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ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA -Definição: emulsão é água em óleo. Garantia e mistura de substâncias que naturalmente não se misturam. Água ocorre naturalmente em 70% na carne e gordura também é proveniente da carne, principalmente toucinho. O objetivo é deixar essas substâncias estáveis mesmo após finalizar o processamento. Exemplos de emulsões é leite (gotículas de óleo dispersas na água, ou seja, maior parte da composição é água) e manteiga (emulsão do tipo óleo em água). Gotículas em menor quantidade é o grande desafio de ser estabilizado e manter a coesão. -Manutenção das gotículas de gordura na massa aquosa: o material que vai fazer essa conexão é um emulsificante que pode ser adicionado como aditivo. Naturalmente, há proteínas fosfolipídicas na carne que atuam como emulsificantes, com porções hidrofílicas e hidrofóbicas que mantém a estabilidade do filme proteico que se forma ao redor das gotículas de gordura. -No caso do produto cárneo, a emulsão é de óleo em água, já que esse último componente se encontra em maior quantidade. Há diferentes tipos de proteínas e tecidos fibrosos conectivos que irão atrapalhar o processo de coesão. Nessa parte, é importante a adição de fosfato para estabilização das proteínas miofibrilares que irão envolver as gotículas de gordura. Por ser uma emulsão e não somente material reestruturado, há separação da fase lipídica. É denominado emulsão, mas do ponto de vista de partículas de maneira geral, é uma emulsão não verdadeira, porque o tamanho das partículas alto (maior que 50 micrômetros). -Emulsão cárnea: glóbulos de gordura de tamanhos diferentes. Se fosse uma emulsão verdadeira, os glóbulos teriam aproximadamente o mesmo tamanho. As proteínas atuando como emulsificantes envolvem o glóbulo de gordura (caráter anfótero), com a porção hidrofílica voltada para o exterior e porção hidrofóbica voltada para o interior. Estabilização dos filmes proteicos (FPI) nos glóbulos de gordura (imagem preta e branca). Extração das proteínas em alta velocidade utilizando matriz cárnea de boa qualidade garante esse envolvimento correto. O filme proteico interfacial (FPI) é uma camada formada na interface entre duas fases, geralmente entre uma fase aquosa e uma fase oleosa, onde as proteínas atuam como agentes emulsificantes. Essas proteínas possuem a capacidade de se adsorver na interface e formar um filme contínuo que estabiliza a emulsão, impedindo a separação das fases. O FPI é composto principalmente por proteínas, que possuem estruturas moleculares com regiões hidrofílicas (atraídas pela água) e hidrofóbicas (atraídas pelo óleo). As regiões hidrofóbicas se orientam em direção à fase oleosa, enquanto as regiões hidrofílicas se orientam em direção à fase aquosa, formando o filme proteico. Esse filme atua como uma barreira, impedindo a coalescência das gotículas de óleo e fornecendo estabilidade à emulsão. -Fração de proteínas sarcoplasmáticas tem contribuição modesta, menos significativa. Proteínas estromais (ou do tecido conectivo) tem participação menor ainda. Quem faz a manutenção da coesão de maneira mais significativa são as proteínas miofibrilares. As estromais tem menor capacidade emulsificante (CE) e tem o problema de gelatinizar com a temperatura, ou seja, absorve parte da água presente no meio e, ao final, há segregação do material e formação do grumo dentro do produto de consistência gelatinosa. A indústria utiliza diferentes cortes cárneos que barateia e equilibra a produção. -Emulsificação: dependendo de como ocorre a fusão dos glóbulos de gordura entre si, pode haver um filme de gordura recobrindo o material. A gordura torna-se visível (indesejável). É a dispersão dos glóbulos de gordura quando a intenção era manter a coesão. Gordura visível no produto. -Parâmetros para manter a coesão, considerando que a indústria utiliza boa parte de carne de segunda: 1. Tipo da carne usada: quanto maior o teor de colágeno, menor estabilidade da emulsão (poucas proteínas miofibrilares); 2. Quantidade de proteína miofibrilar: a. Interfere na quantidade de sais utilizados. A retirada do sal reduz a disponibilidade de proteínas. A quantidade de sal afeta o equilíbrio iônico da peça, afetando a força iônica. O que a indústria utiliza são substitutos dos sais de sódio. b. pH: diferentes tipos de carne podem ter indícios de aplicações diferentes (PSE). Controle do pH para não ser tão distante de 5,2. pH afasta do ponto isoelétrico. O pH da carne pode afetar a solubilidade das proteínas presentes nela. A solubilidade das proteínas é importante para a formação de uma emulsão estável. Em geral, as proteínas miofibrilares têm maior solubilidade em pHs próximos à neutralidade (pH 6-7). Nesses pHs, as proteínas têm melhor capacidade de se dispersar na fase aquosa e formar um filme protetor na interface óleo-água. 3. Tamanho das partículas de gordura: quanto menor o tamanho, mais estável a emulsão. Entretanto, a redução muito grande do tamanho das partículas de gordura diminui a área de contato e é possível que não haja proteínas suficientes no local, sendo necessário uma maior quantidade de proteínas solúveis. 4. Velocidade de rotação do cutter: redução para não quebrar tanto a partícula de gordura – velocidade muito alta aumenta o número de gotículas de gordura, necessitando de maior quantidade de proteínas miofibrilares para estabilizar a emulsão. Velocidade mais alta no início para aumentar a exposição de proteínas e redução posterior pela metade (dependendo do tamanho do lote) para evitar partículas muito pequenas. Adição posterior de gordura mais condimentos. 5. Quantidade de gordura: pouca gordura barateia a produção, precisando estar de acordo com a legislação. No caso de uma quantidade pequena de gordura, o produto se torna borrachudo pela grande quantidade de proteínas. 6. Tipo de gordura: óleos (gordura poli- insaturadas) não são utilizados por sua composição de ácidos graxos que tem menos estabilidade (ponto de liquefação maior) com quebra da emulsão. Necessário adição de organogel ou gorduras esterificadas. 7. Controle da temperatura da massa no cutter: não pode ultrapassar 15oC para não desnaturar a fração proteica. Trabalho com massa congelada não garante a extração das proteínas. Aumento de temperatura até 5-7oC facilita a fusão das gorduras que ficam encapsuladas dentro do filme proteico. Dessa forma, o controle da temperatura precisa ser muito bem feito. Primeira etapa entre 5oC e 7oC e segunda etapa até 15oC. Desnaturação de todas as proteínas de uma vez faz a massa perder a coesão, ou seja, melhor fazer o aquecimento escalonado. -Etapa da cauterização (salsicha e mortadela): 1. Colocar no cutter, carne magra congelada em pequenos blocos (retalhos). Adição de metade da gordura no início para poder emulsificar. 2. Adição de parte do gelo em forma de escamas para ajudar na distribuição da superfície. Adição dos demais ingredientes (fosfato, sal), exceto a gordura. 3. Triturar em alta velocidade não ultrapassando 8oC para garantir a extração das proteínas miofibrilares; 4. Reduzir a velocidade e aumento da temperatura até 15oC e adição da outra metade da gordura congelada e cortada em cubos. Adição de amido que geralmente aumenta muito a temperatura da massa por ser um carboidrato e difundir rapidamente a temperatura, necessitando de cuidado. 5. Trituração até temperatura crítica de 15oC. -Estabilidade depende do cozimento: escalonado para correta coagulação da matriz proteica (desnaturação) e controlando umidade relativa (relevante somente na salsicha por ser envolta em tripa de celulose que tem troca de vapor como ambiente externo) para evitar a queima e escurecimento da superfície externa da salsicha. O aquecimento é feito a cada 30 minutos com aumento de temperatura, garantindo a manutenção da emulsão sem forçar a ligação das proteínas com a matriz lipídica. -Produtos emulsionados: salsicha e mortadela. -Mortadela: produto cárneo emulsionado, obtido de carne bovina e, ou suína, miúdos e vísceras comestíveis. Pode ser acrescida ou não de água, gordura e CMS, adicionado de sais de cura, condimentos e constituintes não-cárneos finamente triturados. -Carne pré-moída pode ser utilizada em blocos, normalmente quando o volume de processamento é maior. A mistura é a vácuo e pode ser feita dentro do próprio cutter ou dentro de uma misturadora, tendo objetivo de remoção de ar da massa. O embutimento é a vácuo e pode ser com tecido natural da bexiga ou artificial. Na estufa de cozimento, o envolvimento plástico impede a passagem de vapor e o cozimento pode ser aquecimento com vapor de água. Precisa ser garantida uma temperatura interna para desnaturação de proteínas e atividade microbiológica (73- 75 oC). Defumação natural é feita a 90 oC após o cozimento para evitar a quebra da emulsão em estufas. O resfriamento dá um choque térmico para cessar a desnaturação proteica que estava acontecendo e é feito em banho de aspersão ou imersão por cerca de 5 minutos. A estocagem é feita em câmaras frias. Processamento da mortadela. Processo de mistura da mortadela sem vácuo. Processo de mistura da mortadela a vácuo. Embutimento da mortadela. -Salsicha: produto cárneo industrializado, obtida da emulsão de carne de uma ou mais espécies de animais de açougue, vísceras e outros miúdos autorizados. Algumas são defumadas. O amido mantém a suculência do produto e é permitido pela legislação, retém água. Não há necessidade de manter os pedaços de gordura nesse caso. -Diferença da salsicha e mortadela: no final da cuterização a mistura não deixa pedaços de gordura e na salsicha tem depelagem, podendo passar pelo tingimento ou não. Conjunto de salsichas são penduradas juntas na estufa, ao contrário da mortadela. -As semelhanças no processamento da salsicha e mortadela incluem a seleção de matéria-prima, pré-moagem, cuterização e cozimento com posterior defumação. -Embutimento: embutideiras acopladas a equipamentos que torcem e formam gomos (9-12 cm) com pendura dos gomos em engradados. -Choque térmico: se for muito brusco, causa enrugamento dos grumos. É feito com água em temperatura ambiente e depois gelada por 5 minutos. -Depelagem: remoção da tripa artificial para colocar a tripa de celulose, a qual é suscetível a saída de umidade, sendo importante a adição do amido. -Tingimento: feito com banho em extrato de urucum por 2 minutos para fixação da cor. -Enlatamento: o produto é adicionado a uma salmoura para ser consumido e esterilizado.
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