Prévia do material em texto
Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Aluno: Mateus Padovan Siviero SEMINÁRIO III - DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA Leitura básica • CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. São Paulo: Noeses. Segunda Parte, Capítulo 2, Itens 2.9.8 e 2.9.9. • CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo: Noeses, Itens 8 e 9, Capítulo XIV. Leitura complementar • CARVALHO, Aurora Tomazini de. Regras para fixação do critério temporal das normas de decadência e prescrição no direito tributário. In: CARVALHO, Aurora Tomazini (Org.). Decadência e prescrição em direito tributário. São Paulo: MP. • PEIXOTO, Daniel Monteiro. Prescrição intercorrente e a lei complementar 118/05. In: II Congresso Nacional de Estudos Tributários. São Paulo: Noeses. • ZOMER, Silvia. O tempo jurídico e a homologação tácita. São Paulo: Noeses, Capitulo 4. • SILVA, Renata Elaine. Curso de decadência e prescrição no direito tributário – regras do direito e segurança jurídica. São Paulo: Noeses. Livro II, capítulo VI a X. • TOMÉ, Fabiana Del Padre. Restituição do indébito tributário nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação e o art. 3º da lei complementar n. 118/05. In: CARVALHO, Aurora Tomazini de (Org.). Decadência e prescrição em direito tributário. São Paulo: MP, 2006. • SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. São Paulo: Max Limonad. Capítulos 8, 9 e 10. Questões 1. A respeito da “decadência” no âmbito do direito tributário. (a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as diferentes acepções do conceito “decadência”. RESPOSTA: Decadência, em termos gerais, é a perda do direito do fisco de constituir o crédito tributário em razão do lapso de tempo decorrido para o lançamento do tributo. O prazo, está previsto nos artigos 150, §4º e 173 do CTN, artigos que narram sobre os lançamentos por homologação, onde a atividade do contribuinte é verificada e então, se necessário, e o lançamento complementar é realizado, seja nos lançamentos de ofício, onde atividade do lançamento está a cargo do fisco, sem a participação do contribuinte. Ainda, a decadência opera-se também em relação a inércia do contribuinte num determinado tempo, qual deixa de ingressar com a ação de repetição de indébito (art. 168 do CTN), perdendo, portanto, o direito de reaver os tributos pagos indevidamente. Em complemento a questão, com base nas bibliografias indicadas, temos que a doutrinadora, Aurora Tomazini, leciona sobre a decadência; Em suas palavras, a professora narra que o conceito de decadência pode ser analisado sob três perspectivas: (i) numa instância normativa, enquanto norma jurídica que compõe o sistema do direito positivo: norma cuja hipótese descreve o fato do não exercício de um direito dentro de certo período de tempo e o consequente prescreve a perda deste direito por seu titular; (ii) numa instância factual, como acontecimentos do mundo, relatado em linguagem competente: fato jurídico, consubstancia-se no relato em linguagem competente de um acontecimento social (a inércia do titular do direito durante um determinado período de tempo); (iii) numa instância efectual, como efeito jurídico atribuído a tal acontecimento: efeito jurídico, consubstancia-se na perda urídica de um direito subjetivo por seu titular. Já nas lições do professor Paulo de Barros Carvalho, o doutrinador descreve a decadênca em 06 (seis) lições para conceituá-la: (i) “decadência” como norma geral e abstrata; (ii) como a hipótese dessa norma, descrevendo o termo final de um lapso de tempo; (iii) como o consequente da norma geral e abstrata, tipificando o efeito extintivo; (iv) como norma individual e concreta que constitui o fato de haver decorrido o tempo referido na regra geral e abstrata, no mesmo instante em que determina, no consequente, o efeito fulminante de desconstituir uma relação existente; (v) como o antecedente desta última norma individual e concreta; (vi) tão só como o consequente, também desta última regra. (b) É correta a afirmação de que a decadência opera automática e infalivelmente? Justifique sua resposta. REPOSTA: Ao que tange a questão, como não há previsão expressa em disposição legal sobre a interrupção de prazos decadenciais, pode se admitir que a decadência se opera automática e infalivelmente. Contudo, existe certos casos de operação que o prazo decadencial é renovado por determinado ato, ou do fisco ou do contribuinte, ampliando ou reduzindo o direito de lançamento daquele tributo, conforme exposto no texto normativo do artigo 173, II do CTN, que dispõe acerda de novo prazo decadencial de 5 anos para substituição do lançamento, em virtude de vício formal, a contar da data da decisão definitiva anulatória. Outro exemplo, seria a existência de “medida preparatória indispensável ao lançamento” que traz novo marco de início,antecipando a contagem de decadência para a data da notificação desta medida. (c) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do CTN), pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta. RESPOSTA: Em atenção ao texto normativo exposto pelo legislador nos artigos 150, §4 e 173 do CTN, os efeitos da decadência se operam no sentido de extinguir o direito do fisco em constituir o lançamento, estando arrolada como causa extintiva do crédito tributário. Neste aspecto, o doutrinador Paulo de Barros Carvalho descreve: “O efeito extintivo previsto é o do desaparecimento do direito da Fazenda, consistente em exercer sua competência administrativa para constituir o crédito tributário. Reconhecido o fato da decadência, sua eficácia jurídica será a de fulminar a possibilidade de a autoridade administrativa competente realizar o ato jurídico- administrativo do lançamento.” (d) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar, (ii) prescrição do direito do Fisco cobrar o crédito tributário, (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário e (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário. REPOSTA: A decadência do direito de lançar, é o fato que extingue o direito do fisco, texto normativo do art. 156, V do CTN, de constituir o crédito tributário em 05 (cinco) anos a contar da data do fato gerador do tributo nos casos dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, conforme art. 150, §4º do CTN; Tem-se também a decadência oriunda do primeiro dia do exercício seguinte ao que poderia ter sido lavrado nos casos de lançamento de ofício ou de dolo, fraude ou simulação, confomre explana o art. 173 do CTN; E por fim, ainda contados 5 (cinco) anos da data de decisão anulatória de lançamento por vício formal. Já ao que diz respeito a prescrição do direito do fisco de cobrar o crédito tributário, extingue o direito do fisco de exigir o crédito tributário definitivamente constituído, de inscrevê-lo em dívida ativa, para ajuizar, mover ação de execução contra o contribuinte, nos termos do artigo 156, V e artigo 174 do CTN; A decadência do direito de o contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário, extingue o direito do contribuinte de ingressar com a ação de repetição de indébito na via administrativa, a partir da extinção do crédito tributário pelo pagamento indevido (art. 165, I do CTN) ou, na data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou transitar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória (art. 165, II e art. 168, I do CTN), em outras palavras, a perda do direito de pleitear na via administrativa; A prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário é a perda do direito do contribuinte de ingressar com ação anulatória no judiciário referente à decisão administrativa que denegou a restituição (art. 169 do CTN), sendo, portanto, a perda do direito de pleitear na via judicial. 2. Conjugando o art. 146, III,“b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos, responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária, podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de créditos tributários? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexos I e II). RESPOSTA: A Lei ordinária Federal, Estadual ou Municipal, não poderá estabelecer prazo diverso do constante no texto normativo do Código Tributário Nacional, para a decadência e prescrição do crédito tributário, esta questão é efetiva, posto ao fato de estrita observância ao art. 146, III, b da Constituição Federal/88. Adeamis, observando-se que o CTN foi recepcionado com status de Lei Complementar, tendo em vista que a ressalva constitucional se refere apenas a que seja por este tipo de lei, poderá, portanto, ser disposto outro prazo pelos Estados e Municípios, somente em casos que seja realizado a alteração através de lei complementar para aqueção específica daquele prazo, em razão da competência concorrente prevista no art. 24, I da CF/88. A decisão exposta no anexo II, trata da Súmula Vinculante 8 do STF, a qual trata especificamente da inconstitucionalidade da lei ordinária que pretendeu estabelecer prazo diverso de prescrição e decadência, com prazo superior ao estabelecido pelo CTN. Ademais, traz no texto normativo do Código Tributário Nacional como parâmetro (por ser Lei Complementar existente que dispõe sobre prazos de decadência e prescrição), mas não se manifesta quanto a impossibilidade de que seja editada outra Lei no “modo” complementar por entes da federação, que possa alterar o prazo prescicional entabulado pelo CTN. 3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? E no caso de fraude? Se não houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? (Vide anexos III, IV e V) REPOSTA: Para os lanaçamentos de ofício, o prazo decadencial inicia-se no primeiro dia do exercício seguinte ao que poderia ser efetuado, conforme denota-se do art. 173, I do CTN, não há, no caso em tela, a atividade de autolançamento pelo contribuinte, ficando a cargo somente do fisco. Já para os os tributos sujeitos ao lançamento por homologação, inicia-se o prazo a partir da data do fato gerador do tributo, conforme explana o art. 150, §4º do CTN, neste caso, há atividade do sujeito passivo, sujeito a conferência e homologação posterior pelo fisco, expressa ou tácita. Em caso de não ter qualquer tipo de intervenção do fisco, ou seja, o contribuinte não levar ao conhecimento do fisco sua atividade/declaração, o prazo é prorrogado para o primeiro dia do exercício seguinte (art. 173, I do CTN), bem como expõe a Súmula nº 555 do STJ, vejamos: “Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.” Insta salientar que, não é o pagamento que está sendo homologado, mas sim a atividade/declaração a ser realizada pelo contribuinte. Este entendimento é logrado no caput do art. 150 do CTN Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. Desta feita, nos casos de dolo, fraude ou simulação, o prazo se conta a partir do primeiro dia do exercício seguinte, ainda que o contribuinte tenha efetuado declaração ou pagamento, pois é caso excludente da situação descrita no art. 150, §4º do CTN. 4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por “medida preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de antecipar o termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de causa de interrupção do prazo decadencial? RESPOSTA: Para resposta da questão ora exposta, deve-se atentar ao questionário que tange a “medida preparatória indispensável ao lançamento”, pois o texto exposto, está previsto no parágrafo único do art. 173 do CTN, o qual pode ser entendido como qualquer ato inaugural em que o contribuinte toma ciência de que está sendo fiscalizado, fiscalização está que incide sobre determinado período e matéria, ou mesmo a notificação para que apresente livros ou documentos. A explo de tal circunstância, temos o artigo 7º do Decreto nº 70.235/72, qual expõe: Art. 7º O procedimento fiscal tem início com: (Vide Decreto nº 3.724, de 2001) I - o primeiro ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto; II - a apreensão de mercadorias, documentos ou livros; III - o começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada. Deste modo, nos ensinamento de Paulo de Barros Carvalho: “... o art. 173, parágrafo único, do CTN traz outro termo inicial nas hipóteses em que há ciência, pelo particular, de algum fato ou medida preparatória indispensável ao lançamento. Neste caso, ocorrerá antecipação do termo inicial para o decurso do prazo decadencial , contando-se cinco anos a partir da data em que se tenha por formalizada a notificação do contribuinte a respeito desta medida.”. Nesse sentido, a antecipação do prazo da regra contida no art. 173, I, o qual seria finalizado “mais tarde”, é tão somente causa de antecipação do prazo previsto no artigo supramencionado, bem como, nos casos em que é dada ciência ao contribuinte da medida preparatória do lançamento antes do primeiro dia do exercício seguinte. Portanto, são casos como este que terá efeito prático a aplicação do parágrafo único do art. 173, antecipando o prazo decadencial para que o fisco execute o lançamento. 5. A Lei n. 11.051/04 incluiu ao art. 40 da lei federal 6.830/80 o § 4º[footnoteRef:1], permitindo a decretação de ofício da prescrição intercorrente, depois de ouvida a Fazenda Pública, na hipótese de arquivamento dos autos pela não localização de bens ou do devedor. Pergunta-se: [1: Art. 40. (...) § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.] (a) Qual é o tratamento a ser dado no caso de falta de intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição intercorrente seja ilidida? Justificar sua resposta. (Vide anexo VI) RESPOSTA: No caso em tela, não existe prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal, uma vez que com a impugnação do lançamento, o prazo prescricional encontra-se suspenso e só voltará a fluir após a constituição definitiva do crédito tributário, consoante o disposto nos art. 151, III e 174 do CTN. Somente com a constituição definitiva do crédito tributário, ou seja, com a conclusão do processo administrativo tributário é que se inicia o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para a Fazenda ajuizar a execução fiscal. Nesta senda, o Superior Tribunal de Justiça tem o entendimento firmado, bem como o CARF tratou do assunto na Súmula nº 11, ambas as decisão tratam sobre a inexistência da prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. Em outro passo, no decorrer do processo executivo fiscal, que se opera com a inscrição em dívida ativa e ajuizamento da execução fiscal, existe a prescrição intercorrente, esta que está disciplinada pelo §4º do art. 40 da Lei 6.830/80. Nesse passo, diante da inércia da fazenda na execução fiscal suspensa por um ano,conforme art. 40, §2º da referida Lei, ocorre a contage do prazo prescricional, sendo o marco inicial, o término da suspensão anual do processo de execução. Ainda, o julgamento do tema pelo Supremo Tribunal Federal pela constitucionalidade das regras que disciplinam a prescrição intercorrente nos processos de execução fiscal, resultou na decisão em que o prazo se inicia automaticamente após o término do prazo de suspensão anual da execução fiscal, ainda, quando o processo é suspenso, deve ser dado vista dos autos ao procurador d afazenda pública, nos termos do §1º do refido artigo de Lei. Portanto, não será abdcada a decretação de prescrição intercorrente feita pelo juiz sob a simples alegação de nulidade pela Fazenda decorrente da inexistência de suacitação, com ressalvas a citação de que não foram encontrados devedor e/ou bens penhoráveis “prejuízo presumido”, mas deverá sim demonstrar o prejuízo que sofreu, com a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. 6. É possível falar em prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal, ou ela se aplica apenas aos processos judiciais? Para responder essa pergunta, não se esqueça de fixar o conceito de prescrição. (Vide anexos VII e VIII) RESPOSTA: Atualmente a jurisprudência pátria majoritária, inclusive dos tribunais superiores, entende não ser aplicável a prescrição intercorrente em sede de processo administrativo fiscal, este é também o entendimento de grande parte da doutrina. Entretanto, tal posicionamento não goza de unanimidade entre os operadores do Direito, uma vez que renomados doutrinadores, além de magistrados de diversas Cortes, admitem a aplicação da prescrição intercorrente nos processos administrativos fiscais. Ocorre que não há previsão normativa específica quanto à prescrição intercorrente na esfera administrativa fiscal, mas tão somente na Lei de Execuções Fiscais, aplicável aos processos judiciais. Devemos, para tanto, lembrar que a prescrição ordinária tributária diz respeito a perda do prazo do Fisco de cobrar um tributo pela falta de ingresso da respectiva ação executiva. Por sua vez, a prescrição intercorrente, é aquela que se dá no curso processo, devido à inércia do exequente em localizar o devedor ou bens para a penhora. Ambas têm prazo legal de 5 anos e culminam na extinção do crédito tributário, alegam os Fiscos, porém, que em face da previsão contida no art. 151, inciso III, do Código Tributário Nacional (CTN), de que as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo, suspendem a exigibilidade do crédito tributário, não seria possível a incidência da prescrição intercorrente nos processos administrativos pendentes de julgamento. 7. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o mesmo fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-tributário? (Vide anexo IX) RESPOSTA: O prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios trata-se de prazo prescriciona, que possui o marco inicial nos casos previstos no art. 135, III do CTN, a exemplo da dissolução irregular. Neste sentido o STJ consolidou o entendimento pelo início da contagem do prazo prescricional a partir da data da citação da empresa ou do despacho do juiz que ordenar a citação, em conformidade ao que dispõe o art. 174, I do CTN c/c art. 125, III do CTN. Ocorre que quanto aos eventos ocorridos após a citação da devedora originária sociedade) não existia um marco inicial estabelecido legalmente, sendo evidente a necessidade de se estabelecer um marco inicial diferente da data da citação (ou despacho do juiz), uma vez que o evento seria ulterior a este ato. Neste sentido, o STJ no julgamento doREsp 1201993/SP, visando a elucidação do Tema Repetitivo 444, tratou do termo inicial da prescrição para o redirecionamento da execução fiscal nos casos de dissolução irregular posterior à citação da empresa. Assim, o prazo prescricional de cinco anos será contado a partir da citação quando o ato ilícito destinado a fraudar a execução for anterior à citação. Já, nos casos em que o ato irregular for posterior à citação, conta-se oprazo prescricional da data do ilícito, sendo em ambos os casos, a decretação da prescrição para o redirecionamento exige a comprovação da inércia da Fazenda Pública, em em caso de a fazenda continuar diligenciando, não configurar-se-á a prescrição, pois não há inércia. Sugestão para pesquisa suplementar • Artigo: “Decadência e prescrição em matéria tributária”, de Christine Mendonça, Curso de especialização em direito tributário – Homenagem a Paulo de Barros Carvalho, coord. Eurico Marcos Diniz de Santi. São Paulo: Forense. • Artigo: “Decadência e prescrição em razão dos julgamentos do STJ e do STF nas relações continuativas tributárias”, de Luís Cesar Souza de Queiroz, in VIII Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses. • Artigo: “O art. 3º da lei complementar 118/2005, princípio da irretroatividade e lei interpretativa”, de Paulo de Barros Carvalho, Revista de Direito Tributário n. 93/09-23. • Artigo: “Decadência e prescrição – mesa de debates A”, participação de Paulo de Barros Carvalho, Estevão Horvath e Luciano Amaro, Revista de Direito Tributário n. 75/19-43. • Artigo: “Decadência e prescrição do direito do contribuinte e a LC 118: entre regras e princípios, de Eurico Marcos Diniz de Santi, in Decadência e prescrição em matéria tributária, coord. Aurora Tomazini de Carvalho. São Paulo: MP. • Artigo: “Lançamento por homologação – Decadência e pedido de restituição”, de Paulo de Barros Carvalho, publicado no Repertório IOB de Jurisprudência, 1ª Quinzena de Fevereiro de 1997, n. 3/97, Caderno 1, p. 77-82. • Parecer PGFN n. 1.154/2005 – Prescrição intercorrente. Artigo 40, § 4º, da Lei n. 6.830/80. Aplicação no âmbito da PGFN. • Parecer PGFN n. 877/2003 – Prescrição do crédito da União. Ocorrência. Possibilidade de reconhecimento pela PGFN. Anexo I RE 560.626 Instrumento Processual RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 560.626[footnoteRef:2] [2: Documento produzido no Grupo de Estudos de Jurisprudência Analítica do IBET – direitos autorais reservados.] Recorrente União Recorrido Contribuinte Órgão de Julgamento Plenário Data de Julgamento 11/06/2008 Data de Publicação da ata de julgamento 14/08/2008 Data de Publicação do acórdão 28/11/2008 Votação Unanimidade Relator Ministro Gilmar Mendes Relator para acórdão Ministro Gilmar Mendes Súmula Vinculante nº 8 São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977[footnoteRef:3] e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991[footnoteRef:4], que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. [3: Art. 5º. Sem prejuízo da incidência da atualização monetária e dos juros de mora, bem como da exigência da prova de quitação para com a Fazenda Nacional, o Ministro da Fazenda poderá determinar a não inscrição como Dívida Ativa da União ou a sustação da cobrança judicial dos débitos de comprovada inexeqüibilidade e de reduzido valor. Parágrafo único. A aplicação do disposto neste artigo suspende a prescrição dos créditos a que se refere.] [4: Art. 45. O direito da Seguridade Social apurar e constituir seus créditos extingue-se após 10 (dez) anos contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, a constituição de crédito anteriormente efetuada. Art. 46. O direito de cobrar os créditos da Seguridade Social, constituídos na forma do artigo anterior, prescreve em 10 (dez) anos. ] Aprovação: 12/06/2008 Votação por Ministro desprovimento Celso de Mello + Marco Aurélio + Ellen Gracie + Cezar Peluso + Carlos Britto+ Joaquim Barbosa + Eros Grau + Ricardo Lewandowski + Cármen Lúcia + Menezes Direito + Gilmar Mendes (Relator e Presidente). Caso Concreto[footnoteRef:5] [5: Consta o seguinte no relatório do acórdão a respeito do caso concreto: “A recorrente pretende a aplicação dos dispositivos legais declarados inconstitucionais pelo TRF da 4ª Região para (i) reconhecer o arquivamento das execuções fiscais de créditos tributários de pequeno valor como causa de suspensão do curso do prazo prescricional e (ii) considerar como de 10 anos o prazo prescricional das contribuições de Seguridade Social.”] Pessoa jurídica questionou a constitucionalidade: · do prazo de decadência e prescrição fixado na lei ordinária nº 8.212/1991 (artigos 45 e 46) afirmando tratar-se de matéria de norma geral tributária e, assim, devendo ser veiculado por lei complementar, à luz do artigo 146, III, “b” da Constituição Federal/1988 · da fixação de causa suspensiva de prescrição pelo Decreto-lei nº 1.569/1977 (artigo 5º, parágrafo único) afirmando tratar-se de matéria de norma geral tributária, e assim, devendo ser veiculado por lei complementar, à luz dos artigos 18 e 19, § 1º, CF/1967-EC 1/1969 Objeto[footnoteRef:6] [6: Consta o seguinte no relatório: “(....) necessidade do uso de lei complementar para regular matéria relativa à prescrição e à decadência tributárias.”] Definir a necessidade de lei complementar que veicule normas gerais sobre prazo de decadência e prescrição, bem como sobre causa de suspensão do prazo de prescrição, em matéria tributária Perguntas levadas ao STF com base no caso concreto Pode uma lei ordinária fixar prazo de decadência e prescrição ou são matérias de norma geral de direito tributário que devem ser veiculadas por lei complementar? Causa de suspensão de prazo de prescrição em matéria tributária pode ser veiculada por ato normativo que não seja lei complementar? Dispositivos Constitucionais analisados Art. 18, CF/1967-EC 1/1969[footnoteRef:7] [7: Art. 18. O sistema tributário nacional compõe-se de impostos, taxas e contribuições de melhoria e é regido pelo disposto neste Capítulo em leis complementares, em resoluções do Senado e, nos limites das respectivas competências, em leis federais, estaduais e municipais.] Art. 146, III, “b”, CF/1988[footnoteRef:8] [8: Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;] Fundamentos do voto vencedor do acórdão O prazo de decadência e prescrição são matérias reservadas à lei complementar, porque compreendidas dentre as normas gerais de direito tributário, à luz do que dispõe o artigo 146, III, “b” da Constituição Federal/1988. Causa de suspensão da prescrição é matéria reservada à lei complementar, à luz do artigo 18 da Constituição Federal/1967-69. O prazo de decadência e prescrição de 10 anos previsto nos artigos 45 e 46 da lei federal nº 8.212/1991, bem como a causa suspensiva do prazo de prescrição prevista no parágrafo único do artigo 5º do Decreto-lei 1.569/1977, em veículos normativos outros que não lei complementar não encontram fundamento de validade nos textos Constitucionais referidos. Do voto do relator para o acórdão: “(...) retirar do âmbito da lei complementar a definição dos prazos e a possibilidade de definir as hipóteses de suspensão e interrupção da prescrição e da decadência é subtrair a própria efetividade da reserva constitucional. Ora, o núcleo das normas sobre extinção temporal do crédito tributário reside precisamente nos prazos para o exercício do direito e nos fatores que possam interferir na sua fluência. (...) A Constituição não definiu normas gerais de Direito Tributário, porém adotou expressão utilizada no próprio Código Tributário Nacional, lei em vigor quando da sua edição. Nesse contexto, é razoável presumir que o constituinte acolheu a disciplina do CTN, inclusive referindo-se expressamente à prescrição e à decadência: "especialmente sobre (...) prescrição e decadência tributários". Na realidade, a restrição do alcance da norma constitucional expressa defendida pela Fazenda Nacional fragiliza a própria força normativa e concretizadora da Constituição, que claramente pretendeu a disciplina homogênea e estável da prescrição, da decadência, da obrigação e do crédito tributário. (...) Embora pouco se tenha avançado na doutrina no sentido da busca da adequada definição para "normas gerais", é possível extrair na interpretação dos diversos dispositivos constitucionais que estabeleceram reserva de matéria à disciplina da lei complementar que a esta espécie legislativa foi atribuída a missão de fixar normas com âmbito de eficácia nacional e não apenas federal. (...) Se a Constituição não determinou o conceito da norma geral de Direito Tributário, no mínimo fixou-lhe a função: estabelecer preceitos que devam ser seguidos em âmbito nacional, que ultrapassem a competência do Congresso Nacional para ditar o direito positivo federal. Trata-se de normas com maior espectro, a serem seguidas por todas as esferas políticas com competência tributária de maneira uniforme, seja por direta incidência sobre as relações jurídico-tributárias, seja como fator delimitador da edição da legislação ordinária em matéria fiscal. E a fixação de prazos decadenciais e prescricionais, a definição da sua forma de fluência são questões que exigem tratamento uniforme em âmbito nacional. (...) O art. 146, III, b, estabelece a obrigatoriedade do uso de via legislativa própria - a da lei complementar, para dispor sobre normas gerais de Direito Tributário, ficando expresso que esta exigência dirige-se especialmente à obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários. (...) Assim, se a Constituição Federal reservou à lei complementar a regulação da prescrição e da decadência tributárias, considerando-as de forma expressa normas gerais de Direito Tributário, não há espaço para que a lei ordinária atue e discipline a mesma matéria. O que é geral não pode ser específico. (...) Por outro lado, também deve ser afastada a alegação de que a norma que estabelece as situações de interrupção ou suspensão da prescrição na pendência do processo é de natureza processual e que por isso não poderia ter sido reconhecida a prescrição, já que a matéria não estaria sob a reserva da lei complementar. Normas que disponham sobre prescrição ou decadência sempre são de direito substantivo, porque esta é a natureza de tais institutos. (...) Na verdade, o vício situa-se no parágrafo, que invade a seara reservada à lei complementar ao prever hipótese de suspensão da prescrição e cria situação de imprescritibilidade, que também não encontra fundamento na Lei Maior.” Conclusão do acórdão em relação ao objeto do recurso Foi reconhecida a inconstitucionalidade: · dos artigos 45 e 46 da Lei Federal 8.212/1991 que fixavam em 10 anos os prazos de decadência e prescrição das contribuições previdenciárias · do parágrafo único do artigo 5º do Decreto-lei 1.569/1977 que determinava a suspensão da fluência do prazo de prescrição de tributos comprovadamente inexequíveis ou de reduzido valor Do voto do relator: “Resultam inconstitucionais, portanto, os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/91 e o parágrafo único do art. 5º do Decreto-lei n° 1.569/77, que versando sobre normas gerais de Direito Tributário, invadiram conteúdo material sob a reserva constitucional de lei complementar. Sendo inconstitucionais os dispositivos, mantém-se hígida a legislação anterior, com seus prazos quinquenais de prescrição e decadência e regras de fluência, que não acolhem a hipótese de suspensão da prescrição durante o arquivamento administrativo das execuções de pequeno valor, o que equivale a assentar que, como os demais tributos, as contribuições de Seguridade Social sujeitam-se, entre outros, aos artigos 150, § 4º, 173 e 174 do CTN.” Conclusão do acórdão em relação ao caso concreto Acórdão mantido. Afastada a aplicação do prazo de 10 anos dedecadência e prescrição às contribuições previdenciárias, bem como a causa de suspensão do prazo de prescrição em processos de cobrança de tributos inexequíveis ou de baixo valor. Modulação dos efeitos da decisão Assegurada eficácia: · ex tunc à declaração de inconstitucionalidade: garantido o direito de o contribuinte anular crédito tributário de contribuição previdenciária constituído ou cobrado fora do prazo de cinco anos fixado no Código Tributário Nacional · ex tunc à declaração de inconstitucionalidade: garantido o direito de o contribuinte não ter aplicada a suspensão de prescrição de tributos inexequíveis ou de reduzido valor estabelecida no Decreto-lei 1.569/1977 por se tratar de matéria que exige lei complementar · ex nunc à declaração de inconstitucionalidade exclusivamente no que toca ao direito à restituição do indébito: · assegurada a restituição do indébito na hipótese de ações ajuizadas até 11/06/2008 (data da conclusão do julgamento do recurso extraordinário) · impedida a restituição do indébito na hipótese de ações ajuizadas a partir de 12/06/2008 Entendimento do voto do relator e que prevaleceu: “Estou acolhendo parcialmente o pedido de modulação de efeitos, tendo em vista a repercussão e a insegurança jurídica que se pode ter na hipótese; mas estou tentando delimitar esse quadro de modo a afastar a possibilidade de repetição de indébito de valores recolhidos nestas condições, com exceção das ações propostas antes da conclusão do julgamento. Nesse sentido, eu diria que o Fisco está impedido, fora dos prazos de decadência e prescrição previstos no CTN, de exigir as contribuições da seguridade social. No entanto, os valores já recolhidos nestas condições, seja administrativamente, seja por execução fiscal, não devem ser devolvidos ao contribuinte, salvo se ajuizada a ação antes da conclusão do presente julgamento. Em outras palavras, são legítimos os recolhimentos efetuados nos prazos previstos nos arts. 45 e 46 e não impugnados antes da conclusão deste julgamento.”[footnoteRef:9] [9: A respeito da modulação: houve apenas voto do Ministro Marco Aurélio contra a modulação dos efeitos nos termos propostos pelo relator do recurso extraordinário, Ministro Gilmar Mendes.] Ementa EMENTA: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS. MATÉRIAS RESERVADAS A LEI COMPLEMENTAR. DISCIPLINA NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. NATUREZA TRIBUTÁRIA DAS CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL. INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 45 E 46 DA LEI 8.212/91 E DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 5º DO DECRETO-LEI 1.569/77. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. I. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS. RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR. As normas relativas à prescrição e à decadência tributárias têm natureza de normas gerais de direito tributário, cuja disciplina é reservada a lei complementar, tanto sob a Constituição pretérita (art. 18, § 1º, da CF de 1967/69) quanto sob a Constituição atual (art. 146, III, b, da CF de 1988). Interpretação que preserva a força normativa da Constituição, que prevê disciplina homogênea, em âmbito nacional, da prescrição, decadência, obrigação e crédito tributários. Permitir regulação distinta sobre esses temas, pelos diversos entes da federação, implicaria prejuízo à vedação de tratamento desigual entre contribuintes em situação equivalente e à segurança jurídica. II. DISCIPLINA PREVISTA NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. O Código Tributário Nacional (Lei 5.172/1966), promulgado como lei ordinária e recebido como lei complementar pelas Constituições de 1967/69 e 1988, disciplina a prescrição e a decadência tributárias. III. NATUREZA TRIBUTÁRIA DAS CONTRIBUIÇÕES. As contribuições, inclusive as previdenciárias, têm natureza tributária e se submetem ao regime jurídico-tributário previsto na Constituição. Interpretação do art. 149 da CF de 1988. Precedentes. IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO. Inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91, por violação do art. 146, III, b, da Constituição de 1988, e do parágrafo único do art. 5º do Decreto-lei 1.569/77, em face do § 1º do art. 18 da Constituição de 1967/69. V. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. SEGURANÇA JURÍDICA. São legítimos os recolhimentos efetuados nos prazos previstos nos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e não impugnados antes da data de conclusão deste julgamento. (RE 560626, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 12-06-2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-232 DIVULG 04-12-2008 PUBLIC 05-12-2008 EMENT VOL-02344-05 PP-00868 RSJADV jan., 2009, p. 35-47) Anexo II Súmula Vinculante 8 São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. Anexo III REsp n. 973.733/SC PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) conta-se do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontra-se regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 163/210). 3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra decadencial rege-se pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs.. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs.. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuida-se de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deu-se em 26.03.2001. 6. Destarte, revelam-se caducos os créditos tributários executados, tendoem vista o decurso do prazo decadencial quinquenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp n. 973.733/SC, relator Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 12/8/2009, DJe de 18/9/2009.) Anexo IV AgRg no REsp n. 1.448.906/MG TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL. PAGAMENTO A MENOR. APLICAÇÃO DO ART. 150, § 4º, DO CTN. EXEGESE DO ENTENDIMENTO FIRMADO NO RESP PARADIGMA 973.733/SC. SÚMULA 83/STJ. 1. A Primeira Seção, no julgamento do REsp 973.733/SC, Rel. Min. Luiz Fux, submetido ao rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC), firmou entendimento no sentido de que, nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, para a fixação do prazo decadencial para a constituição do crédito tributário, considera-se apenas a existência, ou não, de pagamento antecipado, pois é esse o ato que está sujeito à homologação pela Fazenda Pública, nos termos do art. 150, e parágrafos, do CTN. Súmula 83/STJ. 2. "Não importa, para efeitos da contagem da decadência, perquirir as circunstâncias apresentadas pelo contribuinte para justificar o pagamento a menor. A dedução aqui considerada (creditamento indevido) nada mais é do que um crédito utilizado pelo contribuinte decorrente da escrituração do tributo apurado em determinado período (princípio da não cumulatividade), que veio a ser recusada (glosada) pela administração", de modo que "houve pagamento a menor de débito tributário em decorrência de creditamento indevido. Dessa forma, deve-se observar o disposto no art. 150, § 4º, do CTN" (AgRg nos EREsp 1.199.262/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 7/11/2011.). Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp n. 1.448.906/MG, relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 17/12/2015, DJe de 5/2/2016.) AnexoV AgRg no REsp n. 1.523.619/MG TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. PAGAMENTO A MENOR. OCORRÊNCIA DE FRAUDE. TERMO INICIAL. ART. 173, I, DO CTN. DECADÊNCIA NÃO CARACTERIZADA. CDA. VALIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação não declarados e não pagos, o prazo decadencial conta-se nos moldes determinados pelo art. 173, I, do CTN, impossível, assim, a sua acumulação com o prazo determinado no art. 150, § 4º, do CTN. 2. Contudo, uma vez efetuado o pagamento parcial antecipado pelo contribuinte, a decadência do direito de constituir o crédito tributário é regida pelo art. 150, § 4°, do CTN, salvo os casos de dolo, fraude ou simulação. 3. No caso em apreço, entendeu a Corte de origem que ocorreu fraude, razão pela qual, mesmo havendo pagamento a menor, afastou a aplicação do art. 150, § 4º, do CTN, fazendo incidir o art. 173, I, do mesmo diploma legal. 4. Não está caracterizada a decadência, já que não transcorreram mais de 5 anos entre primeiro dia do exercício seguinte (01/01/2002) àquele em que os lançamentos poderiam ter sido efetuados e a constituição definitiva do crédito (24/11/2006). 5. Quanto ao alegado vício de lançamento, a irresignação não comporta conhecimento ante o óbice da Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp n. 1.523.619/MG, relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 5/11/2015, DJe de 13/11/2015.) Anexo VI REsp n. 1.340.553/RS RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015 (ART. 543-C, DO CPC/1973). PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. SISTEMÁTICA PARA A CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE (PRESCRIÇÃO APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO) PREVISTA NO ART. 40 E PARÁGRAFOS DA LEI DE EXECUÇÃO FISCAL (LEI N. 6.830/80). 1. O espírito do art. 40, da Lei n. 6.830/80 é o de que nenhuma execução fiscal já ajuizada poderá permanecer eternamente nos escaninhos do Poder Judiciário ou da Procuradoria Fazendária encarregada da execução das respectivas dívidas fiscais. 2. Não havendo a citação de qualquer devedor por qualquer meio válido e/ou não sendo encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora (o que permitiria o fim da inércia processual), inicia-se automaticamente o procedimento previsto no art. 40 da Lei n. 6.830/80, e respectivo prazo, ao fim do qual restará prescrito o crédito fiscal. Esse o teor da Súmula n. 314/STJ: "Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição qüinqüenal intercorrente". 3. Nem o Juiz e nem a Procuradoria da Fazenda Pública são os senhores do termo inicial do prazo de 1 (um) ano de suspensão previsto no caput, do art. 40, da LEF, somente a lei o é (ordena o art. 40: "[...] o juiz suspenderá [...]"). Não cabe ao Juiz ou à Procuradoria a escolha do melhor momento para o seu início. No primeiro momento em que constatada a não localização do devedor e/ou ausência de bens pelo oficial de justiça e intimada a Fazenda Pública, inicia-se automaticamente o prazo de suspensão, na forma do art. 40, caput, da LEF. Indiferente aqui, portanto, o fato de existir petição da Fazenda Pública requerendo a suspensão do feito por 30, 60, 90 ou 120 dias a fim de realizar diligências, sem pedir a suspensão do feito pelo art. 40, da LEF. Esses pedidos não encontram amparo fora do art. 40 da LEF que limita a suspensão a 1 (um) ano. Também indiferente o fato de que o Juiz, ao intimar a Fazenda Pública, não tenha expressamente feito menção à suspensão do art. 40, da LEF. O que importa para a aplicação da lei é que a Fazenda Pública tenha tomado ciência da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido e/ou da não localização do devedor. Isso é o suficiente para inaugurar o prazo, ex lege. 4. Teses julgadas para efeito dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015 (art. 543-C, do CPC/1973): 4.1.) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei n. 6.830/80 - LEF tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução; 4.1.1.) Sem prejuízo do disposto no item 4.1., nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005), depois da citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução. 4.1.2.) Sem prejuízo do disposto no item 4.1., em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar n. 118/2005) e de qualquer dívida ativa de natureza não tributária, logo após a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução. 4.2.) Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo) durante o qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/80 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato; 4.3.) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a interromper o curso da prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo máximode 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens, a qualquer tempo - mesmo depois de escoados os referidos prazos -, considera-se interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na data do protocolo da petição que requereu a providência frutífera. 4.4.) A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 245 do CPC/73, correspondente ao art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - 4.1., onde o prejuízo é presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. 4.5.) O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial por meio da delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao período em que a execução ficou suspensa. 5. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015 (art. 543-C, do CPC/1973). (REsp n. 1.340.553/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 12/9/2018, DJe de 16/10/2018.) Anexo VII Súmula do CARF n. 11 “Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.” Anexo VIII CARF - Acórdão n. 1402-001.761 Julgamento: 31/07/2014 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. 1. Do fato gerador até o lançamento tem-se prazo decadencial. Do lançamento à execução o prazo é de natureza prescricional. O lançamento resulta formalizado com a notificação do sujeito passivo. Apresentada impugnação, há suspensão de exigibilidade e, por consequência do prazo prescricional. A circunstância do exame da impugnação e do recurso não serem apreciados no prazo de 360 (trezentos e sessenta dias) não se constitui em hipótese que tenha reflexo no prazo prescricional. Ademais, em conformidade com a Súmula 11 do CARF não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. (...) Recurso Voluntário Parcialmente Provido. CARF, Ac. 1402-001.761, julg. 31/07/2014. Anexo IX Resp 1.201.993/ SP PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (AFETADO NA VIGÊNCIA DO ART. 543-C DO CPC/1973 - ART. 1.036 DO CPC/2015 - E RESOLUÇÃO STJ 8/2008). EXECUÇÃO FISCAL. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO PARA O REDIRECIONAMENTO. DISTINGUISHING RELACIONADO À DISSOLUÇÃO IRREGULAR POSTERIOR À CITAÇÃO DA EMPRESA, OU A OUTRO MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO DO ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) 1. A Fazenda do Estado de São Paulo pretende redirecionar Execução Fiscal para o sócio-gerente da empresa, diante da constatação de que, ao longo da tramitação do feito (após a citação da pessoa jurídica, a concessão de parcelamento do crédito tributário, a penhora de bens e os leilões negativos), sobreveio a dissolução irregular. Sustenta que, nessa hipótese, o prazo prescricional de cinco anos não pode ser contado da data da citação da pessoa jurídica. TESE CONTROVERTIDA ADMITIDA 2. Sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 (art. 1.036 e seguintes do CPC/2015), admitiu-se a seguinte tese controvertida (Tema 444): "prescrição para o redirecionamento da Execução Fiscal, no prazo de cinco anos, contados da citação da pessoa jurídica". DELIMITAÇÃO DA MATÉRIA COGNOSCÍVEL 3. Na demanda, almeja-se definir, como muito bem sintetizou o eminente Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, o termo inicial da prescrição para o redirecionamento, especialmente na hipótese em que se deu a dissolução irregular, conforme reconhecido no acórdão do Tribunal a quo, após a citação da pessoa jurídica. Destaca-se, como premissa lógica, a precisa manifestação do eminente Ministro Gurgel de Faria, favorável a que "terceiros pessoalmente responsáveis (art. 135 do CTN), ainda que não participantes do processo administrativo fiscal, também podem vir a integrar o polo passivo da execução, não para responder por débitos próprios, mas sim por débitos constituídos em desfavor da empresa contribuinte". 4. Com o propósito de alcançar consenso acerca da matéria de fundo, que é extremamente relevante e por isso tratada no âmbito de recurso repetitivo, buscou-se incorporar as mais diversas observações e sugestões apresentadas pelos vários Ministros que se manifestaram nos sucessivos debates realizados, inclusive por meio de votos-vista - em alguns casos, com apresentação de várias teses, nem sempre congruentes entre si ou com o objeto da pretensão recursal. PANORAMA GERAL DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOBRE A PRESCRIÇÃO PARA O REDIRECIONAMENTO 5. Preliminarmente, observa-se que o legislador não disciplinou especificamente o instituto da prescrição para o redirecionamento. O Código Tributário Nacional discorre genericamente a respeito da prescrição (art. 174 do CTN) e, ainda assim, o faz em relação apenas ao devedor original da obrigação tributária. 6. Diante da lacuna da lei, a jurisprudência do STJ há muito tempo consolidou o entendimento de que a Execução Fiscal não é imprescritível. Com a orientação de que o art. 40 da Lei 6.830/1980, em sua redação original, deve ser interpretado à luz do art. 174 do CTN, definiu que, constituindo a citação da pessoa jurídica o marco interruptivo da prescrição, extensível aos devedores solidários (art. 125, III, do CTN), o redirecionamento com fulcro no art. 135, III, do CTN deve ocorrer no prazo máximo de cinco anos, contado do aludido ato processual (citação da pessoa jurídica). Precedentes do STJ: Primeira Seção: AgRg nos EREsp 761.488/SC, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 7.12.2009. Primeira Turma: AgRg no Ag 1.308.057/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, DJe 26.10.2010; AgRg no Ag 1.159.990/SP, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJe 30.8.2010; AgRg no REsp 1.202.195/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 22.2.2011; AgRg no REsp 734.867/SC, Rel. Ministra Denise Arruda, DJe 2.10.2008. Segunda Turma: AgRg no AREsp 88.249/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe 15.5.2012; AgRg no Ag 1.211.213/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 24.2.2011; REsp 1.194.586/SP, Rel. Ministro Castro Meira, DJe 28.10.2010; REsp 1.100.777/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 2.4.2009, DJe 4.5.2009. 7. A jurisprudência das Turmas que compõem a Seção de Direito Público do STJ, atenta à necessidade de corrigir distorções na aplicação da lei federal, reconheceu ser preciso distinguir situações jurídicas que, por possuírem características peculiares, afastam a exegese tradicional, de modo a preservar a integridade e a eficácia do ordenamento jurídico. Nesse sentido, analisou precisamente hipóteses em que a prática de ato de infração à lei, descrito no art. 135, III, do CTN (como, por exemplo, a dissolução irregular), ocorreu após a citação da pessoa jurídica, modificando para momento futuro o termo inicial do redirecionamento: AgRg no REsp 1.106.281/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 28.5.2009; AgRg no REsp 1.196.377/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe 27.10.2010. 8. Efetivamente, não se pode dissociar o tema em discussão das características que definem e assim individualizam o instituto da prescrição, quais sejam a violação de direito, da qual se extrai uma pretensão exercível, e a cumulação do requisito objetivo (transcurso de prazo definido em lei) com o subjetivo (inércia da parte interessada). TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO PARA REDIRECIONAMENTO EM CASO DE DISSOLUÇÃO IRREGULAR PREEXISTENTE OU ULTERIOR À CITAÇÃO PESSOAL DA EMPRESA 9. Afastada a orientação de que a citação da pessoa jurídica dá início ao prazo prescricional para redirecionamento, no específico contexto em que a dissolução irregular sucede a tal ato processual (citação da empresa), impõe-se a definição da dataque assinala o termo a quo da prescrição para o redirecionamento nesse cenário peculiar (distinguishing). 10. No rigor técnico e lógico que deveria conduzir a análise da questão controvertida, a orientação de que a citação pessoal da empresa constitui o termo a quo da prescrição para o redirecionamento da Execução Fiscal deveria ser aplicada a outros ilícitos que não a dissolução irregular da empresa - com efeito, se a citação pessoal da empresa foi realizada, não há falar, nesse momento, em dissolução irregular e, portanto, em início da prescrição para redirecionamento com base nesse fato (dissolução irregular). 11. De outro lado, se o ato de citação resultar negativo devido ao encerramento das atividades empresariais ou por não se encontrar a empresa estabelecida no local informado como seu domicílio tributário, aí, sim, será possível cogitar da fluência do prazo de prescrição para o redirecionamento, em razão do enunciado da Súmula 435/STJ ("Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente"). 12. Dessa forma, no que se refere ao termo inicial da prescrição para o redirecionamento, em caso de dissolução irregular preexistente à citação da pessoa jurídica, corresponderá aquele: a) à data da diligência que resultou negativa, nas situações regidas pela redação original do art. 174, parágrafo único, I, do CTN; ou b) à data do despacho do juiz que ordenar a citação, para os casos regidos pela redação do art. 174, parágrafo único, I, do CTN conferida pela Lei Complementar 118/2005. 13. No tocante ao momento do início do prazo da prescrição para redirecionar a Execução Fiscal em caso de dissolução irregular depois da citação do estabelecimento empresarial, tal marco não pode ficar ao talante da Fazenda Pública. Com base nessa premissa, mencionam-se os institutos da Fraude à Execução (art. 593 do CPC/1973 e art. 792 do novo CPC) e da Fraude contra a Fazenda Pública (art. 185 do CTN) para assinalar, como corretamente o fez a Ministra Regina Helena, que "a data do ato de alienação ou oneração de bem ou renda do patrimônio da pessoa jurídica contribuinte ou do patrimônio pessoal do(s) sócio(s) administrador(es) infrator(es), ou seu começo", é que corresponde ao termo inicial da prescrição para redirecionamento. Acrescenta-se que provar a prática de tal ato é incumbência da Fazenda Pública. TESE REPETITIVA 14. Para fins dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fica assim resolvida a controvérsia repetitiva: (i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em cinco anos, contado da diligência de citação da pessoa jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a esse ato processual; (ii) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o início do prazo prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes (conforme decidido no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não configura ilícito atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do art. 593 do CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a Fazenda Pública); e, (iii) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp 1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução irregular precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos fatos e provas atinentes à demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito tributário no decurso do prazo prescricional. RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 15. No caso dos autos, a Fazenda do Estado de São Paulo alegou que a Execução Fiscal jamais esteve paralisada, pois houve citação da pessoa jurídica em 1999, penhora de seus bens, concessão de parcelamento e, depois da sua rescisão por inadimplemento (2001), retomada do feito após o comparecimento do depositário, em 2003, indicando o paradeiro dos bens, ao que se sucedeu a realização de quatro leilões, todos negativos. Somente com a tentativa de substituição da constrição judicial é que foi constatada a dissolução irregular da empresa (2005), ocorrida inquestionavelmente em momento seguinte à citação da empresa, razão pela qual o pedido de redirecionamento, formulado em 2007, não estaria fulminado pela prescrição. 16. A genérica observação do órgão colegiado do Tribunal a quo, de que o pedido foi formulado após prazo superior a cinco anos da citação do estabelecimento empresarial ou da rescisão do parcelamento é insuficiente, como se vê, para caracterizar efetivamente a prescrição, de modo que é manifesta a aplicação indevida da legislação federal. 17. Tendo em vista a assertiva fazendária de que a circunstância fática que viabilizou o redirecionamento (dissolução irregular) foi ulterior à citação da empresa devedora (até aqui fato incontroverso, pois expressamente reconhecido no acórdão hostilizado), caberá às instâncias de origem pronunciar-se sobre a veracidade dos fatos narrados pelo Fisco e, em consequência, prosseguir no julgamento do Agravo do art. 522 do CPC/1973, observando os parâmetros acima fixados. 18. Recurso Especial provido. (REsp n. 1.201.993/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 8/5/2019, DJe de 12/12/2019.) image1.jpeg image2.jpeg image3.jpg