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Módulo Tributo e Segurança Jurídica SEMINÁRIO VI - REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA – HIPÓTESE TRIBUTÁRIA Questões 1. Que é regra-matriz de incidência tributária? Qual sua funcionalidade operacional no direito positivo? R = A regra-matriz de incidência tributária é uma estrutura que define os critérios necessários para que um tributo seja instituído e exigido. Através dela é possível antever o aspecto material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo de determinado tributo. É utilizada como instrumento para verificar se determinada situação do campo dos fatos se enquadra nos critérios estabelecidos pela legislação tributária para criar a obrigação de pagar determinado tributo. Sendo assim, a sua funcionalidade consiste em orientar a interpretação e a aplicação das normas tributárias de forma que, seguindo a regra-matriz, seja possível determinar a legalidade da cobrança do tributo. É uma forma de garantir segurança jurídica na cobrança do tributo. 2. Que é hipótese de incidência tributária? Qual sua função na composição da regra-matriz de incidência tributária? Há necessidade de um critério pessoal compor a hipótese da regra-matriz de incidência tributária? Por quê? R = A hipotese de incidência tributária trata-se da descrição abstrata do fato ou evento que gera o dever de pagar um determinado tributo. Sua função na composição da regra-matriz de incidência tributária é estabelecer quando a obrigação tributária deve surgir. O critério pessoal não é considerado parte da hipótese de incidência, será encontrado no critério consequente da regra-matriz de incidência tributária. No entanto, apesar de não compor diretamente a hipótese de incidência que é composta pelo critério material, especial e temporal, o critério pessoal é importante para identificar os sujeitos e para definir a relação jurídica que surge com o evento gerador. 3. Que é incidência? Descrever, com suas palavras, a fenomenologia da incidência tributária, diferenciando, se possível, incidência de aplicação do direito. R = Incidência tributária trata-se da norma jurídica tributária que define um fato capaz de gerar a obrigação de pagar determinado tributo. Por exemplo, a norma jurídica tributária define que a venda de produtos é o fato gerador do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS), a incidência ocorre no momento em que essa venda efetivamente acontece, gerando a obrigação de pagar o ICMS. Veja que, a incidência tributária ocorre sempre que um fato descrito na lei se realizar no campo prático, a aplicação do direito, por sua vez, é um ato de interpretação e aplicação pela autoridade responsável da norma jurídica ao caso concreto. 4. Carlos Alexandre Salomon Hoka prestou um serviço de pintor em um imóvel grande localizado no bairro Abikidab da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Recebeu pelo serviço prestado o valor de R$ 15 mil, o qual foi pago em dinheiro. Ele optou por não depositar em sua conta bancária e nem declarar em seu imposto de renda. Não obstante, sua colega de trabalho Alexandra Alves Orlando Magic tomou conhecimento do ocorrido, pois viu com os próprios olhos a entrega do dinheiro em mãos ao Carlos Alexandre e contou para o outro colega de trabalho deles, Enzo Celticus Leikerson, o que ocorreu. Pergunta-se, na situação descrita: (i) Qual é o evento? (ii) E o fato? (iii) E o “fato jurídico”? (iv) Carlos Alexandre cometeu uma infração tributária? (v) Qual é o papel das provas para a aplicação do direito? R = O evento é a prestação do serviço de pintua por Carlos no imóvel localizado no Rio Grande do Sul. O fato é a auferição da renda em razão do evento realizado. O fato jurídico, por sua vez, é a obrigação de declarar a renda obtida e pagar o imposto devido, se for o caso. Sim, entendo que Carlos Alexandre cometeu uma infração tributária ao não declarar a renda auferida. As provas, nesse caso, são importantes para o fim de comprovar a ocorrência do fato gerador e verificar eventual infração, bem como para garantir o direito do Carlos de se defender. As provas deverão, ainda, fundamentar tanto um auto de infração quanto uma defesa administrativa ou judicial do contribuinte. 5. Por que a expressão “fato gerador” é equívoca? Analisar os arts. 4º; 16, 105, 113, §1º, 114 e 144 do CTN e o acórdão do REsp n. 1.670.521 (Vide anexo I), explicando o sentido em que o termo “fato gerador” foi empregado em cada um desses textos jurídicos. R= A expressão "fato gerador" por vezes é considerada como equivocada visto que pode referir-se a diferentes significados. Há quem utilize a expressão para referir-se a hipótese de incidência tributária, há quem utilize a expressão para referir-se ao evento no campo dos fatos. Veja que, no art. 4º do CTN a expressão é utilizada como hipótese de incidência. "Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II - a destinação legal do produto da sua arrecadação." Já no art. 16 do mesmo diploma legal, a expressão é utilizada para referir-se ao evento no mundo dos fatos que gera a obrigação de pagar tributo. "Art. 16. Denomina-se obrigação principal a que surge em virtude da ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.” No art. 105 do CTN, por sua vez, a expressão é utilizada para referir-se ao evento concreto, semelhante ao art. 16 do mesmo diploma legal. "Art. 105. Salvo disposição de lei em contrário, os tributos são devidos independentemente de qualquer ato ou procedimento administrativo, desde que tenha ocorrido o fato gerador." No art. 113, §1º do CTN a expressão é utilizada, novamente, para referir-se ao evento concreto no mesmo dos fatos que gera o dever de pagar tributo. "Art. 113, § 1º. A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária." No art. 114 do CTN a expressão é utilizada para definir o conceito de fato gerador. "Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência." Por fim, no art. 144 do CTN a expressão é utilizada também para referir-se ao fato gerador. "Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada." Já no acórdão do REsp n. 1.670.521, a expressão é utilizada para definir em que momento surge o dever de pagar o imposto de transmissão (art. 35, I, do CTN). Os Ministros entenderam que a obrigação surge com a transferência da propriedade imobiliária, que somente se opera mediante o registro do negócio jurídico no ofício competente. 6. Identifique nos julgados cuja ementa está transcrita abaixo qual foi o critério da regra matriz de incidência tributária objeto de discussão. Para melhor desenvolvimento de sua resposta, sugere-se a leitura integral dos acórdãos: a) EMENTA: Recurso Extraordinário. Tributário. 2. Não incide Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) sobre embarcações (Art. 155, III, CF/88 e Art. 23, III e § 13, CF/67 conforme EC 01/69 e EC 27/85). Precedentes. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE 379572, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 11-04-2007, DJe-018 DIVULG 31-01-2008 PUBLIC 01-02-2008 EMENT VOL-02305-04 PP-00870). R = O critério da regra matriz de incidência tributária discutido nesse julgado foi o critério material no qual foi discutido se as embarcações se enquadram na definição de vículos automotores para fins de incidência do IPVA. O STF decidiu que o IPVA não incide sobre as embarcações visto que estas não se enquadram na definição constitucional de veículos automotores. b) EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. EXCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E COFINS. DEFINIÇÃO DE FATURAMENTO. APURAÇÃO ESCRITURAL DO ICMS E REGIME DE NÃO CUMULATIVIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Inviávela apuração do ICMS tomando-se cada mercadoria ou serviço e a correspondente cadeia, adota-se o sistema de apuração contábil. O montante de ICMS a recolher é apurado mês a mês, considerando-se o total de créditos decorrentes de aquisições e o total de débitos gerados nas saídas de mercadorias ou serviços: análise contábil ou escritural do ICMS. 2. A análise jurídica do princípio da não cumulatividade aplicado ao ICMS há de atentar ao disposto no art. 155, § 2º, inc. I, da Constituição da República, cumprindo-se o princípio da não cumulatividade a cada operação. 3. O regime da não cumulatividade impõe concluir, conquanto se tenha a escrituração da parcela ainda a se compensar do ICMS, não se incluir todo ele na definição de faturamento aproveitado por este Supremo Tribunal Federal. O ICMS não compõe a base de cálculo para incidência do PIS e da COFINS. 3. Se o art. 3º, § 2º, inc. I, in fine, da Lei n. 9.718/1998 excluiu da base de cálculo daquelas contribuições sociais o ICMS transferido integralmente para os Estados, deve ser enfatizado que não há como se excluir a transferência parcial decorrente do regime de não cumulatividade em determinado momento da dinâmica das operações. 4. Recurso provido para excluir o ICMS da base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS. (RE 574706, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 15-03-2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-223 DIVULG 29-09-2017 PUBLIC 02-10-2017) R = O critério da regra matriz de incidência tributária discutido nesse julgado foi o critério quantitativo no qual foi discutivo se o ICMS deve ser incluído na base de cálculo do PIS e da CONFIS. O STF decidiu que o ICMS não deve compor a base de cálculo para a incidência dessas contribuições. c) EMENTA Recurso extraordinário. Repercussão geral. Direito Tributário. ISS. Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma personalizada. Subitem 1.05 da lista anexa à LC nº 116/03. Constitucionalidade. Precedentes do Tribunal Pleno. 1. Recentemente, o Tribunal Pleno, no julgamento das ADI nºs 1.945/MT e 5.659/MG, consignou que a tradicional distinção entre software de prateleira (padronizado) e por encomenda (personalizado) não é mais suficiente para a definição da competência para a tributação dos negócios jurídicos que envolvam programas de computador em suas diversas modalidades. 2. Na mesma oportunidade, a Corte aduziu que o legislador complementar, adotando critério objetivo, buscou dirimir conflitos de competências em matéria tributária envolvendo softwares, estabelecendo, no subitem 1.05 da lista anexa à LC nº 116/03, que estão sujeitos ao ISS o licenciamento e a cessão de direito de uso de programas de computação. Pontuou-se, ademais, que, conforme a Lei nº 9.609/98, o uso de programa de computador no País é objeto de contrato de licença. 3. Ainda naquela ocasião, o Tribunal consignou que, associado a isso, não se pode desconsiderar o fato de que é imprescindível a existência de esforço humano direcionado para a construção de programas de computação, sejam eles de qualquer tipo, configurando-se obrigação de fazer, a qual também se encontra presente nos demais serviços prestados ao usuário, como no help desk, nas atualizações etc. Outrossim, asseverou o Tribunal haver prestação de serviço no modelo denominado Software-as-a-Service (SaaS). 4. Aplica-se ao presente caso a orientação firmada no julgamento das citadas ações diretas. 5. Foi fixada a seguinte tese para o Tema nº 590 de repercussão geral: “[é] constitucional a incidência do ISS no licenciamento ou na cessão de direito de uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma personalizada, nos termos do subitem 1.05 da lista anexa à LC nº 116/03”. 6. Recurso extraordinário não provido. 7. Os efeitos da decisão foram modulados nos termos da ata do julgamento. (RE 688223, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 06-12-2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-040 DIVULG 02-03-2022 PUBLIC 03-03-2022) R = O critério da regra matriz de incidência tributária discutido nesse julgado foi o critério material no qual foi discutido se o licenciamento ou a cessão do uso de software personalizado se enquadra como serviço sujeito ao ISS. O STF decidiu que é constitucional a incidência do ISS sobre o licenciamento ou cessão de uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma personalizada. d) TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS - ISS. DEFINIÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. DEDUÇÃO DOS GASTOS COM MATERIAIS EMPREGADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL. RECEPÇÃO DO ART. 9º, § 2º, b, DO DECRETO-LEI 406/1968 PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA FIRMADA POR ESTA CORTE. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (RE 603497 RG, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, julgado em 04/02/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-081 DIVULG 06-05-2010 PUBLIC 07-05-2010 EMENT VOL-02400-08 PP-01639). R = O critério da regra matriz de incidência tributária discutido nesse julgado foi o critério quantitativo o qual discutiu a definição da base de cálculo do ISS e quais os gastos na construção civil podem ser deduzidos. O STF decidiu que é constitucional deduzir os gastos com materiais empregados na construção civil da base de cálculo do ISS, conforme dispõe o art. 9º, §2º, alínea b, do Decreto-Lei 406/1968. e) IMPOSTO - VINCULAÇÃO A ÓRGÃO, FUNDO OU DESPESA. A teor do disposto no inciso IV do artigo 167 da Constituição Federal, é vedado vincular receita de impostos a órgão, fundo ou despesa. A regra apanha situação concreta em que lei local implicou majoração do ICMS, destinando-se o percentual acrescido a um certo propósito - aumento de capital de caixa econômica, para financiamento de programa habitacional. Inconstitucionalidade dos artigos 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º e 9º da Lei nº 6.556, de 30 de novembro de 1989, do Estado de São Paulo. (RE 183906, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 18-09-1997, DJ 30-04-1998 PP-00018 EMENT VOL-01908-03 PP-00463 RTJ VOL-00167-01 PP-00287) R = O critério da regra matriz de incidência tributária discutido nesse julgado foi o critério formal no qual restou discutido se a lei estadual pode vinculra receitas de impostos a um órgão, fundo ou despesa específica. O STF entendeu ser inconstitucional dispostivios de lei estadual que vinculam a receita de ICMS a um propósito específico, conforme vedado pelo disposto no art. 167, inciso IV, da Constituição Federal. image1.jpeg image2.jpg