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Seminário V TSJ - Segurança Jurídica e Processo - Coisa Julgada, Ação Rescisória e Precedentes em Matéria Tributária

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Módulo Tributo e Segurança Jurídica 
 
SEMINÁRIO V - SEGURANÇA JURÍDICA E PROCESSO: COISA 
JULGADA AÇÃO RESCISÓRIA E PRECEDENTES EM MATÉRIA 
TRIBUTÁRIA 
 
 
Questões 
1. Tomando o conceito fixado por Paulo de Barros Carvalho1 acerca do 
princípio da segurança jurídica: 
 
“dirigido à implantação de um valor específico, qual seja o de coordenar o 
fluxo das interações inter-humanas, no sentido de propagar no seio da 
comunidade social o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurídicos 
da regulação da conduta.” 
 
Pergunta-se: 
a) Que é segurança jurídica? Qual sua relevância? 
 
O tema em questão possui elevada relevância e, ainda atualmente, continua sendo 
objeto de constantes discussões. Para introduzir essa reflexão, é essencial destacar 
os ensinamentos do renomado Humberto Ávila2, que defende que o direito deve 
ser “compreensível, estável e previsível”. Segundo o autor, é indispensável que o 
direito apresente um mínimo de clareza e precisão. 
 
Nessa mesma linha, o professor Paulo de Barros Carvalho3 ensina que o direito é 
uma criação humana, constituindo uma linguagem capaz de transformar a 
realidade social. Trata-se, portanto, de um conjunto de normas jurídicas vigentes 
em determinado território. 
 
Diante disso, torna-se evidente que o direito tem como propósito orientar e regular 
as relações sociais, sendo a previsibilidade e a segurança elementos indispensáveis 
para o cumprimento dessa função. Sob essa ótica, é inconcebível que, em um 
Estado Democrático de Direito, sejam desrespeitados o ato jurídico perfeito, 
 
1. In Curso de direito tributário. 31ª edição. São Paulo: Noeses, 2021, p. 168. 
2 ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica. 5ª ed. São Paulo:Malheiros, 2019. 
3 O Princípio da Segurança Jurídica em Matéria Tributária, de Paulo de Barros Carvalho. 
 
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especificamente no artigo 6º e seus parágrafos, que definem ato jurídico perfeito, 
direito adquirido e coisa julgada, nos seguintes termos: 
 
Art. 6º A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Considera-se ato jurídico perfeito aquele que já se consumou 
sob a égide da lei vigente ao tempo em que se realizou. 
§ 2º São considerados adquiridos os direitos que seu titular, ou 
quem o represente, possa exercer, bem como aqueles cujo 
exercício tenha termo pré-fixado ou condição previamente 
estabelecida, não sujeita à modificação por vontade alheia. 
§ 3º Dá-se o nome de coisa julgada ou caso julgado à decisão 
judicial da qual não caiba mais recurso. 
 
Além disso, ao analisarmos o Código Tributário Nacional (CTN), percebemos 
dispositivos que reforçam a centralidade da segurança jurídica, funcionando, de 
forma geral, como parâmetro de proteção ao contribuinte. O princípio da 
legalidade, por exemplo, está claramente consagrado no artigo 9º do CTN, que 
veda aos entes federativos instituir ou aumentar tributos sem previsão legal, 
princípio este também presente nos artigos 5º, inciso II, e 150, inciso I, da 
Constituição Federal de 1988. 
 
Outro aspecto relevante é a consagração da irretroatividade como regra 
fundamental, manifestada nos artigos 105, 106, 116 e 146 do CTN, bem como nos 
artigos 5º, inciso XXXVI, e 150, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal. 
 
No âmbito processual, a busca pela segurança jurídica também se manifesta. O 
Código de Processo Civil (CPC) reflete essa preocupação, especialmente no artigo 
926, que impõe aos tribunais o dever de manter a jurisprudência estável, íntegra e 
coerente. Da mesma forma, o artigo 976 do CPC trata do incidente de resolução 
de demandas repetitivas, instrumento criado para assegurar a uniformidade e 
previsibilidade das decisões judiciais. Tais dispositivos visam, claramente, mitigar 
a falta de isonomia nos julgamentos e garantir tratamento equânime entre os 
jurisdicionados. 
 
Diante desse panorama, é evidente que o princípio da segurança jurídica permeia 
não apenas as normas aqui analisadas, mas também diversas outras no 
ordenamento jurídico, consolidando-se como pilar essencial sustentado pela nossa 
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Constituição Federal. 
 
b) As prescrições do CPC/15 voltadas à estabilização da jurisprudência 
vêm ao encontro da realização da segurança jurídica (vide arts. 9º, 10, 926, 
535, §§ 5º, 6º, 7º e 8º, 927 todos do CPC/15) em hipóteses como a de mudança 
de orientação de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, como, por 
exemplo, ocorreu no caso do direito à manutenção do crédito de ICMS na 
hipótese de saída de mercadorias com redução de base de cálculo (Vide anexos 
I e II)? 
 
Quando tratamos da seara tributária, ao abordarmos o princípio da segurança 
jurídica, é inevitável refletir sobre o intenso debate que envolve os efeitos 
decorrentes de eventuais alterações na jurisprudência. Afinal, essas mudanças 
fazem parte da própria dinâmica do sistema jurisdicional, estando sempre 
presentes na sua essência. 
 
O Código de Processo Civil, por sua vez, reforçou a importância da vinculação aos 
precedentes, buscando não apenas assegurar a isonomia, mas também conferir 
maior celeridade à atividade jurisdicional, especialmente diante do expressivo 
volume de demandas repetitivas. Esse mecanismo, portanto, tem como objetivo 
promover a uniformização da jurisprudência. 
 
Contudo, situações que envolvem a alteração do entendimento de um Tribunal, 
como a hipótese apresentada no enunciado da questão, são sempre sensíveis e, 
embora possam gerar insegurança, muitas vezes se revelam necessárias. Isso, 
porém, desde que o novo entendimento se mostre claramente mais adequado e 
coerente do que aquele anteriormente adotado. É fundamental que essas mudanças 
sejam conduzidas com cautela, sempre em respeito a princípios basilares como a 
segurança jurídica e a boa-fé objetiva. 
 
Ainda assim, mesmo diante da superação de uma tese anterior, é imprescindível 
preservar institutos essenciais, como o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada, que garantem a estabilidade das relações jurídicas. 
 
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Os Anexos I e II ilustram precisamente essa mudança de entendimento por parte 
do Tribunal. No primeiro caso, através do RE 161.031, o Supremo Tribunal 
Federal entendeu que a redução do valor da base de cálculo do ICMS não enseja, 
sob a ótica constitucional, a vedação à compensação do imposto recolhido na etapa 
anterior. Isso porque as disposições das alíneas “a” e “b” do inciso II do §2º do 
artigo 155 da Constituição Federal aplicam-se apenas às hipóteses de isenção ou 
não incidência, as quais não se confundem com o benefício fiscal discutido. 
 
Por outro lado, no segundo caso, analisado no RE 174.478, o STF adotou um 
posicionamento diverso, concluindo que, nas situações de isenção fiscal parcial, 
deve ser realizado o estorno proporcional dos créditos, especialmente quando os 
insumos adquiridos para industrialização resultam em saídas tributadas com base 
de cálculo reduzida. 
 
2. Jurisprudência, precedente e julgamento de caso repetitivo são 
utilizados como termos sinônimos no CPC/15? 
 
No desenvolvimento desse tema, é essencial destacar uma valiosa lição trazida por 
Fredie Didier Jr., que leciona: 
 
“À luz das circunstâncias específicas envolvidas na causa, 
interprestam-se os textos legais (latu senso), identificando a 
norma geral do caso concreto, isto é, a ratio decidendi, que 
constitui o elemento nuclear do precedente. Um precedente, 
quando reiteradamente aplicado, se transforma em 
jurisprudência, que, se predominar em tribunal, pode dar ensejo 
à edição de um enunciado na súmula da jurisprudência deste 
tribunal (...)”.4 
 
Ao aprofundarmos a análise dos conceitos de “jurisprudência”, “precedente” e 
“julgamento de casos repetitivos”, torna-se evidente que há, por vezes,uma 
confusão na forma como o legislador emprega esses termos, muitas vezes tratando-
os como sinônimos de forma inadequada. 
 
 
4 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito 
processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, 
precedente, coisa julgada e antecipação da tutela. Salvador: Jus Podivm, 2015. 
 
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De maneira ampla, pode-se compreender a jurisprudência como um conjunto de 
decisões judiciais que seguem uma mesma linha de entendimento, possuindo, 
portanto, caráter mais geral e abstrato. 
 
Por sua vez, o precedente corresponde a uma decisão utilizada como referência 
para resolver casos futuros. É importante observar que, quando o precedente não 
possui efeito vinculante, ou seja, quando se aplica restritamente às partes do 
processo, não há obrigatoriedade de sua observância pelo Judiciário. Nesse 
cenário, ele se limita a uma ferramenta de reforço argumentativo, tanto por 
magistrados quanto por advogados. 
 
Por fim, o julgamento de casos repetitivos surge como instrumento processual que 
confere caráter vinculante a determinados precedentes, com o claro objetivo de 
promover a uniformização da jurisprudência sobre temas específicos. Esse 
procedimento ocorre por meio da instauração do incidente de resolução de 
demandas repetitivas, conforme disposto no Código de Processo Civil. 
 
Exponha o alcance e o conteúdo de cada um desses três termos. Considerando 
sua resposta a essa primeira parte da pergunta, responda: 
a) Jurisprudência, precedente e julgamento de caso repetitivo são normas 
jurídicas? Se sim, de que tipo? 
 
Em alinhamento com o que foi anteriormente exposto, observa-se que, muitas 
vezes, tanto a jurisprudência quanto o precedente funcionam apenas como 
instrumentos de técnica argumentativa, sem possuir, necessariamente, caráter 
vinculante para outros órgãos jurisdicionais. Por essa razão, não se pode considerá-
los, por si só, como normas jurídicas. 
 
Por outro lado, os julgamentos de casos repetitivos, cuja disciplina está 
solidamente prevista no Código de Processo Civil, possuem natureza distinta. 
Nesses casos, a decisão proferida no processo paradigma adquire status de norma 
geral e abstrata, convertendo-se em precedente vinculante. Dessa forma, impõe-se 
a observância obrigatória por parte dos demais órgãos do Poder Judiciário sempre 
que estiverem diante de controvérsias que apresentem idêntica situação fática e 
jurídica. 
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b) A obrigação positivada no art. 927 do CPC/15 vincula os julgadores à 
jurisprudência, (e/ou) ao precedente, (e/ou) ao julgamento de caso repetitivo 
(e/ou) ao julgamento com repercussão geral? Esse art. 927 do CPC/15 é 
instrumento hábil para garantia da segurança jurídica? (Vide arts. 926, 927, 
988, IV do CPC/15). 
 
O Código de Processo Civil de 2015 introduziu dispositivos importantes com o 
propósito de ampliar ainda mais a segurança jurídica, especialmente por meio da 
uniformização da jurisprudência. 
 
Nesse contexto, os artigos 926 e 927 do CPC demandam do intérprete uma atenção 
redobrada aos precedentes, atribuindo significativa relevância ao entendimento 
dominante adotado por determinado tribunal sobre temas e situações fáticas 
específicas. 
 
Além disso, os julgadores são compelidos a observar as normas previstas nos 
incisos I a V do artigo 927, visando garantir que a jurisprudência se mantenha 
estável, íntegra e coerente ao longo do tempo. 
 
3. Uma lei tributária municipal é considerada inconstitucional por uma 
Associação que possui representação em âmbito estadual. Quais seriam os 
caminhos para a discussão da questão com efeitos erga omnes sem que seja 
necessária a discussão individual por cada contribuinte? Analise as opções 
seguintes motivando as razões do cabimento ou não e, no último caso, o foro 
de ajuizamento: 
a) Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI: 
 
Esse tema carece de previsão legal específica, embora tenha sido objeto de 
frequentes debates no âmbito do Supremo. 
 
É importante destacar que a legislação municipal somente poderá ser submetida à 
fiscalização do STF quando for analisada no controle difuso de constitucionalidade 
ou por meio de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). 
A Constituição Federal, em seu artigo 102, estabelece que apenas os atos 
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normativos federais ou estaduais podem ser questionados por meio de Ação Direta 
de Inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal. 
 
Dessa forma, entende-se que não é admissível a propositura de ADI contra leis 
tributárias de âmbito municipal. 
 
b) Mandado de Segurança Coletivo: 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXX, alíneas “a” e “b”, 
estabelece a legitimidade para a impetração do Mandado de Segurança Coletivo, 
que pode ser promovido por partido político, organização sindical, entidade de 
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 
um ano. 
 
Nesse mesmo sentido, a Lei nº 12.016/2009, em seu artigo 21, reconhece essa 
legitimidade para assegurar a defesa dos interesses legítimos relacionados à 
finalidade partidária, ou por meio de organização sindical, entidade de classe ou 
associação. 
 
Entretanto, a Súmula 266 do Supremo Tribunal Federal impede a declaração de 
inconstitucionalidade por meio do Mandado de Segurança, razão pela qual não se 
admite o uso desse instrumento constitucional para questionar lei em tese. 
 
Além disso, os efeitos de eventual decisão seriam restritos às partes envolvidas, 
atingindo apenas os associados da entidade impetrante, já que o foro competente 
para o ajuizamento seria estadual. 
 
c) Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental: 
 
Conforme o artigo 1º da Lei nº 9.882/1999, a Arguição de Descumprimento de 
Preceito Fundamental (ADPF) deve ser proposta perante o Supremo Tribunal 
Federal, tendo como objetivo evitar ou reparar lesão a preceito fundamental 
decorrente de ato do Poder Público. 
 
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No parágrafo único desse mesmo artigo, está previsto que a ADPF também é 
cabível quando a controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, 
estadual ou municipal for relevante, incluindo aqueles anteriores à Constituição 
vigente. 
O inciso I desse parágrafo estabelece que os legitimados para propor ADPF são os 
mesmos autorizados a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI). 
 
Assim, de forma geral, entende-se que as associações, por não estarem incluídas 
no rol previsto no artigo 103 da Constituição Federal de 1988, não possuem 
legitimidade para propor ADPF. 
 
d) Ação popular: 
 
A Lei nº 4.717/1965 regula a ação popular, conferindo a qualquer cidadão o direito 
de propor essa ação para anular ou declarar a nulidade de atos que causem prejuízo 
ao patrimônio público nas esferas federal, estadual ou municipal, abrangendo ainda 
autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com recursos 
públicos. 
 
Vale destacar que a ação popular representa uma forma de ativismo popular, 
possibilitando à população o exercício direto da fiscalização sobre o poder público. 
 
Entretanto, no presente caso, entende-se que a associação não detém legitimidade 
para ajuizar ação popular, pois tal instrumento é cabível apenas para contestar atos 
lesivos concretos, não sendo adequado para o controle abstrato da legislação. 
 
e) Ação Civil Pública: 
 
A ação civil pública é um instrumento constitucional destinado à defesa de 
interesses difusos e coletivos, regulada pela Lei nº 7.347/85. Conforme o artigo 5º, 
inciso V, alínea “a”, dessa lei, associações podem propor a ação civil pública desde 
que estejam constituídas há pelo menos um ano, conforme a legislação civil. 
 
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No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem flexibilizado essa exigência 
temporal, admitindo o ajuizamento da ação mesmo antes de completar um ano, 
desde que o interesse social e a dimensão do dano sejam comprovados. 
 
Quanto à possibilidade de questionar a constitucionalidade por meio da ação civil 
pública, o Supremo Tribunal Federal (STF) admite esse manejo pela via difusa, 
considerando-o um instrumento de controle incidental de constitucionalidade. 
Entretanto, a alegação de inconstitucionalidade deve ser tratada como questão 
prejudicial, ou seja, um aspecto necessário para a solução do conflito principal da 
demanda. 
 
f) Ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária: 
 
Essa ação terá efeitos inter partes e deverá ser julgada de forma individual, perante 
o foro de domicílio do contribuinte, conforme a competência estabelecida pelo 
Código de Processo Civil (CPC). A inconstitucionalidade da lei municipal deverá 
ser suscitada pela via difusa, de forma incidental. 
 
4. Pode o Supremo Tribunal Federal, ao julgar Recurso Extraordinário 
que trate de matéria tributária modular os efeitos de decisão proferida em 
controle difuso de constitucionalidade de forma a lhe dar efeitos ex nunc, 
proibindo com efeitos erga omnes a repetição do indébito tributário dos 
valores recolhidos até a data do julgamento? Há norma que preveja a 
modulação de efeitos em controle de constitucionalidade em matéria 
tributária em hipótese como a apresentada nesta pergunta? Pode haver 
modulação de efeitos por meio da edição de Súmula Vinculante? (Vide no 
acordão proferido no RE 556.664 - parte afeta à modulação de efeitos – 
ementa e parte final da discussão em Plenário – e a Súmula Vinculante 8) 
(Vide anexos III e IV) 
 
A Lei 9.868/99 dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de 
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o STF. 
 
O art. 27 da referida lei estabeleceu, inicialmente, a modulação temporal dos 
efeitos das decisões de inconstitucionalidade, possibilitando sua aplicação por 
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meio de ADI e ADC. No mesmo ano, por meio da Lei 9.882/99, em seu art. 11, 
possibilitou tal aplicação também por meio de ADPF. Tais disposições foram 
criadas para solucionar casos rodeados de insegurança jurídica e de excepcional 
interesse social motivados frente a autênticas expectativas normativas 
prejudicadas pelo controle de constitucionalidade. 
 
Em regra, no que se refere ao controle difuso, é que os efeitos sejam inter partes, 
de modo ex tunc. Em que pese a falta de previsão legal dispondo desse 
posicionamento, alguns ministros do Supremo compactuam com esse 
entendimento, como é o caso do Min. Gilmar Mendes: 
 
“Desse modo, não há que se falar em incompatibilidade entre a 
fiscalização difusa e a modulação de efeitos. Isso porque a 
limitação de efeitos apresenta base constitucional, porquanto 
reclama a ponderação de interesses entre o princípio da nulidade 
e o da segurança jurídica, ambos constitucionalmente 
assegurados, o que propõe a sua utilização no modelo de 
jurisdição constitucional em sua totalidade."5 
 
Ao se falar em modulação em matéria tributária, a questão se torna ainda mais 
complexa, pois, em inúmeras vezes estarão envolvidos pedidos de restituição de 
tributos que foram pagos a maior ou indevidamente. O problema está, quando no 
julgamento de casos como esse, o STF, ao aduzir a modulação, resta por usar 
justificativas consequencialistas, primordialmente em litígios que abrangem 
bilhões de reais e, com isso, em nosso entender, resta por incentivar a produção de 
leis inconstitucionais. 
 
Entretanto, em que pese verificarmos que no STF está repleto de precedentes que 
não admitiram a modulação de efeitos ex nunc em julgamentos de repetição de 
indébito, ainda podemos constatar que o Tribunal não tem esse entendimento 
consolidado, sobretudo quando se refere ao controle difuso. 
 
Quanto à possibilidade de haver modulação de efeitos por meio da edição de 
Súmula Vinculante, entende-se pela impossibilidade, mesmo que a orientação seja 
 
5 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: 
Estudo de direito constit ucional. São Paulo: Saraiv a Jur, 2012. 
 
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pela verificação do teor do julgamento do caso concreto, ao passo que para ser 
validada a modulação, deverá haver de forma expressa a deliberação dos ministros. 
 
5. Um contribuinte recolheu determinado tributo a partir de uma base de 
cálculo prevista em lei. A instrução normativa regulamentadora (IN n. 01/18) 
esclareceu que, na base de cálculo, não deveria ser considerado o valor do 
transporte pago a terceiro (frete). Um ano depois, a IN n. 03/23 esclareceu que 
o frete pago a terceiro integraria a base de cálculo do tributo em questão. 
Nesse contexto, o contribuinte consultou você questionando a necessidade de 
complementação do recolhimento durante a vigência da IN n. 01/18. O que 
você responderia? Analise os arts. 100, 103 e 146 do CTN na resposta. (Vide 
anexo V) 
 
Entendo que a lei não pode retroagir para prejudicar o contribuinte. Além disso, 
não considero que existam leis puramente interpretativas. Por isso, quando a 
autoridade administrativa altera o critério de aplicação de uma norma, essa 
mudança só pode alcançar fatos que ocorrerem depois da alteração. Aplicá-la a 
situações passadas viola o princípio da irretroatividade. 
 
Com base na análise dos artigos citados no enunciado da questão, oriento que o 
contribuinte não deve complementar o recolhimento do tributo durante a vigência 
da IN nº 01/02. Já a IN nº 03/03, que modificou a base de cálculo, só pode produzir 
efeitos a partir da data de sua publicação. O artigo 146 do Código Tributário 
Nacional é claro ao afirmar que “A modificação introduzida, de ofício ou em 
consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos 
adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente 
pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador 
ocorrido posteriormente à sua introdução”. 
 
Isso confirma que a nova instrução normativa só pode incidir sobre fatos geradores 
ocorridos após sua edição. 
 
6. A empresa XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. obteve 
decisão favorável transitada em julgado no sentido da inconstitucionalidade 
de determinado tributo. Cinco anos depois, o Supremo Tribunal Federal 
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decidiu, em controle abstrato de constitucionalidade, que referido tributo é 
constitucional. Nesse contexto, pergunta-se: 
a) a XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. deve passar a pagar 
o tributo em pauta (considere em sua resposta duas possibilidades: tratar-se 
de tributo recolhido de forma continuada e tributo não recolhido de forma 
continuada)? 
 
A XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. deve passar a pagar o tributo 
em pauta caso ele seja de exigência continuada, como nos casos de contribuições 
mensais ou impostos periódicos. Isso decorre da tese firmada no julgamento do RE 
949.297, que determinou que decisões do Supremo em controle concentrado de 
constitucionalidade superam a coisa julgada em matéria tributária nas relações 
jurídicas de trato continuado, a partir do julgamento da decisão definitiva pelo 
STF. 
Assim, mesmo havendo decisão anterior transitada em julgado que reconhecia a 
inconstitucionalidade do tributo, a XYZ deverá voltar a recolhê-lo. No entanto, se 
o tributo não for de trato continuado, por exemplo, sendo de fato gerador único ou 
isolado, a coisa julgada permanece hígida, uma vez que se trata de relação jurídica 
exaurida. Nesses casos, não há obrigação de retomar o pagamento. 
 
b) a XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. deve pagar o valorcorrespondente aos últimos 5 anos de tributo não recolhido? 
 
A XYZ não deve pagar os valores correspondentes aos últimos cinco anos em que 
não recolheu o tributo, pois nesse período estava amparada por uma decisão 
judicial com trânsito em julgado que lhe assegurava o direito à não incidência. 
 
O STF deixou claro, ao modular os efeitos da decisão nos julgados dos anexos, 
que o novo entendimento não tem eficácia retroativa, ou seja, só produz efeitos a 
partir da data da decisão no controle abstrato, não podendo alcançar o passado 
garantido pela coisa julgada. Ainda que a decisão do STF tenha declarado a 
constitucionalidade do tributo, a XYZ agiu amparada em decisão judicial válida, 
sendo, portanto, vedada a cobrança retroativa, conforme também reforçado no 
julgados, que tratou da modulação de efeitos das decisões em controle concentrado 
com impacto em decisões individuais já transitadas em julgado. 
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c) Caso a XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. tenha que pagar 
o tributo após o entendimento fixado pelo STF em controle concentrado, não 
haverá violação ao princípio da segurança jurídica e à coisa julgada? 
 
Embora possa haver argumento no sentido de que a exigência do tributo após anos 
de desoneração judicial possa representar violação ao princípio da segurança 
jurídica e à coisa julgada, o STF firmou a tese de que não há violação nesses casos, 
desde que a nova decisão decorra de controle concentrado de constitucionalidade 
e envolva relação jurídica de trato continuado. 
 
Isto preserva a unidade da Constituição e a isonomia tributária entre contribuintes. 
 
Contudo, sob um olhar crítico, é possível afirmar que tal orientação relativiza 
sobremaneira a coisa julgada material, especialmente porque o contribuinte 
confiou na estabilidade da decisão judicial definitiva. Essa flexibilização do 
alcance da coisa julgada em matéria tributária pode comprometer a previsibilidade 
e a estabilidade nas relações entre fisco e contribuinte, gerando insegurança para 
quem baseou sua conduta em decisões firmes do Judiciário. 
 
d) Se a XYZ Comércio e Distribuição de Inteligência Ltda. não tiver que 
pagar o tributo após o entendimento fixado pelo STF em controle 
concentrado, não estará em vantagem competitiva em relação às demais 
empresas do mercado? 
 
Caso a XYZ não tenha que pagar o tributo, mesmo após o STF declarar sua 
constitucionalidade, estará sim em situação de vantagem competitiva indevida 
frente a seus concorrentes, que recolhem regularmente o tributo. 
 
Diante disso, entendo que esse é justamente um dos fundamentos para a tese dos 
julgados mencionados, a necessidade de igualdade tributária e isonomia 
concorrencial. A manutenção da eficácia de decisões individuais contrárias à 
decisão do Supremo em sede de controle concentrado implicaria tratamento 
desigual e quebra da concorrência leal, valores que a Constituição Federal tutela 
de forma expressa.

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