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e-Book 3 Telson Vieira Alves ANÁLISE E MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 DESEMPENHO DE PROCESSOS ��������������������� 5 MEDIÇÃO DE DESEMPENHO ������������������������15 TRANSFORMAÇÃO DE PROCESSOS ����������� 21 COMO CONDUZIR A TRANSFORMAÇÃO ����� 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������38 3 INTRODUÇÃO Neste módulo, vamos abordar mais alguns con- ceitos importantes para a gestão de processos de negócios. Você acha que medir o desempenho de algo é simples? Depende do que estamos medindo, você deve estar pensando. Medir ou gerir o desempenho de processos não é nada simples, pois exige planejamento e dedicação de equipes ou sistemas para que o indicador mais rápido e preciso possível seja gerado. Aí entram a tecnologia existente, a boa análise e o desenho de processos para ajudar na medição. O maior desafio está na medição de desempenho da tríade formada por escopo, valor e expectativa, pois, falhar em alguma dessas medições levará o desempenho do processo a falhas estruturais, cau- sando um descompasso entre o imaginado e o real. Podemos medir qualquer coisa dentro da gestão por processos, porém, o foco é medir o que realmente importa, em busca de oportunidades de melhorias e de ganhos significativos. Medimos para transformar e a busca por essa transformação deve ser contínua nas organiza- ções. No cenário atual, a palavra estabilidade (ou 4 a busca por ela) não é mais parâmetro, em virtude da volatilidade de mudanças tecnológicas e suas rápidas alterações. Transformar um processo inclui redesenho, mu- dança e reengenharia, sempre tratando o ponta a ponta, sua forma de operar e suas possíveis modificações. 55 DESEMPENHO DE PROCESSOS Você já percebeu como os indicadores e medições estão inseridos em nossa vida? Pense comigo. Imagine se não tivéssemos o medidor de quanti- dade de combustível do veículo. Se o andar não fosse sinalizado no elevador. Se todos os sinais de trânsito ficassem fechados/abertos durante o mesmo tempo. Seria bem difícil vivermos sem essas medições, você não acha? Quando falamos em gestão por processos, a ideia é praticamente a mesma. Seria impossível dizer que atingimos determinado estado ou valor, se não houvesse uma medição correta desse processo. Assim, devemos ter em mente a compreensão do que medir e de como medir para que tenhamos um desempenho bem-sucedido do processo. Vamos entender melhor os conceitos sobre de- sempenho de processos e verificar que a medição deve sempre ocorrer em nível de fluxo de trabalho e em fluxo de processo, pois, com essas medições, identificamos atrasos de trabalho, problemas com a qualidade de produtos/serviços, e o quanto antes eles forem identificados, mais rápidas serão as respostas de correção desses desvios. 66 Independentemente do fluxo, é importante focar as medições que tragam situações de tempo de execução, custo para executar a atividade, a ca- pacidade de produção por pessoas ou tarefas, e a qualidade da entrega da atividade. Vamos entender a eficiência e a eficácia, pois, mesmo sendo relativos à gestão, são conceitos que farão a diferença nos momentos de medição do seu processo. A eficácia traz a ideia de alcance do objetivo, de acordo com o que foi planejado, e a entrega do resultado, de acordo com o que foi registrado no escopo – ou seja, fazer sempre o certo e o que foi combinado. A eficiência também traz a concepção de fazer o que foi planejado, porém, a ideia é tentar fazer melhor o que foi especificado – ou seja, buscar a melhor forma de atingir o objetivo, com menos tempo e custos, ou com mais qualidade. Você deve estar se perguntando: Então, eu sem- pre devo buscar o mais eficiente? Sim, porém, a eficácia também é fator positivo e deve ser bem trabalhada nos processos. Quando vamos para a prática, o primeiro passo é olhar para a eficácia do processo que será geren- ciado, pois, se o processo está entregando coisas 77 erradas, não adianta ele ser rápido no que entrega. Verifique primeiro se as coisas certas estão sendo entregues e, aí sim, busque a eficiência. Lembre-se de que o mais barato nem sempre é o melhor. Sendo essa motivação fundamental para entendimento do negócio, a ideia é se diferenciar e trazer valor ou significado para o cliente. A organização possui indicadores de desempenho tradicionais, portanto, eles serão um bom ponto de partida para pensarmos em indicadores mais eficientes. No geral, somos muito ligados a medições de tra- balho executado, e pensamos pouco na medição de como nosso trabalho realmente impacta a vida do nosso cliente e de como o resultado de nossa atividade impacta a atividade seguinte ou pode ser prejudicado por erros das atividades anteriores. Os resultados devem ser medidos e ponderados, levando em consideração o suporte oferecido aos processos, principalmente da área de Tecnologia da Informação. As políticas organizacionais também são importantes, quando trazemos os resultados à tona, pois elas impactam (positiva ou negativa- mente) a gestão funcional e pode gerar transtornos não pensados anteriormente. 88 De acordo com a ABPMP (2013, p. 187), “a defini- ção de desempenho de processos é o rendimento de um processo em termos de extrapolações de tempo, custo, capacidade e qualidade”. Toda e qualquer medição de desempenho come- ça identificando o que deverá ser medido; saber o porquê de medir e entender quais medidas de comparação são primordiais, pois, sem isso, ha- verá grande possibilidade de medir com erro, de maneira errada e sem as comparações corretas. Uma dica é fazer um grande encontro ou workshop com todas as partes interessadas do processo, para que seja definido o que medir e por que me- dir – essa aderência aos indicadores será fator de sucesso ou de fracasso para a implantação deles. Comece trazendo a lista de medições, contendo o objetivo da medição, item a medir, e seu parâmetro de comparação. Promova um método de concor- dância para que essa lista seja validada e, após a validação, será necessário determinar onde serão feitas as medições. Por exemplo, no processo de produção de refrigerantes, ficou definido que medi- remos quantas garrafas são produzidas por minuto, ou quantas garrafas defeituosas são geradas após x tempo de produção. Feito isso, definimos o que vamos medir para gerar resultados válidos, como serão medidos, e o responsável pela medição. É 99 fundamental que os gestores responsáveis pelos resultados da medição participem na criação da abordagem de medição e na definição da fórmula de medição. Nenhuma empresa deve investir recursos e tempo em processos, se não souber medir corretamente para, efetivamente, mudar. Há uma frase de Peter Drucker que é uma espécie de mantra para quem faz gestão de processos: “Se não podemos medir algo, não podemos gerenciá-lo” (ABPMP, 2013, p. 193). Outra coisa importante para se ter em mente é que, se a medição estiver errada, a gestão será errada. Entenda que o gerenciamento de desempenho é um caminho a ser seguido, e não um objetivo a ser perseguido. Medir é o meio que temos para saber se há desvio de desempenho e dos resultados. A principal maneira de saber o que medir no processo é entender o resultado que você deseja alcançar; por isso, saber onde essa informação é obtida é crucial para a medição. Podemos observar que taxas de erros ou defeitos são parâmetros de qualidade. A dimensão de custo é baseada em recursos utilizados para execução da atividade. Na saída do processo, temos a ideia da capacidade desse processo e de seu tempo, como um todo. 1010 Nunca foi tão importante medir a satisfação do cliente, porém isso não é uma tarefa fácil. Mas, com as ferramentas de comunicação disponíveis hoje, essa relação foi facilitada, tanto para o bem da organização quanto parao mal. A voz do cliente tem um potencial enorme na propagação de sua marca, desempenho de produto ou fidelização pelo seu serviço. Por isso, ferramentas de medição em redes sociais, blogs e redes de divulgação de imagens são parte importante do processo de medição e devem ter ações rápidas para tratar qualquer alteração que possa prejudicar o negócio. Vamos conceituar termos que são utilizados no mercado e que, se não entendidos, podem causar estragos nos processos. y Medição de desempenho – todo o trabalho envolvido nas medições de desempenho, métricas de processo, indicadores e suas interpretações envolvidas. y Tempo – está relacionado à duração do pro- cesso ou seu ciclo. y Custo – normalmente é o valor monetário associado ao processo. y Capacidade – é o montante ou volume produ- zido pelo processo. y Qualidade – é a relação ou a comparação do que foi feito com o que era esperado. 1111 y Medida – é a quantificação de algo, de forma que seja aceitável. y Métrica – é uma relação de dados que se trans- formam em informação, ou seja, uma interpretação ou junção de dados para ganharem um significado. y Indicador – é a representação de métrica ou medida para referenciar algo ou resultado. Por exemplo, o indicador de reclamações de clientes em um período. Assista ao vídeo Como definir indicadores de desem- penho? para saber mais sobre indicadores. Disponível em: Youtube Os indicadores são categorizados de duas formas: y Indicadores direcionadores – monitoram a causa antes do efeito, ou seja, monitoram o andamento do processo antes da sua conclusão, permitindo alterações no decorrer do processo e diminuindo problemas futuros. y Indicadores de resultados – monitoram so- mente o efeito, sem permitir alterações no decorrer do processo. SAIBA MAIS https://www.youtube.com/watch?v=PzOjTTrBiAM 1212 Por exemplo, se você quer perder 20 quilos em 6 meses, você já tem a meta e o prazo definidos. Você se pesa toda semana e começa a coletar os dados. Cada mês tem quatro semanas. Na semana 1, você perdeu um quilo; na semana 2, mais um quilo; na semana 3, outro quilo. Com esses dados, você consegue perceber que há uma evolução e pode começar a traçar qual será o resultado alcançado depois de 24 semanas. Essa medição semanal indica que, no final de 24 semanas, você terá perdido 24 quilos e terá superado a meta es- tabelecida. Perceba que o indicador semanal é um indicador de direcionamento para o seu atingimento de meta e, caso haja algum problema, você poderá corrigir rapidamente. Pense no mesmo cenário traçado acima de meta e prazo. Imaginemos agora que você optou por não medir a evolução, e fará a pesagem somente ao final das 24 semanas. Fazendo dessa forma, você verifica que perdeu 24 quilos. Note que o resultado foi o mesmo, mas com diferentes indicadores e com tipos de medição diferentes. Não há certo e errado. Você terá de analisar qual indicador é mais apropriado para o processo e implantar de acordo com o que for trazido pela equipe de processos. 1313 É importante compreender os padrões de referência com que as medições deverão ser comparadas, pois as referências podem influenciar na análise do resultado esperado. Se esse resultado da perda de 24 quilos em seis meses for comparado a uma pessoa que entrou no mesmo processo de emagrecimento e teve um resultado de 30 quilos em seis meses, isso pode trazer a sensação de que o primeiro resultado não foi tão bom. Entenda que são duas comparações: a do resultado em relação à meta e a do resultado em relação a outro resultado. Tenha sempre muito cuidado com as comparações de indicadores e com os históricos de resultados. Um exemplo bastante comum no meio empresarial é a comparação de resultados de hoje com os de anos anteriores. Obviamente, eles devem ser feitos, mas é preciso que sejam bem contextualizados, uma vez que fatores internos e externos podem potencializar positiva ou negativamente a análise desses resultados. É fundamental que, à medida que avançam as melhorias de desempenho de processos e suas implementações, as metas sejam revistas para refletir essas melhorias nas operações de negócio. Se houver uma cultura de revisão de metas com o avanço das melhorias, as metas também evoluirão. 1414 Deve-se implantar, por meio de workshops de gestores, uma avaliação contínua do programa de medição de atividades de negócios; como são medidos, fórmulas utilizadas e seus alvos de de- sempenho, sendo crucial a participação de agentes que colaboram para o resultado do indicador. Os indicadores de performance do processo devem estar sempre alinhados com as estratégias orga- nizacionais e com foco no cliente; tendo também um responsável por sua definição, monitoramento e controle. Quando uma tendência é gerada, sua melhoria deve ser estimulada – trazendo poucas, simples e valorosas informações para que a or- ganização consiga ser avaliada de verdade. As padronizações facilitam o entendimento e criam uma cultura de entendimento dos resultados e a evolução do seu progresso, ao longo do tempo. 15 MEDIÇÃO DE DESEMPENHO Medir é importante, porém, medir, monitorar e controlar de forma contínua o fará alcançar os resultados planejados para o processo. Você já ouviu falar no processo de tomada de deci- são? Esse processo auxilia na tomada de decisões em qualquer âmbito da vida. E, quando falamos em processo, ele pode ser aplicado na parte da criação de indicadores. Sua composição contém seis etapas: y Etapa 1 – Definição do problema: nesse momen- to, devemos identificar o problema a ser resolvido; no caso do indicador, qual indicador deverá ser aplicado a cada etapa. y Etapa 2 – Diagnóstico do problema: aqui vamos entender o problema e definir todos os critérios e situações trazidas por ele; no caso do indicador, quais serão os critérios usados para os indicadores. y Etapa 3 – Criação de alternativas: quais são as alternativas possíveis para a tomada de decisão, ou seja, quais as alternativas que os indicadores gerarão para ações e possíveis cursos a tomar. y Etapa 4 – Execução da decisão: deve-se decidir qual ou quais caminhos a seguir e executar, de acordo com as alternativas geradas anteriormen- 16 te; no caso dos indicadores, devemos verificar a melhor ação a tomar, com base nas alternativas. y Etapa 5 – Controle da execução: controlar as ações executadas, monitorar seus resultados e verificar se está tudo ocorrendo conforme plane- jado; deve-se fazer o mesmo com os indicadores. y Etapa 6 – Feedback ou retorno: avaliar todo o ocorrido e verificar se é preciso voltar à primeira etapa para refazer algo ou melhorar o desempenho do indicador. O principal objetivo de bons indicadores de pro- cesso é resolver o problema, e não eliminar seus sintomas. Ao criar indicadores de processos, devemos ter algumas precauções: y Cuidado com o excesso de informações; o ideal é ter poucos e valorosos indicadores e evitar o óbvio; y Não foque somente o lucro como o mais im- portante, porém, dedique-lhe sua devida relevância, evidenciando que ele é resultado de todos; y Cautela para não acreditar que somente os processos de produção são confiáveis, ou seja, que somente aqueles que produzem algo tem valor – todos os processos trazem algo ou agregam valor; y Entenda que todo e qualquer indicador rele- vante deve ser usado; todavia, nem sempre tudo é estrategicamente importante para o negócio. 17 Um cenário que pode dificultar a construção da capacidade de medição de desempenho é o fator político, pois, normalmente, os gestores não gos- tam de ser medidos. Para resolver esse problema, é crucial o profundo envolvimento da liderança executiva do negócio. As expectativas para a medição não devem ser muito baixas nem muito altas. O ideal é que se te- nha uma expectativa realista do que vai acontecer. No início, não devemos esperar resultados exatos e otimizados, pois, com o tempo, os indicadores vão evoluindoe passando por reformulações, até chegarem a um estágio de maior exatidão. Problemas ou gaps com a tecnologia da informação são comuns e devem ser identificados o quanto antes, pois isso ajuda na definição de realidade e na melhoria evolutiva dos indicadores. Painéis de monitoramento – os famosos dashbo- ards – são os pontos de observação do desem- penho, permitindo visualização e aprofundamento de detalhes que serão usados pelos tomadores de decisão. Existem diversas literaturas e formas de conduzir, criar e monitorar os processos, porém, vamos abor- dar dois aspectos de desempenho de processos: 18 Custeio Baseado em Atividade (ABC – Activity- -Based Costing) “Custeio baseado em atividades é um método de custeio de uso gerencial que atribui valores aos motivadores de consumo de atividades e recursos disponíveis em uma organização” (ABPMP, 2013, p. 209). Controle Estatístico de Processos (SPC – Statis- tical Process Control) Segundo a ABPMP (2013), o SPC lida com a cole- ção, classificação, análise e interpretação numé- rica de fatos e dados. Por meio do uso de teorias matemáticas e estatísticas, o controle estatístico de processos impõe ordem e regularidade em elementos díspares agregados. As técnicas mais utilizadas para entender e controlar as variações de processos são: análise de regressão; simula- ções de eventos discretos; análise de variância; gráficos de controle. Um quesito importante é a maturidade no geren- ciamento de desempenho de processos que, na realidade, é a capacidade de a organização medir o desempenho de trabalho em qualquer nível de processo. Se uma organização não entende bem os seus níveis de processo, não conseguirá enxergar de forma interfuncional e não medirá como deve ser medido. 19 Uma forma de medição da maturidade dos proces- sos nas organizações é a escala CMMI (Capability Maturity Model Integration), ou o Modelo Integrado de Maturidade de Capacidade, que traz uma clas- sificação em cinco níveis: Nível 1 – Inicial: o trabalho é realizado, mas, na maioria das vezes, está com orçamento estourado e com atraso. Nível 2 – Gerenciado: os trabalhos são gerenciados em níveis de projetos com passagem por todas as fases definidas no planejamento. Nível 3 – Definido: é um nível de mais proatividade e menos reações; onde já há uma definição de padrões de processos para toda a organização. Nível 4 – Gerenciado Quantitativamente: há uma maturidade elevada neste nível, pois já é possível utilizar métodos estatísticos para medição de desempenho de processos. Nível 5 – Otimização: poucas empresas conseguem atingir este nível, pois são focadas em melhorias constantes e processos flexíveis, e facilmente adaptáveis a mudanças. Muita atenção aos custos para medições de desempenho, pois, se forem elevados, temos de repensar suas medições; consequentemente, so- 20 mente os processos mais críticos devem ter seus desempenhos medidos e gerenciados. Uma área muito forte e em evidência, atualmente, é a de BI (Business Intelligence): Business Intelligence (Inteligência de Negócio) consiste em técnicas computadorizadas utilizadas para identificar e analisar informações sobre como o negócio está operando. Inclui análises estatísticas, análise de tendências, análise de rentabilidade, custos, entre outras. Também inclui reportes avançados, tais como inferências e alertas baseados em limites para intervenção e mudança estratégica em longo prazo. (ABPMP, 2013, p. 223) 2121 TRANSFORMAÇÃO DE PROCESSOS Uma situação comum é a espera por um cenário estável para a busca de ações e realizações. En- tretanto, o que temos observado nos dias atuais é exatamente o contrário: estamos agindo em um cenário de pura volatilidade e precisamos nos adaptar às mudanças muito rapidamente. Nas organizações não é diferente: elas precisam aprimorar suas capacidades o tempo todo e trans- formar seus modelos de processos constantemente, buscando novas estruturas e comportamentos de pessoas e de processos. A transformação de processos é mais ampla do que uma simples melhoria e apresenta alguns motivos para que essas transformações aconte- çam: aumento de produtividade; novos processos; diminuição de desperdícios; redução de tempo de execução; melhoria de qualidade, entre outros. A ideia central para a transformação de um processo é que ele encontre a melhor maneira de operar e entregar aquilo que foi previsto. Essa transformação é complexa, pois exige um nível alto de dedicação para a busca de novas ideias, técnicas, conceitos e ferramentas. 2222 Essa consciência de transformação traz uma grande carga de inovação e gera uma ideia disruptiva do antigo para o novo, podendo gerar, inicialmente, desconforto para equipes e para os gestores. A busca por novas ideias deve vir de dentro e de fora da organização. Em um primeiro momento, é indicado iniciar o processo de transformação por uma modelagem de alto nível e por um mapeamento das áreas fun- cionais que estarão envolvidas na transformação. No segundo momento, é preciso determinar quais informações serão necessárias para a transfor- mação do processo e verificar quais os modelos estão disponíveis para utilização. Ainda na revisão dos modelos, já podemos aplicar melhorias ime- diatas das oportunidades mais visíveis, e traçar o objetivo para novos projetos, tirando vantagem dessa oportunidade. A capacidade de se adaptar e de se reinventar é fator de sucesso e até mesmo de sobrevivência para as grandes organizações (ou para os pro- fissionais), pois, cada vez mais, temos de estar prontos para o novo. A melhoria de processos de negócio (BPI – Business Process Improvement) é uma iniciativa específica ou um projeto para melhorar o alinhamento e o desem- penho de processos com a estratégia organizacional e as expectativas do cliente”. (ABPMP, 2013, p. 236) 2323 Importante o entendimento de que a melhoria de processos não é necessariamente uma garantia que a organização utilize as práticas BPM em seus processos. O conceito de melhoria contínua passa pela evolução constante e incremental de um processo de forma organizada e disciplinada para garantir que o processo continue a atingir seus objetivos. Atualmente, existem diversas abordagens de me- lhoria de processos. Vamos conhecer algumas delas. Cabe à organização e à equipe de processos decidir qual a melhor solução para seu negócio. Uma ferramenta bastante utilizada é o pensamento Lean, que traz a ideia de obter as coisas certas, para o lugar certo, na hora exata, na quantidade estimada, com zero desperdício e sendo possível uma mudança rápida, ou seja, eliminando todo e qualquer perda no processo. O Lean tem sete princípios que trabalham com a eliminação do desperdício. São eles: y Espera – eliminar tempo não trabalhado, tempo de fila e de esperas desnecessárias para aprovações. y Movimentação – acabar com movimentos desnecessários, melhorando o planejamento e o layout organizacional. y Excesso de Produção – não produzir mais que o necessário, antes do que foi previsto, e coisas não prioritárias. 2424 y Processamento sem valor – não fazer mais trabalho para agregar mais valor sem necessidade. y Estoque – evitar materiais em excesso, que não são utilizados, ocupando espaço e tempo de controle. y Defeitos – zero retrabalho ou reparos, pois isso gera mais custo e produção desnecessária. y Transporte – eliminar o tempo desperdiçado para mover coisas sem necessidade dentro do processo. O Six Sigma é uma abordagem que busca a per- feição das operações, com base em fatos e dados estatísticos para qualquer tipo de processo. Para atingir os seis sigmas, um processo precisa apre- sentar não mais do que 3,4 defeitos por milhão de oportunidades de defeito. O artigo abaixo apresenta a aplicação prática dos con- ceitos de Lean Six Sigma para melhoria de processo em uma indústria química. Fica a sugestão de leitura. http://navus.sc.senac.br/index.php/navus/article/view/1202 SAIBA MAIS 2525 O redesenho de processos é o repensar ponta a ponta sobre o que o processo está realizando atu- almente, sem pensamentos de melhoria, apenas mudanças incrementais. (ABPMP, 2013, p. 240) Temos ainda o pensamento de mudança radical, voltado para uma nova abordagem de negócio, modelos de gestão, técnicas e tecnologias. Cha- mamos isso de reengenharia de processos (BPR – Business Process Reengineering), que é um repensar fundamental, o redesenho radical de processos para obter dramáticas melhorias no negócio. Quando pensamos em aumentar receitas e reduzir custos, partimos para uma fórmula sempre utiliza- da pelas organizações, mas isso pode não ser o suficiente, quando se trata de nossos concorrentes, pois há mudanças bem mais latentes, que buscam a quebra de paradigmas que vão muito além da melhoria contínua. Perceba que para explorar essa mudança de pa- radigma é preciso que o “impossível” ou o “nunca tentado” sejam os objetivos do negócio. Nada fácil, porém, sua organização será a única a navegar por esses mercados sem nenhuma concorrência – tra- zendo, assim, o sentido de inovação para o negócio. Para inovar em processos é preciso que pessoas inteligentes participem do processo de mudan- ça, pois são nesses ambientes que surgem os 2626 desafios e as novas descobertas voltadas para os resultados. Não basta reformular um produto ou serviço; é preciso reformular o negócio e levar novas soluções para os clientes. Entenda que não adianta melhorar aquilo que nem devia existir. Em algum momento da organização e de seus processos, será necessária uma trans- formação radical para tratar, de uma vez por todas, os acúmulos de mudanças feitos ao longo da vida da organização. Dividir para conquistar! Essa frase resume como evitar o impacto da transformação de processos. As lideranças devem dividir o desenho desejado em partes e implementar, de forma paulatina, respeitando a cultura e as restrições organizacio- nais. Com isso, o risco é minimizado, o custo é distribuído, e as mudanças são menos drásticas, num primeiro momento. Modernizar um processo é usar o conhecimento da operação como partida para buscar novas soluções com apoio de soluções tecnológicas. 27 COMO CONDUZIR A TRANSFORMAÇÃO Você deve estar se perguntando, mas, como conduzir essa transformação? Em um primeiro momento, é preciso ter uma ideia de como será vista a nova operação e como será seu desempenho – incluindo a estrutura da organização para a governança e como lidar com os novos conhecimentos, buscan- do sempre uma visão orientada por processos e soluções de automatização de processos. Considerar o enfoque de “fazer mais com o mesmo”, melhorando a produtividade e obtendo reduções de custo como consequência, será sempre uma alternativa mais atraente a todos do que buscar “fazer mais com menos”. (ABPMP, 2013, p. 249) Trazer essa visão inicial é fundamental para que as pessoas ou equipes impactadas pela transforma- ção do processo compreendam a real necessidade de mudança, fazendo com que seu engajamento seja maior, minimizando os riscos e impactos da mudança. A padronização de termos e uma profunda atenção quanto às formas de se comunicar também serão fatores de sucesso para a implantação bem-suce- dida da transformação radical de processos. 28 Se não houver apoio estrutural forte da liderança executiva, nenhuma mudança acontecerá, e não haverá comprometimento das equipes impactadas pelas mudanças. Para manter o apoio das lideranças é importante criar uma linha-base de escopo, na qual seja apresentado o andamento das mudan- ças e os pontos já realizados da transformação. As únicas exigências para as lideranças serão o engajamento ativo, o compromisso expresso e o financiamento. O gestor da mudança, juntamente com as lide- ranças, deve fazer com que todos os envolvidos enxerguem a nova realidade, e que a colaboração de todos é importante para que se alcance um estágio melhor do que o atual. O ponto em que o que foi planejado encontra com o que realmente acontece é o momento a que chamamos de mo- mento da verdade. Quando realmente for a fase de operacionalização da mudança, os líderes e gestores funcionais parti- ciparão, analisando como a mudança proveniente do modelo “TO-BE” afetarão suas unidades fun- cionais. Eles detalharão, junto com suas equipes, as transições das atividades executadas para as atividades futuras. É possível, ainda, fazer peque- nos ajustes, visto que esse é o momento em que tudo deve ser revisado e questionado. 29 O objetivo é criar um ambiente operacional voltado para o aprendizado contínuo, no qual há uma ideia de melhoria contínua verdadeiramente enraizada na organização. Inovar é primordial e deve-se repensar constantemente, propondo melhores formas para o negócio; entendendo sua integração, o envolvimento do negócio, as oportunidades para automatização, e cuidados com a terceirização. Em um ambiente voltado para a inovação, a equipe de transformação deve observar todas as oportunidades que surgirem e filtrar o que seja realmente possível. É importante criar uma cultura de reconhecimento para apoiar o surgimento de novas ideias vindas de todos os departamentos. A data para entrega da transformação deve existir, mas não deve ser tratada como o fim, e sim como o começo de novas melhorias contínuas. Nem tudo é fácil, e teremos de conviver com diver- sas restrições, durante a transformação: restrições de legalidade, de tecnologia e, principalmente, as restrições financeiras. Vamos analisá-las: Tecnologia – normalmente, as tecnologias de ponta são caras e isso pode atrasar sua transfor- mação, pois nem sempre os sistemas utilizados permitem atualizações ou modificações. Nesse sentido, devemos sempre trabalhar com a ideia de 30 que o ganho da aquisição será pago pelo ganho da economia gerada pela atualização. Recursos financeiros – a mesma ideia da tecnolo- gia se aplica quando falamos dos recursos para a transformação. É necessário um trabalho orientado ao retorno sobre o investimento (ROI – Return on Investment) para que haja justificativa para aquele investimento. Restrições legais – são as restrições baseadas em leis que impedem ou atrapalham uma transfor- mação. Um exemplo são as leis ambientais, que podem travar seus processos de transformação nas linhas de produção em que haja manipulação de produtos restritos. Entender quais habilidades e competências sua equipe de transformação deve possuir também é fator de sucesso ou fracasso para a transforma- ção. O ideal é que a equipe seja multidisciplinar e que domine os conceitos de BPM alinhados às ferramentas Lean Six Sigma, estratégias de ne- gócios, reengenharia de processos, sistemas de informação, entre outras. Na condução dessa transformação, é importante que se faça uso de uma ferramenta BPMS, pois isso permitirá um maior controle das informações geradas, a automatização para desenho de solu- ções, simulação de ações, possíveis modificações 31 propostas, e até observar a evolução operacional, antes da aplicação. A figura de um gerente de processos é igualmente importante, pois ele observará o fluxo de processo e o fluxo de trabalho das áreas funcionais. Seu foco deve estar nos alvos da transformação e de como estes serão. Na condução da transformação, a equipe deve sempre seguir o método de trabalho predefinido – as listas de atividades realizadas, suas relações, e trabalhar os dados coletados e produzidos. Cada transformação terá escopo, objetivos e dire- cionadores diferentes. Algumas transformações serão orientadas funcionalmente e confinadas em uma área funcional. Outras serão orientadas por processos interfuncionais. O plano de projeto irá refletir esse escopo e objetivos e delimitará os limites da transformação. (ABPMP, 2013, p. 277) Uma vez construída a análise do modelo “AS-IS”, a equipe partirá para a criação do modelo “TO-BE”. Modelo aprovado, é feita a divisãoem partes me- nores e mais facilmente gerenciáveis. Assim que as simulações e os testes forem feitos, esses novos desenhos devem ser minuciosamente revisados pelas pessoas que trabalharão na nova operação. 32 Espera-se que essa transformação traga um novo pensar sobre a forma como o negócio entrega seus produtos e serviços aos clientes. Devemos nos colocar no ponto de vista do cliente, e não no da organização. A visão orientada ao produto ou serviço é a visão inside out, ou seja, uma construção de negócio com visão de dentro para fora da organização. Uma visão orientada ao cliente é a construída de fora para dentro, também chamada de outside in. É importante você entender que as transformações direcionadas para um modelo orientado a proces- sos trará um redesenho da estrutura funcional, pois produzirá o papel do gerente de processos. Nesse caso, pode acontecer a criação ou a extin- ção de cargos funcionais, sendo necessário um entendimento de mudança nos papéis das equipes, na condução de treinamentos, e na melhoria das comunicações. O aprendizado contínuo proposto pela nova mo- delagem de negócio passa pela constante busca de treinamentos para um melhor desenvolvimento organizacional, sendo fator crítico de sucesso para a implantação do novo modelo. Envolver os profissionais de RH nessa evolução ajudará na revisão de lacunas de conhecimento de cada profissional que executará a atividade proposta. 33 O acompanhamento de um mentor também pode ajudar nessa evolução. É comum, no mercado, a crença de que uma transformação de processos só é possível com o suporte da ferramenta BPMS, pois ela ajuda no posicionamento rápido das operações no estado futuro. No entanto, a transformação implica uma mudança ampla e qualquer tecnologia usada afe- tará parte significativa das operações de negócio e da infraestrutura de tecnologia da informação. No processo de transformação, as medições de desempenho devem ser claramente definidas, bem como verificado se estão alinhadas com os objetivos da organização e suas respectivas áreas funcionais. Nesse momento, também é pensado como a informação de desempenho deverá ser entregue, sendo este trabalho realizado em con- junto com a tecnologia da informação para definir a melhor tecnologia para a situação. Sustentar o que é novo também é importante, pois o desafio é manter o processo em um nível ótimo de desempenho. E talvez seja necessário entrar em um novo nível de transformação, caso o desempenho não esteja de acordo com o que foi planejado. Se você acredita que, depois da transformação completa e do fim das implementações, o trabalho 34 acabou, está enganado. O negócio nunca deixa de evoluir para acompanhar o mercado, os avanços em tecnologia, bem como para oferecer novos produtos e serviços, entre outros. Tudo isso, é claro, com uma velocidade cada vez maior e com mudanças mais e mais profundas, toda vez que o ciclo recomeça. Alguns exemplos de transformação de processos podem ser observados em nosso dia a dia, como a evolução dos restaurantes (os profissionais de atendimento foram substituídos pelo próprio cliente no processo) no famoso self-service. Algo semelhante acontece quando montamos nosso próprio prato no aplicativo do celular. Outra experi- ência é quando embarcamos em ônibus ou aviões, usando guichês de autoatendimento; bem como os bancos virtuais, nos quais todos os processos e interações são baseados em tecnologia e na interatividade virtual. Uma das maiores evoluções vem do e-commerce, no qual a evolução da cadeia de consumo traz maior inserção e interatividade do cliente no processo. Incorporar o cliente como ator do processo se tornou um dos fundamentos do desenho de serviços em BPM e deve ser um princípio orientador em todos as iniciativas de transformação. 35 Sugiro a leitura de Business Model Generation: inova- ção em modelos de negócios. É um manual prático e inspirador para qualquer um que busque aprimorar um modelo de negócios ou desenvolver um novo. Ele ensinará a você técnicas de inovação poderosas e prá- ticas utilizadas hoje pelas empresas líderes no mundo. Você aprenderá a compreender, projetar e implementar sistematicamente um novo modelo de negócios - ou analisar e renovar um antigo. SAIBA MAIS 3636 CONSIDERAÇÕES FINAIS O gerenciamento de desempenho de processos é uma jornada evolutiva e avança conforme o negó- cio muda e evolui, com isso, o nível de maturidade precisa estar alto para que os resultados dessa evolução sejam observados. Trazer o que deve ser monitorado, e por que, são fatores primordiais para a gestão de desempenho, com direcionamento claro para alvos propostos pelas equipes com medidas, métricas e indicadores desse desempenho. A evolução dos sistemas de medição de desem- penho permitirá que o negócio mantenha o foco no cliente, caso contrário, sua análise terá pouco valor e perderá sua necessidade de existência. A medição está relacionada a um conjunto de dados padronizados e com precisão aceitável, pois as métricas partem das medições com a combinação das medidas, gerando um resultado que, ao ser comparado com os objetivos, geram os indicadores. São doze as características dos indicadores de desempenho: relevantes, orientados a contexto, reforçados, alinhados, com tendência, poucos números, de fácil entendimento, acionáveis, equilibrados, padronizados, transformadores e com responsabilidade. 3737 O impacto da transformação de processos passa, necessariamente, por melhoria contínua, redesenho de processos, reengenharia de processos e uma mudança drástica de paradigma organizacional, pois envolve vários conhecimentos e habilidades para que haja a transformação necessária e pro- funda pela organização. Inovação é uma palavra que deve permear as ações das equipes de transformação de proces- sos, pois pensar o novo deve ser pautado por uma metodologia de trabalho disruptiva, sendo assim, é necessário o envolvimento e grande apoio das lideranças executivas, dos gestores de áreas fun- cionais e dos colaboradores que serão afetados por esta transformação. A transformação de processos também sofre com as limitações de recursos financeiros, por isso, sua implementação pode ser feita em partes, passando no primeiro momento pelos processos de alto impacto e com resultados perceptíveis a curto prazo, fazendo com que seu custo seja diluído com a evolução do trabalho. Toda transformação gera mudanças. Por esse motivo, um plano de gestão de mudanças deve ser aplicado na transformação. Utilizar o BPMS é fundamental para o apoio à transformação de processos. Referências Bibliográficas & Consultadas ABPMP. Association of Business Process Management Professionals – Brasil. BPM CBOK. Guia para o gerenciamento de processos de negócio: corpo comum de conhecimento, 2013. CAVALCANTI, R. Modelagem de processos de negócios: roteiro para realização de projetos de modelagem de processos de negócios. Rio de Janeiro: Brasport, 2017. [Biblioteca Virtual] CRUZ, T. Manual para gerenciamento de processos de negócio: metodologia DOMP™: (documentação, organização e melhoria de processos). São Paulo: Atlas, 2015. [Minha Biblioteca] MEREDITH, J. R.; MANTEL, S. J. Administração de projetos: uma abordagem gerencial. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003. [Minha Biblioteca] MUNHOZ, A. S. Fundamentos de tecnologia da informação e análise de sistemas para não analistas. Curitiba: Intersaberes, 2017. [Biblioteca Virtual] REZENDE, D. A.; ABREU, A. F. Tecnologia da Informação aplicada a sistemas de informação empresariais: o papel estratégico da informação nas empresas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. [Minha Biblioteca] TACHIZAWA, T.; SCAICO, O. Organização flexível: qualidade na gestão por processos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. TURBAN, E.; VOLONINO, L. Tecnologia da informação para gestão: em busca do melhor desempenha estratégico e operacional. 8. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. [MinhaBiblioteca] VALLE, R.; OLIVEIRA, S. B. Análise e modelagem de processos de negócio: foco na notação BPMN. (Business Process Modeling Notation). São Paulo: Atlas, 2013. [Minha Biblioteca] Introdução Desempenho de Processos Medição de Desempenho Transformação de Processos Como conduzir a transformação Considerações finais Referências Bibliográficas & Consultadas