de exercícios físicos.
Atualmente, sabemos que as adaptações crônicas ao treinamento físico envolvem o controle da
expressão gênica e podem modular o tipo de proteína presente no músculo. É o caso, por
exemplo, de:
Modificações na cabeça pesada da miosina como consequência do treinamento de força.
O efeito sobre a biogênese mitocondrial, com o aumento da quantidade de mitocôndrias que acompanha
a melhoria do condicionamento cardiorrespiratório promovido