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Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Estratégico Planejam ento Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Código Logístico 59653 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6705-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 5 3 Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Estratégico Planejam ento Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Código Logístico 59653 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6705-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 5 3 Planejamento Estratégico Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira IESDE BRASIL 2021 © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Olivier Le Moal/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F399p Fernandes, Ciro Antonio Planejamento estratégico / Ciro Antonio Fernandes, Djair Pereira. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 146 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6705-3 1. Planejamento estratégico. 2. Desenvolvimento organizacional. I. Pereira, Djair. II. Título. 21-72261 CDD: 658.4012 CDU: 005.51 Djair Pereira Ciro Antonio Fernandes Mestre em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Economia Solidária e Tecnologia Social na América Latina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Administrador pela Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN). Consultor ad hoc do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e da Fundação Carlos Chagas (FCC) e consultor organizacional na Fundação Instituto de Administração (FIA) e na Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap). Professor universitário, lecionando as disciplinas de Empreendedorismo Social, Projetos de Inovação, Teoria da Administração e Marketing. No campo internacional, foi consultor da Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (ASDI) e da Cooperação Suíça para o Desenvolvimento Humano, com atuação na África, na cidade de Maputo, em Moçambique, em projetos organizacionais no Ministério da Administração e no Banco de Moçambique. Doutor em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Mestre em Administração pela Universidade Metodista do Estado de São Paulo (Umesp). Pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela Faculdade do Litoral Sul (Fals). Graduado em Administração também pela Fals. Docente no ensino superior nos cursos de bacharelado em Administração e nos cursos tecnológicos em Recursos Humanos. Ministra as disciplinas: Planejamento Estratégico, Gestão por Processos, Gestão do Conhecimento, Liderança e Cultura Organizacional, Gestão Estratégica de Pessoas, Fundamentos de Administração, Avaliação de Desempenho e Gestão por Competência. Leciona a disciplina de Finanças e Controladoria no Programa de Mestrado Profissional em Administração/Governança Corporativa. Atua também como avaliador do Inep/MEC e como pesquisador. SUMÁRIO 1 Introdução ao planejamento estratégico 9 1.1 Tipos de planejamento 10 1.2 Ambiente competitivo atual 20 1.3 Assimetria da informação 23 1.4 Vantagem competitiva 26 2 Inteligência competitiva 32 2.1 Conceitos fundamentais sobre inteligência competitiva 33 2.2 Análise do ambiente externo 41 2.3 Contrainteligência nas organizações 54 3 Inovação como estratégia competitiva 58 3.1 Gestão da inovação e da transformação digital 59 3.2 Business Analytics 63 3.3 Business Performance Management 68 3.4 Gamificação aplicada aos negócios 72 3.5 Design thinking 77 4 O líder estrategista 84 4.1 Características e competências do líder 85 4.2 Alinhamento organizacional na execução estratégica 96 4.3 Desenvolvimento de equipes de alta performance 101 4.4 Administração de conflitos e negociações 109 5 Implementação de estratégias organizacionais 118 5.1 Matriz de Ansoff e matriz BCG 119 5.2 Balanced scorecard (BSC) 126 5.3 Modelo das cinco forças de Porter 130 5.4 Estratégias competitivas 136 Resolução das atividades 142 Na extensa bibliografia de livros dedicados à gestão de empresas, encontramos diversos estudos e pesquisas acadêmicas voltados à administração estratégica, com ênfase no planejamento estratégico das organizações. Como o tema é vasto, muitas são as visões acerca do assunto, sobre o qual ora encontramos de maneira detalhada os passos para a elaboração do diagnóstico do planejamento estratégico, ora vemos estudos discorrendo sobre os níveis estratégicos, táticos e operacionais e suas relações com as diversas tipologias organizacionais. Todos têm o seu valor, mas, pensando em uma obra que pudesse expressar em seu conteúdo o pensamento dos estudiosos clássicos e contemporâneos da administração estratégica, criamos esta obra, Planejamento Estratégico. Este livro é o resultado de pesquisas e estudos acadêmicos e da participação em conferências, fóruns e seminários de gestão estratégica, administração e planejamento. Esses encontros acadêmicos nos fizeram pensar em como auxiliar de maneira prática o gestor de empresa no entendimento da construção do planejamento estratégico, integrando os três níveis da organização (estratégico, tático e operacional), e em como resolver o problema da assimetria da informação presente nas empresas. Vimos também que o planejamento estratégico requer uma boa dose de entendimento de como implementar as estratégias organizacionais apoiadas na inteligência competitiva da organização e na utilização das matrizes SWOT e G.E (McKinsey), abordadas de modo muito diferente neste livro. Gestores, estudantes e demais profissionais do mercado que buscam um melhor entendimento do tema são o alvo desta obra. Este livro trata da inovação como estratégia competitiva. Por isso, os temas Business Analytics, gamificação e design thinking são destaques no processo de compreensão da importância que recai sobre a inovação no desenvolvimento da cultura estratégica da organização. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Planejamento Estratégico O sucesso do planejamento estratégico exige que haja, à sua frente, um líder estrategista com habilidade para fomentar a cooperação e a criação de valor. Desse modo, alinhamento organizacional e desenvolvimento de equipe de alta performance são temas deste livro e que enriquecem o conhecimento do leitor. Integrando esse conjunto de temas contemporâneos, a obra convida você, estudioso do tema, a conhecer a aplicação no planejamento estratégico das matrizes de gestão BCG e do balanced scorecard, bem como das cinco forças de Porter e suas estratégias de competitividade. Esperamos que este livro, com sua abordagem diferenciada e atual, contribua para as organizações, para o aprendizado e desenvolvimento da aplicação dos recursos que o planejamento estratégico pode lhes oferecer. Desejamos que esta obra esteja presente em seu dia a dia! Introdução ao planejamento estratégico 9 1 Introdução ao planejamento estratégico Ciro Antonio Fernandes Iniciando nossos estudos em introdução ao planejamento estratégico, ao longo deste capítulo abordaremos temas relativos às estratégias orga- nizacionais e às ações necessárias para sua formulação e implementação. Na primeira seção, conheceremos os níveis de planejamento – que são: estratégico, tático e operacional – e a razão para haver tipos diferenciados deplanejamentos, que reside no fato de que o planejamento estratégico é concebido com foco na empresa como um todo, enquanto os planejamen- tos tático e operacional são específicos para cada área funcional ou unidade de negócios. Os planejamentos tático e operacional permitem traçar metas e objetivos às áreas funcionais e/ou às unidades de negócio e alinha-as às políticas, às metas e aos resultados definidos para a empresa de maneira em geral. Na segunda seção, analisaremos como o ambiente competitivo atual pode influenciar as estratégias organizacionais, assunto que remete à ca- pacidade do gestor de estudar, compreender e gerenciar a empresa além dos limites geográficos e espaciais impostos pelas fronteiras físicas. Na terceira seção, trataremos da assimetria da informação, conside- rada uma variável que pode levar a grandes prejuízos para a empresa ou para o indivíduo. Ter a posse plena da informação e conhecer sua veraci- dade pode ser questão de vida ou morte para as empresas. Na quarta seção, veremos o conceito de vantagem competitiva, como as empresas podem obtê-la e como a gestão estratégica, devidamente estruturada e implementada, pode colaborar para esse objetivo. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • analisar a construção da estratégia de uma organização e os passos necessários para sua concepção. Objetivos de aprendizagem 10 Planejamento Estratégico 1.1 Tipos de planejamento Vídeo Vamos dar início ao nosso conteúdo sobre planejamento estratégi- co. Nesta primeira seção conheceremos os tipos de planejamentos que permitem às empresas formular e implementar suas estratégias de criação de valor com sucesso. Mas por que uma empresa tem a neces- sidade de definir e implementar estratégias? O que você pensa a res- peito disso? Qual seria a sua resposta? Uma estratégia é formulada quando a empresa precisa definir o que pretende fazer para enfrentar a concorrência, ou seja, quais compro- missos e ações deve adotar para explorar suas competências essen- ciais a fim de obter vantagem competitiva (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Quando o desempenho da empresa é pensado de maneira global, estamos falando de planejamento estratégico. No entanto, quando as estratégias são formuladas para otimizar os resultados de determina- da área da empresa, o planejamento a ser formulado é o de perspec- tiva tática, ou, como é conhecido, planejamento tático. Há, ainda, uma terceira proposta de estratégia: o planejamento operacional, que bus- ca resultados específicos a serem obtidos pelas áreas funcionais, por meio de seus colaboradores (OLIVEIRA, 2018). Então, verificamos basicamente três níveis estratégicos neces- sários a toda empresa, que são definidas pelo planejamento estratégico, pelo planejamento tático e pelo planejamento operacional. Apesar de cada planejamento possuir características e objetivos próprios, todos eles devem estar ajustados e alinhados entre si, para que propiciem crescimento e sustentabilidade do negócio. A Figura 1 ilustra os três modelos de planejamentos e a abrangência de cada um deles. Figura 1 Níveis de planejamento Estratégico Tático Operacional Antes de prosseguir com o conteúdo, responda: para que servem as estratégias adotadas pelas empresas? Posteriormente, compare sua resposta com o conteúdo estudado e avalie se você estava no caminho certo. Desafio Introdução ao planejamento estratégico 11 Figura 2 Tipos de planejamentos Planejamento tático Financeiro Mercadológico Recursos Humanos Produção Organização Planejamento estratégico Planejamentos operacionais Resultados apresentados por unidades organizacionais Desenvolvimento e a busca de resultados específicos Fonte: Adaptado de Oliveira, 2018, p. 73-74. Fazendo a análise da Figura 2, temos inicialmente o planejamento estratégico, o qual é definido como um método que permite que a alta administração proponha ações que visem a uma maior interação e res- postas mais eficientes aos fatores não controláveis, característicos do ambiente externo (OLIVEIRA, 2018). Além do foco no ambiente externo, o planejamento estratégico também visa integrar e conscientizar a alta administração e os ge- rentes sobre questões pertinentes ao ambiente interno da empresa, a fim de “manter a organização como um conjunto apropriadamente integrado a seu ambiente” (CERTO, 2005, p. 17). O planejamento estratégico é a ferramenta que o diretor executivo possui para organizar, dirigir, controlar e implementar as mudanças pretendidas, a fim de alcançar os resultados estratégicos esperados (OLIVEIRA, 2018). 12 Planejamento Estratégico Para formular um bom planejamento estratégico, é necessário que sua elaboração seja apoiada em bases metodológicas, orientadas por preceitos científicos capazes de reduzir os riscos para o negócio e sub- sidiar as diretrizes que melhorem o desempenho organizacional (OLI- VEIRA, 2018). Por isso, importante que estejam definidas as estratégias de negó- cio e as estratégias corporativas, de acordo com os objetivos e metas a serem atingidos pela alta administração. Essa definição deve ocorrer de maneira minuciosa, antes de se optar por qualquer tipo de estra- tégia. Ambas as estratégias são utilizadas para melhorar o desempe- nho organizacional e a conquista de vantagem competitiva, possuindo, cada qual, características e objetivos próprios, como veremos a seguir. A estratégia de negócios pode ser definida como um conjunto in- tegrado e coordenado de compromissos e ações em que os clientes são a essência para a obtenção de vantagem competitiva (HITT; IRE- LAND; HOSKISSON, 2019). Ao optar por essa estratégia, a empresa uti- lizará suas competências essenciais para explorar nichos específicos de clientes. Para isso são necessárias informações relevantes sobre os clientes, como: • quem será atendido; • quais necessidades do cliente-alvo serão atendidas; • como essas necessidades serão atendidas. Veremos, agora, as estratégias em nível corporativo. Esse modelo de estratégia diz respeito a mercados ou produtos, em que ou com os quais, respectivamente, a empresa irá competir. Ao optar por uma estratégia em nível corporativo, a empresa pode diversificar seus produtos, o que lhe permite assumir novas posições estratégicas em outros mercados, possibilitando a melhora de sua competitividade e o aumento do seu market share. A definição de estratégias em nível de negócios ou corporativo é essencial à formulação do planejamento estratégico, pois irá orientar o estabelecimento de diretrizes estratégicas – que precisam estar foca- market share: fatia de mercado ou grau de participação de uma empresa no mercado. Glossário das no mercado em que a empresa pretende atuar e no processo de tomada de decisões. Feita a abordagem inicial sobre o planejamento estratégico, ago- ra passaremos ao planejamento tático, cujo foco está na otimização dos objetivos de cada departamento. O planejamento tático precisa ser formulado de maneira que possa contribuir efetivamente com o planejamento estratégico. É importante salientar que cada departamento tem objetivos, estratégias e políticas próprias, por isso as metas e os objetivos delineados precisam estar ajustados às suas características e pro- pósitos, sempre em alinhamento com o planejamento estratégico (OLIVEIRA, 2018). Em relação ao planejamento operacional, nele se concentram o desenvolvimento e a implementação das estratégias, que criam condições para a realização das atividades diárias dos funcionários, considerando seus respectivos departamentos. Para que essas atividades alcancem os resultados esperados, elas precisam ser definidas pelo planejamento operacional, “por meio de um processo formal e orientadas por métodos que possibilitem o alcance dos resultados pertinentes a cada área funcional” (OLIVEIRA, 2018, p. 138). O gestor precisa ter em mente que cada área funcional pre- cisa contar com recursos que viabilizem o desenvolvimento e a implantaçãodas atividades propostas pelo planejamento opera- cional para que as metas e os prazos sejam atendidos (OLIVEIRA, 2018). Caso os departamentos não recebam os recursos (tangíveis e intangíveis) necessários, eles deixarão de entregar os resultados esperados, o que, consequentemente, afetará o resultado da em- presa como um todo. Feita essa breve explanação, seguiremos para as próximas se- ções, nas quais estudaremos como se dá a formulação do plane- jamento estratégico, do planejamento tático e do planejamento operacional. Introdução ao planejamento estratégico Introdução ao planejamento estratégico 1313 14 Planejamento Estratégico 1.1.1 Planejamento estratégico Após conhecer os conceitos e objetivos de cada tipo de planejamen- to, nesta subseção estudaremos a formulação e abrangência deles. Ve- remos quais são as informações necessárias à formulação de cada um e como eles são aplicados aos contextos com os quais se relacionam. O planejamento estratégico tem início com uma pesquisa detalhada e devidamente estruturada, tendo como objetivo conhecer em profun- didade o grau de interação da empresa com as variáveis ambientais não controláveis, as quais podem influenciar a sua performance eco- nômica e financeira (OLIVEIRA, 2018). É importante ressaltarmos que, por se tratar de uma pesquisa, é ne- cessário definir um método de investigação com regras e procedimen- tos capazes de produzir o conhecimento desejado. Definido o método, deve-se planejar as atividades de coleta e o tratamento dos dados, deli- neando a pesquisa de maneira coerente e ajustada com o seu objetivo. Voltando para a questão do método, existem algumas propostas metodológicas para a formulação do planejamento estratégico, como a de Oliveira (2018), que sugere um método dividido em seis fases, con- forme apresentado no quadro a seguir. As variáveis representam fato- res de interesse a uma pesquisa. São fatores que variam e que são passíveis de observação (inter- nos ou externos, quantitativos ou qualitativos); podem influenciar ou impactar o comportamento ou as características do objeto de estudo (por exemplo, as variáveis econômicas: taxa de juros e inflação, que podem afetar as vendas da empresa). Saiba mais Quadro 1 Método para formulação do planejamento estratégico FASES OBJETIVO GERAL OBJETIVO ESPECÍFICO AÇÕES 1 Delineamento das grandes questões estratégicas Identificar as grandes questões estratégicas; ve- rificar o nível de compreensão da alta adminis- tração em relação a essas questões; direcionar para essas questões o raciocínio e o processo decisório das pessoas; criar consenso em torno dessas questões. Identificação da visão e dos valores das pessoas represen- tativas da empresa; estabeleci- mento das macroestratégias e macropolíticas da empresa. 2 Análise interna e externa da empresa Identificar as variáveis internas e as variáveis externas; analisar os concorrentes; analisar a vantagem competitiva dos concorrentes e da própria empresa. Análise interna; análise externa; análise dos concorrentes; esta- belecimento das vantagens com- petitivas. 3 Estabelecimento da amplitude e da abordagem dos negócios Identificar missão, negócios, produtos ou servi- ços e os segmentos de atuação; delinear os ce- nários e sua interação com as principais ques- tões estratégicas da empresa; compreender a forma e a intensidade de atuação da empresa. Estabelecimento da missão da empresa; estabelecimento dos propósitos atuais e potenciais da empresa; estruturação e debate de cenários. 4 Estabelecimento das ações e dos resultados estratégicos Definir os objetivos a serem alcançados; definir ações ou estratégias a serem operacionaliza- das; definir políticas para desenvolvimento e operacionalização das estratégias. Estabelecimento de objetivos, desafios e metas; estabeleci- mento de estratégias e políticas da empresa. (Continua) Introdução ao planejamento estratégico 15 FASES OBJETIVO GERAL OBJETIVO ESPECÍFICO AÇÕES 5 Aplicação das decisões estratégicas Definir os projetos e planos de ação; definir a interligação com o orçamento e outros instru- mentos administrativos. Estabelecimento dos projetos e planos de ação; interligação com o orçamento e instrumentos ad- ministrativos. 6 Acompanhamento, avaliação e aprimoramento do plano estratégico Consolidar o processo de acompanhamento e avaliação dos resultados do plano estratégico; definir as maneiras de consolidar os aprimo- ramentos contínuos e sustentados do planeja- mento estratégico. Interação com os indicadores de desempenho; plano estruturado para a melhoria contínua do pro- cesso estratégico nas empresas. Fonte: Adaptado de Oliveira, 2018, p. 74-87. O Quadro 1 ilustra as fases, os objetivos e as ações que precisam ser seguidos pela alta administração para produzir informações capazes de subsidiar a formulação do planejamento estratégico. Após concluído, o planejamento estratégico funciona como uma ferramenta administrativa apta a estabelecer a direção a ser seguida, orientando o comportamento esperado dos seus funcionários e crian- do condições que atendam às demandas estratégicas da empresa, con- tribuindo para a obtenção de vantagem competitiva (OLIVEIRA, 2018). Contudo, é preciso que o gestor tenha consciência de que o planeja- mento estratégico por si só não fará com que as estratégias aconteçam, ou seja, que serão colocadas em prática automaticamente. Como dito anteriormente, o planejamento estratégico é uma ferramenta adminis- trativa apta a estabelecer a direção a ser seguida pela empresa, mas que, se não for executada, não produzirá resultados. Assim, para que o planejamento estratégico seja efetivamente colo- cado em prática ou implementado, é preciso que a alta direção envolva toda a empresa, dividindo e atribuindo metas e objetivos a todos os departamentos e estes aos seus funcionários. É dessa divisão estraté- gica que trataremos a seguir, iniciando pelo planejamento tático, que é responsável pelas estratégias em nível departamental. 1.1.2 Planejamento tático Com a implementação do planejamento estratégico, é necessário que se faça a divisão e a interligação dos objetivos globais com as es- tratégias e projetos desenvolvidos para os departamentos. Essa ação dá origem ao planejamento tático, que é construído de maneira mais 16 Planejamento Estratégico detalhada, pois tem relação direta com as atividades de cada departa- mento da empresa (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Portanto, a implementação do planejamento estratégico e sua interligação com o planejamento tático deve respeitar as peculiari- dades de cada departamento para que estes obtenham resultados que auxiliem a empresa na consolidação de seus objetivos e metas (OLIVEIRA, 2018). Como estamos falando em nível departamental, é importante dei- xarmos claro que a quantidade de planejamentos táticos será igual ao número de departamentos, ou seja, para cada departamento conside- rado crítico aos objetivos estratégicos será formulado um plano tático. Essa distribuição tem a finalidade de otimizar a entrega dos resultados por departamento (OLIVEIRA, 2018). Exemplificando, a empresa pode formular um planejamento tático para o departamento de marketing ou de finanças, entre outros; o qual será subdividido em planos operacionais (algo que abordaremos na se- ção seguinte). Veja, por exemplo, o planejamento tático de marketing, que pode ser subdividido em: planejamento operacional de produtos; planeja- mento operacional de distribuição; e planejamento operacional de pro- moção (OLIVEIRA, 2018). As características do planejamento tático são ilustradas na Figura 3. Figura 3 Características do planejamento tático Horizonte temporal Abrangência Conteúdo Definição Planejamento tático Fonte: Adaptado de Chiavenato; Sapiro, 2020, p. 47. Introdução ao planejamento estratégico 17 As características apontadas na Figura 3 demonstram que o pla- nejamento tático possui uma perspectiva projetada parao hori- zonte temporal, de médio prazo ou para exercício anual. Quanto à abrangência, ela se relaciona à ligação com cada departamen- to, seus recursos específicos e como irão alcançar suas metas e objetivos. Reforçando o que estávamos falando ao longo deste capítulo, é imprescindível que as metas e os objetivos previstos para cada de- partamento dentro do plano tático estejam perfeitamente alinhados às metas e aos objetivos previstos para a empresa no planejamento estratégico. Da mesma maneira, o planejamento operacional, precisa estar alinhado e ajustado para atender e alcançar as metas e os objetivos predeterminados para os departamentos no planejamento tático para que possam entregar os resultados esperados. 1.1.3 Planejamento operacional O terceiro planejamento é o operacional, formulado com foco na execução das operações, ou seja, é aquele que direciona e regula as atividades diárias da empresa. O planejamento operacional é coordenado e articulado pelos ge- rentes do nível tático, e sua implementação possibilita que as ativi- dades sejam executadas dentro de uma lógica de regularidade, com foco na eficiência e na eficácia (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Para a formulação do planejamento operacional, é importante considerar as competências e os recursos internos (forças e fraque- zas) que serão utilizados na operacionalização das estratégias pelos funcionários – por exemplo: quadro de pessoal, controle de vendas, custos, controle de qualidade etc. (OLIVEIRA, 2018). Existe uma certa dificuldade na execução das estratégias em nível operacional, que precisa ser muito bem administrada pelos gestores. Estamos nos referindo à resistência ou à falta de comprometimento que pode ocorrer por parte de alguns funcionários. Isso se dá devido à falta de participação das áreas operacionais na formulação das estratégias organizacionais. Perante essa possível O filme Sete homens e um destino mostra como um planejamento bem detalhado e estruturado pode auxiliar no alcance dos objetivos. Direção: Antoine Fuqua. Estados Unidos da América: Sony Pictures, 2016. Filme 18 Planejamento Estratégico situação, o gestor precisa ter a iniciativa de liderar e coordenar a cria- ção de uma consciência de colaboração coletiva para que todos se es- forcem em desempenhar as ações estratégicas básicas com o objetivo de se evitarem fracassos (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Nesse sentido, algumas ações são esperadas do líder operacional, como as que são ilustradas na figura a seguir. Fonte: Adaptado de Chiavenato; Sapiro, 2020, p. 216. Figura 4 Ações da liderança operacional CONDUZ pessoas para a execução do trabalho IMPULSIONA o desempenho excelente INSPIRA lealdade e confiança FAZ PARCERIAS dentro e ao longo das equipes É OPERACIONAL (conhece e, se necessário, sabe fazer o que precisa) GERENCIA o trabalho cotidiano INFLUENCIA pelo seu poder pessoal OPERACIONAL (SUPERVISORES) Como podemos perceber na Figura 4, a liderança operacional requer do indivíduo competências cognitivas, comportamentais e éticas, tra- duzidas em uma atuação transparente que prestigie a participação dos funcionários nos assuntos corporativos e permita alcançar os resultados necessários ao crescimento da empresa. Para finalizar e melhor explicar a relação entre os três tipos de pla- nejamento, o exemplo dado na Figura 5 busca demonstrar a posição hierárquica que cada processo do planejamento ocupa em relação a outro, a interligação que há entre eles e os planos, que são próprios a cada um. Introdução ao planejamento estratégico 19 Figura 5 Processos de planejamento por nível hierárquico e por tipo de atividade Fonte: Adaptada de Oliveira, 2001, p. 46 apud Chiavenato; Sapiro, 2020, p. 48. Planos táticos Planos operacionais Fluxo orçamentário Plano de investimentos Plano de capacidade Plano de abastecimento Plano de cargos e salários Plano de treinamento Fluxo de caixa Plano de aplicações Plano de manutenção Programa de qualidade Plano de incentivos Plano de recrutamento e seleção Planejamento de produção Planejamento financeiro Planejamento de recursos humanos ALCANCE DE RESULTADOS Planejamento estratégico Como se vê na Figura 5, o planejamento estratégico é desdobra- do em planos táticos e estes orientarão os departamentos sobre as estratégias, as metas e os objetivos que devem alcançar. De posse dessas informações, os departamentos desdobrarão os planos táti- cos em operacionais, nos quais estarão definidas as estratégias, as diretrizes e os resultados esperados para cada uma das atividades próprias a cada departamento. 20 Planejamento Estratégico Para que os objetivos globais não sejam perdidos de vista, é ne- cessário ter indicadores de desempenho que permitam o monito- ramento constante da entrega de resultados pelos níveis tático e operacional. Esse controle permite aplicar medidas corretivas caso os resultados estejam abaixo do esperado, permitindo o sucesso do planejamento estratégico (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Com base nessa visão global, podemos observar a importância do planejamento operacional para a empresa, pois é ele que promo- ve a plena execução das tarefas diárias ao adotar uma série de pro- cessos e medidas estratégicas que permitam o alcance das metas e dos resultados definidos pelo planejamento estratégico. Essa otimização de recursos e processos operacionais dará à em- presa condições de melhorar seu desempenho e conquistar vanta- gem competitiva. 1.2 Ambiente competitivo atual Vídeo Neste capítulo compreenderemos a influência do ambiente externo nas tendências do mercado mundial de negócios e no comportamento das empresas. Espera-se que o gestor tenha a capacidade de estudar, compreender e gerenciar sua empresa com base em premissas que ultrapassem os limites geográficos e es- paciais das fronteiras físicas que existem entre os paí- ses, destacando-se pela sua mentalidade global. O gestor com mentalidade global busca recur- sos que possibilitem à empresa reagir de maneira adequada e estratégica às situações impostas pelo ambiente para que ela supere seus concorrentes e conquiste vantagem competitiva (HITT; IRELAND; HOS- KISSON, 2019). A princípio, o ambiente pode ser dividido conside- rando-se o contexto externo, com o qual a organiza- ção se relaciona, e os fatores internos, que estão sob seu controle. Os ambientes apresentam as seguintes características: • Externo: constituído pelo macroambiente, ou ambiente geral, e pelo ambiente competitivo. Nesse ambiente encontram-se as Em Proposta de planeja- mento estratégico para melhorias na gestão de um Núcleo de Inovação Tecno- lógica (NIT) é analisado o atual cenário e proposto um planejamento estra- tégico para o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) de uma universidade do Paraná, visando aprimorar sua gestão interna. Leitura que contribuirá com o aprendizado da disciplina, uma vez que apresenta aspectos práticos relativos à formulação e implemen- tação do planejamento estratégico. Disponível em: http://revistagt.fpl. edu.br/get/article/view/1759/1133. Acesso em: 9 fev. 2020. Leitura Go ld en S ik or ka /S hu tte rs to ck Introdução ao planejamento estratégico 21 ameaças e oportunidades, que representam fatores que estão fora do controle das empresas. • Interno: constituído pelo ambiente de negócios, no qual estão inseridos os recursos tangíveis e intangíveis, as capacidades e as competências individuais e essenciais. Nesse ambiente estão as forças e as fraquezas da empresa, que representam fatores que as elas podem controlar. Para melhor compreensão sobre como o ambiente externo pode in- fluenciar na maneira como as empresas competem, focaremos nossas análises no macroambiente, ou ambiente geral, e no ambiente compe- titivo, conforme ilustrado na Figura 6. O ambiente interno será visto em outro momento. Macroambiente Econômico Político Tecnológico Jurídico Meio ambiente Nação Mundo Variáveisque podem afetar o ambiente competitivo. Obstáculos competitivos a serem superados. Competidores Barreiras de entrada Diferenciação de produtos Ambiente competitivo As variáveis determinarão as estratégias que a empresa deverá adotar para vencer os obstáculos competitivos. Figura 6 Ambiente organizacional Fonte: Elaborada pelo autor. Vimos representado na Figura 6, primeiramente, o macroambiente. Nele encontramos as dimensões mais amplas da sociedade, que ocor- rem em nível global e estão fora do controle das empresas. Por essa ra- zão, é vital que as empresas estejam sempre atentas a tais dimensões, buscando reconhecer seus padrões e tendências e com o objetivo de se 22 Planejamento Estratégico adaptarem às exigências atuais e futuras dos mercados nos quais com- petem. Dessa maneira, as empresas podem permanecer competitivas e aumentar seu market share. No ambiente competitivo estão localizados os fatores que determi- nam as estratégias competitivas das empresas. Assim, com base nas informações sobre concorrentes, produtos e obstáculos que dificultam suas operações, a empresa definirá qual é a melhor estratégia para alavancar seu desempenho financeiro. Como você pode perceber, o ambiente externo impõe fatores que podem afetar as operações de produção, de circulação de mercadorias, de investimento e até mesmo os empregos, por isso ele é considerado o principal determinante das ações estratégicas das empresas (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Ao analisar o ambiente externo sob a ótica da globalização, vemos que sua influência sobre a capacidade da empresa em alcançar eficiên- cia competitiva e excelência empresarial é muito maior. Esse aumento da dificuldade em competir com concorrentes globais pode ser explica- do pela hiperconcorrência. A hiperconcorrência caracteriza a concorrência excessiva, cria instabilidade inerente e gera mudanças constantes às empresas no cenário competitivo. Ela resulta da dinâmica das manobras estratégicas entre concorrentes globais e inovadores. Trata-se de uma situação de concorrência que evolui rapidamente com base no posicionamento preço-qualidade; concorrência para criar know-how e estabelecer vantagem para aquele que chega primeiro (first-mover) e concorrência para proteger ou invadir mercados de produto ou mercados geográficos estabelecidos. (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019, p. 19) Para superar a hiperconcorrência, é necessário que as empre- sas adotem uma postura mais flexível de relacionamento com seus stakeholders, maior velocidade para se adaptarem às mudanças im- postas pelo ambiente e a adoção de uma cultura de inovação. Essas condições são consideradas essenciais para a sobrevivência do negócio a longo prazo. Como exemplo da necessidade de adaptação, a seguir é apresenta- da uma matéria feita pela Forbes (revista norte-americana de negócios e economia) que destaca como as empresas precisarão se adequar, no pós-pandemia, à economia global. stakeholders: todas as pessoas que se relacionam com a empresa. Glossário Introdução ao planejamento estratégico 23 Para competir em nível global, é necessário que a empresa tenha competência de se adaptar rapidamente às mudanças impostas pelo ambiente externo, a fim de evitar um cenário competitivo incerto e um ambiente de negócios perigoso, com potencial de levá-la ao fracasso (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Por exemplo, se sua empresa quer competir nos Estados Unidos, ela precisará conhecer regulamentos, estruturas, políticas culturais, insti- tucionais e econômicas daquele país e se adaptar a essas exigências. Estando em condições de operar nos Estados Unidos, imagine que o concorrente da sua empresa venda um produto igual àquele que você irá negociar, mas com padrões de qualidade muito superiores e preço acessível. Considerando tal situação, responda: • Sua empresa possui competências e recursos para entrar nesse mercado? • Sua empresa possui estratégias bem definidas para oferecer me- lhores condições que seus concorrentes? • Sua empresa conhece suas forças e fraquezas e as ameaças e oportunidades que estão presentes no ambiente externo americano? Se resposta for não ou talvez, sua empresa terá grandes dificulda- des em ter eficiência competitiva e excelência empresarial. Entendeu? Em resumo, o ambiente competitivo atual, redefinido pela econo- mia global, mostra que já “não há mais fronteiras e que as informações, o capital e as inovações fluem no mundo inteiro à velocidade máxima, habilitados pela tecnologia e alimentados pelos desejos dos clientes”, os quais desejam o melhor produto pelo menor custo (OHMAE, 1995 apud DICKEN, 2010, p. 22) Leia o artigo A influência da capacidade de inovação sobre o desempenho internacional: um estudo com empresas de base tecnológica, publicado em 2016 na revista Economia & Gestão, e analise a influência da capacidade de inovação sobre o desempenho internacio- nal. A leitura desse artigo contribuirá com o apren- dizado da disciplina, pois apresenta aspectos práti- cos relativos à economia global e à maneira como as empresas desenvol- vem suas estratégias para competir em mercados internacionais. Disponível em: http://www.spell. org.br/documentos/ver/44086/a- influencia-da-capacidade-de- inovacao-sobre-o-desempenho- internacional--um-estudo-com- empresas-de-base-tecnologica--- . Acesso em: 9 fev. 2020. Leitura 1.3 Assimetria da informação Vídeo Como visto anteriormente, o ambiente apresenta grandes desafios para as empresas consolidarem-se à frente dos seus concorrentes, manterem-se competitivas e aferindo lucros acima da média. Além das variáveis ambientais, a consolidação também está intrinsecamente correlacionada à maneira como a empresa é percebida pelos seus sta- 24 Planejamento Estratégico keholders, ou seja, é por meio da maneira como a empresa se relaciona com seus parceiros que sua imagem e reputação serão construídas. Em tal contexto, a informação assume o papel de uma variável extre- mamente relevante no processo de consolidação, visto que uma informa- ção distorcida ou mesmo a falta dela pode representar risco à imagem da empresa, provocando prejuízos devastadores (MANKIW, 2019). Notadamente, percebe-se nas atividades econômica e financeira problemas referentes ao processo informacional, no qual, geralmente, há vieses que comprometem a extensão, a qualidade e a fidedignida- de da informação, criando o fenômeno conhecido como assimetria da informação. De maneira simples, pode-se dizer que a assimetria da informação ocorre quando uma pessoa sabe mais do que a outra quanto a um conhecimento relevante, isto é, um conhecimento essencial para a to- mada de decisão (MANKIW, 2019). Essa situação em que determinada pessoa ou empresa possui um conhecimento relevante e a outra não pode ocasionar desequilíbrios no mercado, prejuízos à imagem (empresa e/ou indivíduo) e cancelamento de negócios, provocando danos às relações comerciais ( MANKIW, 2019). Para melhor ilustrar, vejamos alguns casos decorrentes da assime- tria da informação. Quadro 2 Assimetria da informação CAUSA AÇÃO CONSEQUÊNCIA TIPO DE ASSIMETRIA Trabalhador O trabalhador age em desacordo com as políticas e normas da empresa por imprudência, negligência, imperícia ou motivado pela simples vontade de pre- judicar a empresa. Havendo a omissão desse comporta- mento ou dos resultados que ele pro- duz, a gestão não terá como monitorar, coibir ou corrigi-lo a fim de evitar pre- juízos. Ação oculta Omissão de característica Ao adquirir um bem, você não é infor- mado sobre as reais condições dele. Ex.: Ao comprar um carro, algumas ca- racterísticas ruins são omitidas. O comprador terá prejuízos quando tiver problemas futuros devido às ca- racterísticas ruins, e o veículo terá seu valor comercial reduzido. Característica oculta Fonte: Mankiw, 2019, p. 82 . Introdução ao planejamento estratégico 25 Como podemos ver, a parte detentora de um conhecimento relevan- te, poralgum motivo, seja escuso ou nobre, está ocultando informações relevantes à outra parte, o que pode provocar prejuízos à empresa ou à pessoa que não teve acesso à informação (MANKIW, 2019). No primeiro exemplo o patrão desconhece o comportamento do funcionário e, por isso, não tem como corrigir e monitorar suas falhas. Nesse caso, temos as ações ocultas, nas quais reside o chamado risco moral. Ele ocorre quando um funcionário, realizando alguma tarefa em nome da empresa, comporta-se de maneira inadequada ou imo- ral (MANKIW, 2019). Quando uma pessoa vinculada à empresa (funcio- nário, diretor ou proprietário) age de maneira antiética ou imoral, ela está afetando a imagem e os negócios da organização, uma vez que stakeholders passarão a percebê-la com desconfiança. Omitir informações sobre condutas ilícitas impede que a alta dire- ção ou os órgãos fiscalizadores ajam com o intuito de se fazer cessá-las. Como consequência, a empresa terá sua reputação e seus negócios prejudicados. Além disso, prejudicará também os funcionários, que po- derão perder seus empregos, já que a tendência para casos como a queda no faturamento e fuga dos investidores. Claro que o inverso também é verdadeiro – condutas éticas geram respeito e credibilidade –, mas, infelizmente, o que temos visto ultima- mente são escândalos de corrupção e desvio de dinheiro público. Voltando ao nosso quadro de exemplos, temos as características ocultas e, vinculada a elas, a seleção adversa. Como vimos, a carac- terística oculta ocorre quando um indivíduo omite uma informan- te relevante relacionada a um bem que está sendo negociado. De outro modo, a seleção adversa ocorre quando um cliente seleciona de maneira incorreta ou adversa, devido à falta de informação, um determinado bem que pretende adquirir. Por exemplo, o vendedor tem informações que o comprador não possui; por estar desinfor- mado, portanto sujeito à omissão de alguma informação relevante, o comprador adquire um bem de baixa qualidade (MANKIW, 2019). O exemplo clássico de seleção adversa é o mercado de carros usados, no qual os vendedores conhecem os defeitos dos veículos e os compradores não. Por isso, frequentemente os compradores acabam adquirindo um verdadeiro “abacaxi” (MANKIW, 2019). O objetivo da leitura do artigo Gestão da informação e o processo de negociação bancária, de Almir Lindemann e Cléa Beatriz Macagnam, publicado na Systems and Technology Manage- ment em 2009, é analisar a qualidade da gestão da informação, identificando deficiências nos sistemas de informação utilizados no processo de negocia- ção para concessão de crédito bancário. A leitura desse artigo contribuirá com o aprendizado da disciplina, por meio da apresentação de aspectos práticos que envolvem a assimetria da informação. Disponível em: http://www.spell. org.br/documentos/ver/3589/ gestao-da-informacao-e-o- processo-de-negociacao-bancaria. Acesso em: 9 fev. 2021. Leitura 26 Planejamento Estratégico Para Mankiw (2019), a informação assimétrica é uma condição que preocupa o mercado, já que algumas pessoas com menor quan- tidade de informações podem errar no momento de aplicar seus recursos, o que resulta em prejuízos. Dessa forma, a melhor manei- ra de evitar prejuízos provocados pela assimetria de informações é estar sempre atento aos sinais que vêm do ambiente. Esses sinais advêm de comportamentos que não correspondem às expectativas da empresa ou do mercado e que geram resultados diferentes da- queles esperados. Para evitar riscos desnecessários e estar sempre bem informa- do, é importante consultar diferentes fontes (pessoas, reportagens, documentos, balanços financeiros etc.). Busque obter informações validadas e consolidadas em canais de comunicação reconhecidos no mercado por sua reputação e imparcialidade na divulgação de dados. É preciso deixar claro que a assimetria da informação, ao mesmo tempo que prejudica alguns, beneficia outros, como no caso daque- les que possuem informações privilegiadas. De qualquer maneira, não é justo que a balança penda mais para um lado do que para outro. O correto é que a informação relevante esteja à disposição, de maneira simétrica, a todos os in- teressados para que possam tomar a decisão que mais se adequa à sua necessidade. 1.4 Vantagem competitiva Vídeo Finalizando o capítulo de introdução ao planejamento estratégi- co, nesta seção, abordaremos aquele que talvez seja o maior objeti- vo de todas as empresas: conquistar vantagem competitiva. Por se tratar de uma posição que gera riqueza e crescimento, a vantagem competitiva não é algo fácil de se obter. Para consegui-la, a empresa precisa ter competência para diferenciar seu produto ou serviço dos demais concorrentes. Essa diferenciação se torna complexa a partir do momento que a empresa precisa agregar uma característica que gere valor aos pro- dutos ou serviços e que seja de difícil imitação pela concorrência. Tal característica precisa ser valorizada pelos clientes de maneira que se torne mais atrativa que o preço (MAÇÃES, 2017). Introdução ao planejamento estratégico 27 Uma característica que cria valor a um produto ou serviço, di- ferenciando-o dos demais, pode ser tangível ou intangível, como exemplificado a seguir: • Tangível: tamanho, cor, materiais, desempenho, embalagem e serviços complementares. • Intangível: atributos não observáveis e subjetivos, como sta- tus, identidade da marca e desejo de exclusividade (marca) (MAÇÃES, 2017). Em alguns casos, as características agregam tanto valor que tor- nam o bem mais atrativo do que seus principais concorrentes, como exemplificado a seguir: A Toyota Motor Corporation incorporou ao Lexus atributos referentes à confiabilidade e durabilidade superiores, além de sistemas de som de alto desempenho. O preço de compra do veículo continua igual a outros automóveis de luxo, todavia os atributos exclusivos proporcionam um valor pelos quais os clientes estão dispostos a pagar (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Portanto, podemos definir vantagem competitiva como um valor diferenciado e exclusivo, de difícil imitação, que a empresa cria para seus clientes. Esse valor, que é único no mercado, proporcionará à empresa uma posição ímpar e valiosa no segmento em que ela com- pete ( PORTER, 2004). Compreendidos o conceito e o objetivo da vantagem competiti- va, agora vamos analisar o modelo de administração estratégica que mais auxilia a empresa à sua obtenção. Inicialmente, o modelo de administração estratégica precisa estar sustentado por processos que o viabilizem e reduzam ao máximo os erros, aumentando, com isso, as possibilidades de a empresa alcançar os resultados desejados. Em nosso caso, a base para o modelo de administração estratégi- ca, que permite a obtenção de vantagem competitiva, é o modelo de gestão adotado pela empresa para operacionalizar suas atividades. É essencial que o modelo de gestão facilite e apoie a busca e o al- cance dos objetivos organizacionais, oferecendo o apoio necessário à formulação do planejamento estratégico, à organização, à direção, ao controle e ao desenvolvimento estratégico, conforme observado na figura a seguir. REAVALIAÇÃO MODELO DE GESTÃO DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZAÇÃO ESTRATÉGICA DIREÇÃO ESTRATÉGICA CONTROLE ESTRATÉGICO Figura 7 Modelo geral de desenvolvimento e implementação da administração estratégica Fonte: Oliveira, 2018, p. 25. 2828 Planejamento EstratégicoPlanejamento Estratégico Na figura podemos observar seis grandes partes de um mode- lo de administração estratégica que podem auxiliar na aquisição de vantagem competitiva. Como vimos, o modelo de gestão, que repre- senta uma das seis partes citadas, será a base para a administração estratégica. Essa condição de base de sustentação decorre do fato de o modelo de gestão ser o responsável por desenvolver, operacionalizar e con- trolar todas as atividades, as metas e os resultados definidos parao crescimento e desenvolvimento sustentado da empresa. Na sequência temos o planejamento estratégico, que permite esta- belecer a direção a ser seguida pela empresa e uma maior interação com o ambiente externo. Prosseguindo com a análise do modelo geral de desenvolvimento e implementação da administração estratégica, temos a organização estratégica, que é responsável por otimizar a alo- cação de recursos. A direção estratégica, que vem logo em seguida, tem a responsabilida- de de supervisionar os recursos alocados para o alcance dos resultados, bem como dar eficiência ao processo decisório. O modelo se finaliza com o controle estratégico, que representa o acompanhamento e a avaliação dos resultados do planejamento (OLI- VEIRA, 2018). Um ponto importante é a compreensão do gestor em Introdução ao planejamento estratégico 29 relação ao desenvolvimento estratégico com foco na obtenção de van- tagem competitiva. Isso quer dizer que o gestor precisa estar ciente de que o desenvolvimento estratégico com foco na obtenção de vantagem competitiva está intimamente vinculado a uma mudança estrutural, cultural e comportamental planejada. Mudanças estas que têm como objetivo engajar as pessoas quanto às questões estratégicas da empre- sa e no alcance de resultados (OLIVEIRA, 2018). Figura 8 Modelo de gestão Organização estratégica Desenvolvimento estratégico Controle estratégico Direção estratégica Planejamento estratégico Modelo de gestão Portanto, não basta desejar ultrapassar seus concorrentes e se manter à frente deles; a vantagem, para ser caracterizada como com- petitiva, requer o engajamento e esforços de todos os envolvidos e da empresa de maneira geral. Nesse sentido, a empresa que tem condi- ções de adequar e implementar um modelo de administração estra- tégica capaz de conduzi-la à obtenção de vantagem competitiva terá condições de aumentar efetivamente seu market share e melhorar seu desempenho financeiro. Leia o artigo Inovação aberta: uma vantagem competitiva para pequenas e médias empresas, de Daniela Baggio, Iuri Ga- vronski, Vinicius Zanchet de Lima, publicado em 2019 na revista Ciências Administrativas, para identificar como a inova- ção aberta foi relacionada à vantagem competitiva para as pequenas e médias empresas nos principais estudos existentes. A leitura desse artigo contribuirá com a apresentação de aspectos práticos que demonstram como as empresas se estruturam para adquirir vantagem competitiva. Disponível em: https://periodicos. unifor.br/rca/article/view/7507/pdf. Acesso em: 26 fev. 2020. Leitura 30 Planejamento Estratégico CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos nesse capítulo a importância que o ambiente representa na condução estratégica das empresas e como ele influencia na busca pela vantagem competitiva. Esse breve resumo abarca a complexidade de se conduzir estrategi- camente uma empresa, cujo principal objetivo é expandir seus negócios, aumentar seus lucros e manter-se competitiva a longo prazo. Também é preciso considerar que tal complexidade recai diretamente sobre o gestor, e dele são exigidas capacidades e competências vincula- das diretamente ao conhecimento estratégico. Apesar das responsabilidades inerentes ao cargo de gestor, a empre- sa precisa, por meio da alta direção ou dos proprietários, dar apoio para que os gestores cumpram seu papel de estrategista, fornecendo todos os recursos, tangíveis e intangíveis, necessários para que as metas e os objetivos estratégicos sejam alcançados. De modo geral, podemos inferir que existe uma série de fatores que implicam na combinação de conhecimentos e recursos necessários à for- mulação e à implementação das estratégias organizacionais, em todos os níveis da empresa. Portanto, podemos afirmar que conhecimentos e recursos são partes fundamentais e complementares entre si para o sucesso do planejamen- to estratégico. ATIVIDADES 1. Explique a abrangência de cada tipo de planejamento, a saber: • Planejamento estratégico; • Planejamento tático; • Planejamento operacional. 2. Explique como um gestor com mentalidade global deve reagir diante das situações impostas pelo ambiente. 3. Explique como o risco moral pode afetar uma empresa. Vídeo Introdução ao planejamento estratégico 31 REFERÊNCIAS CERTO, S. C. et al. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: da intenção aos resultados. Barueri: Atlas, 2020. DICKEN, P. Mudança global. Porto alegre: Bookman, 2010. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica: competitividade e globalização. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2019. MAÇÃES, M. A. R. Vantagem competitiva e criação de valor. v. 2. Coimbra: Actual, 2017. MANKIW, N. G. Introdução à economia. Tradução da 8ª edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2019. OLIVEIRA, D. P. R. Administração estratégica na prática: a competitividade para administrar o futuro das empresas. São Paulo: Atlas, 2018. PORTER, E. M. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 32 Planejamento Estratégico 2 Inteligência competitiva Ciro Antonio Fernandes Ao longo deste capítulo, aprenderemos a utilizar a informação a favor do crescimento e da melhoria de competitividade e desempenho organizacional. É importante lembrar que a informação gera conhecimento útil, que é aquele capaz de gerar valor, portanto, essencial à sobrevivência do negócio. A boa informação, aquela que atende plenamente às necessidades da empresa e promove a melhoria de seus processos, de sua estrutura e estra- tégias, requer inteligência para ser obtida. Nesse sentido, na primeira seção veremos os conceitos fundamentais de inteligência competitiva e como a Tecnologia de Informação pode ser sua alia- da na produção de conhecimento, por meio da coleta de informações úteis às empresas, e propiciar maior capacidade de compreender o ambiente e o mercado. Na segunda seção, abordaremos a análise do ambiente externo: a Matriz SWOT Cruzada, a Matriz G.E (McKinsey) e a Construção de cenários. Com a compreensão do funcionamento de cada uma dessas matrizes, é possível en- tender a relevância da análise de informações sobre as ameaças e oportuni- dades, características próprias do ambiente externo e que podem influenciar o desempenho das empresas. Por fim, na terceira seção, conheceremos a contrainteligência empresarial, que tem o objetivo de proteger informações estratégicas de vazamentos e furtos, evitando que projetos, bem como a segurança institucional ou opera- cional, sejam ameaçados. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender e saber como planejar e implementar estratégias apoiadas na inteligência competitiva de maneira eficiente na organização. Objetivos de aprendizagem Inteligência competitiva 33 2.1 Conceitos fundamentais sobre inteligência competitiva Vídeo Nesta seção, abordaremos os conceitos fundamentais da inteligên- cia competitiva. O objetivo é compreender o seu funcionamento e a maneira que ele poderá contribuir para a melhoria do desempenho das organizações. A inteligência competitiva faz parte de um sistema que utiliza a in- formação como insumo principal para produzir conhecimento útil às empresas que buscam obter vantagem competitiva no segmento em que atuam. Para implementar um sistema de inteligência competitiva e tirar dele o melhor proveito possível, entretanto, as empresas precisam possuir habilidades para coletar, tratar e disseminar as informações de maneira eficiente e eficaz aos tomadores de decisão sobre o comporta- mento da concorrência, dos clientes e do mercado. Essas habilidades, consideradas como as bases que sustentam a inteli- gência competitiva, estão relacionadas ao encontro de informações corre- tas e relevantes “a respeito da competitividade imposta pela concorrência eà capacidade da empresa em enxergar as disrupções que ocorreram no mercado e interpretá-las de maneira imparcial” (FULLD, 2007, p. 1). Quando as empresas recorrem a tais habilidades, elas adquirem a capacidade de identificar tendências e construir cenários que auxilia- rão nos processos decisórios. Isso permite que os gestores posicionem a empresa de maneira estratégica no mercado, tornando-a mais com- petitiva (FULLD, 2007). Embora a empresa apareça como a grande articuladora das habi- lidades necessárias à construção de um sistema de inteligência com- petitiva, é no ser humano que as encontramos, uma vez que estão intrinsecamente relacionadas à cognição e à inteligência humana. A cognição e a inteligência, por sua vez, estão relacionadas, respecti- vamente, à capacidade de interpretar estímulos e à percepção e apren- dizagem que ocorrem pela interação do indivíduo com o ambiente à sua volta. disrupção: é a interrupção de um movimento regido pela “normalidade ou estabilidade”. Glossário 34 Planejamento Estratégico Agora, vejamos no Quadro 1, as diferentes visões relacionadas à ca- pacidade cognitiva e à inteligência e a sua influência na construção das habilidades necessárias à inteligência competitiva. Quadro 1 Aptidões adquiridas por meio da capacidade cognitiva e da inteligência INTELIGÊNCIA CAPACIDADE COGNITIVA AUTOR Capacidade humana para aprender com a experiência, usando processos metacognitivos para incrementar a aprendizagem, a adaptação ao ambiente que o cerca, a compreensão e o controle que as pessoas possuem de seus próprios processos de pensamento. Robert J. Sternberg (2010) Capacidade de resolução de problemas, aprendizado com o ambiente, desenvolvi- mento de estruturas cognitivas, orientação a metas. O desenvolvimento das estruturas cogniti- vas são processos internos que acontecem na mente, em decorrência da interação com o ambiente. Por meio da experiência, aprimoramos a capacidade de resolver problemas. Marvyn Minsky (1989) A inteligência tem sua construção na inte- ração entre indivíduo e ambiente, envol- vendo um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Resultado da interação do indivíduo com o ambiente; é o desenvolvimento de estrutu- ras cognitivas, esquemas e operações que refletem no comportamento do indivíduo. Jean Piaget (1961) Capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam importantes em determinado ambiente ou em uma co- munidade cultural específica. Howard Gardner (1995) Fonte: Adaptado de Medeiros, 2018, p. 18 -19. metacognitivo: consciência da própria capacidade de aprender e saber refletir sobre como se aprende. Glossário Como você pode perceber ao analisar o Quadro 1, a inteligência competitiva é um construto que, para dar o resultado esperado, neces- sita de grande capacidade intelectual, por parte dos líderes executivos, para coletar informações que permitam enxergar as ameaças e opor- tunidades para a empresa (FULLD, 2007). Quanto à sua relevância, a inteligência competitiva se revela como instrumento capaz de dar à empresa condições superiores de compe- titividade, conduzindo-a à vantagem competitiva. Um dos benefícios ao utilizá-la, segundo Chiavenato (2020), é a capacidade de se analisar, de maneira detalhada, os concorrentes diretos da empresa, por meio das seguintes questões: Inteligência competitiva 35 Quais são os objetivos dos concorrentes, atuais e futuros? Qual são suas estratégias? Quais são as crenças do concorrente sobre si próprio e sobre o setor? Quais são as ações que os concorrentes estão executando e o que ainda poderão fazer? Quais são as capacidades e os recursos do concorrente? Ao responder a essas questões, a empresa consegue definir o perfil competitivo e as estratégias adotadas por seus concorrentes. De pos- se desse conhecimento, os tomadores de decisão podem antecipar determinadas ações capazes de anular ou contra-atacar as estra- tégias competitivas de seus rivais (CHIAVENATO, 2020). Vale sa- lientar que realizar a avaliação competitiva dos concorrentes é um grande desafio à empresa, uma vez que requer conhecimento de seus pontos fortes e fracos e das ações que poderão realizar, a fim de se tornarem mais competitivas. Sem informações precisas e úteis, a empresa não tem como formular uma estratégia com- petitiva que consiga neutralizar as ações dos concorrentes ou mesmo ampliar sua participação no segmen- to em que atua (CHIAVENATO, 2020). Na Figura 1, podemos observar as ações necessárias para alimentar a inte- ligência competitiva com informações úteis. Figura 1 Ações necessárias à Inteligência Competitiva Fonte: Adaptado de Brummer, 2005. Di sse min ação An ál is e Necessidade Pla ne ja m en to Coleta Inteligência competitiva 36 Planejamento Estratégico A Figura 1 ilustra como ocorre a obtenção de informações necessá- rias à inteligência competitiva. Cabe ressaltar que a obtenção de infor- mações úteis à inteligência competitiva faz parte de um processo que tem início com a identificação daquelas que são realmente necessárias e como podem colaborar com a tomada de decisão estratégica. Definida as informações a serem obtidas, tem início a formulação do planejamento, que irá determinar os canais ou fontes em que as informações serão coletadas. Em seguida, sabendo onde coletar as informações, o próximo passo é determinar a maneira como será rea- lizada a coleta. As informações podem ser coletadas por meio de pes- quisa de campo, direto com os concorrentes, ou por meio eletrônico, via internet. Realizada a coleta das informações, inicia-se a análise. Nessa fase, as informações são tratadas e processadas. É na análise que as habili- dades humanas mais se destacam, pois as informações precisarão ser interpretadas de tal maneira que gere conhecimento capaz de orientar a tomada de decisão estratégica. Por fim, o conhecimento gerado será compartilhado com o tomador de decisão, a fim de que escolha as me- lhores estratégias e os melhores objetivos a serem perseguidos pela empresa (DOMENES; URDAN, 2019). A inteligência competitiva é cíclica, pois sempre que os gestores en- tenderem que existem novas necessidades de inteligência, o processo deverá ser reativado (DOMENES; URDAN, 2019). Dessa maneira, um novo ciclo é iniciado e com ele surgem novas fontes de pesquisa, ferra- mentas mais eficazes para coleta, reunião e utilização das informações necessárias à empresa, a fim de enfrentar seus concorrentes e melho- rar sua competitividade (FULLD, 2007). Quanto mais a empresa conhece seus concorrentes, mais apren- de sobre si. Isso porque a organização passa a saber quais forças e fraquezas possui para enfrentá-los. Dessa maneira, a possibilidade de adquirir vantagem competitiva aumenta (FULLD, 2007). Contudo, para utilizar a vantagem competitiva, as empresas devem considerar a ques- tão ética, que se coloca como crucial ao longo do processo de obtenção de informações. Veja, não é antiético obter informações, mas a forma como isso pode ser feito, sim. A empresa pode coletar informações abertas ao público, como em anúncios, ou mesmo frequentando feiras e exposi- Inteligência competitiva 37 ções comerciais, onde se pode adquirir catálogos dos concorrentes, ver demonstrações e ouvir debates sobre os seus produtos. No entanto, obter informações utilizando práticas como espionagem empresarial, escuta clandestina e furto de projetos é uma ação antiética e criminosa (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Além disso, tais práticas comprometem a imagem da empresa pe- rante o mercado e seus stakeholders. Tenha sempre em mente que as informações devem ser coletadas respeitando a legislação e as con- venções sociais que definem o comportamento ético. Para lidar com a questão ética, as empresas devem estabelecer princípios, adotar códi- gos de prática profissional e tomar medidas consistentes para coleta e proteção das informações para uso da inteligência competitiva (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019).Sabendo utilizar, a inteligência competitiva permite encontrar infor- mações precisas e relevantes sobre as estratégias dos concorrentes, visualizar as mudanças e rupturas que ocorreram no mercado e a ob- tenção de vantagem competitiva. 2.1.1 Tecnologia de informação e inteligência competitiva Agora, veremos como a tecnologia da informação pode contribuir com a inteligência competitiva. De acordo com o que estudamos até aqui, é possível deduzir que um sistema de inteligência competitiva somente pro- duzirá conhecimento útil se possuir recursos que possibilitem a coleta, a análise e a disseminação das informações de maneira eficiente e eficaz. Podemos dizer que, para um funcionamento básico, um sistema de inte- ligência competitiva precisa apenas de pessoas, para coletar e analisar as in- formações, e alguns recursos físicos, como dinheiro, veículos, móveis, salas. Dispondo de apenas esses recursos, é possível que um sistema de inteligência competitiva não atenda integralmente aos interesses da alta direção. Esse atendimento precário se deve à falta de tecnologias que permitam uma maior quantidade e qualidade de informações coletadas e, também, à limitação da capacidade para analisá-las e interpretá-las. Outra variável que impõe dificuldade a um sistema de inteligência competitiva, estruturado de maneira precária, é a velocidade dos pro- cessos de inovações disruptivas, que diariamente surgem no mercado No filme Duplicidade, ex-agen- tes secretos – agora a serviço de empresas privadas – precisam descobrir a fórmula química de um cosmético. Assista ao filme e observe atentamente as técnicas utilizadas pelos “espiões” no processo de coleta de informações. Reflita sobre a ética em suas operações. Direção: Tony Gilroy. EUA: Universal Pictures, 2009. Filme 38 Planejamento Estratégico competitivo, e das constantes mudanças que ocorrem no ambiente ge- ral e de negócios. Para que você entenda melhor, veja o seguinte exemplo: Durante as duas grandes guerras mundiais, os sistemas de inteligência dos exércitos uti- lizavam os mesmos métodos e recursos para obter conhecimento sobre as estratégias, as forças e as fraquezas de seus inimigos. Apesar de resultados que proporcionavam al- guma vantagem em relação uns aos outros, era uma ação arriscada e dispendiosa, pois, caso o agente fosse descoberto, seria morto, e o custo para bancar seu deslocamento e estadia era muito alto. Sem dúvida, atualmente, ainda existem espiões, no entanto, a tecnologia se tornou uma aliada inseparável das forças militares, pois, em vez de pom- bo-correio, agora utilizam satélites, robôs, drones, escutas de longa distância etc., para monitorar o inimigo e enviar mensagens e imagens. A tecnologia da informação permite aos governos e seus agentes alcançar qualquer pes- soa em qualquer lugar do mundo. Um exemplo recente foi operação americana para localizar e capturar Osama Bin Laden. Para essa opera- ção, foram utilizados, dentre outros recursos, um drone em formato de inseto, conforme pode ser visto no filme A hora mais escura (2012), que é tem base em relatos de agentes que fizeram parte da operação. Va n de r Z ee /S hu tte rs to ck Essa tecnologia de ponta, preservados os limites das questões éticas e legais, também está disponível para as empresas privadas. Ao utilizar a tecnologia da informação, as empresas adquirem a capacidade de aumentar a abrangência, a eficiência e a eficácia es- tratégica de seu sistema de inteligência competitiva, no momento de coletar informações e produzir conhecimento útil para auxiliar na tomada de decisão estratégica. No entanto, não podemos pensar a TI de maneira individualizada. Para que ela atenda às necessidades da inteligência competitiva, é necessária a formulação de um plano estratégico previamente estabelecido, sustentado pela objetividade, alinhado com os objetivos organizacionais e pela quali- dade das informações em relação ao mercado, aos concorrentes, aos clien- tes e ao modelo de negócio da empresa, no qual estão descritos os tipos de recursos e os processos que a empresa irá utilizar para criar valor aos seus produtos ou serviços e satisfazer suas necessidades e a de seus parceiros. Os componentes de um modelo de negócio estão ilustrados na Figura 2. Em A hora mais escura, agentes de inteligência norte-ame- ricanos precisam encontrar e capturar Osama Bin Laden. Para isso, eles utilizam recursos tec- nológicos que permitem obter informações de inteligência imprescindíveis ao alcance do objetivo. Assista ao filme e reflita sobre as estratégias para coleta de informações. Direção: Kathryn Bigelow. EUA: Columbia Pictures; Universal Pictures, 2012. Filme Inteligência competitiva 39 Figura 2 Componentes do modelo de negócios Recursos tangíveis e intangíveis Relacionamento com clientes e fornecedores Geração de fonte de receitas Segmento de mercado Atividades de apoio COMPONENTES DO MODELO DE NEGÓCIOS Atividades primárias PROPOSIÇÃO DE VALOR Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 2 ilustra alguns componentes a serem considerados em um modelo de negócio. É preciso esclarecer que esses componentes podem variar de empresa para empresa, de acordo com a necessi- dade, o perfil e os objetivos estratégicos de cada uma. Ao observar os componentes que integram o modelo de negócio, é possível verificar a necessidade de um sistema de inteligência com- petitiva que sustente a estruturação estratégica de cada um deles, ou seja, informações oriundas do ambiente externo são primordiais para que a empresa defina quais recursos e estratégias são neces- sários para disputar o setor com seus concorrentes e adquirir van- tagem competitiva. Para aumentar as possibilidades de melhora no desempenho, as empresas precisam adquirir recursos tecnológicos que deem supor- te aos recursos e às estratégias previstas no modelo de negócio e que aumentem a eficiência do sistema de inteligência competitiva. Com a Tecnologia da Informação apoiando a inteligência compe- titiva, é possível utilizar programas que otimizem a capacidade de 40 Planejamento Estratégico acessibilidade, de navegação e de gerenciamento das informações. Além do mais, esses programas contam com recursos estratégicos que auxiliam a melhoria dos processos de identificação, aquisição, avaliação, análise, organização e disseminação da informação (TO- LEDO, 2007). No Quadro 2, são demonstrados alguns programas e seus res- pectivos componentes, que possuem a capacidade de auxiliar o sis- tema de inteligência competitiva. Quadro 2 Componentes de estratégia utilizados pela Tecnologia da Informação SISTEMA FUNÇÃO Aplicativos Descreve as funções de negócio da empresa. Desenvolvimento de aplicativos Discute os planos de aquisições de novos sistemas e como eles devem ser adquiridos. Infraestrutura Fornece informações sobre os ativos físicos de TI na empresa. Manutenção Fornece a estratégia de suporte e manutenção para os componentes de aplicativos e da infraestrutura. Operações Inclui pessoal, controle de qualidade, treinamento de usuários e de apoio, centro de dado e recuperação de desastres. Segurança Detalhes sobre as políticas de segurança interna e externa, acesso e privilégios, firewall, bem como o procedimento de spam de e-mails e proteção antivírus. Fonte: Adaptado de Savin, 2004 apud Akabane, 2012, p. 67. Observe que todos os programas e componentes estratégicos demonstrados possibilitam que a empresa gerencie suas atividades sempre com foco no controle de seus negócios, na atualização e na manutenção de seus recursos humanos e tecnológicos e nas políticas de segurança interna e externa. Do mesmo modo, esses componen- tes permitem a coleta e a disseminação sistemática de informações a uma rede de especialistas, com competência de reconhecer seu valor e a relevância estratégica para a empresa (TOLEDO, 2007). No Quadro 3, são ilustradas outras ferramentas para extração, armazenamento e mineração de dados,com capacidade de trans- formá-los em conhecimento para a tomada de decisão. Inteligência competitiva 41 Quadro 3 Programas que auxiliam a inteligência competitiva FERRAMENTA FUNÇÃO Data Warehousing Gerenciamento e análise de dados avançada. Centraliza e consolida grandes quantidades de dados de várias fontes. Data Mining Realiza buscas em grandes bases de dados, a fim de detectar comportamentos com padrões repetitivos e estabelecer uma correlação entre eles. Extract Transform Load – ETL Extração e transformação de dados, de acordo com as necessidades de negócios. Banco de dados em Microsot SQL Gerenciador de banco de dados relacional. Modela os dados em linhas e colunas. Customer Relationship Management - CRM Permite estratégias, como foco na satisfação e geren- ciamento de clientes. Fonte: Elaborado pelo autor. O Quadro 3 ilustra alguns programas disponíveis que auxiliam na otimização do sistema de inteligência competitiva. São programas que fornecem aos tomadores de decisão maior quantidade e qualidade de informações estratégicas. Esses programas ajudam a reduzir o risco no momento de decidir sobre qual estratégia a empresa deverá ado- tar para vencer a concorrência e tornar-se mais atrativa aos clientes e investidores. Competir em um mercado globalizado e em constante mudança faz da tecnologia da informação um recurso imprescindível para as empre- sas que utilizam o sistema de inteligência competitiva, para melhorar sua capacidade de reação diante de seus concorrentes e para obter vantagem competitiva. 2.2 Análise do ambiente externo Vídeo Atualmente, as empresas vêm adotando novas posturas compe- titivas a fim de se adequarem às constantes mudanças ocorridas no mercado. Tais mudanças surgem em decorrência das instabilidades políticas, econômicas e sociais presentes no ambiente externo global. A adoção de novas estratégias competitivas, todavia, demanda uma análise detalhada do ambiente externo, com o objetivo de identificar possíveis ameaças e oportunidades que possam, de alguma maneira, influenciar o desempenho atual e futuro da empresa. Cabe ressaltar 42 Planejamento Estratégico que, para a formulação de uma estratégia competitiva eficaz, também é imprescindível a análise do ambiente interno, assunto que será abor- dado na próxima seção. Nesse momento, portanto, focaremos somente no aspecto exter- no do ambiente, que, se adequadamente analisado e compreendido, poderá contribuir com o direcionamento estratégico da empresa, uma vez que permite a realização de um prognóstico capaz de indicar as tendências para o ambiente em que opera. É importante lembrar que o ambiente externo é constituído do ma- croambiente, onde estão localizadas as dimensões econômicas, sociais, globais, tecnológicas, políticas, jurídicas e demográficas, e do ambiente competitivo, no qual estão concentrados os obstáculos impostos pelo mercado e pelos concorrentes. Nesse sentido, podemos dizer que o ambiente externo funciona como um guarda-chuva, englobando todas as empresas e sujeitando-as às mesmas intempéries. A grande quantidade de variáveis existentes no ambiente externo torna o cenário competitivo extremamente complexo, pois motiva as empresas a inovem constantemente seus processos, produtos e servi- ços, a fim de se diferenciarem de seus concorrentes. Esse movimento disruptivo contínuo, faz com que as empresas te- nham dificuldades de adequarem suas estratégias às condições impos- tas pelo ambiente competitivo (CHIAVENATO, 2020). Para uma melhor adequação na definição das estratégias e evitar erros, os gestores precisam compreender que uma dinâmica altamen- te mutável, como a do ambiente externo, é um grave complicador nas decisões estratégicas, podendo levar a empresa à falência. Para não colocar em risco a sustentabilidade e a perenidade do ne- gócio, portanto, os gestores precisam ter competência para ler e in- terpretar as variáveis externas, a fim de criar estratégias que possam garantir que a empresa seja capaz de entregar valor e inovação aos seus stakeholders (CHIAVENATO, 2020). Os desafios impostos pelo ambiente externo exigem dos gestores visão estratégica, que os ajudará a enxergar, de maneira abrangente, o mundo corporativo. Contudo, a visão estratégica não é algo simples; para que ela seja plena e tenha a abrangência esperada, são necessá- rias outras quatro maneiras de enxergar o ambiente externo, a saber: intempérie: termo relacionado a infortúnios, fatalidades, cala- midades, adversidades etc. Glossário Inteligência competitiva 43 Visão sistêmica: visualizar a totalidade para perceber o papel e as relações entre as partes que a compõem. Visão antecipatória: perceber as consequências de suas decisões no futuro da organização. Visão periférica: compreender o entorno, e interpretar como são as interações entre o sistema e seu ambiente de tarefa. Insight e intuição: imaginar, intuir e entender para onde a empresa está caminhando (CHIAVENATO, 2020). Dotado de visão estratégica e conhecedor da amplitude e com- plexidade do ambiente externo, o gestor necessitará realizar um diagnóstico das variáveis que atuam sobre a empresa, com o intuito de identificar as ameaças e oportunidades que podem afetar o de- sempenho organizacional (CHIAVENATO, 2020). Na sequência, abordaremos algumas ferramentas que são utili- zadas para realizar o diagnóstico do ambiente externo e que tam- bém são utilizadas para o diagnóstico do ambiente interno. É preciso destacar que o diagnóstico do ambiente externo, ape- sar de extremamente relevante e muitas vezes vital para a empresa, não terá valia se não for realizado conjuntamente com o diagnósti- co do ambiente interno. A realização do duplo diagnóstico (externo e interno) possibilita que a organização adeque estrutura, modelo de gestão, cultura, processos internos, produtos e serviços etc., de maneira a apoiar e suportar a estratégia corporativa em longo prazo (CHIAVENATO, 2020). Existem algumas ferramentas que podem ser utilizadas pela empresa para a realização da análise ambiental, são elas: a matriz SWOT (simples e cruzada); a matriz G.E.; e a construção de cená- rios. Cada uma dessas ferramentas, que veremos a seguir, oferece grande contribuição às empresas que buscam melhorar seu posi- cionamento estratégico e obter vantagem competitiva. Essas pos- sibilidades as tornam essenciais aos gestores para a tomada de decisão estratégica. 44 Planejamento Estratégico 2.2.1 Matriz SWOT cruzada A matriz SWOT surgiu nos anos 1960, na Harvard Business School, durante um debate sobre a utilização dos pontos fortes e fracos pe- las empresas na exploração das oportunidades existentes no merca- do competitivo ou para enfrentar as ameaças oriundas do ambiente (GHEMAWAT, 2002). O nome SWOT decorre da união das iniciais das palavras strengths (forças), weakness (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). Observe que cada palavra corresponde a uma dimensão que deve ser considerada ao longo do processo de análise. Esse pro- cesso é feito com a elaboração de uma planilha, semelhante ao modelo ilustrado na Figura 3. Figura 3 Modelo planilha análise SWOT Análise SWOT Descrição do negócio Público-alvo Missão Ambiente interno (forças e fraquezas) Ambiente externo (ameaças e oportunidades) Pontos fortes Pontos fracos Ameaças Oportunidades Fonte: Elaborada pelo autor. É importante esclarecer que, apesar de aparentemente simples, a construção dessa planilha é extremamente complexa e morosa, uma vez que é necessário observar, identificar e analisar detalha- damente cada item que pode afetar o desempenho organizacional. Inteligência competitiva 45 Além de foco e do comprometimento ao longo de todo o proces- so de avaliação dos ambientes interno (forças e fraquezas) e exter- no (ameaças e oportunidades), as pessoas responsáveis precisam possuir profundo conhecimento desses ambientes, do mercado e do negócio da empresa. Mas o que são pontos fortese fracos e as ameaças e oportuni- dades? Como relacioná-los entre si? Pois bem, essa é uma questão crucial no estudo da construção da matriz SWOT e que veremos a seguir. Iniciaremos abordando o ambiente interno, no qual estão inse- ridas as forças e as fraquezas da empresa. Ao analisá-la, o gestor pode definir se a empresa tem como aproveitar as oportunidades que o mercado oferece ou enfrentar as ameaças que o ambien- te impõe. Nesse sentido, é necessário que os gestores façam uma avaliação periódica de suas capacidades, suas competências, seus processos e seus recursos (físicos e humanos), que podem repre- sentar grandes aliados pela força que representam ou fragilidades, que tornam a empresa uma competidora fraca diante do ambiente e do mercado. Um exemplo de força que uma empresa pode ter são as com- petências profissionais de seus funcionários. Tais competências, se bem administradas e aprimoradas, podem agregar grande valor à empresa, por meio da melhoria da qualidade de seus produtos ou serviços, destacando-a dos demais concorrentes e possibilitando a obtenção de vantagem competitiva. As compe- tências profissionais podem ser aprimoradas pela empresa por meio de cursos de capacitações e treinamentos. Não obstante, o inverso também é verdadeiro. Quando as competências profis- sionais não recebem a devida atenção, a qualidade dos produ- tos e serviços tende a diminuir, enfraquecendo a relação com o cliente, pois ele não tem suas expectativas atendidas. O exemplo dado vale para qualquer outro recurso ou processo que, se não for bem gerido, trará perdas para a empresa, uma vez que não contribuirá para a geração de valor. 46 Planejamento Estratégico Figura 4 Matriz SWOT Características ⋅ Econômicas ⋅ Demográficas ⋅ Tecnológicas ⋅ Político-legais ⋅ Socioculturais FORÇAS ⋅ Boa imagem ⋅ Baixo custo ⋅ Boas parcerias ⋅ Competências (profissionais e organizacionais) ⋅ Boa distribuição de produtos ou serviços Ameaças ⋅ Clientes ⋅ Concorrentes ⋅ Distribuidores ⋅ Fornecedores FRAQUEZAS ⋅ Má gestão ⋅ Custo alto ⋅ Problemas operacionais ⋅ Problemas da distribuição ⋅ Pós-venda MACROAMBIENTE MICROAMBIENTE SWOT Fonte: Elaborado pelo autor. É importante ressaltar que todos os itens elencados na Figura 4 são apenas alguns dentro de um imenso universo que precisa ser perscru- tado e analisado durante a aplicação da matriz SWOT. Os exemplos dados, por estarem dentro do ambiente interno, estão sujeitos ao controle da empresa, podendo ser otimizados ou ter suas falhas corrigidas, a fim de dar um melhor atendimento ao cliente final e auxiliar no crescimento sustentável do negócio. Passaremos, agora, ao ambiente externo, onde estão as ameaças e as oportunidades. Quando a empresa busca entender quais ameaças e oportunidades podem afetar sua competitividade e, até mesmo, sua sobrevivência, ela está analisando o ambiente externo, no qual estão presentes os exemplos dados na parte inferior da Figura 4. Os componentes do ambiente externo estão fora do controle dos gestores, ou seja, não há o que a empresa possa fazer para evitar sua ocorrência, mas podem afetar de maneira significativa os lucros do ne- gócio (KOTLER; KELLER, 2006). A avaliação do ambiente externo permite ao gestor reconhecer no- vas oportunidades, ocasião em que a empresa tem a possibilidade de aumentar seus lucros. Existem três fontes principais de oportunidades. São elas: Inteligência competitiva 47 1. Oferecer um produto ou serviço com pouca oferta no mercado Por exemplo, álcool em gel e máscara no início da pandemia. Mui- tas empresas passaram a atender a esse segmento devido à falta dos produtos. A escassez também alavancou o aumento de preços. 2. Oferecer um produto ou serviço com qualidade superior à dos existentes no mercado Por exemplo, a empresa Uber quando começou a operar no Brasil, que tirou parte da fatia de mercado dos táxis comuns, pois ofereciam maior conforto e menor preço. 3. Um produto ou serviço totalmente inovador Por exemplo, as plataformas de streaming. Antigamente, caso se quisesse assistir a um filme que não estava na programação dos canais de televisão convencionais, era necessário alugar um DVD. Hoje, as plataformas de streaming permitem o acesso a milhares de títulos sem a necessidade de ir a uma locadora. Veja que não se trata de um produto, e sim de um serviço inovador. Portanto, a inovação cabe em todos os setores e segmentos. Com relação às ameaças, estas representam um desafio que se impõe de maneira desfavorável, muitas vezes decorrentes de uma tendência ou evento que pode impactar negativamente os resulta- dos financeiros da empresa (KOTLER; KELLER, 2006). Novamente, como exemplo atual, temos a pandemia da Covid-19, que fez com que muitas empresas encerrassem suas atividades pela falta de condições para enfrentar e resistir aos impactos negativos que vieram junto com o isolamento social; este reduziu em 86% o fa- turamento de várias empresas, segundo Leonardo (2020). Prosseguindo, agora veremos como a matriz SWOT pode ser aplicada de maneira cruzada, como ilustrado no Quadro 4. Quadro 4 Ilustração matriz SWOT cruzada Análise SWOT cruzada Passo 1 Realize a análise das forças e fraquezas e das oportunidades e ameaças na matriz SWOT simples. Passo 2 Considerando as ligações dadas a seguir, defina as estratégias que a empresa deverá adotar. (Continua) 48 Planejamento Estratégico Cruzamento entre pontos 1. Pontos fortes x Oportunidades Nesse caso, são considerados os pontos fortes da empresa versus as oportunida- des que o mercado oferece para serem aproveitadas. Estratégia possível Estratégia ofensiva/desenvolvimento. Quando são cruzados os pontos for- tes com as oportunidades, o resultado é uma estratégia de crescimento, já que a empresa possui estrutura e recursos para aproveitar a oportunidade que se apresenta. Nesse caso, existe um potencial ofensivo. 2. Pontos fortes x Ameaças Aqui, são considerados os pontos fortes versus as ameaças. Cruzamento entre pontos Estratégia possível O resultado desse cruzamento é uma estratégia de confronto. Esse cruzamento permite à empresa tirar o máximo proveito de seus pontos fortes, para minimi- zar os efeitos das ameaças que pairam sobre ela. 3. Pontos fracos x Oportunidades Cruzamento entre os pontos fracos cruzados versus as oportunidades. Estratégia possível Estratégia de reforço. Para esse caso, os gestores precisam desenvolver estraté- gias que, concomitantemente, reduzam os efeitos negativos dos pontos fracos e aproveitem ao máximo as oportunidades disponíveis no mercado. 4. Pontos fracos x Ameaças Pontos fracos são cruzados com as ameaças. Estratégia possível Uma estratégia possível é a defensiva. O cruzamento poderá resultar em uma estratégia que possibilite a redução das perdas, pois a empresa se encontra em uma situação de vulnerabilidade e por isso deve reduzir os impactos das amea- ças sobre as fraquezas. Fonte: Elaborado pelo autor. Como você pode observar, a matriz SWOT é uma ferramenta mui- to útil no momento de auxiliar a empresa a definir suas estratégias por meio do conhecimento em profundidade dos ambientes interno e externo. Além de que, como visto no Quadro 4, a matriz SWOT permite o cruzamento de informações essenciais à preservação e ao crescimento do negócio, possibilitando o direcionamento estratégi- co adequado a cada situação vivenciada pela empresa em um dado momento. Ao relacionar os pontos fortes e fracos com as oportunidades e as ameaças, a matriz SWOT pode estabelecer uma relação entre como os gestores pretendem competir e as questões estratégicas que nortea- rão a empresa na busca de um desempenho acima da média Não esqueça, a elaboração da matriz SWOT demanda muita pes- quisa e atenção aos detalhes com relação a tudo e a todos (interno e externo) que podem, de alguma maneira, afetar o desempenho organizacional. Inteligência competitiva 49 Quando bem realizada, a matriz SWOT pode contribuir de manei- ra significativa paraa definição das estratégias organizacionais, uma vez que o conjunto de informações produzidas com as análises per- mitirá aos gestores obter insights necessários à tomada de decisão estratégica, de como, efetivamente, competir com os concorrentes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). 2.2.2 Matriz G.E (McKinsey) A matriz G.E (McKinsey), ou matriz de política direcional, como também é conhecida, foi desenvolvida pela McKinsey & Co. Na épo- ca de seu desenvolvimento, os consultores buscavam uma maneira de auxiliar a empresa General Electric no gerenciamento de seu portfólio de unidades de negócios. Ao final do trabalho da McKinsey & Co junto a G.E., os consul- tores haviam construído a Matriz G.E (McKinsey), a qual possibilita categorizar o potencial das unidades de negócios de uma empresa em bom e não tão bom (JOHNSON, JOHNSON; SCHOLES, 2011). Com os dados coletados e as análises realizadas por meio da matriz, é possível visualizar graficamente o tamanho de mercado e a participação de uma unidade negócios nesse mesmo mercado, como ilustrado na Figura 5. Figura 5 Demonstrativo de tamanho de mercado e participação de uma unidade negócios Definição dos símbolos Tamanho do mercado = Participação de mercado da U.N. = Alta Média Baixa Alta Média Baixa ATRATIVIDADE DO NEGÓCIO EM LONGO PRAZO Força da unidade de negócios Fonte: Johnson; Johnson; Scholes, 2011, p. 212. 50 Planejamento Estratégico De acordo com a leitura da Figura 6, que apresenta o resultado de uma avaliação realizada pela matriz G.E (McKinsey), os gerentes da uni- dade de negócios devem se preocupar ao observarem uma participa- ção relativamente baixa em um mercado maior e mais atrativo (linha no topo), enquanto sua maior força está́ concentrada em um mercado com média e pouca atratividade (linha da base) em longo prazo (JOHN- SON; JOHNSON; SCHOLES, 2011). Ao posicionar as unidades de negócio segundo a atratividade do mercado e a força competitiva, a matriz G.E (McKinsey) possibilita aos gestores a decisão de investir, vender ou fechar uma determinada uni- dade de negócios. Por exemplo, quando a empresa possui potencial de crescimento mais alto e mais forte, operando em um mercado maior e mais atrativo, a orientação estratégica corporativa é investir para cres- cer. Já se a empresa tem um potencial mais fraco e opera em merca- dos menos atraentes, elas devem ser vendidas ou fechadas (JOHNSON, JOHNSON; SCHOLES, 2011). Para deixar mais clara as possibilidades de interpretação da matriz G.E (McKinsey), vejamos alguns possíveis casos a seguir. Força competitiva alta + atratividade de mercado alta = a uni- dade de negócios possibilita a alavancagem da empresa, por isso deve receber total atenção e ser foco prioritário de investimentos. Força competitiva média + atratividade de mercado alta = nessa combinação, a recomendação é de que haja investimento na unida- de de negócios, a fim de torná-la prioritário, pois é possível verificar um investimento seguro com crescimento em longo prazo. Força competitiva alta + atratividade baixa = para essa situa- ção, o investimento somente é seguro se houver recursos finan- ceiros extras e que, além disso, sua utilização não comprometa os investimentos prioritários. Por ser um investimento de risco, ele deve ser feito com cautela e de maneira seletiva. Força competitiva média + atratividade baixa = a sugestão é a manutenção de um investimento padrão, com o objetivo de a uni- dade de negócios continuar operando. Impõe-se um limite para a sua expansão caso os investimentos não deem o retorno esperado. Força competitiva baixa + atratividade baixa = a recomendação é parar com os investimentos, a fim de reduzir as perdas. As pers- pectivas futuras são negativas e possivelmente a empresa precise ser vendida ou fechada. Inteligência competitiva 51 É relevante que toda decisão a ser tomada, com base na matriz G.E (McKinsey), seja cuidadosa e detalhadamente discutida, a fim de se evitar erros na interpretação dos fatores e resultados, que podem não refletir a correta participação no mercado e a atratividade da unidade de negócio (JOHNSON; JOHNSON; SCHOLES, 2011). De maneira geral, a matriz G.E (McKinsey) é uma excelente ferramen- ta para as grandes empresas identificarem as unidades de negócios que são potencialmente mais lucrativas e, consequentemente, mais atrativas aos investidores, o que representa uma maior possibilidade de captação de capital externo. 2.2.3 Construção de cenários Finalizando a abordagem sobre as ferramentas de análise que auxi- liam as empresas a melhorar seu posicionamento estratégico e na obten- ção de vantagem competitiva, veremos agora a construção de cenários. Antes de prosseguirmos, é importante ressaltar que, além das ferra- mentas vistas até aqui, existem outras não menos importantes e que os gestores precisam conhecer, como a análise de tendência de impacto, análise do impacto cruzado, Delphi, Battelle, Schoemaker e as própria ma- trizes SWOT e G.E, estudadas neste livro. Dando continuidade, quando falamos em construir cenários, isso significa que o gestor está projetando possíveis situações de risco à competitividade e à sobrevivência organizacional. Construir cenários é algo complexo, pois, para se chegar aos resultados esperados, é ne- cessário considerar alguns aspectos essenciais, como pode ser lido no Quadro 6. Quadro 6 Componentes necessário à construção de cenários ELEMENTOS CARACTERÍSTICAS DIVISÃO DE FORÇAS OBSERVAÇÕES Forças Influenciadoras Elementos externos que afetam as ativi- dades empresariais. Ambientais Institucionais Todo cenário deve incluir forças influenciadoras, pois são as responsáveis por eventos e tendências. Econômicas Sociais Culturais Ecológicas Tecnológicas Organizações Públicas e Privadas Organismos internacionais (Continua) 52 Planejamento Estratégico ELEMENTOS CARACTERÍSTICAS DIVISÃO DE FORÇAS OBSERVAÇÕES Lógica Explica a ocorrência de determinados eventos e o com- portamento das forças influenciadoras. A lógica explora os “porquês?” das informações coletadas e ajuda a responder às questões sobre “o que a empresa quer” e “como quer” dentro de um possível cenário. História A história consiste em relatar os eventos em uma linha temporal, ligando o momento atual ao cenário projetado. Quanto mais informações forem incluídas, maior a possibilidade de um prognóstico correto para um cenário futuro. Estado final Ao final da construção de um cenário, deve ser descrita uma conjuntura possível e única, a fim de orientar a toma- da de decisões. “O que acontecerá se...?” é a pergunta-chave que deve ser feita ao final da análise das infor- mações coletadas. Essa pergunta será a base do cenário a ser projetado. Fonte: Adaptado de Cruz, 2017, p. 25. O Quadro 5 revela que a construção de cenários se caracteriza como um processo de coleta e análises de informações ambientais, as quais precisam ser estruturadas cronologicamente e encadeadas de manei- ra lógica, permitindo aos gestores identificar as possíveis tendências e eventos, que podem afetar, de alguma maneira, o desempenho com- petitivo e financeiro da empresa. Diante dos possíveis cenários obtidos ao final das análises, a em- presa terá a possibilidade de formular estratégias que permitam o seu reposicionamento estratégico e a recuperação de sua competitividade. De acordo com Rebouças (2018), os cenários podem ser classifica- dos da seguinte maneira: Cenário otimista: é projetado um futuro tranquilo, em que tudo permanece da mesma maneira para os negócios. Cenário pessimista: revela uma situação extremamente difícil para a empresa dentro do mercado em que ela compete. Cenário mais provável: serão superadas as dificuldades por estratégias. A construção de cenários pode ser conduzida com base em duas perspectivas: Perspectiva projetiva: explica o futuro com base no passado. Sua construção se baseia na proposição de um futuro único e Inteligência competitiva53 certo. As informações são coletadas por meio de variáveis quan- titativas. Esse tipo de perspectiva não tem demonstrado eficácia no direcionamento estratégico da empresa em longo prazo. Perspectiva prospectiva: tem por base as estratégias pra- ticadas no momento atual e considera a visão global da em- presa. As informações são coletadas por meio de variáveis qualitativas, para as quais são consideradas a subjetividade de opiniões e os pensamentos, e variáveis quantitativas. Para essa perspectiva, o futuro possui múltiplas possibilidade e é incerto. As informações são analisadas por método estrutural (REBOUÇAS, 2018). Agora, vejamos as etapas necessárias para se construir um cenário, na Figura 6. Figura 6 Etapas para construção de cenários COMPREENDER o presente e o passado da organização e juntar elementos necessários à criação dos cenários futuros. DESCREVER inúmeras variedades de futuros possíveis, a fim de obter cenários alternativos para a tomada de decisão. DELINEAR como esses futuros devem evoluir. CRIAR INDICADORES de progresso do plano construído com base nos cenários. LIGAR CENÁRIOS a decisões específicas, a fim de que as soluções encontradas possam ser implantadas. CRIAR ELO de aprendizado e procedimentos organizacionais, a fim de sustentar os planos desenvolvidos durante a análise dos cenários. Fonte: Adaptada de Cruz, 2017, p. 25. Como se pode ler na Figura 6, para construir um possível cenário capaz de satisfazer as necessidades estratégicas da empresa e propor- cionar competitividade, é preciso ter pleno conhecimento dos fatores ambientais que atuam sobre a empresa e projetar as possíveis tendên- cias e eventos com os quais a empresa terá de lidar. 54 Planejamento Estratégico Cada possível cenário precisa ser pormenorizado e delineado, de maneira que possibilite aos gestores compreendê-lo e acompanhar sua evolução. Com isso, os gestores podem ajustar os indicadores de desempenho de acordo com cada situação projetada, para que a em- presa não tenha sua performance financeira negativamente afetada. Por fim, o aprendizado durante a construção de cenários deve servir para subsidiar a operacionalização dos procedimentos organizacionais futuros, a serem adotados em longo prazo (CRUZ, 2017). É importante ter sempre em mente que o cenário competitivo atual exige ações estratégicas inovadoras, capazes de vencer os obstáculos impostos pelas mudanças ao ambiente de negócios, tornando-o de alto risco para as empresas, pois exige investimentos acima da mé- dia, elevando a probabilidade de fracasso e falência (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2019). Diante de um cenário presente, é esperado que o futuro o seja ainda mais, exigindo grandes esforços dos gestores para adaptar a estrutura e as estratégias organizacionais às novas demandas, a fim de manter a empresa viva e competitiva. 2.3 Contrainteligência nas organizações Vídeo Como último assunto deste capítulo, abordaremos as atividades de contrainteligência empresarial. Essas atividades têm por objetivo iden- tificar e neutralizar ações de vazamentos de informações estratégicas que possam ameaçar projetos e a segurança institucional ou operacio- nal das empresas. As estratégias de segurança utilizadas pela atividade de contrain- teligência geralmente são formuladas com base na utilização de ferra- mentas ou protocolos de segurança, como no caso do uso do Data Loss Prevention (DLP), que é uma ferramenta para proteção de dados e: refere-se aos sistemas projetados para bloquear os dados den- tro de uma empresa. Os programas DLP das empresas RSA, Symantec, Code Green, Safend, Trend Micro, Sophos e outras são projetados para identificar, monitorar e proteger os dados onde quer que estejam em um sistema. Isso inclui aqueles arma- zenados em um disco, os que trafegam em uma rede, os encon- trados no banco de dados, arquivos, e-mails ou qualquer outro local. O programa DLP é uma ferramenta poderosa para a con- trainteligência. Por isso, é necessário atender aos regulamentos Inteligência competitiva 55 governamentais que exigem que as empresas salvaguardem os dados pessoais dos clientes. (STAIR; REYNOLDS, 2015, p. 236) Já os protocolos de segurança dizem respeito à criptografia, ou seja, que é a conversão de um conteúdo em um formato, que pode ser de- codificado pelo receptor a quem é destinado (STAIR; REYNOLDS, 2015). Ainda, há outras estratégias utilizadas pela contrainteligência, como a mais antiga e não menos eficiente estratégia de negação. Essa estra- tégia consiste em desinformar ou confundir os adversários com rela- ção ao que de fato a empresa está realizando em termos de projetos e estratégias competitivas. Por exemplo, o concorrente tem ouvido fa- lar que determinada empresa está produzindo um novo produto ou serviço inovador, com condições de revolucionar o mercado. Para não ficar em desvantagem competitiva, os concorrentes tentarão de todas as maneiras saber do que se trata essa inovação, a fim de copiá-la. A empresa proprietária do projeto inovador, para se proteger, passa a afirmar que as informações que estão sendo veiculadas não são verda- deiras ou revela fatos que nada têm a ver com o projeto; por exemplo: se é um serviço, diz que é um produto; se será lançado no Sul, a empre- sa divulga que será no Norte e assim por diante. Um exemplo de estratégia de negação ocorreu quando as tropas aliadas estavam planejando o desembarque na Normandia, conhecido como o dia D, durante a Segunda Guerra Mundial. A contrainteligência também possui algumas características próprias, conforme ilustrado no Quadro 8. Quadro 8 Características da contrainteligência CARACTERÍSTICAS DA CONTRAINTELIGÊNCIA Contrainteligência para reunião (coleta/ busca) Tem o objetivo de obter e produzir informações sobre as capacidades dos oponentes de reunir informações que possam interessar ou constituir-se ameaça a quem ou que é protegido pela contrainteligência. Contrainteligência defensiva Sua missão é frustrar os esforços de pessoas ou organi- zações que tenham interesse em acessar as informações protegidas, ou que desenvolvam ações intrusivas. Contrainteligência ofensiva Uma vez identificada a tentativa de um oponente contra seus sistemas de inteligência, a contrainteligência ofen- siva buscará neutralizar esse ataque, tentando recrutar, por exemplo, o agente adverso e convertê-lo em agente duplo, ou fornecendo informações falsas para nutrir a in- teligência adversa. Fonte: Adaptado de Gonçalves, 2010, p. 61. 56 Planejamento Estratégico As características elencadas no Quadro 8 esclarecem como as or- ganizações podem utilizar a contrainteligência para se protegerem dos ataques de seus adversários. Cada característica oferece à organização uma forma de agir, a fim de se antecipar a possíveis ataques contra seus segredos ou reagir de maneira eficiente e eficaz a aqueles. Vale ressaltar que, seja qual for a organização – pública ou pri- vada, civil ou militar –, sempre haverá a necessidade de determinar quais informações são sigilosas e, portanto, sujeitas a medidas efi- cazes de contrainteligência. Dessa maneira, a empresa pode con- trolar o acesso a informações e restringir sua disseminação (STAIR; REYNOLDS, 2015). CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos neste capítulo que as empresas precisam ser proativas para se manterem vivas e competitivas no mercado. Dessa maneira, é necessário que elas adotem como estratégia de sobrevivência a coleta de informações; esta deve ser o principal insumo para a produção de conhecimento, a fim de tornar a organização cada vez mais eficiente e competitiva. Sempre que o gestor tem aumentada a sua capacidade de compreen- são do ambiente, por meio da coleta e da análise de informações am- bientais, ele consegue reduzir riscos ao longo do processo de tomada de decisão e evitar possíveis ameaças que possam prejudicar o futuro da empresa. Por fim, cabe aos líderes estrategistas preservar a empresa de ataquesexternos, para que seu posicionamento no mercado permaneça em van- tagem diante da concorrência, dando sustentabilidade em longo prazo. ATIVIDADES 1. Explique, considerando o conteúdo e usando suas próprias palavras, o que é inteligência competitiva. Posteriormente, compare com o conceito dado e verifique se está de acordo com sua resposta. 2. Leia com atenção a seguinte frase: “Quanto mais a empresa conhece seus concorrentes, mais aprende sobre si. Isso porque saberá quais forças e fraquezas possui para enfrentá-los”. Considerando o excerto dado, explique como o conhecimento sobre a concorrência e o autoconhecimento podem contribuir com o crescimento organizacional. Vídeo Inteligência competitiva 57 3. Com relação à construção de cenários, responda: o que subsidia a operacionalização dos procedimentos organizacionais futuros, a serem adotados em longo prazo pela empresa? REFERÊNCIAS AKABANE, K. G. Gestão estratégica da tecnologia da informação: conceitos, metodologias, planejamento e avaliações. Grupo GEN, 2012. BRUMMER, H. L. A dynamic competitive analysis model for a global mining firm. Pretoria: Unisa, 2005. CHIAVENATO, I. Planejamento Estratégico – da intenção aos resultados. São Paulo: Grupo GEN, 2020. CRUZ, T. Manual de Planejamento Estratégico. São Paulo: Grupo GEN, 2017. DOMENES, P. M.; URDAN, A. T. O Processo de implantação da inteligência competitiva em uma empresa de facilities services. Administração em Diálogo, v. 21, n. 3, set./dez. 2019. 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Nesse período da pandemia da Covid-19, embora a instituição tenha pas- sado, como muitas outras, por um momento financeiro nebuloso, vale a pena aprendermos com o seu método de inovação. Como estratégia de inovação competitiva, desde a criação de sua empresa, Laliberté inovou no seguinte sentido: em vez de enfrentar seus concorrentes que “habitavam” o mesmo espaço de mercado circense, ele buscou por mercados inexplorados. Dessa forma, ele eliminou apre- sentações com animais e criou espetáculos temáticos com alta produção artística envolvendo música e dança. Surgiu, então, o Cirque du Soleil, com narrativas que envolvem técnicas de cinema, teatro, dança e muita tecnologia de drones. Vamos agora à leitura para entendermos esse envolvente caso de inovação. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender a importância da inovação para desen- volver uma cultura estratégica e inovadora no ambiente organizacional. Objetivos de aprendizagem Inovação como estratégia competitiva 59 3.1 Gestão da inovação e da transformação digital Vídeo Desde o início do século XVIII, com a primeira onda de inovações no segmento de energia hidráulica, têxtil e de aço, o ser humano vem acumulando conhecimentos. Nessa caminhada, descobriu no sécu- lo XX a eletricidade, o motor a combustão e a aviação. Com o avan- ço da eletrônica, deparou-se com as inovações radicais e disruptivas proporcionadas pela internet no campo de redes digitais e aplicativos. Entretanto, ainda buscamos para essas inovações e transformações di- gitais novos mercados que viabilizem os investimentos em todos esses conhecimentos. 3.1.1 Estratégias de inovação A estratégia de inovação do Cirque du Soleil apresentada na intro- dução deste capítulo é denominada de estratégia do oceano azul, que parte dos pressupostos de que um oceano azul é formado por merca- dos inexplorados, nos quais a concorrência é irrelevante (ou inexisten- te) e novas demandas aparecem. Nesse oceano, compete ao gestor da inovação definir as regras do jogo, visto que o mercado é desconheci- do. Adotar a estratégia do oceano azul é “navegar em um mundo de alternativas”, além das fronteiras tradicionais. Por outro lado, temos o oceano vermelho, que é quando uma em- presa insiste em buscar competitividade dentro do mesmo setor no qual já atua, em que o mercado é conhecido e os produtos e serviços tornam-se commodities. As águas do oceano vermelho são tingidas pelo sangue da briga dos diversos concorrentes pelos mesmos clientes. Vejamos um exemplo: imagine uma cidade, na qual temos três gran- des players de comercialização de Smart TV. Ao traçarem seus planos estratégicos, eles estarão limitados às fronteiras dessa cidade, disputa- rão as águas do oceano vermelho e, então, entrarão em disputa pelos mesmos clientes. Ou seja, irão se digladiar até a morte pelo mesmo mercado. Sobre a gestão da inovação como estratégia competitiva, Kim e Mauborgne (2005), autores da teoria da estratégia do oceano azul, afir- mam que no oceano vermelho as fronteiras setoriais são definidas e 60 Planejamento Estratégico aceitas e as regras competitivas do jogo são conhecidas. Já no oceano azul busca-se criar e capturar novas demandas. Os autores estabelecem alguns caminhos a serem seguidos para quem deseja navegar em um oceano com águas azuis (Quadro 1). Quadro 1 Principais princípios da estratégia do oceano azul para a inovação Princípios Entendimento Reconstrua as fronteiras do mercado Identifique as oportunidades de oceano azul co- mercialmente atraentes. Use e abuse de pesqui- sas. Vá além da demanda existente Crie um grupo de clientes até então inexistente. Ino- ve para trabalhar com os não clientes. Supere as principais barreiras organizacionais Por que mudar? Uma das barreiras é tirar as pessoas da zona de conforto. Há recursos para as mudanças com as inova- ções propostas? Como trabalhar a motivação das pessoas para a mudança? Trabalhe o ânimo delas para que não se deixem abater diante de um pro- cesso de gestão da inovação. Fonte: Adaptado de Kim; Mauborgne, 2005. Por fim, existe uma máxima em finanças que orienta os investido- res a não colocarem todos os ovos em uma única cesta. Ela é válida também aos gestores que precisam aprender que suas inovações não devem ser colocadas em um único “mercado-oceano-vermelho”. Lem- bre-se de que há a necessidade de sair da zona de conforto e navegar com suas inovações nas águas do oceano azul. Nesse sentido, é preciso saber identificar as oportunidades em- preendedoras. Ouseja, saber identificar o momento favorável para a criação de um produto ou serviço que supra um vazio existente no mercado. Essa criação muda o estágio de satisfação das pessoas, leva confiança ao cliente quanto ao seu uso ou à sua aplicação, agrega van- tagens para o consumidor e a empresa e tem significado social e eco- nômico para a sociedade. Para ilustrar o que é uma oportunidade empreendedora, vejamos a seguir a história do surgimento do cartão telefônico pré-pago. Complemente seus co- nhecimentos com o livro de Kim e Mauborgne A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de janeiro: Sextante, 2018. Livro Inovação como estratégia competitiva 61 No mundo corporativo há um relato de que em 1995 a empresa de teleco- municações TMN - Telecomunicações Móveis Nacionais S.A. enfrentava um sério problema de inadimplência com seus clientes de telemóvel (celular). A certa altura dos acontecimentos, o problema foi apresentado em uma reunião de gestores para que fosse encontrada uma solução. Entre várias sugestões comuns, surgiu uma ideia um tanto quanto ousada da gestora de marketing. Ela propôs que fosse cobrado dos clientes de maneira antecipada o serviço de uso do telemóvel. Muitos foram os risos e as piadas com essa proposta. Porém, a um dos gestores, no seu entendimento, a sugestão não era uma piada, e sim algo diferente, uma inovação na prestação de serviços. Assim, ele solicitou que a autora da proposta fornecesse detalhes de como a ação seria realizada. De modo simples, ela explicou que a empresa criaria cartões telefônicos com diversos valores, os quais seriam colocados à venda em uma rede de varejo de alta capilaridade (bancas de jornais, supermercados etc.). Dessa forma, o cliente compraria um cartão telefônico no valor de suas possi- bilidades financeiras. Com a venda, o dinheiro entraria de maneira antecipada e, mediante uma “raspadinha” no cartão, o cliente “receberia” um código de acesso aos seus créditos a serem utilizados no telemóvel. Surgiu, então, um novo serviço: a modalidade de cartão pré-pago. Que aprendizado ganhamos a respeito de inovação com a história do cartão pré-pago? Para refletir O causo do cartão pré-pago provocou um tremendo impacto nos ne- gócios da empresa. Isso nos alerta que as inovações não precisam partir de cálculos complexos, afinal, inovar é criar, é ter boas ideias. Como vimos até aqui, inovar não é criar novas necessidades para as pessoas, e sim, criar novas e melhores soluções. Para isso, precisamos re- unir a equipe e classificar o tipo de inovação que está sendo feita na orga- nização. Nesse sentido, temos três tipos: incremental, radical e disruptiva. Inovação incremental Inovação incremental é o tipo de inovação mais comum, funcionando como uma espécie de processo contínuo de otimizações e melhorias no produto ou serviço já existente. A maioria das inovações é incremental, ou seja, elas desenvolvem as ba- ses de conhecimento existentes e oferecem pequenas melhorias para as linhas de produtos atuais. Também são de natureza evolucionária e linear. Os mercados para esse tipo de inovação são bem definidos, as caracterís- ticas dos produtos são bem compreendidas, as margens de lucro tendem 62 Planejamento Estratégico a ser mais baixas, as tecnologias de produção são eficientes e a competi- ção é basicamente baseada no preço (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). A inovação incremental de um sabão em pó, por exemplo, ocorre quando, partindo de uma base comum desse produto, inovamos com a criação de um sabão com novos atributos, como a remoção de manchas difíceis ou a sanitização e higienização das roupas ao serem lavadas. Percebemos muito a inovação incremental também nos automóveis lançados no mercado anualmente. Há mudanças no visual das lanternas, no porta-malas, na potência dos motores e nos tipos flex de combustíveis (gasolina, diesel e elétrico). Mas a plataforma-base de todos é a mesma. Inovação radical As inovações radicais oferecem descobertas tecnológicas significati- vas e criam tecnologias para atender aos mercados recém-criados. Elas normalmente atingirão mercados inexplorados, são raras em função da dificuldade e do risco envolvidos em seu desenvolvimento e demandam grandes investimentos em processos, tecnologias e marketing. Além disso, a criatividade é exigida, porque a inovação radical dá origem a tecnolo- gias e utiliza apenas alguns ou poucos produtos atuais ou conhecimento tecnológico da empresa (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Apresentamos a seguir algumas das inovações radicais dos últimos tempos. O PicPay é um aplicativo fintech brasileiro, com o qual é possível fazer compras com cartão de crédito ou valor de transferência por um smartphone. É uma solução para todo tipo de negócio, afinal, é possível receber pagamentos direto do celular. O Airbnb é um aplicativo no qual pessoas podem anunciar acomodações para viajan- tes, os quais reservam espaços únicos nos lugares que pretendem visitar. Trata-se de um recurso que já conta com milhões de usuários por todo o mundo, proporcionando trocas de experiências entre viajantes e anfitriões que compartilham suas paixões e seus interesses. Tudo começou em 2008, quando dois designers que possuíam um cômo- do extra hospedaram três viajantes que buscavam um lugar para ficar. fintech: aplicativo de tecnologia financeira (financial technology); empresas que ofertam ao mercado produtos finan- ceiros totalmente digitais. Glossário Inovação como estratégia competitiva 63 Inovação disruptiva Para Daft (2017), a inovação disruptiva refere-se às inovações em produtos ou serviços que, em geral, começam em pequena escala e acabam substituindo completamente uma tecnologia para produto- res e consumidores. Como exemplo clássico de inovação disruptiva temos os smartphones substituindo as máquinas fotográficas e mesmo os computadores e os aparelhos de som. No entanto, essa lista de exem- plos cresceu (e muito). Podemos adicionar a Tesla, com seus auto- móveis autônomos, a Netflix, com seus serviços de fornecimento de filmes on demand (sob demanda), o DAZN.com, com seu streaming de esportes, o Spotify, com seu streaming de músicas, e a Uber, com seus serviços de transporte por aplicativos. Revolucionando os serviços de segurança contábil-financeira, temos o blockchain e as criptomoedas. A Internet das Coisas (IoT) também pertence ao grupo de inovações disruptivas, bem como os assistentes virtuais, como a Alexa, a Siri e a Cortana. Todas essas inovações convergem para um mercado de serviços on demand, no qual cada vez mais o consumidor determina o que quer comprar, qual é o momento da compra ou em que tempo, qual é a quantidade e quais são os atributos que deseja nos produtos e serviços. Sugerimos a leitura da reportagem BRF planeja investir R$ 700 milhões em inovação até 2025, a qual é importante para termos uma referência acerca do volume de investimentos que está sendo aportado em uma das maiores empresas do segmen- to alimentício para a inovação e transformação digital. Pode também ser útil como referência nos projetos que venhamos a participar. Disponível em: https:// valorinveste.globo.com/ mercados/renda-variavel/ empresas/noticia/2021/03/02/ brf-planeja-investir-r-700- milhes-em-inovao-at-2025. ghtml. Acesso em: 22 jun. 2021. Leitura 3.2 Business Analytics Vídeo O gestor da organização tem que tomar decisões a todo instan- te. Para isso, é necessário que avalie e analise todos os dados es- senciais que a sua empresa dispõe com base no uso da tecnologia da informação na internet. Esse processo de tomada de decisão apoiado na tecnologia é denominado de análise dos negócios, ou Business Analytics. Hoje, os gestores têm à sua disposição bilhões de informações para uma tomada de decisão, as quais chegam às suas mãos por meio de aparelhos celulares, computadores, notebooks, redes so- ciais, softwares e demais aplicativos. Dessaforma, a tomada de de- cisão nos tempos atuais envolve, quase que obrigatoriamente, uma viagem ao mundo do Business Analytics e, consequentemente, a ga- 64 Planejamento Estratégico rantia de uma parada no mundo do big data e do data mining (mi- neração de dados). Portanto, para chegarmos ao Business Analytics, temos que conversar inicialmente sobre esses dois conceitos. 3.2.1 Big data Há aproximadamente duas décadas a maioria dos dados co- letados pelas organizações consistia em dados transacionais, ou business operations management, que se encaixavam perfeitamente em um processo de gestão de um banco de dados relacional. Devido ao enorme tráfego de dados na grande avenida aberta pela internet, houve uma explosão deles à disposição dos gestores, os quais, até então, estavam habituados a tomarem suas decisões acessando simples bases de dados estruturados e não estruturados. As informações com dados estruturados são aquelas repre- sentadas pelas rotinas diárias das empresas. Os sistemas de in- formações estruturados processam os dados rotineiros de modo on-line basicamente. São apoiados pelos sistemas de Supply Chain Management (SCM), Enterprise Resource Planning (ERP) e Customer Relationship Management (CRM). Já os sistemas com informações com dados não estrutura- dos exigem a presença do gestor para uma tomada de decisão, o qual deve contar com sistemas computadorizados interativos que vão o auxiliar com dados e modelos para solucionar problemas não estruturados. Então, o foco do Business Analytics está centrado no conjunto de dados não estruturados, possibilitando ao gestor acesso interativo aos dados e permitindo a sua manipulação para análises e defini- ções de estratégias adequadas aos negócios. Segundo Laudon e Laudon (2014, p. 193): utilizamos, atualmente, o termo big data para descrevermos esses conjuntos de dados com volumes tão imensos a ponto de estarem além da capacidade que um sistema de gestão de banco de dados típico tem para capturar, armazenar e analisar. [...] O big data não se refere a qualquer quantida- de específica, mas normalmente a dados na faixa dos pe- tabytes e exabytes – em outras palavras, bilhões a trilhões de registros, todos oriundos de fontes diversas. O big data O SCM é um aplicativo de gestão da cadeia de supri- mentos da organização. Já o ERP integra os dados estruturados de todas as áreas da empresa, como produção, vendas, logística, finanças, recursos huma- nos e contabilidade. Por fim, o CRM gere o relacio- namento com o cliente. Saiba mais Inovação como estratégia competitiva 65 é produzido em quantidades muito maiores e mais rapida- mente do que os dados tradicionais. Big data, portanto, não é um termo novo e está em constante evolução. Por exemplo, segundo Sharda, Delen e Turban (2019), as organizações já vêm armazenando grandes quantidades de dados desde o início da década de 1990, por meio dos data warehouses (arquivos de dados produzidos e disponibilizados aos gestores para a tomada de decisões). Além disso, o crescimento do big data não parece diminuir, uma vez que as empresas constantemente buscam armazenar e analisar níveis cada vez maiores de dados, de modo a melhor entender o comportamento do consumidor e os fatores de bom desempenho. Para realizarmos um bom trabalho de Business Analytics é importan- te identificarmos os 6 Vs que definem o big data (Figura 1). Figura 1 6 Vs do big data Volume: aumento exponencial no volume de dados devido ao armazenamento ao longo dos anos. Variedade: variedade de dados e formatos. Veracidade: termo criado pela IBM que se refere à conformidade dos fatos quanto à precisão dos dados. Valor proposto: possibilidade de uma análise de dados com maiores insights e melhores possibilidades de decisão aos gestores. Velocidade: ritmo em que os dados estão sendo produzidos. Variabilidade: gestão dos picos diários e sazonais de eventos nos fluxos de dados. bu ffa lo bo y/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor com base em Sharda; Delen; Turban, 2019. Aprendemos que há bilhões de informa- ções – chamadas de big data – envolvendo uma organização, as quais são armazenadas nos data warehouses, que têm sua capacidade de armazena- mento aumentada com o surgimento do cloud com- puting (armazenamento na nuvem), cujo símbolo é justamente uma nuvem. Isso indica que o acesso a programas, serviços e arquivos armazenados no data warehouse é remoto, por meio da internet. Saiba mais 66 Planejamento Estratégico Agora vamos ver o que é o data mining, nossa próxima parada na jornada da compreensão do Business Analytics. 3.2.2 Data mining Data mining, ou mineração de dados, é o processo que emprega al- goritmos e técnicas estatísticas, matemáticas e de inteligência artificial para extrair dados e identificar informações úteis no big data, entre bilhões de dados, para serem aplicados na análise de negócios. A se- guir apresentamos quais são os tipos de padrão de filtragem de dados possíveis no data mining (Figura 2). Previsões e projeções: valendo-se dos dados constantes no big data, o gestor busca previsões ou projeções de ocorrências futuras de certos eventos tomando por base o que aconteceu no passado. Cr ea tiv e S ta ll/ Sh ut te rs to ck Figura 2 Tipos de padrão de filtragem de dados no data mining Padrão 2 Fonte: Elaborada pelo autor. Fa be rr In k/ Sh ut te rs to ckAssociações: no processo de mineração de dados do big data, cabe ao gestor de análise de negócios buscar dados ou itens que ocorrem de maneira simultânea. Exemplificando, caso o negócio em análise seja uma vinícola que produz vinhos, é necessário buscar itens que possam somar simultaneamente aos vinhos da empresa, ou seja, queijos, salames, massas etc. Dessa análise, é possível prospectar novos negócios ou estabelecer estrategicamente novas parcerias. Padrão 1 An to n Sh ap ar en ko /S hu tte rs to ckAgrupamentos, ou clusters: identificam, conforme o algoritmo selecionado, aglomerações naturais de coisas com base em suas características. O gestor reúne clientes não conhecidos ou segmentos de mercado, identificando grupos com registros similares (comportamentos, preferências, hábitos de consumo, nível de renda, padrão aquisitivo etc.). Padrão 3 Cr ea tiv e S ta ll/ Sh ut te rs to ckRelações sequenciais: têm como objetivo sinalizar probabilidades de sequências de negócios dentro do mesmo segmento de produtos e serviços oferecidos pela empresa. Isso significa, por exemplo, avaliar com a técnica do data mining qual a chance de um cliente que adquiriu hoje uma geladeira voltar a comprar na mesma loja nos próximos 12 meses um produto do mesmo segmento (linha doméstica), como um fogão. Padrão 4 Inovação como estratégia competitiva 67 Conhecendo o big data e o data mining, podemos finalmente chegar ao Business Analytics. 3.2.3 Business Analytics Existem momentos no processo de gestão em que os gestores “param” para refletir sobre o futuro da organização. Eles necessitam encontrar respostas para perguntas clássicas de gestão, como: “Onde estamos?”, “Para aonde vamos?”, “Como vamos?”, “Por que isso aconte- ceu na empresa?” e “O que pode acontecer no futuro?”. É um momento da análise dos negócios que levará o gestor a buscar a solução mais apropriada e o modelo adequado, ambos alinhados ao objetivo estra- tégico da organização. É o momento do Business Analytics da empresa. O Business Analytics é o processo de explorar os dados e as informa- ções contidas no big data da empresa por meio da técnica de data mining, ou seja, usando modelos estatísticos, matemáticos, inteligência artificial ou algoritmos, de modo que, com os dados obtidos, o gestor possa proje- tar o futuro da empresa, avaliar os impactos das estratégias traçadas nos negócios e analisar como ela vai operar as mudanças propostas. O processo de análise dos negócios possui três níveis ou tipos de análise:descritivo, preditivo e prescritivo (Quadro 2). Quadro 2 Matriz de análise de negócios Descritivo Preditivo Prescritivo Pergunta O que aconteceu? O que está acontecendo? O que acontecerá? Por que acontecerá? O que devo fazer? Por que devo fazer? Facilitadores Relatórios empresariais. Dashboards. Scorecards. Data warehouse. Mineração de dados. Mineração de texto. Mineração da web/redes sociais. Geração de previsões. Otimização. Simulação. Modelos de decisão. Sistemas especialistas. Resultado Problemas e oportuni- dades empresariais bem definidos. Projeções precisas de eventos futuros e resulta- dos finais. Melhores decisões e ações empresariais possíveis. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sharda; Delen; Turban, 2019; Laudon; Laudon, 2014. A análise descritiva tem uma visão diagnóstica da situação; a prediti- va determina uma visão futurística da organização; e a prescritiva trata de indicar soluções para a decisão do gestor. A leitura do livro Business Intelligence e análise de dados para gestão do negócio é essencial como reforço do entendimento dos modelos de análise descritivo, preditivo e prescritivo em um ambiente de Business Intelligence (BI) e Business Analytics. Trata-se de uma dica importante também para conhecer os concei- tos técnicos aplicados a um ambiente de big data. SHARDA, R.; DELEN, D.; TURBAN, E. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019. Livro 68 Planejamento Estratégico Vimos, então, que para o Business Analytics, o qual busca respostas para o futuro da empresa (“Para aonde vamos?” e “Como vamos?”) e analisa o cenário atual que envolve a empresa (“Como estamos?”), a matriz de análise de negócios torna-se essencial, pois seus níveis per- mitem que o gestor encontre no eixo de análise descritivo a resposta para o que está acontecendo na organização. 3.3 Business Performance Management Vídeo Há uma parábola muito conhecida sobre uma família bastante pobre, mas que tinha uma vaca para a sua sobrevivência. Quando indagada por um sábio e seu discípulo a respeito de sua forma de viver na pobreza, o chefe da família respondeu: “Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizi- nha por outros gêneros de alimentos; com a outra parte nós produ- zimos queijo, coalhada e outros itens para nosso consumo. Assim, vamos sobrevivendo”. O sábio, inconformado com a forma de viver daquela família, tentan- do ajudar, ordenou ao discípulo que desse um fim ao animal. O discípulo cumpriu a ordem, empurrando o animal em um terreno alagadiço – e, assim, a vaca foi para o brejo! Passado um tempo, o sábio, ao reencontrar a família, espantou-se, pois o local já não era o mesmo e as pessoas estavam bem diferentes. Houve um enorme progresso. Curioso, o sábio perguntou ao chefe da família o que tinha ocorrido para tantas mudanças. E o senhor, entu- siasmado, respondeu-lhe: “Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no brejo e morreu. E quando a vaca foi para o brejo, nós choramos, fica- mos preocupados, mas percebemos que, por mais que chorássemos, ela não voltaria mais. Foi aí que daquele dia em diante passamos a fazer outras coisas para sobreviver. Assim, fomos dia após dia alcan- çando as coisas e chegando nisso que pode ver” 1 . 3.3.1 A janela estratégica dos negócios Transportando essa história para o mundo corporativo de processos e tecnologia digital, que aprendizado podemos tirar dela? Acertou se você disse que uma organização deve abrir a janela estra- Para ler a fábula comple- ta, visite o site: https:// procreare.com.br/vaca- -foi-pro-brejo/. Acesso em: 22 jun. 2021. 1 tégica dos negócios e escancarar a empresa para o mundo globaliza- do. A organização que permanece com a janela estratégica fechada e com as ações de gestão voltadas apenas para si está com seus dias contados. Ao abrir a janela estratégica, o gestor apresenta sua empresa a dois mundos: o mundo do seu ambiente interno, no qual troca infor- mações com seus stakeholders, e o mundo do seu ambiente externo – o “principal” –, no qual troca experiências, conhece novas tecnolo- gias e integra a empresa ao mundo globalizado. Nesse momento, as instituições deparam-se com novas ferramen- tas de gestão proporcionadas pela tecnologia digital. Além do big data, data mining e Business Analytics, é colocada à disposição do gestor a metodologia do Business Performance Management (BPM), ou simples- mente gestão de desempenho dos negócios. Voltando à parábola, o primeiro instante – o momento da explo- ração da vaca – é equivalente ao momento de muitas empresas. Vi- vem apenas para seu próprio negócio, esquecendo-se do mundo lá fora. Nesse caso, a gestão de desempenho dos negócios é incom- pleta, e o uso de tecnologias como o Business Analytics é esquecido, comprometendo o desempenho da organização. Quando a vaca foi para o brejo, surgiu uma nova forma de viver naquela família. A janela estratégica de negócios foi aberta, propor- cionando um alto desenvolvimento, uma performance de excelên- cia. Este deve ser o alvo dos gestores ao abrir a janela estratégica: buscar uma gestão de desempenho dos negócios com o desenho de novos processos (eliminação de duplicidades), a aplicação de novas metodologias de gestão (tecnologia digital) e a definição de novos parâmetros de negócios que permitam monitorar com eficácia os resultados da empresa (melhores controles). Isso é a metodologia Business Performance Management. É muito importante lembrarmos de que a adoção da metodologia BPM independe do tamanho da empresa. É preciso querer crescer e não deixar “a vaca ir para o brejo”. 3.3.2 Business Performance Management O Business Performance Management, segundo Colbert (2009 apud SHARDA; DELEN; TURBAN, 2019), abrange três componentes-chave: As reportagens a seguir mostram que a moder- nização da gestão com o uso da tecnologia digital independe do tamanho da organização. O mundo dos negócios gira em torno do público-alvo, que exige cada vez mais melhor atendimento, qualidade e velocidade na entrega do produto final, atributos conseguidos com a aplica- ção dessa tecnologia. • Gestão modernizada faz padaria centenária crescer na pandemia. Disponível em: https:// g1.globo.com/economia/ pme/pequenas-empre- sas-grandes-negocios/ noticia/2021/05/16/ gestao-modernizada-faz- -padaria-centenaria-cres- cer-na-pandemia.ghtml. • BRF começa a adaptar fábricas à era digital. Disponível em: https:// www.suinoculturaindus- trial.com.br/imprensa/ brf-comeca-a-adaptar- -fabricas-a-era-digital/ 20201103-110045-m574. Acessos em: 22 jun. 2021. Leitura Inovação como estratégia competitiva Inovação como estratégia competitiva 6969 70 Planejamento Estratégico • Um circuito fechado de processos gerenciais e analíticos inte- grados (suportados por tecnologia) que lida com atividades fi- nanceiras e operacionais. • Ferramentas usadas por empresas para definir metas estraté- gicas e, então, mensurar e gerir o desempenho diante delas. • Um conjunto básico de processos vinculado à estratégia or- ganizacional, incluindo planejamento financeiro e operacional, consolidação e geração de relatórios, modelagem e análise e monitoramento de indicadores-chave de desempenho (Key Performance Indicators – KPI). Além disso, de maneira prática, o ciclo BPM em circuito fechado possui quatro dimensões (Figura 3). Estratégia Plano Atuação/ ajuste Monitoramento e análise Missão, valores, metas, objetivos, mapas estratégicos Interpretação, colaboração, aferimento, decisão Orçamentos, planos, previsões, modelos, alvos Painéis de desempenho, relatórios, ferramentas analíticas Ciclo estratégico do Business Performance Management Fonte: Elaborada pelo autor com base em Sharda; Delen; Turban, 2019. Fireofhear t/Shutt ersto ck Figura 3 Ciclo estratégico do Business Performance Management Quanto à estratégia, inicialmente compete ao gestor definir a es- tratégiade longo prazo da organização, especificando missão, valores, metas, objetivos e mapas estratégicos. Ele deve se perguntar: “Quais são os objetivos a serem alcançados?” e “Aonde queremos ir?”. O livro Indicadores de desempenho: dos objetivos à ação – métodos para elaborar KPIs e obter resultados nos ensina que todo planejamento estratégico deve ser acompanhando de um sensor que informe se a entrega ao cliente está de acordo com os objetivos traçados. Estratégias precisam ser monitoradas de maneira permanente, pois o gestor precisa saber se os negócios estão no rumo certo, de acordo com o planejado. Desse modo, indicadores de desempenho (KPIs) são obrigatórios nesse pro- cesso de monitoramento. FRANCISCHINI, A. S. N.; FRANCISCHINI, P. G. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. Leitura Inovação como estratégia competitiva 71 Os planos referem-se a quando os gestores têm os objetivos de- finidos e são capazes de responder a “Como chegar lá?”. Trata-se da elaboração dos planos operacionais e financeiros. A etapa de monitoramento e análise representa a nossa bússola de controle. O monitoramento responderá às questões: “Como es- tamos indo?” e “Como está o nosso desempenho diante do objetivo traçado?”. Um passo muito importante deve ser dado nesse instan- te. É preciso definir nitidamente quais ações serão monitoradas e como serão monitoradas. Na sequência, compete ao gestor defi- nir os indicadores-chave que farão parte do painel de controle do Business Intelligence (BI) da empresa. Nessa fase de monitoramento, uma dica de ação é o uso dos Key Performance Indicators (Quadro 3). Quadro 3 Definição dos Key Performance Indicators Indicadores de vendas Indicadores financeiros Indicadores operacionais Indicadores de marketing Crescimento de vendas no período. Leads conquistados. Valor do ticket médio de vendas. Lucro antes do pagamen- to de impostos. Crescimento da receita. Valor da margem de con- tribuição. Rotatividade de estoque. Nível de endividamento. Rotatividade de pessoas. Tempo de atendimento de um pedido. Custo de manutenção com a frota de entrega. Devolução de mercadoria por avarias. Capilaridades da distribui- ção – pontos de vendas. Retorno de campanhas de marketing x vendas. Lançamento de novos produtos – renovação da linha de produtos. Fonte: Elaborado pelo autor. Finalmente, na atuação/ajuste, os dados dos indicadores mostra- rão se os planos operacionais e financeiros ativados foram ao encontro dos objetivos estratégicos traçados. No entanto, duas perguntas cabem nessa fase para que possamos reiniciar o ciclo BPM: “O que precisamos fazer diferente?” e “O que podemos fazer diferente para mantermos ou aumentarmos a nossa performance?”. 3.3.3 Business Intelligence É importante na gestão do desempenho de negócios que haja o en- tendimento de que o ambiente de Business Intelligence é uma ferramen- ta à disposição do gestor para o monitoramento e apoio à tomada de decisões nos negócios. 72 Planejamento Estratégico Nesse sentido, o BI permite ao gestor, por meio da análise descritiva (Quadro 2), visualizar o que aconteceu ou o que está acontecendo na empresa. A base dessa análise são os relatórios de gestão empresa- riais extraídos das informações do dashboard, com situações estáticas das transações comerciais e relatórios pontuais acerca de finanças, marketing, pessoas e produção. Para Turban, Sharda e Delen (2010 apud SAITO; HORITA, 2015, p. 2): o principal objetivo dos sistemas de BI é disponibilizar acesso in- terativo aos dados, permitindo sua manipulação disponibilizan- do aos gestores condições para efetuarem análises apropriadas. Analisando dados históricos e correntes, o BI maximiza as chan- ces de a decisão ser efetuada de forma mais correta em relação ao atual estado do negócio. O processo de BI pode ser entendido como sendo o processo de transformação de dados em informa- ção, informação em decisões e posteriormente em ações. Com base nesse conjunto de dados/informações extraído do Business Intelligence, compete ao gestor de análise do desempenho de negócios emitir seu próprio relatório e respectivos gráficos para a to- mada de decisão. 3.4 Gamificação aplicada aos negócios Vídeo O contato mais forte com o mundo eletrônico e os espaços digitais no Brasil ocorreu a partir da década de 1980, com a evolução dos apa- relhos eletrônicos e a chegada da internet. Nesse pacote surgiram os primeiros jogos eletrônicos, os populares games, e o grande ídolo da moçada da época, o game Mario Bros. Com as facilidades trazidas por essa evolução, os games estão pre- sentes atualmente nas mãos de cerca de 72% das famílias brasileiras. Esse cenário estimulou os gestores corporativos a introduzirem em suas organizações a gamificação, ou gamification, prática da utilização das regras dos games em seus programas de treinamento e motivação de pessoas, com a finalidade de alcançar os melhores níveis de compe- titividade no mercado. Essa ferramenta não é uma solução única que resolverá todos os problemas, mas, com certeza, não pode faltar na sua “caixinha de ferramentas” profissional (ALVES, 2014). dashboard: apresen- tação visual, em tela digital, dos dados mais importantes a serem vistos pelo gestor. Glossário 3.4.1 Gap organizacional e a gamificação A gamificação aplicada aos negócios é uma técnica de apren- dizagem baseada nas regras dos games. Para Berimbau (2014, p. 1, grifos do original), podemos tornar a gestão dos negócios mais agradável ao adotarmos essas regras. Quem não gosta de assistir a um filme, ler um quadrinho e jogar um bom game? São experiências memoráveis, que algu- mas vezes nos lembramos por décadas a seguir. Elas nos en- sinam coisas, ainda que sua utilidade seja questionável: que o Frodo carrega um anel, o Hulk é verde e forte e o Mário faz aquele som quando pula. Por que essas mídias, de onde ori- ginam tais conteúdos, não podem então nos ensinar outras coisas mais interessantes? Quem trabalha com formação de pessoas costuma se indagar desta forma, e procura as mais diferentes técnicas para transformar um conteúdo denso, trabalhoso e complicado em algo mais palatável. Para Kapp (2014 apud ALVES, 2014, p. 26, grifos nossos), “gamification é a utilização de mecânica, estética e pensamento ba- seados em games para engajar pessoas, motivar a ação, promover a aprendizagem e resolver problemas”. Observamos, então, que a gamificação aplicada aos negócios só tem sentido se promover a aprendizagem de maneira tão agra- dável quanto jogar um game. Cumpre-nos deixar evidente que a gamificação não é a transformação dos programas de capacitação e formação em jogos, mas sim de apropriação das técnicas e re- gras utilizadas nos games para os programas de aprendizagem das empresas. Se a gamificação é usada para a aprendizagem dos colaborado- res da organização, há a necessidade de um plano de capacitação bem estruturado, de tal forma que cubra o gap existente entre os objetivos estratégicos da empresa e a sua realidade quanto aos co- nhecimentos e ao preparo dos colaboradores para o cumprimento desses objetivos. Esse plano de aprendizagem com a aplicação da gamificação precisa ter objetivos claros para que obtenha sucesso na redução do gap organizacional. Objetivos bem descritos facilitam a escolha de meios e estratégias de ensino, bem como a avaliação dos resul- tados de aprendizagem do curso. 74 Planejamento Estratégico Para o desenvolvimento dessa habilidade e a compreensão do sistema de gamificação, alguns conhecimentos são necessários ao gestor, os quais são explorados nas subseções seguintes: tripé de Werbach para o estudo de gamification e aplicação do modelo 6 Ds de Werbach e Hunter. 3.4.2 Tripé de Werbach para o estudo de gamification Quando pensamos na gamificação e na sua aplicação nos ne- gócios, temos como objetivo central a aprendizagem. A empresa tem um problema a ser solucionado e buscará na gamificação uma solução mais agradável. De acordocom Werbach (2012 apud ALVES, 2014), um processo de gamificação envolve a correlação de diversos elementos, como emoções, narrativas (storytelling) e interação. Desafios, recompen- sas e feedback aos jogadores são elementos necessários em outro momento da gamificação, que também pode correlacionar avata- res com combates e pontuações acumuladas. Esses elementos da gamificação foram divididos por Werbach em três níveis (Figura 4). Portanto, preste atenção: os elementos que compõem o tripé de Werbach nunca devem ser esquecidos em um projeto de gamificação! fe el p lu s/ Sh ut te rs to ck DinâmicaDinâmica MecânicaMecânica ComponentesComponentes Figura 4 Tripé de Werbach para a gamificação Fonte: Adaptada de Alves, 2014, p. 43. No link a seguir você en- contra um caso prático de aplicação da gamificação. A empresa em questão buscou aumentar sua com- petitividade no mercado usando seus dados reais nesse processo. Disponível em: https://www.abrhrs. org.br/noticia/gamificacao-como- ferramenta-para-disseminar-a- cultura-organizacional-e-potencializar. Acesso em: 22 jun. 2021. Leitura Para aqueles que desejam experimentar o mundo da gamificação, a leitura do livro Gamification: como criar experiências de apren- dizagem engajadoras – um guia completo do conceito à prática é imprescindível. Trata-se de uma obra de fácil entendimento, com conteúdo atualizado, sen- do um guia para aqueles que desejam aplicar essa ferramenta aos seus negócios. ALVES, F. São Paulo: DVS, 2014. Leitura Inovação como estratégia competitiva 75 A dinâmica, nível 1 da pirâmide, é constituída de elementos res- ponsáveis por atribuir coerência e padrões regulares à experiência que buscamos promover com o sistema gamificado. A mecânica, nível 2, proporciona ações que movimentam as coisas adiante. Por fim, os componentes, nível 3, colocam em prática o que está pro- posto na dinâmica e na mecânica (ALVES, 2014). A seguir apresen- tamos um resumo desses três elementos. Quadro 4 Síntese dos elementos necessários para a gamificação de um negócio Nível 1: dinâmica Elemento da gamificação Finalidade Emoções Referem-se à emoção de alcançar um objetivo, de ser motivado por feedback e recompensado pelo alcance de um resultado. Narrativa (storytelling) Deve estabelecer uma correlação com o seu contexto, criando conexão e sentido para que o sistema gamificado não se torne um amontoado de ele- mentos abstratos. Nível 2: mecânica Desafios Mobilizam o jogador a buscar o estado de vitória. Recompensas Referem-se ao ato de conquistar benefícios durante o jogo. Estados de vitória Dizem respeito ao ato de alcançar o maior número de pontos, conquistar um território maior, eliminar os invasores etc. Nível 3: componentes do jogo Avatares São a representação visual do personagem ou do papel no sistema gamificado. Níveis Referem-se aos diferentes graus de dificuldade apresentados ao jogador no de- correr do sistema gamificado, de modo que ele desenvolve habilidades quando avança o nível. Pontos Referem-se à contagem de pontos acumulados. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Werbach (2012 apud Alves, 2014); Berimbau, 2014. Cabe ressaltar a importância da narrativa, ou seja, do storytelling presente no sistema gamificado, pois sem história a credibilidade do sistema fica prejudicada. 3.4.3 Aplicação do modelo 6 Ds de Werbach e Hunter Werbach e Hunter (2012 apud ALVES, 2014), para a organização do plano de gamificação, criaram o modelo 6 Ds, que se referem a: define (definir); delineate (delinear); describe (descrever); devise (conceber); don´t forget the fun (não esqueça a diversão); e deploy (implantar). 76 Planejamento Estratégico Vamos ver agora como aplicar o modelo 6 Ds de Werbach e Hunter em um projeto de gamificação. Figura 5 Aplicação do modelo 6 Ds de Werbach e Hunter em um projeto de gamificação Definir: define-se o problema, como falar uma língua nova ou possuir técnicas de negociações internacionais. Delinear: é o momento de definir as métricas de avaliação do projeto, por exemplo: os técnicos envolvidos no programa de treinamento devem realizar três viagens internacionais para ambientação, participar de quatro seminários de negócios, elaborar um documento de implantação da filial etc. Descrever: são definidos os perfis das pessoas que vão se envolver no programa de gamificação. Para a efetivação dessa fase, é muito interessante o uso do modelo de Bartle, no qual há quatro tipos de jogadores: realizadores, exploradores, socializadores e assassinos (predadores). Conceber: significa reconhecer o tipo de conhecimento que precisará ser ensinado. Um exemplo é ensinar como ser criativo, o que pode ser feito por meio de atividades de gamificação centradas na criação de um jogo próprio (exclusivo) pela equipe ou na construção de mapas mentais. Não esqueça a diversão: indica que uma atividade é divertida ou não em função do grau de dificuldade encontrado ao realizá-la. Esse grau precisa ser regulado para não ser tão difícil, a ponto de provocar ansiedade, nem tão fácil, a ponto de entediar o jogador (colaborador). Como os games tendem a ficar monótonos após várias horas de jogo, a diversão pode ser feita por meio de desafios, premiações, feedbacks dos seus resultados etc. Implantar: deve-se deixar claro ao jogador quais são as metas a serem atingidas e as respectivas recompensas. Por exemplo, pode-se traçar um plano detalhando a estrutura da gamificação, como a forma de premiação, os avatares, os combates, os placares, os distintivos de mérito etc. M aD ed ee /g ra ph ix m an ia /C ro co lo t/ Dj en t/ M ar ko Ba bi i S hu tte rs to ck START Inovação como estratégia competitiva 77 Vimos que a gamificação aplicada aos negócios, por ser uma nova forma de aprendizagem, precisa ser experimentada em pequenas do- ses. Protótipos podem ser criados, antecedendo uma aplicação em grande escala, e a degustação do evento pelos participantes deve ser permitida. A gamificação é uma excelente ideia, mas que não pode cair na rede do modismo. 3.5 Design thinking Vídeo Tim Brown (2020, p. 8), um dos criadores da metodologia design thinking, define-a como “poderosa para decretar o fim das velhas ideias”. Mas o que seriam essas velhas ideias? Gestores e executivos pensando sozinhos em ideias mirabolantes para o sucesso da sua empresa. É a busca solitária do grito de “eureca!”. Brown inova trazendo para as em- presas uma proposta muita empatia de criação em equipe e de vivência e experimentação das soluções antes da equipe gritar o eureca. Nas subseções a seguir entenderemos melhor o design thinking. 3.5.1 O ambiente da organização e o perfil dos gestores O design thinking é uma metodologia disruptiva para a resolução de problemas, a qual propõe que as pessoas (gestores) saiam da zona de conforto e pensem realmente em soluções criativas para sua orga- nização. Enfim, é uma forma diferente de resolver problemas. Para Brown (2020), o design thinking faz com que as pessoas coloquem pra fora seu espírito inovador e soltem-se das amarras das práticas con- vencionais de resolução de problemas, por exemplo, solucionar empe- cilhos unicamente com base em um briefing. Essa metodologia vê com restrições o briefing que normalmente é entregue aos “solucionadores de problemas” pela alta cúpula da organização, já que tradicionalmente tem como conteúdo um conjunto de parâmetros predefinido e com res- trições às possíveis inovações. De acordo com Brown (2020, p. 29), “se você sabe o que quer, não faz muito sentido procurar”. Leia a reportagem Como a Totvs usou design thinking para melhorar os produtos para conhecer um pouco mais dessa metodologia que encanta os gestores das organizações. Disponível em: https://exame.com/ revista-exame/como-a-totvs-usou- design-thinking-para-melhorar-os- produtos/. Acesso em: 22 jun. 2021. Leitura 78 Planejamento Estratégico Então, recordando o que sabemos sobre o design thinking: • É uma metodologiadisruptiva para solucionar problemas. • “Obriga” os gestores a saírem da zona de conforto e adotarem a metodologia ativas na busca por soluções criativas. • Não convive com práticas convencionais de resolução de problemas. • Vê com restrições o briefing dos problemas. O design thinking não traz para a organização soluções com ino- vações meramente incrementais, mas representa um continuum da inovação, exigindo inspiração, ideação e implementação das soluções geradas. A inspiração é voltada para o problema ou a oportunidade que motiva a busca de soluções; a ideação é o processo de gerar, de- senvolver e testar ideias; e a implementação é o caminho que vai do estúdio de design ao mercado (BROWN, 2020). Se as vendas da empresa não estão bem, temos um grande pro- blema. Cabe ao gestor juntar-se à equipe de design thinking e buscar inspiração para soluções inovadoras. Se necessário, deve ser agre- gado à equipe um psicólogo, pois talvez a solução seja encontrada no comportamento do time de vendas. É o momento da ideação. Se a equipe concluir que o problema está na forma de atendimento, uma maquete com um novo layout de lojas mostrando o fluxo dos clientes pode apontar a solução. Mas é preciso cautela, a ideação, a solução encontrada pela equipe de design thinking deve, na fase de implementação, ser submetida à crí- tica dos gerentes das lojas e dos clientes. Há a necessidade de feedback para o aperfeiçoamento da proposta, e uma solução encontrada não tem valor se não for submetida a esse processo. Para que haja sincronia entre inspiração, ideação e implementação, o gestor deve ter em seu perfil traços fortes de empatia, pensamento integrativo, otimismo, experimentalismo e colaboração. 3.5.2 Pilares do design thinking As bases do design thinking (inspiração, ideação e implementa- ção) relacionam-se com os três pilares de criação: empatia, colabo- ração e experimentação. Inovação como estratégia competitiva 79 A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, o que é fundamental para o entendimento do problema da organização. Para Brown (2020, p. 55), “é possível passar dias, até meses conduzindo pesquisas [...] mas, no final, não teremos muito mais do que cadernos de campo, vídeos e fotografias, a menos que criemos conexão com as pessoas que estamos observando”. Então, para que haja empatia, é preciso criar uma conexão com as pessoas, experimentar o ambiente. Veja a seguir um caso de experiência com design thinking. Há pouco tempo os diabéticos sofriam com o procedimento de medi- ção da glicose à base de agulha, e questionamentos sobre ele eram feitos aos médicos, até que um representante de um laboratório resol- veu conversar com um grupo de diabéticos e vivenciar o “sofrimento das agulhas”. Ele entendeu como era feito todo o processo, experi- mentando com o grupo de diabéticos. Eureca! Hoje um adesivo serve para medir o nível de glicose pela pele, o que faz com que milhões de diabéticos não precisem usar agulhas para realizar as medições periódicas. Há um ditado popular que diz: “uma andorinha só não faz verão”. Nesse sentido, não adianta o gestor achar que pode resolver sozinho os problemas da sua organização. É necessário haver colaboração. O trabalho em equipe permite encontrar a grande solução criativa para o problema e cumprir com a ideação. Surge, então, a equipe multidisciplinar, formada por gestores da organização que vivenciam o problema, administradores, economis- tas, psicólogos, especialista em storytelling, fotógrafos, jornalistas, especialistas em marketing, profissionais da tecnologia da informa- ção, enfim, inúmeros profissionais. Nesse instante, é recomendado que todos os participantes da equipe de design thinking desenvolvam a “arte de ouvir”. Por fim, a experimentação é uma fase de experimentação da so- lução a ser proposta. Ela apresenta-se no formato de uma maquete, storytelling, encenação, filme ou outro formato que a equipe desejar. O importante é que seja apresentada uma proposta de solução que possibilite a experimentação dos envolvidos e o devido feedback para o aperfeiçoamento. “Quanto mais experiente o sujeito for, maior pos- sibilidade ele terá de agir com prudência e sabedo- ria” (ARISTÓTELES). Para refletir A leitura de Design thinking: uma metodolo- gia poderosa para decre- tar o fim das velhas ideias é sempre recomendada por seu autor ser o “pai do design thinking”. Todos os fundamentos, concei- tos e debates do assunto surgidos no mundo dos negócios têm como base esse livro. Nada como beber a água da fonte. BROWN, T. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. Leitura 80 Planejamento Estratégico Dado o feedback, a equipe retrabalha a solução com base nas crí- ticas recebidas até encontrar o caminho “quase definitivo”, pois nem sempre conseguiremos uma solução ideal ao caso. 3.5.3 Estratégias para a implantação do design thinking Agora vamos apresentar algumas estratégias para que você possa implementar o design thinking em sua organização. 1. Implemente a mentalidade do design thinking: independentemente do nível hierárquico, todos os colaboradores possuem capacidade de gerar novas ideias utilizando as ferramentas do design thinking. 2. Centre o design thinking no ser humano: a metodologia exige que seja observado como as pessoas se comportam. Ela privilegia o sentido emocional das coisas, bem como seu desempenho funcional e sua utilidade, e busca as oportunidades por meio das soluções não manifestadas pelas pessoas. Eu ca lyp /S hu tte rs to ck 3. Fracasse na experimentação: o design thinking parte do princípio de que a experimentação é uma fase muito importante para a avaliação dos erros e o fracasso. Este permite ajustes e o desenvolvimento de novas soluções. Além disso, a prototipagem é essencial para a metodologia do design thinking. Os protótipos precisam ser testáveis e podem ser apresentados em diversas formas e modelos (storyboards, filmes, encenações, maquetes etc.). 4. Elabore na sua organização uma cultura de design thinking profissional: não improvise se o seu colaborador não possuir aptidões para a execução da metodologia de design thinking. Prepare um novo profissional, afinal, nem todos sabem de tudo. Contrate especialistas para comporem a sua equipe de design thinking. (Continua) Inovação como estratégia competitiva 81 5. Espalhe a notícia: todos devem saber do design thinking. Compartilhe nas redes sociais internas e externas (se for o caso) as experiências de sucesso no design thinking da organização. Também organize fóruns de debates e seminários para a exploração de novos nichos de conhecimento da empresa. 6. Diversifique a sua carteira de projetos: um simples projeto de controle de recepção de correspondência é tão importante quanto a construção de uma fábrica. Portanto, valorize os pequenos projetos. Além disso, busque ideias revolucionárias, pois nem sempre os grandes projetos estão em desenvolvimento na empresa. Precisamos saber provocar a colheita de novos empreendimentos. 7. Não pergunte “o quê”, e sim “por quê”: não pergunte “o que fazer”, pois, quando isso ocorre, seu campo de criação já foi definido. Portanto, você só vai receber um briefing com todo o caminho a ser percorrido já definido. Pergunte “por que fazer”, já que a você será dado o motivo, a razão de existência. Assim, poderá discutir e trazer novas soluções criativas. Aplicando essas estratégias, a sua organização conseguirá fazer um ótimo uso dessa ferramenta tão útil aos gestores que é o design thinking. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todas as organizações pretendem ser as melhores do mercado, destacando-se em seu segmento de atuação. Entretanto, para que esse nível de competitividade seja alcançado, há um caminho a per- correr chamado de inovação. Desde o advento da internet, as fronteiras dos negócios ficaram muito próximas. Vence quem estiver “logado” na velocidade dos novos negócios e das inovações para atingir mercados até então inexplorados.A inovação como estratégia não pode perder mais tempo com inves- timentos centrados em aprimoramentos de produtos ou mudanças de design. A inovação incremental tem que existir, mas não pode significar a grande fatia dos investimentos. As pessoas têm muita pressa de que suas 82 Planejamento Estratégico necessidades sejam atendidas, mas a tecnologia lhes proporciona o con- forto de serem atendidas on demand. Portanto, é necessário ir além, pois inovações disruptivas ou radicais surgem a cada momento. Bilhões de dados e informações giram em torno do nosso planeta. Tecnologias digitais apoiam as organizações na gestão do seu Business Analytics e Business Performance Management. Mas nada disso impor- ta se as pessoas não forem capacitadas, treinadas para executar com alta performance suas tarefas. Para solucionar esse problema, estamos vivendo a gamificação nos negócios, na qual as regras e culturas dos games invadem as empresas. Todas essas inovações e novas estratégias são desenvolvidas com a primazia da metodologia do design thinking, uma nova forma de ino- var, experimentando novas soluções para que as organizações atin- jam seu maior nível de desempenho, sendo altamente competitivas no mercado. ATIVIDADES 1. Descreva os três tipos de inovação (incremental, radical e disruptiva) e cite exemplos. 2. Explique por que o gestor deve optar pelo modelo de análise descritiva no Business Analytics para responder ao que está acontecendo na organização. 3. Descreva o Business Performance Management, relacionando-o com a ação de abrir a janela estratégica de negócios. 4. Explique por que devemos usar a expressão gamificação aplicada aos negócios, e não games aplicados aos negócios. 5. Indique por que a metodologia do design thinking é diferente das demais metodologias de soluções de problemas organizacionais. REFERÊNCIAS ALVES, F. Gamification: como criar experiências de aprendizagem engajadoras – um guia completo do conceito à prática. São Paulo: DVS, 2014. BERIMBAU, M. M. R. Gamificação: uma proposta de desenvolvimento baseada no game design com enfoque em comunicação. In: 8º SIMPÓSIO NACIONAL DA ABCIBER. Anais [...] São Paulo: ESPM Media Lab, dez. 2014. Disponível em: https://abciber.org.br/simposio2014/ anais/GTs/mauro_miguel_rodrigues_berimbau_160.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021. BROWN, T. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Alta books, 2020. DAFT, R. L. Administração. 12. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017. Vídeo Inovação como estratégia competitiva 83 HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de janeiro: Elsevier, 2005. KUROVSKI, S. Última chamada! Nasa emite bilhetes grátis para Marte. Melhores Destinos, 7 jul. 2020. Disponível em: https://www.melhoresdestinos.com.br/nasa-bilhetes-marte. html. Acesso em: 22 jun. 2021. LAUDON, K. C.; LAUDON, J. P. Sistemas de informação gerenciais. 11. ed. São Paulo: Pearson, 2014. MOITOSO, G. S.; CASAGRANDE, C. A. A gênese e o desenvolvimento de empatia: fatores formativos implicados. Educação Por Escrito, Porto Alegre, v. 8, n. 2, p. 209-224, jul./dez. 2017. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/porescrito/article/ view/28515/16462. Acesso em: 22 jun. 2021. SAITO, E. S.; HORITA, R. Y. Business Intelligence como uma ferramenta de gestão. In: 5º ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO. Anais [...] Lins: Unisalesiano, out. 2015. Disponível em: http://www.unisalesiano.edu.br/simposio2015/ publicado/artigo0196.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021. SHARDA, R.; DELEN, D.; TURBAN, E. Business Intelligence e análise de dados para gestão do negócio. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019. 84 Planejamento Estratégico 4 O líder estrategista Djair Pereira Diz a lenda que até o século XVII todos os habitantes do planeta Terra acreditavam que todos os cisnes eram brancos. Entretanto, surgiu, na Austrália, em 1697, o cisne negro, contrariando todas as evidências e pes- quisas dos especialistas em aves que afirmavam que só havia na natureza cisnes brancos. Transportando essa história para o mundo corporativo, a ideia do cisne negro pode ser utilizada para compreender a liderança estratégica. No mundo dos negócios, definir estratégia exige muita habilida- de e atenção do líder na busca do cisne negro que tornará a sua organização diferente. O líder deve ser um explorador visionário e promover novas relações da sua organização com outros segmentos do mercado, buscando a sinergia e a descoberta do negócio raro e excepcional. Neste capítulo, trataremos do alinhamento organizacional na exe- cução da estratégia, na formação de equipes de alta performance e na preparação para as negociações que circulam em um mundo globalizado. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender as características e as competências de um líder; • conhecer as técnicas do alinhamento organizacional na execu- ção estratégica; • refletir sobre o desenvolvimento de equipes de alta performance; • compreender como administrar os conflitos e conduzir as negociações. Objetivos de aprendizagem O líder estrategista 85 4.1 Características e competências do líder Vídeo Um líder estrategista é aquele que procura enxergar além do ho- rizonte e acreditar na existência de um cisne negro que impactará o resultado dos seus negócios. Ele não acredita apenas naquilo que está vendo, isto é, um lago apenas com cisnes brancos. Segundo Taleb (2007), o cisne negro está fora do âmbito das expec- tativas comuns, constituindo-se em uma raridade, na qual causa im- pacto extremo. Apesar de ser uma raridade, o cisne negro permite o desenvolvimento de explicações após sua ocorrência. O líder estrategista, portanto, é aquele que consegue enxergar cis- nes negros do mundo corporativo, ou seja, “é dotado da capacidade de antecipar, vislumbrar, manter a flexibilidade e capacitar outros a promo- ver mudanças estratégicas” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008, p. 343). Outra analogia que se pode fazer é com um barco à deriva, sem um comandante que defina o destino a ser seguido. Assim como um comandante de um barco, o líder é essencial para a determinação do rumo estratégico da organização. Compete a ele promover o diálogo entre os ambientes internos e externos da empresa com base em obje- tivos estratégicos. Agindo assim, o líder jamais verá seu barco ir à deriva. A condução “nas ondas do mercado” também envolve os cuidados com o nível de conhecimento e a habilidade das pessoas. O líder deve capacitá-las de modo a reduzir o gap organizacional. Para tanto, é es- sencial a gestão do capital humano e do capital social da empresa, as- sim como cuidar da cultura organizacional e da ética nas relações com o mercado. Em linhas gerais, o gap organizacional é o vazio existente entre o conhecimento e as habilidades das pessoas e os objetivos estratégicos da organização. Uma situação em que isso ocorre é quando a organiza- ção traça como um objetivo estratégico a internacionalização dos seus negócios, mas seu quadro de colaboradores não conta com profissio- nais bilíngues e com prática de negociação internacional. Já o capital humano envolve conhecimentos e habilidades do quadro de pessoas envolvidas nos negócios da empresa. Em uma 86 Planejamento Estratégico rede de lojas dedicadas a animais de estimação (petshop), as pes- soas devem ter conhecimentos e habilidades de veterinária, alimen- tação de animais, identificação de suas raças e linhagem de animais de estimação. Por fim, o capital social é entendido como a interação entre os componentes dos ambientes internos e externos da organização, os quais ajudam na geração de valor para os stakeholders. As boas relações interpessoais e a ética social e corporativa são a base do capital social,principalmente no mundo atual onde se sobressaem as relações desenvolvidas pelas redes de tecnologia digi- tal. A empresa não tem controle sobre o capital social que, além de in- tangível, é carregado de muita informalidade e rapidez nas transações entre as pessoas. Por isso, requer ética dessas atitudes de modo que o capital social construído possa de alguma forma ser incorporado aos bancos de conhecimento da organização. Para o enfrentamento de todos esses desafios, é importante que o líder estrategista encontre pessoas que pensem diferente, acreditem no cisne negro e sejam abertas ao entendimento de novas competên- cias. A teoria U é um dos caminhos que conduzirá o líder estrategista e sua equipe a essas novas competências. 4.1.1 A teoria U e as competências do líder estrategista A teoria U, desenvolvida por Scharmer, em 2009, tem como pro- posta trabalhar três instrumentos existentes no líder: mente aberta, coração aberto e vontade aberta. Scharmer (2019, p. 31) também observou que “é competência do líder introduzir mudanças constantes na estrutura organizacional, nos processos e na infraestrutura, caso contrário, o líder estrategista entre- gará como resultado aos stakeholders sempre mais do mesmo”. A teoria U de Scharmer foi apresentada ao público em 2009, mas como pesquisa acadêmica teve seus primeiros ensaios ainda em 1996. Seu conteúdo forma uma base para uma mudança na organização que gera o aumento notável da produtividade, pois objetiva que a pessoa (ou a equipe) envolvida no processo entenda a importância de determi- nada mudança, e não simplesmente mudar por mudar. stakeholder: composto pelos sócios da empresa, funcionários, fornece- dores, clientes e demais colaboradores que, de alguma forma, são impac- tados pelas estratégias e resultados da empresa. Glossário Conhecer a atuação de líderes estrategistas à frente de suas empresas são verdadeiros ensina- mentos sobre como con- duzir negócios fazendo a diferença na sociedade. Na lista dos empresários brasileiros, pesquise sobre o trabalho das líderes empresariais Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Paula Bellizia (Google), Tânia Cosentino (Microsoft) e Alcione Albanesi (Lâmpadas FLC). A postura, o modelo de gestão e os resultados alcançados por essas líderes é sempre motivo de inspiração. Em sua pesquisa, avalie se essas empresárias conseguiram e/ou conseguem enxergar a lógica do cisne negro. Desafio O líder estrategista 87 A pessoa tem que entrar em um processo de autoimersão, conec- tando-se consigo mesma, sentindo o que lhe incomoda, e projetar um futuro melhor para aquela situação de incômodo. Por que teoria U? Porque, seguindo-se o formato da letra na primei- ra ponta, encontra-se a situação a ser mudada, o início da autoimersão. No processo de autoimersão (uma reflexão interna), a pessoa irá enten- der, buscar respostas para o que já faz, como faz e como pensa sobre o funcionamento atual da organização. É o momento da mente aberta. Na parte central (meio da letra), o coração deve estar aberto. Isso nos leva a refletir sobre a importância do aprofundamento sobre as questões atuais da organização trazidas no processo de autoimersão. É o momento de “jogar fora” tudo aquilo que não é importante, a pessoa deve preparar- -se para a mudança e entender o seu papel no processo. É o momento de se pensar sobre o melhor futuro para a organização. Qual o melhor futuro para a empresa resolver as questões atuais que lhe afligem? Inicia-se a subida do “U” consolidando-se os novos caminhos de mudança da organização. Toda vontade de mudança tem que ser ex- plicitada de maneira sincera e aberta – vontade aberta –, em que as propostas serão materializadas (protótipos) para o conheci- mento de todos e haverá realização de ajustes para a efetiva implementação. Com esse movimento, fecha-se a letra U. Enfim, a teoria U proporciona viver e sentir no presente o melhor do futuro da organização, podendo ser representa- da esquematicamente da seguinte maneira: Apresentamos a seguir cada um dos elementos que a compõem. 4.1.1.1 Mente aberta Para Scharmer (2019, p. 32), “a mente é como um paraquedas: só funciona quando é aberta. Isso significa explorar a inteligência intelectual ou o quociente intelectual (QI) das pessoas. Isso nos permite ver com novos olhos, lidar com os números e fatos objeti- vos à nossa volta”, não adiantando termos uma mente com poten- cial, mas que não se abre para as oportunidades ao redor. Scharmer alerta para a importância da mente aberta para o enten- dimento e a aplicação da teoria U e faz a analogia com o paraquedas, Figura 1 Componentes da teoria U MENTE ABERTA CORAÇÃO ABERTO VONTADE ABERTA Fonte: Scharmer, 2019, p. 32. 88 Planejamento Estratégico porque muitas pessoas em uma organização cris- talizam determinados princípios e não voltam atrás em suas posições ou aceitam mudanças em seu ambiente administrativo-operacional. Saber muito e não se atualizar é como ter o melhor paraquedas, mas que não abre ao ser acionado. Essas pessoas ou equipes são, muitas ve- zes, altamente competentes, mas não atenta- ram ainda para o fato de que não interessa para a organização um acúmulo de conhecimento em poucas equipes, sem a propagação a todos níveis e unidades de negócios e, principalmente, se estiverem estagnados, sem atualização constante. Também não é bom para a empresa que sua equipe de colabo- radores se sinta autossuficiente com os conhecimentos já adquiri- dos sem dar espaço para a entrada de novas tecnologias, como as promovidas pela aplicação do cloud computing, dos princípios da economia circular, do processo de cocriação de produtos e servi- ços e o uso de energia limpa nos processos de fabricação. Então, ter a mente aberta é aceitar a introdução de novos co- nhecimentos na empresa, envolver-se na divulgação e participar de sua aplicação nos processos organizacionais. O momento exige muita tecnologia nos processos da organiza- ção com o uso do cloud computing, a aplicação da economia circular, a cocriação e o uso de energia limpa nos processos de fabricação, conforme mencionado. O cloud computing, ou computação em nuvem, é um exemplo dessa alta demanda de tecnologia, uma vez que o serviço de computação de armazenamento de dados, serviços em redes e de aplicações em ambientes compartilhados é feito de maneira integrada com o uso da internet. Outro exemplo é a economia circular, que é um modelo econômico fundamentado na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de matérias-primas e energia, buscando fazer uso dos recursos naturais. A reportagem Economia Circular, disponível no Portal da Indústria, desta- ca essa economia como um modelo econômico que traz oportunidades para o melhor uso dos recursos naturais e au- mento da competitividade da indústria, trazendo informações úteis sobre como podemos elaborar estratégias diante desse novo ambiente da econo- mia circular. Disponível em: http://www. portaldaindustria.com.br/cni/canais/ industria-sustentavel/temas-de-a- tuacao/economia-circular/. Acesso em: 12 jul. 2021. Leitura O líder estrategista 89 A cocriação, também fruto dessa demanda tecnológica, consiste na criação de produtos e serviços por meio da colaboração dos con- sumidores, fornecedores, empresas e parceiros interligados em rede de inovação. Por fim, outro exemplo emblemático é a energia limpa, a qual não impacta o meio ambiente e é gerada por meio de fontes renováveis e sem a emissão de poluentes. Figura 2 Economia circular e energia limpa na nn a4 5/ Sh ut te rs to ck Tradicionalmente, a fabricação de produtos segue o modelo linear de fabricação, no qual desenha-se o produto, extrai-se da natureza a matéria-prima a ser aplicada em sua fabricação e, en- tão, o produto é finalizado. Fabricado o produto, ele é colocado à venda e, após o período útil de sua utilização ou atingido o período de obsolescência, o consumidor o descarta, tornando-o sucataou lixo. Entretanto, as fontes de recursos estão se esgotando e, como alternativa, surge o modelo da economia circular para melhor uso dos recursos naturais. 90 Planejamento Estratégico Esse modelo de fabricação trabalha com o conceito de que não há lixo no final do processo produtivo, e sim uma visão contínua e cí- clica de produção. Além disso, os recursos não são descartados na natureza – não há lixo. Os produtos descartados são reaproveitados em um novo ciclo do processo de produção. O consumidor adquire o produto fabricado e, após seu uso ou período de obsolescência, devolve-o ao fabricante para reapro- veitamento em um novo ciclo produtivo. Observe na Figura 3 os passos do ciclo de produ- ção na economia circular. O líder que não tiver a mente aberta para esse novo ambiente organizacional terá grandes dificul- dades no exercício de suas competências, na gestão da equipe e na entrega de bons resultados. Caso não o faça, entregará sempre mais do mesmo. 4.1.1.2 Coração aberto A segunda capacidade da teoria U, denominada coração aberto, é uma competência em que o líder estrategista trabalha mais o lado di- reito do cérebro – competência emocional. É o ponto de se explorar a empatia, as relações sociais e a convivência em equipe. Em síntese, é a competência de se ajustar a diferentes contextos organizacionais. Em um processo de mudança organizacional, há uma tendência de as pessoas permaneceram imutáveis em seus postos, visto que há o medo do novo, de deixar em segundo plano processos já consolidados na organização. A teoria U recomenda que o líder, nessa situação, faça um traba- lho com a equipe de modo que, com o coração aberto, possa haver o entendimento profundo e o desapego dos processos organizacionais em uso, permitindo que surja nesse instante uma boa solução para o futuro da empresa. O espírito de cooperação tem que ser latente, pois trará como resulta- do a criação de soluções inovadoras para o futuro da empresa. Em síntese, é a competência de se ajustar aos diferentes contextos organizacionais. pe to va rg a/ Sh ut te rs to ck M A NU FA TU RA CONSUMO E USO R E C I C L A G E M E R E U S O Figura 3 Ciclo de produção na econo- mia circular O líder estrategista 91 Os trabalhos das empresas conduzidos com a metodologia design thinking são um ótimo exemplo de uso da competência com o coração aberto. Nessa metodologia, os resultados só aparecerão se houver um alto nível de empatia, colaboração, boa convivência em equipe, feedback constante entre ela e alto nível das relações sociais. A interação empática e cooperativa entre as pessoas é o quadro desejado pelo líder estrategista. Para isso, há a necessidade do cora- ção aberto ao desenvolvimento dos trabalhos em equipe com bons impactos no resultado da organização. 4.1.1.3 Vontade aberta A terceira competência apresentada pela teoria U é a chamada vontade aberta, que significa trabalhar com fé e alma, manter a equi- pe unida em torno de um objetivo estratégico com apoio do líder estrategista. Ao reviver a teoria U, no primeiro momento – mente aberta –, a equipe teve o melhor entendimento do funcionamento da organiza- ção. Na sequência – coração aberto –, trabalhou-se o desapego dos processos organizacionais vinculados à mudança e à busca de solu- ções inovadoras para o futuro da empresa. A vontade aberta, portanto, é o momento que as soluções inova- doras têm sua prototipação finalizada, ou seja, a equipe a materializa. Essa ação ameniza na equipe o medo do novo e dá abertura para fee- dback dos envolvidos acerca da solução criada. Ajustes serão feitos e a utilização prática da nova solução permitirá o entendimento do real propósito da mudança. Há a vontade aberta da cristalização da nova solução. Toda organização tem como componentes básicos as pessoas, a tecnologia e o investimento. Os dois últimos formam a base financei- ra e tecnológica dos negócios. As pessoas formam a estrutura organi- zacional da empresa. A estrutura organizacional é dividida em três níveis: estratégico, tático e operacional. A Figura 4 mostra as relações de uma pirâmide organizacional invertida apoiada pelas mãos do líder estrategista. 92 Planejamento Estratégico Re be lli on W or ks / P ro S ym bo ls / P ur e So lu tio n /S hu tte rs to ck Figura 4 Pirâmide organizacional invertida Fonte: Elaborada pelo autor. NÍVEL OPERACIONAL Execução das tarefas, cumprimento das instruções, solicitação de apoio à gerência e ao diretor. NÍVEL TÁTICO (GERÊNCIA) Gestão da equipe na execução e solução de problemas. NÍVEL ESTRATÉGICO (DIRETORIA) Apoio estratégico e provimento de insumos. No nível estratégico, está o representante da organização res- ponsável pelo estabelecimento tanto dos objetivos e das metas a serem alcançados quanto dos indicadores de resultados. Nesse ní- vel, encontra-se o CEO ou diretor-presidente. O nível tático é re- presentado pelas gerências das unidades intermediárias. Compete à equipe de pessoas do nível operacional executar as tarefas de atendimento ao mercado e os processos internos. Com relação à importância das equipes operacionais nesse processo, Kepner e Tregoe (2008, p. 3) afirmam: “uma equipe é construída principalmente com base nas capacidades que os seus membros têm de trabalhar para alcançar metas específicas. [...] Além disso, todos os membros devem estar comprometidos com o mesmo objetivo e usar os mesmos procedimentos para alcançá-lo”. Com a internet e a globalização, as empresas sentiram a neces- sidade de realizarem mudanças em suas estruturas de negócios para tornarem-se mais competitivas. Assim, ficaram evidenciados nas estruturas organizacionais dois movimentos importantes: re- dução de níveis intermediários da estrutura organizacional, agili- O líder estrategista 93 zando o processo de comunicação entre a base operacional e o nível estratégico (CEO); maior autonomia à base operacional nas relações com os clientes pela sua capacitação e comprometimento com os objetivos. Ocorre que, com a redução do canal de comunicação entre o nível estratégico e a base operacional, houve uma mudança de comportamento dos gestores estratégicos para com as equipes operacionais. São os primeiros passos para a inversão da pirâmi- de organizacional. Com o encurtamento do canal de comunica- ção, próximos à base operacional, perceberam que essas equipes deviam estar concentradas no cumprimento dos objetivos e das metas da organização, dedicando-se aos clientes, em vez de dedi- carem parte do tempo do seu trabalho à solução de burocracias e demandas internas. Criou-se, então, uma mudança de comportamento organizacio- nal, em que o gestor do nível estratégico (o CEO) e o nível tático passaram a se ocupar da burocracia dos processos e das deman- das internas, liberando a base operacional especificamente para o cumprimento dos objetivos e das metas. As equipes da base ope- racional tornaram-se equipes autodirigidas. “Nos últimos anos, grande parte da reestruturação organizacio- nal tem sido baseada no desejo de permitir que as equipes tenham mais autoridade para lidar com as várias questões com as quais elas defrontam” (DYER; DYER JR.; DYER, 2011, p. 40). Observe que a pirâmide hierárquica (estrutura organizacional funcional) não é alterada. A autoridade e responsabilidade do CEO e dos gerentes permanecem as mesmas. A base operacional, mes- mo com a autonomia dada, ainda se reporta hierarquicamente aos gerentes e diretores, embora tenha autonomia para gerir os re- cursos a fim de atingir aos objetivos traçados; comunica-se com o CEO e com as gerências dando e recebendo feedback das ações realizadas. O papel do CEO e dos gerentes tem um novo significado, confor- me Dyer, Dyer Jr. e Dyer (2011, p. 40): 94 Planejamento Estratégico O líder atua principalmente como um facilitador para ajudar a equipe a avaliar como ela está trabalhando e proporcionar o apoio necessário. O líder passa a maior parte doseu tempo lidando com ques- tões de interface com outras unidades internas e externas. O líder atua como um consultor para a equipe e pode ser acionado para ajudar a lidar com problemas, conflitos, mem- bros problemáticos ou outras preocupações. O líder pode participar de todas as reuniões da equipe ou somente quando convidado. O que houve foi uma mudança comportamental, em que, em vez de o CEO e de os gerentes ficarem em uma posição de simples cobrança de resultados, eles se envolvem no apoio direto à base operacional, liberando-a simplesmente para a execução das tare- fas com os clientes. A essa mudança comportamental do CEO e das gerências dá-se o nome de pirâmide organizacional invertida. A inversão da pirâmide organizacional ocorre quando o princi- pal gestor (líder estrategista), em vez de apenas cobrar resultados, coloca-se à disposição da equipe no papel de unidade de apoio, de suporte organizacional e de provedor de insumos. Assim, a equipe fica disponível para se concentrar nas tarefas a serem executadas e nos objetivos a serem alcançados. Essa inversão da pirâmide objetiva melhorar a dinâmica das re- lações entre os níveis estratégico, tático e operacional. Além disso, permite o envolvimento do líder (diretoria) na execução das ope- rações, pois estará comprometido em garantir o resultado, com apoio, suporte operacional à equipe e gerência para que possam ter unicamente como foco “de corpo e alma” a tarefa a ser cum- prida. Qualquer problema ou situação adversa será prontamente resolvida pelo líder estrategista. Um exemplo é o caso de a equipe necessitar de computadores, mesas e demais mobiliários para seus trabalhos. Compete ao líder estrategista providenciar de imediato esses recursos. Agindo as- sim, a equipe não terá seu foco desviado dos objetivos. Caso ocor- ra algum imprevisto de ordem técnica ou operacional, compete ao líder estrategista resolver a situação, e não aos componentes da equipe, que continuarão a executar suas tarefas. A leitura do artigo Inversão do organograma: uma poderosa ferramenta para melhoria da tomada de decisões organizacionais, publicado na Revista Valore, contribuirá para o entendimento do conceito de inversão organizacio- nal e suas vantagens para a gestão de uma liderança estratégica. Enriquece também o aprendizado na dimensão comportamen- tal, visto que a inversão da pirâmide pode a princípio ser interpretada como uma perda de poder, mas sua aplicação colabora no aumento da competitivi- dade da organização. Disponível em: https://revistavalore. emnuvens.com.br/valore/article/ view/372/273. Acesso em: 12 jul. 2021. Artigo O líder estrategista 95 O estilo de liderança com base na pirâmide invertida favorece um bom ambiente de trabalho. A comunicação entre o líder e seus comandados é rápida porque o diálogo é permanente e a linha de comunicação hierárquica é reduzida. Isso não significa diminuição no poder de liderança, significa vontade de fazer, que é a vontade aberta. 4.1.2 Liderança situacional Refere-se à competência do líder estrategista identificar o nível de maturidade de sua equipe. Isso, pois, as pessoas são diferen- tes; e para pessoas diferentes, com níveis de maturidade diferen- tes, aplica-se um tipo de liderança diferente, a chamada liderança situacional. Para Hersey e Blanchard (1986, p. 188), “existem quatro estilos de liderança: • determinar ações; • persuadir pessoas; • compartilhar com as pessoas; • delegar para as pessoas”. Os estilos de liderança e os respectivos níveis de maturidade são interpretados da seguinte forma, em que E representa estilo: (E1) Determinar ações (nível de maturidade baixo): o líder estrategista determina tudo o que deve ser executado à equipe. (E2) Persuadir pessoas (nível de maturidade entre baixo e moderado): o líder estrategista ainda não confia totalmente nas pessoas, embora estejam dispostas a aprender. (E3) Compartilhar com as pessoas (nível de maturidade mo- derado para alto): o líder estrategista e seus liderados participam juntos da tomada de decisão e têm ótimo relacionamento. (E4) Delegar para as pessoas (nível de maturidade alto): o líder estrategista tem na sua equipe pessoas com capacidade e dis- posição para assumir responsabilidades. A Figura 5 sintetiza os estilos de liderança e seus respectivos níveis de maturidade. 96 Planejamento Estratégico Figura 5 Estilo do líder e maturidade dos liderados ESTILO DO LÍDER BAIXO ALTO BA IX O CO M PO RT AM EN TO D E RE LA CI O N AM EN TO AL TO Relacionamento alto e tarefas baixas Tarefa alta e relacionamento alto Relacionamento baixo e tarefa baixa Tarefa alta e relacionamento baixo E4 M4 M3 M2 M1 E1 E3 E2 COMPORTAMENTO DE TAREFA MODERADA BAIXAALTA M ad ur o Im at ur o MATURIDADE DOS LIDERADOS DELEGAR COMPARTILHAR PERSUADIR DETERMINAR Fonte: Hersey; Blanchard, 1986, p. 189. O líder estrategista deve sempre fazer uma leitura das competên- cias, habilidades e aptidões de sua equipe para que possa conduzi-la de acordo com seu nível de maturidade, conforme indicado anteriormente. 4.2 Alinhamento organizacional na execução estratégica Vídeo O líder estrategista tem como principal ação traçar um plano estra- tégico para a organização, de modo a torná-la extremamente competi- tiva no mercado, alcançando resultados significativos e criando valores para os acionistas ou proprietários. O plano estratégico é composto pelos elementos missão: “por que existimos?”; valores essenciais: “em que acreditamos?”; visão: “o que queremos ser?”; e estratégias: “qual será o plano?”. O líder estrategista 97 O desenvolvimento do plano estratégico se dá no ambiente orga- nizacional apoiado nos seguintes elementos: estrutura organizacional, pessoas e tecnologias. Os elementos desse ambiente devem estar em sintonia e alinhados com os objetivos da organização – por exemplo, ser a maior empresa do segmento pela aquisição da concorrência. O alvo é o grande objetivo estratégico e todos os elementos do ambiente organizacional unem-se em torno dele (Figura 6). Pela complexidade e pelo volume de transações existentes em uma organização, não é simples a tarefa do alinhamento organizacional na exe- cução estratégica dos objetivos. É necessário encontrar um denominador comum, o qual é o balanced scorecard, concebido por Kaplan e Norton (2006). O balanced scorecard é uma ferramenta para o alinhamento organizacional das divisões de negócios com o planejamento central. Con- forme Kaplan e Norton (1997, p. 2): “traduz a missão e a estratégia das empresas num con- junto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de medição e gestão estratégica”. Por meio dessa ferramenta, o alinhamento organizacional 1 na execução estratégica ocorre dentro de quatro perspectivas: financei- ra; do cliente; de aprendizado e crescimento; e dos processos internos (KAPLAN; NORTON, 2006). São perspectivas do balanced scorecard a financeira, que indica se o investimento dos stakeholders está tendo o retorno adequado quanto à liquidez e à rentabilidade. A perspectiva do cliente indica a qualidade de atendimento ao cliente, sua satisfação com os serviços e produtos da empresa e a adequação da participação no mercado. Do aprendizado e crescimento: identifica a infraestrutura de pessoas, tecnologia e processos que a empresa deve construir para gerar crescimento e melhoria a longo prazo. Dos processos internos: identifica os processos internos críticos nos quais a empresa deve alcançar a excelência. Figura 6 Disposição do ambiente organizacional O alinhamento organiza- cional envolve deixar a estrutura organizacional da empresa compatí- vel com seus objetivos estratégicos. Por exemplo, se a empresa objetivar desenvolver produtos de biotecnologia, sua estrutura estará alinhada se tiver uma unidade organizacional voltada para esse fim. 1 IR S to ne /S hu tte rs to ck 98 Planejamento EstratégicoO Quadro 1 apresenta as perspectivas do balanced scorecard e as principais questões do alinhamento organizacional a serem respondi- das na execução estratégica. Quadro 1 Perspectivas do balanced scorecard Perspectiva Proposta de valor Perspectiva financeira Quais são as expectativas de nossos acionistas, em termos de desempenho financeiro? Perspectiva do cliente Para atingir nossos objetivos financeiros, como cria- mos valor para os clientes? Perspectiva de aprendizado e crescimento Como alinhamos nossos ativos intangíveis – pes- soas, sistemas e cultura – para melhorar os proces- sos críticos? Perspectiva dos processos internos Em que processos devemos ser excelentes para sa- tisfazer os nossos clientes e acionistas? Fonte: Elaborado com base em Kaplan; Norton, 2006, p. 7 Uma empresa é formada por uma série de unidades organizacio- nais (unidades de negócios, departamentos especializados etc.), e cada unidade tem suas próprias estratégias e seu próprio modo de opera- ção. Se o objetivo estratégico é único para toda a organização, como, então, alinhar as unidades de negócios, com suas próprias estratégias, ao objetivo de toda a organização? O alinhamento ocorre pela sinergia organizacional, modo pelo qual essas unidades são integradas e conectadas para que o desempe- nho da organização seja maior do que a soma das partes. A Figura 7 ilustra essa sinergia, em que muitas mãos alinhadas em torno de um objetivo trazem maiores resultados do que o trabalho rea- lizado individualmente. Figura 7 Sinergia organizacional al ex dn dz /S hu tte rs to ck O líder estrategista 99 Exemplificando esse conceito, uma organização tem cinco unidades de negócios. O denominador comum para o alinhamento é formado pelas quatro perspectivas do balanced scorecard. As perspectivas de cada unidade estarão atreladas ao planejamento estratégico de toda organização. O inter-relacionamento entre as estratégias da organização e as perspectivas de cada unidade de negócio são mostrados na Figura 8. Figura 8 Inter-relacionamento entre o planejamento estratégico e as perspectivas de unidades de negócio Fonte: Elaborada pelo autor. Planejamento estratégico da organização Perspectivas do alinhamento organizacional (balanced scorecard) Unidade de Negócio 1 Unidade de Negócio 2 Unidade de Negócio 3 O bj et iv os e st ra té gi co s Financeira Dos processos internos Do cliente Do aprendizado e crescimento No planejamento estratégico geral, sob a ótica do balance scorecard, estarão traçadas as perspectivas financeiras do cliente, dos processos de negócios e do aprendizado e crescimento. Todas as unidades or- ganizacionais (divisões) da organização estarão alinhadas a essas es- tratégias. Cada unidade tem a sua forma de conduzir seus negócios, mas estarão conectadas entre si e alinhadas com esse núcleo central de planejamento pelos quatro elementos do balanced scorecard. 100 Planejamento Estratégico Se por um lado temos organizações alinhando sua estrutura orga- nizacional na execução estratégica com metodologias como o balanced scorecard; por outro, encontramos organizações com estratégias cris- talizadas que refletem no alinhamento com a estrutura organizacional. Entende-se como estrutura e estratégia cristalizadas aqueles modelos de organização que estão acomodadas. Essas organizações um dia brilharam no cenário dos negócios e seus executivos nunca tiveram a preocupação de rever se os caminhos estratégicos até então utilizados ainda são válidos. Se as orientações estratégicas são revistas permanentemente, a or- ganização conseguirá se adequar com agilidade aos momentos de mu- danças do mercado, facilitando o alinhamento organizacional. 4.2.1 Relações: estratégia e estrutura organizacional Estar atento às movimentações da economia e entender que elas refletem na revisão e no alinhamento da estrutura organizacional é competência do líder estrategista. O alinhamento organizacional nivelado à estratégia pode ocorrer de três modos distintos, a saber: Alinhamento por mudanças econômicas Diante de uma recessão econômica, os controles financeiros, econômicos e internos de uma organização tornam-se pontos-chave na formulação de estratégias. Esse tipo de alinhamento fortalece as estratégias e as áreas de controles internos e externos da empresa. Alinhamento por mudanças de mercado Há momentos que o mercado favorece as organizações com altas demandas de produtos e serviços. Quando há esse tipo de alinhamento, as estratégias e áreas de marketing e vendas são altamente privilegiadas na estrutura orga- nizacional, pois acompanharão as estratégias voltadas para o mercado com o lançamento de novos produtos, a expansão geográfica dos negócios e o aumento do número de clientes. Alinhamento por mudanças nos processos internos Devido à globalização dos negócios, os programas de qualidade adotados pelas empresas impuseram mudanças nas estratégias (antes locais, agora globais). Consequentemente, houve o alinhamento organizacional, com alte- rações nos processos internos de fabricação, de controle de qualidade e de logística. O líder estrategista 101 Uma grande experiência de alinhamento foi vivenciada por muitos no ano de 2020. Muitas empresas tinham como estratégia, unicamen- te, a venda em lojas físicas. No entanto, com a pandemia de Covid-19, muitas dessas empresas tiveram que rever suas estratégias comerciais, adotando, por exemplo, o sistema de entrega delivery. Os produtos e os serviços foram entregues com uso dos mais variados tipos de transpor- tes, alinhando as estratégias e a estrutura organizacional de vendas, o atendimento e a logística a essa nova postura comercial. Ainda, em virtude da pandemia, uma boa quantidade de empresas teve que adequar suas estratégias de negócios a esse novo momento e operar no modelo home office. No campo da educação, encontramos outro exemplo. As escolas ali- nharam sua estrutura organizacional à estratégia de ensino remoto e en- sino a distância, motivadas pela suspensão das aulas presenciais. 4.3 Desenvolvimento de equipes de alta performance Vídeo Todo dirigente de uma empresa quer torná-la a melhor do mercado e a mais competitiva. No entanto, para que isso possa se concretizar, é preciso desenvolver uma equipe de alta performance, que saiba trans- formar problemas em oportunidades. Para Herzberg (1966 apud HERSEY; BLANCHARD, 1986), em sua teo- ria da motivação-higiene 2 , uma equipe atinge sua alta performance quando sabe enfrentar desafios e responsabilidades, busca realização, crescimento e desenvolvimento em seu trabalho. Uma equipe de alta performance é aquela que consegue, além de transformar problemas em oportunidades, promover boas relações entre colegas, aceitar bem as opiniões contrárias, lutar pela união da equipe e manter alto senso de humor. Nesse sentido, o papel do líder estrategista, em uma equipe de alta performance, é buscar referências na sociedade, para que sua equipe possa se espelhar e atingir o mais alto grau de excelência. Um exemplo de inspiração são atletas que fizeram história no esporte, como Pelé (atleta de futebol), Ayrton Senna (atleta de automobilismo), Daiane dos Santos (atleta de ginástica olímpica), Hortência (atleta de basquetebol), A teoria da motivação- -higiene defende que um funcionário de uma empresa pode ter as melhores condições de trabalho, porém, se o ambiente interno não for bom, ele estará insatisfei- to com a empresa. Assim, a teoria tem duas dimensões: motivação (satisfação), em que o funcionário enxerga na empresa possibili- dades de crescimento e desenvolvimento; e higiene (insatisfação), em que o funcionário se sente desmotivado com a política da empresa e com as condições do ambiente de trabalho, como salário, segurança e relacionamento. 2 102 Planejamento Estratégico Michael Jordan (atleta de basquetebol) e grandes equipes, como a de voleibol masculino do Brasil. Em geral, os atletas de altaperformance têm em seu perfil como características de alto desempenho a capacidade de trabalhar em equi- pe, disciplina, motivação e dedicação. Além disso, outras características são foco nas metas, não se abater diante de adversidades e fracassos e colocar a ética em lugar de destaque. 4.3.1 O grid gerencial para uma equipe de alta performance Para o desenvolvimento de equipes de alta performance, o líder estrategista busca encontrar para a sua equipe pessoas com conhe- cimentos em processos corporativos, com alto nível de tecnologia, de solidariedade e de visão global dos negócios. Hersey e Blanchard (1986) definem esses atributos como habilidades técnicas, humanas e conceituais. Por definição, a habilidade técnica é a capacidade de aplicar conhe- cimentos na execução das tarefas; a habilidade humana é a capacidade de trabalhar com pessoas; e a habilidade conceitual é a capacidade de agir de acordo com os objetivos globais da organização. Tratando-se de equipe de alta performance, conforme apontam Hersey e Blanchard (1986, p. 191), “as pessoas deste nível possuem maturidade alta e têm capacidade e disposição para assumir responsa- bilidades. São psicologicamente maduros”. Pelo seu nível de maturidade, uma equipe de alta performance con- segue enxergar com clareza na organização as relações de poder, as pessoas e os objetivos a serem alcançados. Por mais que os objetivos não sejam tão nítidos, eles sempre existem. Por mais que seja auto- matizada, uma organização não existe sem pessoas para atingir seus objetivos. O poder é explicitado nas relações entre chefe e subordinado (BLAKE; MOUTON, 1987). Um exemplo dessa relação ocorre quando o chefe de um setor ordena que no dia seguinte todos os relatórios de- vem ser encerrados. Para o desenvolvimento de uma equipe de alta performance, o grid gerencial é um bom modelo a ser seguido pelo líder estrategista (BLAKE; MOUTON, 1987). O líder estrategista 103 A preocupação constante com a formação e o desenvolvimento dessas equipes contribui para as organizações no atingimento dos objetivos e das metas. Delas surgem as novas lideranças que condu- zirão o futuro das organizações. Na década de 1960, os psicólogos Robert R. Blake e Jane S. Mou- ton, empenhados com a formação de lideranças nas organizações e, principalmente, que elas tivessem atenção voltada para a exe- cução eficiente de processos que envolvessem tarefas e pessoas, criaram o grid gerencial, um instrumento de gestão de pessoas que permite a identificação de cinco estilos de lideranças existentes nas organizações. O grid gerencial (Figura 9) é uma matriz bidimensional com dois eixos (x e y), sendo um horizontal (x), que identifica a orientação para as tarefas ou produção, e um eixo vertical (y), que identifica a orientação para as pessoas. Ambos os eixos têm escalas de 1 a 9, em que 1 significa que é baixa a importância dada pelo gestor para o tipo de orientação (mínimo envolvimento), e 9 significa que é alta a importância dada pelo gestor para o tipo de orientação (total envolvimento). Figura 9 Representação do grid gerencial O rie nt aç ão pa ra p es so as Orientação para produção baixo alto alto baixo 1,9 A Gerência de clube recreativo 9,9 A gerência em equipe 5,5 A Gerência do homem organizacional 1,1 A Gerência empobrecida 9,1 A Autoridade-obediência 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9 Fonte: Blake; Mouton, 1987, p. 13. Segundo Blake e Mouton (1987, p. 13), os estilos de liderança do grid gerencial são: 104 Planejamento Estratégico Gerência Empobrecida: “o emprego do esforço mínimo necessário para que seja executado o trabalho requerido é o suficiente para permanecer como membro da equipe”. Nesse estilo de liderança, a orientação (atenção) para a execução de tarefas ou produção é baixa, na escala é igual a 1. A orientação para as pessoas também é baixa, igualmente 1. Portanto, a relação é (1,1). Gerência autoridade-obediência: “a eficiência operacional decorre da organização das condições de trabalho de tal forma que o elemento humano interfira em grau mínimo”. Nesse estilo de liderança, a orientação (atenção) para a execução de tarefas ou produção é alta, na escala é igual a 9. A orientação para as pessoas é baixa, na escala é igual a 1. Portanto, a relação é (9,1). Gerência de clube recreativo: “atenção concentrada nas necessidades das pessoas no sentido de criar um relacionamento amistoso, o que leva a uma atmosfera agradável e a um ritmo de trabalho confortável”. Nesse estilo de liderança, a orientação (atenção) para a execução de tarefas ou produção é baixa, na escala é igual a 1. A orientação para as pessoas é alta, igualmente 9. Portanto, a relação é (1,9). Gerência em equipe: “os resultados do trabalho provêm do desempenho do pessoal. A interdependência por meio do comprometimento de todos com os objetivos organizacionais leva-os a um relacionamento de con- fiança e de respeito”. Nesse estilo de liderança, a orientação (atenção) para a execução de tarefas ou produção é alta, na escala é igual a 9. A orientação para as pessoas também é alta, igualmente 9. Portanto, a relação é (9,9). Esse é o estilo de liderança adequado às equipes de alta performance. O líder estrategista 105 Gerência do homem organizacional: “o adequado desempenho organi- zacional é possível mediante o equilíbrio entre a necessidade de con- seguir resultados e a manutenção do moral das pessoas em um nível satisfatório”. Nesse estilo de liderança, a orientação (atenção) para a execução de tarefas ou produção é nível intermediário, na escala é igual a 5. A orientação para as pessoas também é nível intermediário, igualmen- te 5. Portanto, a relação é (5,5). Para compor uma equipe de alta performance, o líder estrate- gista busca na organização lideranças com o perfil (9,9). Ao atingir esse indicador, ocorre o que chamamos de gerência em equipe, cujos resultados do trabalho provêm do comprometimento de todos com os objetivos organizacionais e um relacionamento de confiança e de respeito no grupo. Na gerência em equipe, orienta-se para as metas e procura-se alcançar resultados de alta qualidade por meio da par- ticipação, do envolvimento e da resolução de conflitos. A leitura do grid deve ser feita com base nos eixos e critérios, a saber: a. Eixo x – orientação para a produção: quando igual a 9 pontos, corresponde a um elevado entendimento dos processos e das tecnologias colocadas à disposição da equipe. Além disso, representa uma alta performance, visto que nesse campo da produção exige-se um alto nível de conhecimento de novas tecnologias, por exemplo a Internet das Coisas (IoT). b. Eixo y – orientação para pessoas: quando igual a 9 pontos, corresponde a um alto grau de relacionamento com as pessoas, isto é, alta performance da equipe no campo da solidariedade e da humanização da gestão. Uma possibilidade de aplicação do grid gerencial é por meio de pesquisas cujos conteúdos envolvam questões específicas em rela- ção a tecnologias (produção) e ao processo de humanização (pes- soas). Para compreender sua aplicação, considere o exemplo a seguir. Internet das coisas: em inglês: Internet of Things, IoT, sendo em português IdC o acrónimo equivalen- te, é um conceito que se refere à interconexão di- gital de objetos cotidianos com a internet, conexão dos objetos mais do que das pessoas. Glossário 106 Planejamento Estratégico Cenário para as questões dos eixos de orientação para a produção e tecnologia e de orientação para pessoas A nossa empresa está se internacionalizando e, para tanto, está adquirindo uma tecnologia diferente de impressão digital, a qual permite produzir determi- nados produtos que, até então, não são ofertados a esses mercados. Parte 1 – Orientação para a produção e tecnologia (eixo x) 1. Para o processo de internacionalização da empresa, recomenda-se a aquisição de equipamento digital de impressão. Como métrica de avalia- ção do trade-off,considera-se: b. Métrica 1 c. Métrica 2 d. Métrica 3 e. Métrica 4 Justifique sua resposta por meio dos cálculos utilizados para a formação da métrica recomendada. 2. Na integração dos processos de produção da nova tecnologia digital com a tecnologia já existente, tem-se as seguintes situações: c. Situação 1 d. Situação 2 e. Situação 3 f. Situação 4 Justifique sua resposta por meio dos cálculos utilizados para a situação escolhida. trade-off: consiste em decidir por uma opção em detrimento de outra. Para se dar o nome de trade-off, o indivíduo deve, necessariamente, deixar de lado alguma opção em sua escolha. Glossário (Continua) O líder estrategista 107 Parte 2 – Orientação para pessoas (eixo y) 1. Estima-se que, com a aquisição do novo equipamento digital de impres- são, o market share aumentará para 25% com redução de 7 % do quadro de pessoas por que b. Motivo 1 c. Motivo 2 d. Motivo 3 e. Motivo 4 Assine a alternativa que melhor corresponde aos impactos sobre o resultado final da operação. Apresente os cálculos realizados. 2. Em seu processo de internacionalização, a empresa constatou a existên- cia de um gap organizacional entre seus objetivos estratégicos e as com- petências/habilidades do seu quadro de pessoas. Como recomendação aos gestores, o melhor caminho a seguir é c. Caminho 1 d. Caminho 2 e. Caminho 3 f. Caminho 4 Justifique a sua recomendação por meio dos cálculos realizados. Descreva em 20 linhas um programa de humanização no trabalho para a orga- nização. Considere o ambiente atual diante do surgimento de novas tecnolo- gias digitais. market share: é uma porcentagem corres- pondente à relevância da empresa diante dos competidores da indústria que ela faz parte. Pode representar o valor de mercado, a porção de um público fiel à marca, o volume de vendas, entre outros aspectos. Glossário 108 Planejamento Estratégico No exemplo, considere que a avaliação foi feita por meio dos se- guintes critérios: • Pontuação acima de 80 pontos nos respectivos eixos: corres- ponde na escala do grid gerencial a 9 pontos. • Pontuação entre 60 e 79 pontos nos respectivos eixos: corres- ponde na escala do grid gerencial a 5 pontos. • Pontuação abaixo de 60 pontos nos respectivos eixos: corres- ponde na escala do grid gerencial a 1 ponto. Representando esses critérios matematicamente: Pontuação Eixo x Eixo y > 80 9 9 60 a 79 5 5 < 60 1 1 Um exemplo da interpretação de acordo com o grid é: Integrantes da equipe Pontuação Eixo x Eixo y José 80 80 Lucinda 90 80 Maria 90 80 Rui 80 70 Carla 70 70 Olivia 60 80 Avaliando a formação da equipe de alta performance: Integrantes da equipe Eixo x Eixo y José 9 9 Lucinda 9 9 Maria 9 9 Rui 9 5 Carla 5 5 Olivia 5 9 Concluindo a pesquisa: • José, Lucinda e Maria apresentam o perfil do quadrante 4 (ge- rência em equipe). Estão aptos a formarem a equipe de alta performance. O líder estrategista 109 • Rui tem uma boa orientação para tarefas (tecnologia e produ- ção) e está no nível intermediário em relação à orientação para pessoas. Conclui-se que precisa ser desenvolvido esse tipo de orientação. • Carla está no nível intermediário em relação a tarefas (tecnologia e produção) e orientação para pessoas. Conclui-se que precisam ser desenvolvidos esses tipos de orientações. • Olivia está no nível intermediário em relação a tarefas (tecnologia e produção) e tem uma boa orientação para pessoas. Conclui-se que precisa ser desenvolvida a orientação para tarefas. Por fim, é válido dizermos que o líder se torna verdadeiramente estrategista ao formar uma equipe com alto desempenho profissional para entregar aos stakeholders os melhores resultados quanto a produ- tos e mercados. 4.4 Administração de conflitos e negociações Vídeo Segundo Daft (2017, p. 630-633), conflito “refere-se à interação an- tagônica em que uma das partes tenta bloquear as intenções ou os objetivos da outra”. Já a negociação é definida pelo autor como “o mo- mento em que as pessoas, após o entendimento das razões do conflito, envolvem-se em concessões mútuas e traçam alternativas para chegar a uma decisão conjunta aceitável às partes”. Em 7 de setembro de 1822 houve um grande conflito entre nações. D. Pedro I declarou a independência do Brasil, libertando-o das amarras econômicas portuguesas. Esse novo momento do país foi iniciado com um conflito que apenas cessou após negociações com Portugal. Iniciado na década de 1950, o conflito entre Coreia do Sul e Coreia do Norte não foi solucionado até hoje, ainda restam muitos pontos a serem resolvidos. Esses são exemplos entre vários conflitos que envolvem diferentes nações. Como é de se imaginar, conflitos não se restringem apenas a aspectos políticos e territoriais, grandes grupos empresariais e famí- lias também os enfrentam, os quais em sua grande parte terminam 110 Planejamento Estratégico com boas negociações. Um exemplo de boa negociação resolveu o conflito empresarial entre os herdeiros do Grupo Pão de Açúcar e o grupo francês Casino, que se encerrou após dois anos de negociações (2011-2013). Independentemente de ser entre nações, corporações empresariais ou pessoas, o conflito existirá e sempre se encerrará no campo das ne- gociações e no entendimento entre as partes envolvidas. Entretanto, devemos ter em mente que, quando os objetivos são divergentes, o conflito é inevitável. 4.4.1 Tipos de conflitos na organização O conflito na organização pode ser classificado em dois tipos: exter- no e interno. O conflito externo é aquele caracterizado pela falta de entendi- mento entre os gestores da organização com instituições externas (governo, fornecedores, bancos e clientes), motivado pelo não cumpri- mento de pagamentos de impostos, acordos contratuais de compras, venda, prestação de serviço e outros fatores envolvidos na operação, como acusações de práticas ilegais nas transações comerciais (mono- pólio, dumping, cartel). O conflito interno é ocasionado por dois motivos: conflito de tarefa e conflito de relacionamento. O conflito de tarefa surge devido à divergência entre os gestores sobre os objetivos e as metas a serem atingidas e os conteúdos das tarefas a serem realizadas. São exemplos: • Gestores de planejamento responsáveis pelas estratégias de ne- gócios entram em conflito quanto ao crescimento da empresa por meio da aquisição de uma nova franquia, implantação de uma nova fábrica ou abrir novas lojas para atendimento ao públi- co das classes C e D 3 . • Gestores da unidade organizacional de logística (faturamento e expedição) entram em conflito pela falta de entendimento co- mum sobre as diretrizes de prazo de entrega de produtos aos clientes. Para o IBGE, tomando-se o salário mínimo como referência, situam-se na classe C as famílias com renda na faixa de 4 a 10 salários mínimos. A classe D é composta por famílias com renda de 2 a 4 salá- rios mínimos. Disponível em: https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/livros/ liv101678.pdf. Acesso em: 12 jul. 2021. 3 O líder estrategista 111 • Gestores das unidades de compras e finanças entram em conflito pela falta de entendimento quanto aos prazos de pagamentos a fornecedores. • Gestores das unidades de vendas, faturamento e tecnologia da in- formação entram em conflito pela falta de entendimento quanto aos prazos de faturamento de pedidos e expedição aos clientes. O conflito de relacionamento é aquele causado pela incompati- bilidade entre os gestores nas relações interpessoais. Ele afeta inten- samente o processo de tomada de decisão. Tem um efeito direto na produção (queda), aumenta a ansiedade, causa animosidade, dá sensa- ções de medo, potencializa o quadro de depressão das pessoas. O conflito causado por problemas nas relações interpessoais é mui- to mais grave que o conflito de tarefa, porque tem como ingredientes o poder (autoridade), o direito (normas da empresa) e o interesse (en- tender o outro). Esses três elementossão encontrados na frase de um gestor: “esta decisão é minha e estou seguindo as políticas da empresa, mas eu gostaria de entender por que eles estão propondo fazer coisas dessa forma” (BURBRIDGE; BURBRIDGE, 2012, p. 28). Vejamos um exemplo a seguir. Na reunião de uma equipe de projetos, a gestora líder se dirige aos téc- nicos da seguinte forma: “o que é isso? Vocês não fizeram nada do que pedi. Por que não seguiram as minhas orientações? Já sei: é mais uma noite que terei que ficar sem dormir para resolver os problemas de todos vocês. Tudo é comigo. Pode deixar que eu faço o projeto até amanhã na hora da reunião. Não entendo a incompetência de vocês!” • Análise do conflito: a equipe sentiu o problema de relações in- terpessoais com a gestora líder, uma vez que ela não quis ouvir nenhum colega de equipe e passou a exercer sua autoridade (po- der), não respeitando o trabalho feito pelos demais componen- tes da equipe porque (segundo ela) não estavam seguindo suas orientações de maneira correta. • Resultado: a líder foi afastada do projeto por problemas de relacionamento interpessoal, pois era frequente esse tipo de comportamento em equipes em que participava, causando des- motivação e animosidade entre as pessoas. 112 Planejamento Estratégico Quadro síntese • O conflito externo é aquele caracterizado pela falta de entendimento entre os gestores da organização com instituições externas (governo, empresas fornecedoras, bancos e clientes). • O conflito interno é originado por dois motivos: conflito de tarefa e con- flito de relacionamento. • O conflito de tarefa surge devido à divergência entre os gestores sobre os objetivos e as metas a serem atingidas e os conteúdos das tarefas a serem realizadas. • O conflito de relacionamento é aquele causado pela incompatibilidade entre os gestores nas relações interpessoais. Você pôde recordar os conceitos básicos de conflitos. Assimile-os e estará preparado para iniciar a fase seguinte – negociação. 4.4.2 Negociação Negociação é a arte de atender aos interesses comuns das partes, oferecendo-lhes solução amigável, do tipo ganha-ganha, que as condu- za ao caminho desejado. Conforme explica Almeida (2020, p. 4): a expressão ganha-ganha tem uma afinidade peculiar no ambien- te de negócios, devido a atributos incomuns numa negociação entre uma empresa e o fornecedor. Nela ninguém perde, todos ganham. [...] um dos primeiros autores a formalizar mudanças na aplicação de uma negociação do tipo “Ganha-ganha” foi o americano Ronald Shapiro, em 1992, ao escrever o livro Nego- ciação “Ganha-Ganha”. Na publicação, o autor apresenta a nego- ciação ganha-ganha como um processo em que ambas as partes saem vitoriosas. Embora em uma negociação se busque sempre um final ganha-ga- nha, nas tratativas nem sempre isso é possível. Há situações em que uma das partes da negociação somente ficará feliz com a derrota do seu oponente. Daí, temos dois tipos de negociação: negociação integra- tiva e negociação distributiva. O líder estrategista 113 Negociação integrativa As partes envolvidas no conflito se unem em torno de uma solução criativa em que todos sejam beneficiados. É um tipo de negociação que se caracteriza pelo ganha-ganha, ninguém perde, todos ganham. “A negociação integrativa é aquela na qual existe a possibilidade de se integrarem novos valores e de “fazer o bolo crescer antes de dividi- rem” (BURBRIDGE; BURBRIDGE, 2012, p. 97). Entende-se por “fazer o bolo crescer” discutir as questões do con- flito em todas as dimensões, avaliando-se todos os ângulos. A coope- ração e o compromisso são necessários na negociação para que haja confiança entre as partes. Negociação distributiva Na negociação distributiva, há um jogo de vaidades, pois um lado quer ganhar para o outro perder. Derrotar o oponente significa ser mais forte. Na metáfora do bolo, um dos lados ficará com a maior fatia. É o ganha-perde da negociação. Su do w oo do /S hu tte rs to ck Conforme aponta Daft (2017, p. 634), “com essa abordagem ganha-perde, a negociação distributiva é competitiva e contraditória, em vez de colaborativa, e, em geral, não leva a relacionamentos positi- vos de longo prazo”. 4.4.3 A negociação em um mundo globalizado Em um mundo globalizado, onde parte das organizações formam parcerias para a consolidação de seus negócios, a negociação integrati- va prevalece como uma solução para a vitória nas negociações. A técnica de negociação ganha-ganha (integrativa) é o tipo mais indicado a se adotar em um mercado globalizado em que as organizações buscam cada vez mais parcerias de negócios. A leitura do artigo Técnica de negociação ganha-ga- nha: um novo jeito de se relacionar, dos autores Alana Almeida e Dayvid Santos, publicado na re- vista científica Núcleo do Conhecimento, em 2020, é muito recomendada e seu conteúdo traz inúme- ras colaborações para o nosso desenvolvimento em negociações. Disponível em: https:// www.nucleodoco- nhecimento.com.br/ administracao/tecnica-de- -negociacao. Acesso em: 12 jul. 2021. Leitura 114 Planejamento Estratégico Para Daft (2017), em uma negociação integrativa temos quatro es- tratégias básicas a serem seguidas para se chegar à solução de vitória para ambos os lados: 1. Separar as pessoas dos problemas Como por princípio a negociação integrativa pressupõe um bom negócio para ambas as partes, é muito importante que não haja ataques pessoais entre os envolvidos na negociação. Todos os participantes devem apenas focar o problema, alvo da negociação. Um exemplo é a partilha de uma empresa, em que, em alguns casos, os sócios perdem parte do tempo da negociação em ata- ques pessoais, quando o foco é a partilha societária da empresa que seja adequada a todos envolvidos. 2. Concentrar-se em interesses subjacentes, não em demandas atuais Conforme Daft (2017, p. 634): as demandas são o que cada pessoa quer da negociação, ao passo que os interesses subjacentes representam o “porquê” por trás das demandas. Considere duas irmãs (A e B) que discutem sobre a última laranja na fruteira. Cada uma insiste que deve pegar a laranja e se recusa a desistir (demandas). Se uma irmã (A) perguntasse à outra (B) por que queria a la- ranja, elas teriam descoberto que uma queria comê-la (irmã A) e a outra (irmã B) queria usar a casca para um projeto (interesses). Se se concentrassem em interesses, as irmãs te- riam sido capazes de chegar a uma solução em que cada uma teria o que deseja. Valendo-se do exemplo citado, em muitas ocasiões, presencia-se em uma negociação uma centralização excessiva em decidir se a laranja ficará com A ou B. A negociação torna-se longa, can- sativa e, às vezes, sem resultado satisfatório. O foco é apenas a demanda (a laranja). Na verdade, se o real motivo do interesse de A e B fosse con- siderado no processo de negociação (motivo subjacente), encontraria-se uma solução mais criativa para ambas as par- tes, pois os objetivos que estão por trás da negociação são diferentes. O líder estrategista 115 3. Ouvir e fazer perguntas Para se elaborar uma boa estratégia de negócios, todo líder estrategista deve se municiar de um bom diagnóstico estraté- gico, no qual estão respondidas várias questões sobre o futu- ro do mercado que o permitirão tomar uma boa decisão. Uma negociação acompanha o mesmo processo. Inicialmente, faze- mos boas perguntas para conhecer o oponente na negociação. Veja o caso da laranja citado na estratégia anterior. Com boas perguntas, descobriu-se os motivos subjacentes das partes en- volvidas na negociação, o que permitiu encontrar uma solução criativa para o caso. Portanto, conheça bem sua contraparte na negociação, fazendo perguntas e ouvindo. Ouvir também é fundamental. Assim, res- trições, melindres e limitações das partes serão expostas, per- mitindo a elaboração de uma estratégia de negociação criativa e inteligente. Na negociação, é muito importante, então, pergun- tar e ouvir. 4. Insistirpara que os resultados sejam fundamentados em padrões objetivos Em uma negociação, não cabem subjetividade e situações abs- tratas. Para ela ser bem-sucedida, há a necessidade da ela- boração de critérios objetivos, alinhados aos padrões legais existentes e de acordo com o interesse comum das partes en- volvidas na negociação. Esse tipo de estratégia pode ser exemplificado com uma nego- ciação de partilha societária. Nela, cada sócio tende a criar os seus próprios critérios de merecimento em determinada fração dos bens corporativos arrolados (parque fabril, ações, carteira de clientes etc.). Para essa negociação, precisam ser elaborados critérios objetivos e legais, comuns a todos, para que haja um bom final aos sócios e para que a marca da empresa não seja prejudicada no mercado. Aprendemos que, quando os objetivos são antagônicos, é inevitá- vel o conflito, mas a negociação é ainda o melhor caminho para a paz. Vamos explorar a reportagem Negociação descomplicada: William Ury fala com exclusividade à VendaMais com as melho- res dicas de negociação. Devemos conhecer os melhores no campo da negociação e aprender com eles. William Ury é um dos melhores negocia- dores do mercado. Como referência, foi consultor do empresário Abilio Diniz na condução da venda do Grupo Pão de Açúcar ao grupo francês Casino. Após mais de três anos de disputa judicial, Ury resolveu a negociação em cinco dias. Disponível em: https:// www.williamury.com/ pt-br/negociacao-descom- plicada/. Acesso em 12 jul. 2021. Leitura 116 Planejamento Estratégico CONSIDERAÇÕES FINAIS O mundo mudou com a globalização. As fronteiras desapareceram sob os bits e bytes de um novo mundo digital. O mercado busca e dá espaço para o líder estrategista, o qual prioriza as pessoas na condução de sua gestão e vislumbra a humanização da organização e a prepara com alta tecnologia para as batalhas que terá que enfrentar na busca de mercados inexplorados, banhados pelo oceano azul da inovação. Uma equipe de alta performance ajudará o líder estrategista a con- duzir a organização para um mundo competitivo, mas, se nesse mundo digital, da inteligência artificial, não houver um estreitamento nas relações do líder e sua equipe com a inversão da pirâmide organizacional, as estra- tégias serão cumpridas com muita dificuldade. Por fim, vimos também que cabe ao líder estrategista apoiar, preparar e conduzir sua equipe para negociações diante de conflitos, buscando as mais eficazes e efetivas tomadas de decisão. ATIVIDADES 1. Dentro da teoria U, o que significa a expressão “a mente é como paraquedas: só funciona quando é aberta.”? Explique. 2. A competência de gestor do líder estrategista envolve também os cuidados com o nível de conhecimento e a habilidade das pessoas devendo capacitá-las de modo a reduzir o gap organizacional. Comente as relações do gap organizacional com o nível de conhecimento e as habilidades das pessoas. 3. Para o desenvolvimento de uma equipe de alta performance, utilizamos como instrumento o grid gerencial. Descreva a função desse instrumento na formação de equipes de alta performance. 4. Os gestores das unidades de compras e finanças da empresa Vila Confecções Ltda. entraram em conflito devido à falta de entendimento quanto aos prazos de pagamentos aos fornecedores. Qual o tipo de conflito identificado e como deve ser classificado? Justifique. 5. Comente e exemplifique a seguinte estratégia de negociação integrativa: “concentrar-se em interesses subjacentes, não em demandas atuais”. Vídeo O líder estrategista 117 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. de S.; SANTOS, D. S. Técnica de negociação ganha-ganha: um novo jeito de se relacionar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, n. 5, vol. 21, p. 131-143, nov. 2020. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/ tecnica-de-negociacao,DOI:10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/administracao/ tecnica- de-negociacao. Acesso em: 12 jul. 2021. BLAKE, R. R.; MOUTON, J. S. O novo grid gerencial. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1987. BURBRIDGE, A.; BURBRIDGE M. Gestão de conflitos: desafio do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012. DAFT, R. L. Administração. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017. DYER, W. G.; DYER, W. G. JR.; DYER, J. H. Equipes que fazem a diferença (team building): estratégias comprovadas para desenvolver equipes de alta performance. São Paulo: Saraiva, 2011. HERSEY, P.; BLANCHARD, K. H. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional. São Paulo: E.P.U, 1986. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Alinhamento: alignment – utilizando o balanced scorecard para criar sinergias corporativas. Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2006. KEPNER, C. H.; TREGOE, B. B. O novo gerente racional. São Paulo: Racional Consultoria, 2008. SCHARMER, C. O. Teoria U: como liderar pela percepção a realização do futuro emergente. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019. TALEB, N. N. A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável – gerenciando o desconhecido. Rio de Janeiro: Best Seller, 2007. 118 Planejamento Estratégico 5 Implementação de estratégias organizacionais Djair Pereira As estratégias organizacionais são regras que orientam as empre- sas na busca de oportunidades em seu ambiente interno e externo. Internamente, as oportunidades materializam-se com as pesquisas e o desenvolvimento de produtos e pessoas. Externamente, a estratégia materializa-se na conquista de novos mercados. O resultado das imple- mentações das estratégias refletirá na taxa de crescimento e no retorno dos investimentos da organização. Mas as estratégias organizacionais só trazem bons resultados para seus investidores se forem praticadas de maneira adequada e no tempo certo. Nesse sentido, no processo de planejamento, a matriz SWOT é de grande utilidade na elaboração do diagnóstico estratégico, apontando os pontos fracos e fortes do ambiente interno da organização e as oportuni- dades e os riscos do ambiente externo. No decorrer deste capítulo, outros cinco instrumentos de apoio à ges- tão, somados à matriz SWOT, serão apresentados, de modo que você, como estudante ou gestor, possa conhecer a ferramenta adequada para utilizar na implementação de estratégias organizacionais. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer as ferramentas que auxiliam na implementação das estratégias organizacionais. Objetivos de aprendizagem Implementação de estratégias organizacionais 119 5.1 Matriz de Ansoff e matriz BCG Vídeo Ansoff (1977), ao tratar da implementação de estratégias organizacio- nais, contribui com a matriz de componentes de vetores de crescimento de uma empresa. Nessa matriz, comandada pela relação entre produto e mercado, Ansoff traça quatro vetores de crescimento: penetração de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produtos e diversificação, conforme o quadro a seguir. Quadro 1 Matriz de componentes de vetores de crescimento de Ansoff Mercado/produto Produto atual Produto novo Mercado atual Penetração no mercado Desenvolvimento de produtos Mercado novo Desenvolvimento de mercado Diversificação de produtos e mercados Fonte: Elaborado pelo autor com base em Ansoff, 1977. A seguir apresentamos a descrição dos vetores de crescimento de Ansoff: • Penetração de mercado: é a estratégia em que a empresa de- nota uma direção de crescimento por meio do aumento da par- ticipação relativa dos seus produtos nos mercados a que atende. • Desenvolvimento de mercado: a empresa mantém como es- tratégia o produto atual e investe no desenvolvimento de novos mercados para esses produtos e serviços. • Desenvolvimento de produtos: representa a estratégia em que a empresa desenvolve/cria novos produtos em substitui- ção aos existentes. • Diversificação: é a estratégia de novo produto e novo mercado.A empresa investe em novos horizontes com a diversificação de seus investimentos. Já a matriz BCG é um instrumento que permite ao gestor identifi- car os negócios ou produtos que são geradores de caixa da empresa e os que deverão ser desativados ou tirados da linha de fabricação 120 Planejamento Estratégico por estarem apenas consumindo recursos, sem o respectivo retor- no de caixa (FERNANDES; BERTON, 2005). O reconhecimento dos negócios ou produtos geradores de caixa e daqueles que apenas consomem os recursos existentes é feito tomando-se por base a participação relativa no mercado e a taxa de crescimento deste. Graficamente, a matriz BCG é construída em um plano cartesiano formado por dois eixos x e y, em que o eixo horizontal (x) represen- ta a participação relativa no mercado e o eixo vertical (y), a taxa de crescimento do mercado. Ela é dividida em quatro quadrantes, cada um representando um tipo de negócio ou produto da empresa e sua importância na geração de recursos para o seu fluxo financeiro, permi- tindo, assim, a definição de oportunidade de investimento. Figura 1 Representação gráfica da matriz BCG Matriz BCG Quota de mercado Cr es ci m en to d e m er ca do Estrelas Vacas leiteiras Animal de estimação Pontos de interrogação mi nd ro om 14 /S hu tte rs to ck Observamos que cada célula é identificada por uma figura. A inten- ção é que elas possam, simbolicamente, caracterizar no portfólio 1 , ou carteira de produtos da empresa, a situação de cada negócio ou produto como gerador de caixa. A importância de cada um está des- crita a seguir: • Estrela: tem uma grande fatia de mercado e está em um setor que representa o alto crescimento. Exemplo: negócios e produ- tos com tecnologia digital, como os smartphones, e os relacio- nados à Internet das Coisas (IoT), como os robôs para atividades domésticas e os sensores digitais de controle de ambientes. Também denomina- da de market share, a participação relativa no mercado (%) é calculada dividindo-se a partici- pação da empresa no mercado pela participa- ção dela no mercado do seu maior concorrente. A taxa de crescimento do mercado (%) é a taxa de crescimento anual do mercado em que a empresa atua. Saiba mais A matriz BCG foi desenvol- vida na década de 1970 pela empresa de consul- toria americana Boston Consulting Group (BCG), daí a origem do nome. Curiosidade Representa a carteira de negócios da empresa. Também é a apresen- tação do conjunto de negócios desenvolvidos pela organização em seus diversos segmentos, valores investidos, modelo societário e taxas de retorno esperadas. 1 Implementação de estratégias organizacionais 121 • Vaca leiteira: tem uma grande fatia de mercado em setores de baixo crescimento, mas que geram receita suficiente para susten- tar outras linhas de negócios/produtos da organização. É um tipo de portfólio cujos negócios/produtos, na curva do ciclo de vida, atingiram seu ponto de maturação. Exemplo: mercados que já atingiram seu ponto de maturação, como os de bebidas e cosmé- ticos. A Ambev investe em startups com recursos dos resultados obtidos no mercado de bebidas, e a Natura em startups de negó- cios digitais, ampliando o canal de atendimento a clientes com recursos obtidos na venda de cosméticos. • Animal de estimação (ou abacaxi): tem alto grau de estima e consideração dos gestores devido à sua participação históri- ca nos negócios da organização, embora esteja em uma fase decadente. São negócios/produtos com pequenas fatias de mercado, em setores de baixo crescimento e que consomem dinheiro da empresa. Na curva do ciclo de vida de produtos, são os em declínio. Exemplos: computadores de mesa e jornais e revistas impressos. • Ponto de interrogação: tem pequenas fatias de mercado em setores de alto nível de crescimento e exige investimentos. O gestor deve agir com cautela nesse tipo de produto. Exemplo: investimento em escritórios para o compartilhamento de ser- viços (coworking). Segundo Fernandes e Berton (2005, p. 129-130), “a ideia central dessa matriz é relacionar os vários negócios da empresa, conforme sua participação relativa no mercado e o crescimento deste, de forma a identificar os negócios ou a linha de negócios, ou até mesmo a linha de produtos que serve como geradora de caixa para a empresa”. Já Silbiger (1996, p. 300) afirma que “a importância da matriz BCG está em permitir aos gestores analisar se o portfólio de produtos de sua organi- zação está imune a quedas na economia”. A queda na economia é representada pela sazonalidade de merca- do, com picos de alta e baixa dos negócios. A matriz BCG permite uma avaliação desses picos de modo que a empresa possa ter um leque de negócios/produtos cujos resultados sustentem suas demais linhas nas fases de crescimento, com investimentos, e de declínio no mercado, sustentando o caixa de saída de recursos. 122 Planejamento Estratégico 5.1.1 Relacionamento da matriz BCG e o ciclo de vida de um produto Em marketing, um produto passa, necessariamente, por um ciclo de vida dividido em quatro fases: introdução no mercado, crescimento (aceitação), ponto de maturidade e declínio. A fase de introdução do produto no mercado corresponde ao momento de pesquisas e testes, exigindo muito investimento. A fase de crescimento ocorre quando surgem as primeiras reações de aceitação do produto por parte do mercado. Há a necessidade de investimentos, mas surge uma pequena geração de caixa. A fase de maturidade, ou ponto de maturação, é atingida quando o produto já é conhecido no mercado, tem aceitação e é um ponto central de ge- ração de caixa para a empresa. Por fim, a fase de declínio acontece quando o produto se torna obsoleto ou sua aceitação no mercado é extremamente pequena. Com relação à matriz BCG, o ciclo de vida do produto é compatível com as categorias de negócios ou produtos apresentados em seus qua- drantes, conforme o quadro a seguir. Quadro 2 Relacionamento da curva do ciclo de vida do produto com a matriz BCG Ciclo de vida do produto em marketing Matriz BCG Geração de caixa Exemplos Introdução do produto no mercado Ponto de interrogação Exige investimento Escritórios compartilhados (coworking) Crescimento no mercado Estrela Em expansão, não gera caixa de imediato, mas será uma futura vaca leiteira Tecnologia digital e IoT Ponto de maturidade Vaca leiteira Gera receita, mas com pequena taxa de cresci- mento no mercado Bebidas, alimentos e cosméticos Declínio Animal de estima- ção ou abacaxi Produto obsoleto, gerando prejuízo Computador de mesa, telefone doméstico fixo e jornais e revistas impressas Fonte: Elaborado pelo autor. Ciclo de vida do produto Venda Tempo Introdução Declínio Maturidade Crescimento Ia m ne e/ Sh ut te rs to ck Implementação de estratégias organizacionais 123 Essa correlação é importante ao gestor porque lhe permite avaliar a viabilidade do uso das mesmas estratégias de cada etapa do ciclo de vida nos negócios/produtos identificados nos quadrantes da matriz BCG. 5.1.2 Estratégias para aplicação matriz BCG Como vimos, a matriz BCG é um instrumento de gestão orienta- dor da formação da carteira de negócios ou do portfólio da orga- nização, e suas estratégias de aplicação são orientadas pelos eixos x – índice de participação no mercado (market share) – e y – percen- tagem de crescimento do segmento no mercado (market growth). A seguir veremos com mais detalhes cada uma dessas estratégias, as quais o gestor não deve perder de vista. Estratégia da diversificação diferenciada Tem como critério alocar investimentos com capacidade futura de gerar receita para a organização em portfólios fora da atuação dos seus atuais segmentos. Portanto, para uma diversificação dife- renciada dos investimentos, os negócios dos quadrantes ponto de interrogação e estrela são bons candidatos. Os negócios denominados pontos de interrogação geram, ini- cialmente, dúvidas no mercado porserem novos, desconhecidos, mas com potencial futuro por estarem em um segmento com taxa de crescimento em alta. Eles exigem um aporte financeiro constan- te, sem dar um retorno de caixa de imediato, bem como uma caute- la, porque muitos são os negócios impactados pelo lado emocional do mercado. No caso do portfólio ponto de interrogação, podemos alocar, por exemplo, as startups, que correspondem a negócios novos com gran- des possibilidades de, em um prazo de 18 a 24 meses, tornarem-se do tipo estrela e, na sequência, vaca leiteira. Dessa forma, uma empresa líder no segmento de varejo pode investir em startups com proje- to vinculado ao segmento de logística ou naquelas com projetos de marketing digital. Outro exemplo desse tipo de negócio, marcante durante a crise da pandemia de Covid-19, são os investimentos em espaços compartilhados, como coworkings e apartamentos-estúdio, com áreas de serviço compartilhadas, os quais estão em baixa devi- do à exigência de um distanciamento social das pessoas 2 . Há uma tendência de crescimento do uso com- partilhado de espaços e equipamentos, mas a pandemia de Covid-19 fez com que as pessoas consumissem de ma- neira muito moderada esses serviços. 2 124 Planejamento Estratégico Já os negócios categorizados como estrela são situados em um quadrante com tendências de alta participação no market share e na taxa de crescimento no mercado. Portanto, estão em crescimento, con- siderando que a tecnologia digital avança a passos largos e disponibi- liza produtos e serviços para a integração de unidades de negócios e processos organizacionais. Trata-se de negócios que futuramente se- rão vaca leiteira da organização. Por exemplo, uma empresa do segmento varejista de eletroeletrô- nicos, como estratégia de diversificação de negócios, pode investir no segmento de tecnologia digital. Nesse novo ambiente, ela constrói uma fábrica de computadores com aplicações de software (programas) e hardware (máquinas) destinadas a bancos. Portanto, localiza-se em um mercado totalmente diferente do varejista, com o qual estava habituada. Outro exemplo que podemos citar é uma empresa do segmento de materiais de construção que, ao perceber a necessidade de investir em negócios diferenciados, adquire uma pequena empresa de tecnologia digital especializada em aplicativos dessa área (programas), destinados ao mercado varejista de construção. Assim, a organização torna-se um dos maiores fornecedores de aplicativos no mercado de materiais de construção e empresas de engenharia, surgindo uma vaca leiteira para a empresa. Potencialização da carteira de negócios Tem como critério a sinergia de negócios, ou seja, alocar investi- mentos em portfólios no segmento de atuação da empresa ou em segmentos diferentes, os quais vão somar, de alguma forma, aos negó- cios da organização, aumentando sua competitividade. Nesse tipo de estratégia é recomendado o investimento nos portfólios das categorias estrela e vaca leiteira. Como exemplo temos o caso da privatização dos Correios, em que algumas empresas (Magazine Luiza, Amazon, DHL e FedEx) já anuncia- ram interesse na aquisição. Para elas, independentemente das entre- gas de volumes, cartas e serviços bancários prestadas pela empresa Correios, há um interesse primordial na alta capilaridade (número de pontos) da rede de distribuição e penetração da instituição. Portanto, além da possibilidade de potencializar seu portfólio de negócios, au- mentaria a competitividade no campo da logística. No link a seguir você poderá assistir a reporta- gem sobre uma empresa de plano de saúde que diversificou e investiu em um negócio estrela. Disponível em: https://www. consumidormoderno.com. br/2021/05/14/qualicorp- anuncia-compra-de-empresa- de-marketing-digital/. Acesso em: 27 jul. 2021. Leitura Implementação de estratégias organizacionais 125 Mais um exemplo é a empresa de software TOTVS, que comprou a desenvolvedora de sistemas RD Station, potencializando sua car- teira de negócios com investimentos estrela (caso do segmento de empresas de tecnologia digital). Dessa forma, os investidores trarão para seus negócios uma empresa com uma boa geração de caixa, ou seja, uma nova vaca leiteira. Dinamização do portfólio em estágio de maturidade Portfólios em estágio de maturidade caracterizam-se pela esta- bilidade dos negócios no mercado. A comercialização dos produtos cresce pouco e o que se exige são investimentos na manutenção da marca, na conservação da imagem e na promoção de produtos, pon- tos de venda e preços. Os produtos desse portfólio são excelentes geradores de caixa para o financiamento das demais operações, e os custos de suas operações são baixos, estando representados pelo quadrante da vaca leiteira. Como esse tipo de portfólio corre o ris- co de entrar em declínio no mercado pelo ciclo de vida dos produtos, cabe ao gestor dinamizar os negócios desse quadrante com a exten- são do mix de produtos, a agregação de novas marcas às linhas já existentes, a repaginação de embalagens e cores dos produtos etc. Por exemplo, os produtos da Coca-Cola há muito tempo já atingi- ram seu estágio de maturidade de mercado, sendo, portanto, bons geradores de caixa. A vaca leiteira da Coca-Cola é sustentada pelas vendas de águas, chás, refrigerantes, néctar, refrescos e energéti- cos. Porém, seus gestores viram a necessidade de dinamizar a car- teira de negócios de produtos no estágio de maturidade por meio da aquisição de uma operação de bebida desportiva, o energético BodyArmor 3 . A estratégia de dinamização do portfólio em estágio de maturida- de permite investimentos não apenas na extensão ou repaginação do mix de produtos, mas também em tecnologias e equipamentos. Com essas estratégias fecham-se os quadrantes da matriz BCG. Não há estratégias para o quadrante de portfólio abacaxi ou animal de estimação, porque não se justificam investimentos em negócios em declínio, que somente consomem recursos e pouco colaboram na geração de caixa. Para entender melhor os exemplos apresentados, você pode acessar os links a seguir: • https://valorinveste.globo.com/ mercados/brasil-e-politica/ noticia/2020/09/17/magalu-est- entre-5-interessados-na-compra- dos-correios-diz-ministro.ghtml. • https://olhardigital.com. br/2021/03/10/pro/ totvs-compra-rd-station/. Acessos em: 27 jul. 2021. Saiba mais Conheça um pouco mais desse caso acessando o link a seguir: https://www. dinheirovivo.pt/empresas/ coca-cola-responde-a-ga- torade-e-compra-posicao- -na-bodyarmor-de-kobe- -bryant-12796696.html. Acesso em: 27 jul. 2021. 3 126 Planejamento Estratégico O artigo A matriz BCG passo a passo, de Aluísio Ambrósio e Vicente Ambrósio, enriquece os conceitos estudados nesta seção, trazendo a prática da matriz BCG com uma visão quantitativa, normalmente não abordada nos textos. Também mostra passo a passo a relação entre as variáveis dos quadrantes e apresenta um ensaio de correlacionamento entre a matriz BCG e o ciclo de vida de produtos de marketing. Acesso em: 27 jul. 2021. http://bibliotecasp.espm.br/index.php/espm/article/view/83 Artigo 5.2 Balanced scorecard (BSC) Vídeo O balanced scorecard transforma o planejamento estratégico em in- dicadores, ou seja, em medidas de desempenho que auxiliam o gestor na sua avaliação. De acordo com Kaplan e Norton (1997, p. 2), ele “tra- duz a missão e a estratégia das empresas num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de medição e gestão estratégica”. Certa ocasião, em uma reunião corporativa, o diretor-presidente da em- presa K apresentava aos seus pares de gestão (diretores) e sócios, com grande empolgação, os resultados anuais da organização. Todos, por sua vez, após ouvirem a explanação acerca dos números alcançados, questio- naram o diretor-presidente a respeito dos seguintes pontos: rentabilidade dos resultados diante dos investimentos, volume de devolução de vendas e grau de satisfação dos clientescom a empresa. Perceberam, então, que no planejamento estratégico implantado na organização não havia indicadores suficientes como resposta para essas questões, de modo a auxiliá-los na avaliação dos resultados apresentados. No caso apresentado, o balanced scorecard é o instrumento ou a ferramenta de gestão que dá vida ao planejamento estratégico da organização, como veremos a seguir. O BSC mede o desempenho organizacional sob quatro perspecti- vas: financeira, do cliente, dos processos internos da empresa e do aprendizado e crescimento. Ele fornece a estrutura necessária e os elementos para a tradução da estratégia em termos operacionais. Implementação de estratégias organizacionais 127 Observamos na Figura 2 o planejamento estratégico, ao centro, circundado de manei- ra integrada das quatro perspectivas do ba- lanced scorecard. Ao traçarem as perspectivas financeiras, os gestores devem, por exemplo, priorizar, entre outras questões, o prazo de retorno do investimento (PRI), a lucratividade e a renta- bilidade da unidade de negócio ou do produ- to. Pelo balanced scorecard, isso significa que no planejamento estratégico da organização estarão descritos quais os valores pretendi- dos nos indicadores financeiros para que a empresa seja bem-sucedida. Com relação à perspectiva do cliente, o BSC deve ser claro acerca dos segmentos que serão atingidos, a linha de produtos a ser ofertada e os padrões de qualidade dos produtos e serviços. Já na perspectiva dos proces- sos internos, serão traçados os processos críticos para a obtenção de um desempenho superior para clientes e acionistas 4 . Finalizando, a perspectiva de aprendizado e crescimento está relacionada aos investimentos em capacitação e desenvolvimento das pessoas envolvidas no processo, na infraestrutura de tecnologia digital e na integração dos sistemas de informações, por exemplo. O que buscamos é que esses investimentos no aprendizado e cres- cimento possam produzir inovações e melhorias que impactem o resultado do negócio. Agora vamos ver um exemplo hipotético da integração do plane- jamento estratégico com o BSC para entendermos essa relação um pouco melhor. Quadro 3 Exemplo da integração do planejamento estratégico com o balanced scorecard Planejamento estratégico da fábrica de brinquedos Missão Levar alegria e amor às crianças com os nossos brinquedos infantis. Visão Ser referência no negócio de fabricação de brinquedos, proporcionando às crianças experiências memoráveis. O PRI é o indicador de atratividade do negócio, que mostra em quanto tempo o investimento feito será recuperado. A lucra- tividade indica a eficiência operacional e é obtida pela relação do lucro lí- quido do período sobre as vendas do mesmo período. Já a rentabilidade é o percentual de remune- ração que o investimento proporcionará aos investi- dores e sócios do negócio e é calculada pela relação do lucro líquido sobre o investimento realizado. Saiba mais Durante a pandemia de Covid-19, tornaram-se cruciais as vendas on-line e a entrega do produto com excelência ao cliente. 4 (continua) Figura 2 Relação do BSC com o planejamento estratégico vic hi e8 1/ Sh ut te rs to ck 128 Planejamento Estratégico Planejamento estratégico da fábrica de brinquedos Valores Ter sempre como referência em nossas ações a educação recebida da família. Indicadores de gestão pelo modelo BSC Perspectivas Previsto Realizado Ajustes Comentários Financeira Prazo de retorno do investimento 18 meses Rentabilidade 3% a.a Lucratividade 15% a.a. Do cliente Satisfação do cliente nas compras on-line Três compras/mês Retenção de clientes nas compras por aplicativos 10% de desconto após a segunda compra Participação em cada segmento da empresa Participação em três segmentos de negócios Dos processos internos (críticos) Processo de venda on-line Tempo: três minutos Controle de estoque para entrega pelo sistema delivery Reposição a cada três horas Entregas pelo sistema delivery Tempo: 45 minutos Do aprendizado e crescimento Capacitação em tecnologia digital 70% do quadro de pessoal Aquisição de serviços de cloud computing Até o segundo trimestre Desenvolvimento pessoal Língua estrangeira: 40% do quadro de pessoal Fonte: Elaborado pelo autor. Há inúmeras razões para a importância do BSC na implementação de estratégias organizacionais, mas podemos elencar algumas delas: Sobre o BSC, o livro Alinhamento – Alignment: utilizando o balanced scorecard para criar sinergias corporativas, de Kaplan e Norton, é a leitura mais recomen- dável, pois os autores são os criadores do instrumento e dos conceitos que o cercam. Nesse livro são tratadas das técnicas de alinhamento do BSC com a estrutura organizacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Livro Implementação de estratégias organizacionais 129 Planejamento estratégico da fábrica de brinquedos Valores Ter sempre como referência em nossas ações a educação recebida da família. Indicadores de gestão pelo modelo BSC Perspectivas Previsto Realizado Ajustes Comentários Financeira Prazo de retorno do investimento 18 meses Rentabilidade 3% a.a Lucratividade 15% a.a. Do cliente Satisfação do cliente nas compras on-line Três compras/mês Retenção de clientes nas compras por aplicativos 10% de desconto após a segunda compra Participação em cada segmento da empresa Participação em três segmentos de negócios Dos processos internos (críticos) Processo de venda on-line Tempo: três minutos Controle de estoque para entrega pelo sistema delivery Reposição a cada três horas Entregas pelo sistema delivery Tempo: 45 minutos Do aprendizado e crescimento Capacitação em tecnologia digital 70% do quadro de pessoal Aquisição de serviços de cloud computing Até o segundo trimestre Desenvolvimento pessoal Língua estrangeira: 40% do quadro de pessoal Fonte: Elaborado pelo autor. Há inúmeras razões para a importância do BSC na implementação de estratégias organizacionais, mas podemos elencar algumas delas: Sobre o BSC, o livro Alinhamento – Alignment: utilizando o balanced scorecard para criar sinergias corporativas, de Kaplan e Norton, é a leitura mais recomen- dável, pois os autores são os criadores do instrumento e dos conceitos que o cercam. Nesse livro são tratadas das técnicas de alinhamento do BSC com a estrutura organizacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Livro Eu ca lyp /S hu tte rs to ck 1 As quatro perspectivas – financeira, do cliente, dos proces- sos internos e do aprendizado e crescimento – organizam a elaboração dos indicadores no planejamento estratégico. 2 Cada perspectiva permite medir vários pontos estratégi- cos, aumentando a eficiência da gestão, pois o que não é medido não é gerenciável. 3 Uma nova dimensão à gestão é assimilada pelo conceito das quatro perspectivas, mostrando que indicadores não são somente financeiros e contábeis. 4 Entende-se que missão, visão e valores não são sufi- cientes para a empresa e que eles somente ganham vida quando associados aos indicadores estratégicos demonstrados no balanced scorecard. 5 O BSC é um instrumento de comunicação da organiza- ção, tornando transparentes as informações aos seus colaboradores. Kaplan e Norton (2019) ainda afirmam que o balanced scorecard: • fornece um referencial para descrever e comunicar a estratégia de maneira coerente e imaginosa; • cria, ao trabalhar as quatro perspectivas, um ponto de referência comum e compreensível para todas as unidades da empresa; • é a ferramenta adequada para que o desempenho organizacio- nal seja superior à soma das partes, considerando que, em um alinhamento organizacional, a sinergia é a meta mais abrangente do projeto; • transforma a estratégia em tarefa de todos. 130 Planejamento Estratégico Enfim, o balanced scorecard traz para as organizações um novo pro- cesso de gerenciamento da estratégia, tornando obsoleto aquele de- senvolvido em torno do orçamentoe do plano operacional. Assim, cabe aos gestores, na implementação de estratégias organizacionais com o uso dessa ferramenta, cuidar das conexões internas, integran- do o gerenciamento tático ao estratégico, em um processo contínuo. O artigo O papel do balanced scorecard na gestão da inovação, de Fábio Freztti et al., é uma leitura recomendada pelo seu alinhamento com o tema balanced scorecard e seu papel na gestão da inovação. Tem seu valor pela aplicação e discussão acerca do uso do BSC na gestão de tecnologias. Acesso em: 27 jul. 2021. https://www.scielo.br/j/rae/a/8tsWdmvqJRWLJpPshHbrZyv/?format=pdf&lang=pt Artigo 5.3 Modelo das cinco forças de Porter Vídeo Todo gestor tem como competência essencial maximizar o retorno dos investimentos aportados nos negócios cuja gestão está sob sua responsabilidade. Para tanto, na formulação de estratégias, ele deve estar atento à situação econômica do país, avaliando, por exemplo, o crescimento do seu produto interno bruto (PIB), a taxa de inflação, o índice de crescimento do segmento em que atua e, principalmen- te, a taxa de crescimento da sua organização nesses cenários. Para Porter (2004, p. 22): a essência da formulação de uma estratégia competitiva é rela- cionar uma companhia ao seu meio ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja mais amplo, abrangendo tanto forças sociais como econômicas, o aspecto principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as indústrias em que ela compete. Devemos também considerar, junto dos fatores econômicos que permeiam o ambiente externo, a concorrência, cujo grau de intensidade depende de cinco forças competitivas básicas, que são: os concorren- tes do segmento, os entrantes potenciais, os produtos substitutos, os compradores e os fornecedores (PORTER, 2004). Ao conjunto dessas forças damos o nome de modelo das cinco forças de Porter. Ao traçar as metas estratégicas da organização, cabe ao gestor iden- tificar cada uma dessas forças e a melhor forma de se defender ou transformá-las em aliadas. Implementação de estratégias organizacionais 131 Figura 3 As cinco forças formadoras da competição industrial Fonte: Elaborada pelo autor com base em Porter, 2004. Ameaças de novos participantes Barganha do poder dos compradores Barganha do poder dos fornecedores Rivalidade existente entre os competidores Ameaça de substituição de produtos ou serviços Para Porter (2004, p. 24), uma estratégia não deve considerar como concorrentes apenas os tradicionais rivais, por isso elenca as cinco forças competitivas, pois entende que clientes, fornecedores, substitutos e entrantes potenciais são todos concorrentes, podendo ter maior ou menor importância. “Concorrência neste sentido mais amplo poderia ser definida como rivalidade ampliada”. 5.3.1 Entrantes potenciais São novas empresas que entram no mesmo segmento de atua- ção da organização já existente, trazendo nova capacidade, custos de produção reduzidos, desejo de ganhar parcela de mercado e ganhos financeiros substanciais. Como resultado da chegada desses novos entrantes no segmento, os preços dos produtos podem cair, impac- tando a rentabilidade das empresas. Por exemplo, podemos citar novas editoras de livros que en- traram no mercado com o conceito da impressão sob demanda (print on demand – POD), nas quais a impressão é de acordo com o pedido do leitor. Dessa forma, não há a necessidade de estoques, A leitura do artigo POD: a tecnologia que pode ajudar o editor a ser mais certeiro é muito importante, porque materializa os exemplos trabalhados nesta seção. Disponível em: https:// www.publishnews.com.br/ materias/2021/04/12/pod-a- tecnologia-que-pode-ajudar-o- editor-a-ser-mais-certeiro. Acesso em: 27 jul. 2021. Leitura 132 Planejamento Estratégico e o cliente sempre será atendido sem a preocupação da resposta “livro esgotado”. Seus custos são reduzidos devido à tecnologia di- gital aplicada no processo. Nesse mesmo segmento, outro exemplo de novos entrantes são as editoras que utilizam a estratégia do self-publishing, na qual é o próprio autor do livro quem cobre todos os custos da publicação da obra. Uma grande ou tradicional editora não consegue com sua estrutu- ra empresarial atual ter essa mesma agilidade, atendimento de quali- dade e bom resultado devido à robustez da sua estrutura de negócios. 5.3.2 Produtos substitutos Produtos substitutos são aqueles cujos atributos produzem o mesmo efeito do produto já existente no mercado, desempenhan- do a mesma função, mas com preços competitivos. As garrafas de papel da cervejeira Carlsberg são um excelente exemplo. Elas são produzidas em fibra de madeira sustentável e reciclável. Talvez, em um futuro próximo, ela substitua as demais embalagens de bebidas de plástico e vidro. Outro exemplo é o plástico biodegradável e comestível, com- posto de amido e gelatina, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esse produto é um potencial substituto do plástico não degradável (que não se de- compõe na natureza). Mais exemplos de produtos que avançam para substituir os já existentes são os serviços de streaming 5 de música e televisão. Trata-se de plataformas como Spotify e Netflix. Os streamings de música substituíram a fita cassete, o CD, os discos e o MP3, e os de televisão sobrevieram os videocassetes e as locadoras de vídeo. 5.3.3 Poder de negociação dos compradores Para Porter (2004, p. 40), “os compradores competem com a indús- tria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços”. Esse comportamento do comprador, que chama- mos também de consumidor, tornou-se acentuado a partir da déca- da de 1990, quando dois adventos mudaram o mundo: a internet e a globalização. A primeira possibilitou a agilidade nas comunicações e a Quando os exemplos são refletidos em uma leitura, o aprendizado torna-se mais agradável. As reportagens Carlsberg, provavelmente a melhor garrafa de cerveja em papel do mundo e Plástico sustentável e comestível é desenvolvido por pesquisadores da Unicamp são dicas muito importan- tes para o entendimento do conceito de produto substituto no modelo das cinco forças de Porter. • Disponível em: https://pplware. sapo.pt/ciencia/carlsberg-apresenta- a-primeira-garrafa-de-papel-de- cerveja-do-mundo/. • Disponível em: http://www. neomondo.org.br/2020/07/09/ plastico-sustentavel-e-comestivel- e-desenvolvido-por-pesquisadores- da-unicamp/. Acessos em: 27 jul. 2021. Saiba mais Método de transferência de conteúdo de áudio e vídeo pela internet em tempo real. 5 Implementação de estratégias organizacionais 133 segunda rompeu as fronteiras comerciais entre os países, o que permi- tiu o acesso do consumidor, por meio das redes digitais (aplicativos), a outros mercados e produtos alternativos. Dessa forma, o poder de barganha dos compradores teve um crescimento exponencial e muito rápido, devido à disponibilização da tecnologia por meio da internet. Antes da internet e da globalização, o consumidor tinha à sua disposição para o orçamentação e a aquisição de um bem ou serviço apenas as lojas físicas e um eventual serviço de atendi- mento telefônico de alguma rede distribuidora. Atualmente, ele au- menta o seu poder de barganha com o acesso digital aos diversos fornecedores do produto que deseja, local ou internacionalmen- te. Após essas consultas, opta pela melhor oferta de preço, qualida- de e serviços. Desse modo, possui muito mais informações para a sua decisão. Ainda de acordo com Porter (2004, p. 42), “quando o comprador tem todas as informações sobre a demanda, preços reais de mercado, e mesmo sobre os custos dos fornecedores, isto em geral lhe dá mais poder para a negociação do que quando a informação é deficiente”. No segundo trimestre do ano 2020, o site de vendas Mercado Livre anunciou que para seus 51,5 milhões de usuários foram comercializa- dos 178,5 milhões de itens no seu marketplace, númeroque nos mos- tra uma alta de 101,4% em relação ao mesmo período do ano anterior (ALMEIDA, 2020). A chinesa Aliexpress, outra referência nesse segmen- to de negócios digitais, informou também que no período de abril de 2019 a março de 2020 faturou 72 bilhões de dólares e chegou ao recor- de interno de 1 trilhão de dólares em produtos vendidos, incluindo as vendas de terceiros no marketplace (RIVEIRA, 2020). Enfim, os consumidores navegam em outros cenários, sendo uma força com alto poder de barganha, que obriga, necessariamen- te, as empresas a estimularem cada vez mais atitudes de negócios “ganha-ganha” em suas novas estratégias. 5.3.4 Poder de negociação dos fornecedores Para esse tipo de força, Porter (2004, p. 43) indica que: os fornecedores podem exercer poder de negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar pre- ços ou reduzir a qualidade dos bens e serviços fornecidos. marketplace: plataforma digital que reúne vende- dores e fornecedores de muitos produtos para negócios. Glossário 134 Planejamento Estratégico Fornecedores poderosos podem consequentemente sugar a rentabilidade de uma indústria incapaz de repassar os aumen- tos de custos em seus próprios preços. Embora Porter (2004) se dirija ao público da indústria em seu livro, os conceitos são totalmente aplicáveis a qualquer segmento de mercado. A força do fornecedor e o poder de barganha da empresa comprado- ra de seus insumos concentram-se em três variáveis: preço, qualidade do produto e serviços oferecidos. Torna-se muito importante que os fornecedores e as empresas compradoras alcancem um denominador comum para essas variáveis e que ninguém seja prejudicado em seus negócios. A empresa, naturalmente, está do lado mais fraco. Em busca do equilíbrio de forças, o gestor deve realizar as seguintes ações: bl in kb lin k/ Sh ut te rs to ck Cuidar do desenvolvimento de fornecedores: desenvolver constantemente novos fornecedores evita que haja uma concentração do fornecimento de insumos, produtos e matérias-primas nas mãos de poucos. Essa é uma ação que diminui relativamente a força dos fornecedores na determi- nação de preços, qualidade e serviços. Aplicar de modo constante a técnica da análise de valor: ana- lisar o valor de insumos, produtos e matérias-primas é a busca constante de produtos substitutos para aqueles já em uso na linha de produção ou nas prateleiras do varejo. Na negociação, essa ação fortalece ou, no mínimo, reduz de maneira relativa o poder do fornecedor, pois, ao perceber que seu produto não é único, repensará suas atitudes na negociação. (Continua) Valorizar a gestão do volume de compras: a empresa pode ter em seu programa um grande volume de compras de in- sumos ou produtos, o qual deve ser usado nas negociações com seus fornecedores de modo que percebam que a em- presa é uma excelente cliente para sua carteira e não pode ser tratada com desprezo e sob pressão nas negociações. É importante para a empresa, em uma primeira ação, negociar um maior volume de produtos com um fornecedor, diluindo outra fração do programa de compras com outros fornecedo- res e evitando a dependência no fornecimento de produtos. Outra estratégia é diluir o volume de compras entre os diver- sos fornecedores, diminuindo, assim, o poder e a força dos fornecedores sobre a empresa. Implementação de estratégias organizacionais 135 Garantir a parceria e a cooperação entre comprador e fornece- dor: como o fornecedor possui, aparentemente, uma força maior que a da empresa, um dos pontos da negociação é formar uma parceria, integrando-o ao desenvolvimento do projeto em que seu insumo será utilizado e ao processo de fabricação, para que entenda a sua responsabilidade. Atualmente, com a aplicação da alta tecnologia digital, muitas empresas integram o seu controle de estoque ao estoque do fornecedor, possibilitando entregas automáticas de produtos. Essa forma de gestão também é total- mente aplicável nos casos de negócios de varejo. Com esse posicionamento da empresa, o poder de força dos for- necedores tende a se amenizar. Compete ao gestor integrar essas medidas às suas estratégias de negócios, mostrando aos seus forne- cedores, desde o início das negociações, a intenção de se negociar com equilíbrio de poder. 5.3.5 Concorrentes na indústria A quinta força de Porter aplica-se tanto à indústria quanto aos negó- cios varejistas, de atacado e de distribuição de produtos. Qualquer que seja o segmento, a concorrência existe e sempre existirá. O que mudou desde a concepção do autor sobre as cinco forças é a agregação de novas variáveis traduzidas com a intensificação da sinergia das empre- sas, resultando em muitos negócios colaborativos que só favorecem os seus clientes e o mercado. Independentemente da sinergia implementada, as organizações continuam com seus segredos de desenvolvimento de produtos, com políticas de preços mais ou menos agressivas, marketing mais massificado (para todo o mercado) ou mais sofisticado (dirigido a um público de alto poder aquisitivo) etc. Enfim, todos buscam seus posicionamentos no mercado, mas, se houver necessidade, prevale- cerá a sinergia corporativa. Segundo Porter (2004, p. 35), “a rivalidade em algumas indústrias caracteriza-se por expressões como belicosa, amarga, ou impiedo- sa, enquanto em outras indústrias pode ser dita como polida ou ca- valheiresca”. O que se percebe no mercado é que a rivalidade se concentra, relativamente, mais na segunda linha de comportamento. Belicosa: disposto ou inclinado à guerra; que combate ou guerreia por vocação ou prazer. Glossário 136 Planejamento Estratégico Como exemplo, podemos citar onze empresas concorrentes do setor de fabricação de baterias automotivas, lideradas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que se unem para o desenvolvimento de um projeto de inovação que irá beneficiá-las. Outro exemplo, no segmento automotivo, é a sinergia de negócios entre as empresas Audi e Bentley para a transferência de tecnologia na fabricação de carros elétricos. Nenhum gestor com as cinco forças de Porter deve temer o en- frentamento se traçar para seus negócios estratégias diferentes das tradicionais. Ele não pode oferecer mais do mesmo à sua or- ganização; tem que tirar a empresa do seu tradicional ambiente e transportá-la para um ambiente do mundo atual, com alta tecnolo- gia digital e bons níveis de relações globais. As concorrências hoje avançaram para o patamar de estratégias colaborativas. Os novos entrantes e produtos substitutos sempre existirão, exigindo que as estratégias sejam de aproximação e si- nergia nos negócios, e não de fomento à “guerra” e incentivo a uma política de afastamento. Além disso, o mundo atual permite que o grau de exigência dos clientes seja cada vez mais alto; portanto, é um cenário no qual a empresa tem que se adequar, e não montar barreiras de proteção. Também os fornecedores estão preparados para a formação de parcerias. Enfim, cabe aos gestores refletirem sobre as mudanças desse novo mundo. 5.4 Estratégias competitivas Vídeo Vimos, anteriormente, que uma organização sofre inúmeras pressões no seu ambiente de negócios, as quais são conhecidas como as cinco forças de Porter, que são os novos produtos entrantes, os produtos substitutos, o poder de negociação dos compradores (clientes), o poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre os concorrentes. Para a neutralização dessas cinco forças, Porter (2004) recomenda a utilização de três estratégias competitivas genéricas: liderança no custo total, diferenciação e enfoque. A reportagem Empresas concorrentes se unem para financiar projeto de inovação mostra que, independentemente da rivalidade existente, quando se trata de au- mentar a competitividade, vale a pena unir-se aos concorrentes em busca da inovação. Já a reporta- gem VW desiste de vender Lambo e Ducati e Audi vai controlar Bentley nos remete ao conhecimento de um casoprático de uma rivalidade “cavalhei- resca”, na qual interesses comerciais fizeram com que duas concorrentes se aproximassem para a realização de negócios de interesses mútuos. • Disponível em: https://agenciabrasil. ebc.com.br/economia/ noticia/2018-09/empresas- concorrentes-se-unem-para- financiar-projeto-de-inovacao. • Disponível em: https://jornaldocarro. estadao.com.br/carros/vw- lamborghini-ducati-bentley-venda/. Acessos em: 27 jul. 2021. Leitura Implementação de estratégias organizacionais 137 5.4.1 Estratégia da liderança no custo total É a formação de um conjunto de políticas funcionais objetivando a re- dução dos custos da organização, com a revisão do projeto do produto, buscando a simplificação da sua fabricação; a construção de instalações operacionais modernas, que permitam a produção em escala eficiente; e a revisão da estrutura de custos e despesas da empresa. Desse modo, a organização busca ter o menor custo de operações do mercado. Como resultado da implementação desse conjunto de políti- cas, espera-se que, com baixos custos, a empresa tenha mais fôlego para as discussões de negócios com seus compradores (clientes), re- sistindo às pressões por menores preços; equilibre a força com os for- necedores no fornecimento de insumos; e controle as ações dos novos entrantes e produtos substitutos com a oferta de produtos a preços reduzidos, com alta qualidade e bons serviços. A rivalidade com a con- corrência será também amenizada e, em algumas situações, com boas vantagens, devido aos baixos custos operacionais. Exemplificando a aplicação dessa estratégia de Porter, trazemos o caso da multinacional Unilever, quando, em 2017, seus diretores sofreram pressões dos acionistas para o aumento da rentabilidade dos negócios, gerando uma preocupação no mercado a respeito dos resultados. A empresa teve que vender uma de suas unidades de negócios de cosméticos e implementar um plano rígido de redução de custos operacionais para aumentar as margens de lucro. 5.4.2 Estratégia por diferenciação A empresa já sofre a pressão natural do mercado expressada nas cinco forças de Porter e, se ainda não oferece nada diferente a esse mercado, está realmente com sua sobrevivência muito ameaçada. Se quiser ser percebido, coloque uma meia vermelha. Isso significa que toda empresa deve ter a competência de ser diferente, ser no- tada na multidão, ser facilmente encontrada no mercado. Sua meia pode ser amarela também; o importante é ser notado. Ser diferente fez os automóveis elétricos da fabricante Tesla, por exemplo, alcançarem as maiores marcas de vendas do planeta. Se pes- quisarmos a lista das empresas mais inovadoras do mundo, encontra- Até as grandes corpora- ções têm a preocupação com a redução dos seus custos operacionais para que possam enfrentar as pressões do ambiente ex- terno. O caso da Unilever é um bom retrato dessa estratégia de Porter, por isso recomendamos a leitura da reportagem Unilever vende marca Flora e compra ações próprias. Disponível em: https://www. dinheirovivo.pt/empresas/unilever- vende-marca-flora-e-compra- acoes-proprias-12836926.html. Acesso em: 27 jul. 2021. Saiba mais 138 Planejamento Estratégico remos Apple, Microsoft, Alphabet, Huawei, Tesla, Samsung, Xiaomi e Facebook (APPLE..., 2020). Todas sabem vestir a meia vermelha. A diferenciação exige do gestor competência para: • posicionar adequadamente sua marca e seu produto no merca- do, segmentando-o com clientes leais à marca; • desenvolver uma solução específica ou que seja única para o seg- mento em que atua, de modo a evitar que o cliente faça compa- rações com marcas dos concorrentes; • montar uma rede de distribuição adequada ao público-alvo, ou seja, com alta capilaridade e muitos pontos de vendas ou de especialidade para produtos premium, que elevam o status do cliente; • fazer com que o produto seja notado no mercado. A fabricante do chocolate Dengo é também um bom exemplo de produtos com a diferenciação que o mercado exige. Ela uniu as estra- tégias de negócios com as estratégias sociais e de sustentabilidade ao fabricar chocolates de alta qualidade com o cacau vindo das comunidades de Ilhéus, na Bahia. A pressão dos fornecedo- res é suavizada pelos projetos sociais e de sustentabilida- de implantados, e a rede de distribuição tem todo um requinte para atender ao padrão do seu público-alvo (RIVEIRA, 2019). 5.4.3 Estratégia por enfoque Com cinco forças do mercado atuando fortemente sobre a organização, é muito importante que o gestor busque estratégias direcionadas para o foco no merca- do. Se já temos os custos gerenciados com competência (liderança em custos) e os produtos com alta diferenciação no mercado, jamais o gestor pode perder o foco dos negócios da organização. A última estratégia genérica é enfocar um determinado grupo comprador, um segmento da linha de produtos, ou um merca- do geográfico; [...] A estratégia repousa na premissa de que a empresa é capaz de atender seu alvo estratégico estreito mais efetiva ou eficientemente do que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla. (PORTER, 2004, p. 52) Figura 4 Exemplo de automóvel inovador Photo site/ Shu tter sto ck O texto O poder do marketing de diferenciação, como a Apple, Tesla e ou- tras empresas transformam seus clientes em adeptos trata-se de uma leitura atual, que exemplifica como essas empresas apostam na diferenciação dos seus produtos como estratégia de mercado. Disponível em: https://www. mundodomarketing.com. br/noticias-corporativas/ conteudo/142436/o-poder-do- marketing-de-diferenciacao-como- a-apple-tesla-e-outras-empresas- transformam-seus-clientes-em- adeptos. Acesso em: 27 jul. 2021. Saiba mais Implementação de estratégias organizacionais 139 Ainda segundo o autor, “a empresa que desenvolve com sucesso a estratégia de enfoque pode também obter potencialmente retornos acima da média para a sua indústria. O enfoque desenvolvido significa que a empresa tem uma posição de baixo custo com seu alvo estratégi- co, alta diferenciação, ou ambas” (PORTER, 2004, p. 53). Como exemplo, podemos citar o mercado consumidor de hambúr- guer, muito exigente quanto a se manter a tradição do bom e velho hambúrguer servido nos Estados Unidos. A Patties, localizada na região do Brooklin, em São Paulo, focou isso e hoje é uma das maiores vende- doras de hambúrguer da cidade, porque resgata o estilo das primeiras hamburguerias dos Estados Unidos, como McDonald’s, White Castle e White Manna (MARTUCCI, 2020). Na ótica das cinco forças de Porter, se analisarmos a Patties, con- cluímos que possui a economia de escala pretendida na estratégia de liderança no custo total e o foco em um segmento de clientes, com alta diferenciação de produtos. Assim, na gestão dos seus negócios, ela é uma boa combinação das três estratégias de Porter. A leitura do artigo Porter revisitado: análise crítica da tipologia estratégica do mestre, de Jorge M. T. Carneiro, Maria A. F. D. Cavalcanti e Jorge F. da Silva, é importante porque traz para o campo da administração uma posição crítica de diversos autores sobre a tipologia das estratégias genéricas de Porter, le- vando você a conhecer outro lado do estudo. Acesso em: 27 jul. 2021. https://rac.anpad.org.br/index.php/rac/article/view/19/19 Artigo A reportagem Patties: da portinha aos 200 mil hambúrgueres por mês na pandemia é mais uma leitura de troca de in- formações entre a teoria aqui exposta e a prática do mercado. Ela trata do fenômeno de negócio que é a hamburgueria Patties na cidade de São Paulo. Disponível em: https://exame.com/ negocios/patties-da-portinha- aos-200-mil-hamburgueres-por- mes-na-pandemia/. Acesso em: 27 jul. 2021. Leitura CONSIDERAÇÕES FINAIS A maioria dos gestores, ao assumir o comando de uma empresa, tem em mente avaliar o ambiente e prepará-lo para receber um conjunto de estratégias organizacionais que vai direcionar a empresa no mercado. No entanto,a coisa não é tão simples assim. O ambiente organizacional está repleto de armadilhas e situações que fogem ao seu controle, exi- gindo habilidades e repertório de estratégias amplo, de modo a atingir com sucesso os resultados pretendidos pelos sócios, colaboradores e demais agentes do mercado. Desse modo, conhecer as ferramentas que auxiliam na implementação das estratégias organizacionais é um ponto vital para o seu sucesso. 140 Planejamento Estratégico Ao confiar no gestor, os sócios da organização esperam que ele saiba como alocar os investimentos aportados na empresa, pois nem todos os segmentos de negócios ou produtos possuem o mesmo peso de rentabi- lidade. Então, cabe ao gestor avaliar qual é o melhor negócio em relação à participação relativa no mercado e à taxa de crescimento no setor. É nesse momento que uma boa análise do mercado revelará os negócios e produtos em fase de ascensão (estrela ou ponto de interrogação), aqueles que já atingiram o ponto de maturidade (vaca leiteira) e os em total declí- nio (animal de estimação ou abacaxi). O domínio da matriz BCG para essa análise é fundamental, pois traz todos os requisitos para uma boa avaliação do mercado e a alocação racional de investimentos. Muitas organizações, em suas estratégias de crescimento, optam pelo investimento nas instalações já existentes, pela aquisição de empresas concorrentes ou pelo desenvolvimento de novas plantas de negócios. Com um plano estratégico central para orientar essas unidades, os controles devem ser fortes. Simples controles contábeis já não aten- dem às necessidades do gestor. Para tanto, a ferramenta balanced scorecard torna-se o grande caminho para o fortalecimento dos con- troles da organização quanto às perspectivas financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. O BSC alinhado ao planejamento estratégico permite uma visão clara dos caminhos a serem seguidos pela organização. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Apropriamo-nos dessa fra- se dita pelo general romano Pompeu no século I a.C. – posteriormente, transformada por Petrarca no século XVI – para fazer mais uma trans- formação nela: navegar é preciso, viver também é preciso. A empre- sa precisa navegar em mares de novos e bons negócios, e a equipe condutora da embarcação precisa estar “bem viva” para elaborar e im- plementar as melhores estratégias de enfrentamento das turbulências causadas pela rivalidade entre os concorrentes atuais e os novos, pelas mudanças no comportamento, pelos hábitos dos consumidores e for- necedores de insumos e pelos lançamentos de produtos substitutos aos fabricados pela organização. Essas turbulências do mercado de ne- gócios, denominadas de as cinco forças de Porter, sempre existirão, por isso devem ser combatidas com estratégias de negócios inovadoras. Enfim, o ambiente em que a organização desenvolve seus negócios pre- cisa ser sustentado, como vimos, por estratégias criativas e inovadoras, sen- do muito importante que o gestor esteja preparado para o manuseio das ferramentas elencadas neste capítulo, colocadas à sua disposição para o tratamento das estratégias e o alcance com sucesso dos objetivos traçados. Implementação de estratégias organizacionais 141 ATIVIDADES 1. Há diversos exemplos de produtos da indústria de bebidas (cervejas e refrigerantes, por exemplo) que atingiram seu ponto de maturação. Exemplifique e classifique a posição deles na matriz BCG. 2. Vivendo seu momento de crescimento, a empresa de turismo Passeios e Diversões Ltda ampliou seu portfólio para seus clientes, desenvolvendo o serviço de turismo radical. Tratando-se dos vetores de crescimento de Ansoff, descreva a estratégia adotada, indicando a qual quadrante ela pertence. 3. As organizações compõem-se de vários setores e unidades de negócios, cada uma com sua própria estratégia. Como a ferramenta balance scorecard pode ser útil para que o desempenho organizacional seja superior à soma das partes? REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. Mercado Livre anuncia alta de 123% nas vendas durante o segundo trimestre de 2020. Mundo conectado, 10 ago. 2020. Disponível em: https://mundoconectado.com. br/noticias/v/14903/mercado-livre-anuncia-alta-de-123-nas-vendas-durante-o-segundo- trimestre-de-2020. Acesso em: 27 jul. 2021. ANSOFF, H. I. Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1977. APPLE considerada como a empresa mais inovadora do mundo. pplware, 24 jun. 2020. Disponível em: https://pplware.sapo.pt/apple/apple-considerada-como-a-empresa-mais- inovadora-do-mundo/. Acesso em: 27 jul. 2021. FERNANDES, B. H. R.; BERTON, L. H. Administração estratégica: da competência empreendedora à avaliação de desempenho. São Paulo: Saraiva, 2005. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier campus, 1997. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Organização orientada para a estratégia. Rio de Janeiro: Alta books, 2019. MARTUCCI, M. Patties: da portinha aos 200 mil hambúrgueres por mês na pandemia. Exame, 28 ago. 2020. 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Disponível em: https://www.dinheirovivo.pt/empresas/unilever-vende-marca-flora-e-compra-acoes- proprias-12836926.html. Acesso em: 27 jul. 2021. Vídeo 142 Planejamento Estratégico Resolução das atividades 1 Introdução ao planejamento estratégico 1. Explique a abrangência de cada tipo de planejamento, a saber: Planejamento estratégico Planejamento tático Planejamento operacional. • Planejamento estratégico: a estratégia é formulada para a empresa como um todo. É definido quando a organização precisa estabelecer o que pretende fazer para enfrentar a concorrência. • Planejamento tático: a estratégia é formulada para otimizar os resultados de determinada área ou departamento. • Planejamento operacional: a estratégia é focada na execução das operações, ou seja, direciona as atividades diárias da empresa. 2. Explique como um gestor com mentalidade global deve reagir diante das situações impostas pelo ambiente. O gestor com mentalidade global deve buscar recursos que possibilitem que a empresa reaja de maneira adequada e estratégica às situações impostas pelo ambiente, a fim de superar seus concorrentes e conquistar vantagem competitiva 3. Explique como o risco moral pode afetar uma empresa. Quando uma pessoa vinculada à empresa (funcionário, diretor ou proprietário) age de modo antiético ou imoral, ela está afetando a imagem e os negócios da organização, uma vez que stakeholders passarão a percebê-la com desconfiança. 2 Inteligência competitiva 1. Explique, considerando o conteúdo e usando suas próprias palavras, o que é inteligência competitiva. Posteriormente, compare com o conceito dado e verifique se está de acordo com sua resposta. A inteligência competitiva faz parte de um sistema que utiliza a informação como insumo principal para produzir conhecimento útil às Resolução das atividades 143 empresas que buscam obter vantagem competitiva no segmento em que atuam. 2. Leia com atenção a seguinte frase: “Quantomais a empresa conhece seus concorrentes, mais aprende sobre si. Isso porque saberá quais forças e fraquezas possui para enfrentá-los”. Considerando o excerto dado, explique como o conhecimento sobre a concorrência e o autoconhecimento podem contribuir com o crescimento organizacional. Quanto mais a empresa conhece seus concorrentes, mais aprende sobre si. Isso porque saberá quais forças e fraquezas possui para enfrentá-los. Dessa maneira, ela aumenta a possibilidade de adquirir vantagem competitiva. 3. Com relação à construção de cenários, responda: o que subsidia a operacionalização dos procedimentos organizacionais futuros, a serem adotados em longo prazo pela empresa? O aprendizado, que é adquirido durante a construção de cenários. Ele vai subsidiar a operacionalização dos procedimentos organizacionais futuros a serem adotados em longo prazo pela empresa. 3 Inovação como estratégia competitiva 1. Descreva os três tipos de inovação (incremental, radical e disruptiva) e cite exemplos. Os três tipos de inovação são: • Incremental: é o tipo de inovação mais comum, funcionando como uma espécie de processo contínuo de otimizações e melhorias no produto ou serviço já existente. Exemplo: produtos de limpeza e higiene pessoal e produtos automotivos. • Radical: atinge mercados inexplorados, sendo rara em função da dificuldade e do risco envolvidos em seu desenvolvimento. Além disso, exige grandes investimentos em processos, tecnologias e marketing. Exemplo: automóvel Tesla. • Disruptiva: refere-se às inovações em produtos ou serviços que, em geral, começam em pequena escala e acabam substituindo completamente uma tecnologia de produto ou serviço para produtores e consumidores. Exemplo: Uber e Netflix. 144 Planejamento Estratégico 2. Explique por que o gestor deve optar pelo modelo de análise descritiva no Business Analytics para responder ao que está acontecendo na organização. Porque esse modelo tem uma visão diagnóstica da situação. O modelo de análise preditivo não deve ser utilizado, pois trata de determinar uma visão futurística da organização. Já o modelo prescritivo trata de prescrever soluções para a decisão do gestor. 3. Descreva o Business Performance Management, relacionando-o com a ação de abrir a janela estratégica de negócios. Business Performance Management é a gestão de desempenho de negócios. Refere-se à ação de abrir a janela estratégica de negócios, buscando novas relações no mundo exterior, na gestão de desempenho com desenhos de novos processos (eliminação de duplicidades), na aplicação de novas metodologias de gestão (tecnologia digital) e na definição de novos parâmetros de negócios que permitam monitorar com eficácia os resultados da empresa (melhores controles). 4. Explique por que devemos usar a expressão gamificação aplicada aos negócios, e não games aplicados aos negócios. A expressão correta é gamificação aplicada aos negócios, pois se trata da apropriação das técnicas e regras utilizadas nos games nos programas de aprendizagem das empresas, e não dos games em si. 5. Explique por que a metodologia do design thinking é diferente das demais metodologias de soluções de problemas organizacionais. Porque “provoca” a formação de equipes multidisciplinares para a solução do problema, exercita a empatia o tempo todo, incentiva a prototipação das soluções para que haja uma degustação pelos usuários e exige o feedback para “retrabalhar” a solução. 4 O líder estrategista 1. Dentro da teoria U, o que significa a frase “a mente é como um paraquedas: só funciona quando é aberta.”? Explique. Significa explorar a inteligência intelectual ou o quociente intelectual (QI) das pessoas. Isso nos permite ver com novos olhos, lidar com os números e fatos objetivos à nossa volta. Exemplificando, o momento exige muita tecnologia nos processos da organização, mente voltada para as novas regras de desenvolvimento de produtos com princípios Resolução das atividades 145 da economia circular e o uso de tecnologia limpa na fabricação dos produtos. 2. A competência de gestor do líder estrategista envolve também os cuidados com o nível de conhecimento e a habilidade das pessoas, devendo capacitá-las de modo a reduzir o gap organizacional. Comente as relações do gap organizacional com o nível de conhecimento e as habilidades das pessoas. O gap organizacional é o vazio existente entre o conhecimento e as habilidades das pessoas da organização e os seus objetivos estratégicos. Torna-se, assim, essencial que esse vazio (gap) existente seja reduzido com a gestão de um programa de capacitação e desenvolvimento do capital humano com a transferência de conhecimentos e habilidades voltados aos negócios da empresa. 3. Para o desenvolvimento de uma equipe de alta performance, utilizaremos como instrumento o grid gerencial. Descreva a função desse instrumento na formação de equipes de alta performance. Uma equipe de alta performance trabalha com pessoas com conhecimentos de processos corporativos com alto nível de tecnologia, alto nível de solidariedade humana e alto nível de visão global dos negócios. O grid gerencial é um instrumento de gestão que ajuda o líder a identificar em sua equipe pessoas com essas características. O grid gerencial é bidimensional formado pelas linhas X (horizontal) e Y (vertical), em uma escala de 1 a 9. O número 9 representa orientação máxima. O número 1 representa orientação mínima. Para compor, então, uma equipe de alta performance, deve-se atingir, na pesquisa feita com seus componentes, as orientações 9,9 – escalas máximas nos eixos de orientação para a produção/tecnologia e orientação para pessoas. 4. Os gestores das unidades de compras e finanças da empresa Vila Confecções Ltda. entraram em conflito devido à falta de entendimento quanto aos prazos de pagamentos aos fornecedores. Qual o tipo de conflito identificado e como deve ser classificado? Justifique. O conflito identificado é do tipo conflito interno. Trata-se de um conflito gerado internamente por um desentendimento dos gestores acerca de uma rotina do dia a dia da empresa, totalmente operacional. 146 Planejamento Estratégico 5. Comente e exemplifique a seguinte estratégia de negociação integrativa: “concentrar-se em interesses subjacentes, não em demandas atuais”. As demandas são o que cada pessoa quer da negociação [...] os interesses subjacentes representam o porquê por trás das demandas. Exemplo: duas irmãs brigam por uma laranja (a demanda). No entanto, se uma perguntasse à outra por que queria a laranja, elas teriam descoberto que uma queria comê-la e outra queria usar a casca para um projeto (interesses subjacentes). 5 Implementação de estratégias organizacionais 1. Há diversos exemplos de produtos da indústria de bebidas (cervejas e refrigerantes, por exemplo) que atingiram seu ponto de maturação. Exemplifique e classifique a posição deles na matriz BCG. Na indústria de bebidas, podemos tomar como exemplos a Coca-Cola ou a Brahma. O crescimento do mercado desses produtos é pequeno, mas são grandes geradores de caixa, sendo que já atingiram seu ponto de maturidade no mercado. Na matriz BCG são as vacas leiteiras de novos negócios. 2. Vivendo seu momento de crescimento, a empresa de turismo Passeios e Diversões Ltda ampliou seu portfólio para seus clientes, desenvolvendo o serviço de turismo radical. Tratando-se dos vetores de crescimento de Ansoff, descreva a estratégia adotada, indicando a qual quadrante ela pertence. A estratégia adotada é a que se refere ao desenvolvimento de produtos, porque, na análise da relação produto/mercado, o mercado permanece o mesmo, mas o serviço é novo, turismo radical. 3. As organizações compõem-se de vários setores e unidades de negócios, cada uma com sua própria estratégia. Como a ferramenta balance scorecard pode ser útil para que o desempenho organizacional seja superior à soma das partes? Nessa situação, a ferramenta BSC é útil, aopromover a sinergia organizacional dos vários setores e unidades de negócios, e torna-se o elo comum na integração do seu planejamento estratégico por meio das quatro perspectivas do balanced scorecard: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Estratégico Planejam ento Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Código Logístico 59653 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6705-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 5 3 Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Estratégico Planejam ento Ciro Antonio Fernandes Djair Pereira Código Logístico 59653 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6705-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 5 3