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DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS DISTÚRBIO FISIOLÓGICO Conceito: É uma alteração de origem não patogênica, decorrente de modificações no metabolismo normal de um vegetal, ou na integridade estrutural de seus tecidos Alteração na aparência e no sabor Perda de qualidade e aceitação • Ambientais (antes e durante a colheita ) • Nutricionais • Temperatura (pós-colheita) • Composição atmosférica CO2 O2 etileno CAUSAS DOS DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS CAUSAS AMBIENTAIS • Alta temperatura (> 38oC) • Chuva, seguida de seca e alta temperatura • Alta umidade relativa e baixa temperatura Queimadura de sol (sunburn) em maçã Colheita e exposição ao sol por 6 horas Foto: Ivoni Gutler Foto: Angelo Jacomino MEDIDAS DE CONTROLE Proteger os frutos da luz direta do sol !!! • Bom enfolhamento • Arquitetura da planta • Proteção com papel ou outro material • Não deixar o fruto muito tempo na planta PODRIDÃO ESTILAR EM LIMA ‘TAHITI’ Comum nos meses mais quentes (alta UR, fruto muito túrgido) Rompimento das vesículas de suco, degradação da clorofila OLEOCELOSIS EM LIMA ‘TAHITI’ Comum nos meses mais quentes (alta UR, fruto muito túrgido) Rompimento das glândulas de óleo, tóxico MEDIDAS DE CONTROLE (podridão estilar e oleocelosis) • Não colher nas primeiras horas da manhã, após irrigação ou após a chuva (fruto com alta turgidez) • Evitar colheita de frutos excessivamente grandes • “Descanso do fruto”: 24 a 48 h Foto: R.A. Kluge “Russeting” (rugosidade) em maçã e pêra MEDIDAS DE CONTROLE (“Russeting”) • Evitar aplicação de cobre, enxofre e dodine logo após a floração (aumentam os sintomas) • Usar variedade menos suscetíveis • Evitar excesso de adubação nitrogenada RACHADURA EM TOMATE Concêntrica Radial RACHADURA E FENDA SUTURAL EM PÊSSEGO Causa desconhecida; varietal, raleio muito tarde ou tempo muito quente. “SPLITTING” em laranja ‘Baianinha’ CAUSAS NUTRICIONAIS Deficiência de Cálcio e Boro CÁLCIO – IMPORTÂNCIA • Manutenção estrutura e rigidez da parede celular • Está envolvido com fluidez da membrana celular • Ativação de sistemas metabólicos – Calmodulina (mensageiro secundário) PODRIDÃO APICAL EM TOMATE (Fundo preto) COLAPSO DE POLPA EM MANGA Cavidade peduncular Degenerescência interna ou “Jelly seed” ‘ Cv. Tommy Atkins Cv. Oliveira Neto cv. Irvin “BITTER PIT” EM MAÇÃ E PERA Fonte: Ebert (1986) MEDIDAS DE CONTROLE (deficiência de cálcio) • Calagem • Adubações foliares com cálcio • Anti-transpirantes – Reduzem transpiração (+ Ca para o fruto); ABA Controle do “Bitter pit” em maçã: • pulverização com cloreto de cálcio 0,6% um mês após a plena florada • imersão (2%) antes refrigerar TEMPERATURA (pós-colheita) Alta temperatura Congelamento (“freezing”) Injúrias pelo frio (“chilling injury”) TEMPERATURA (pós-colheita) Alta temperatura • Tomate > 30oC amadurecimento irregular • Banana > 24oC banana “madura-verde” • Citros – queimadura na casca Tangor ´Murcote´ > 53oC • Ponto de congelamento levemente inferior a 0oC • A suscetibilidade ao congelamento varia com o produto Congelamento (“freezing”) Causa desidratação, extravasamento e morte celular Dano de congelamento em pepino Dano de congelamento em maçã e pêra Fonte: Embrapa Fonte: Embrapa Fruto Ponto de congelamento (oC) Temperatura de armazenamento (oC) Abacate -0,3 4,5 a 13 Banana verde -0,7 13 a 14 Berinjela -0,8 8 a 12 Caqui -2,1 -1 Figo -2,4 -0,5 a 0 Limão -1,4 12 a 14 Laranja -1,2 3 a 9 Maçã -1,5 -1a 4 Morango -0,7 0 Manga -0,9 13 Mamão -0,9 7 Melancia -0,4 10 a 15 Pepino -0,5 10 a 13 Pêssego -0,9 -0,5 a 0 Pimentão -0,7 9 a 13 Tomate “de vez” -0,6 13-21 TEMPERATURA • Uso de baixa temperatura é a principal técnica pós-colheita para a manutenção da qualidade de frutas e hortaliças • Porém, há limites para o abaixamento da temperatura, em função do grau de sensibilidade das espécies ao frio LIMITES PARA O ABAIXAMENTO DA TEMPERATURA • TEMPERATURA ÓTIMA • TEMPERATURA CRÍTICA OU TEMPERATURA MÍNIMA DE SEGURANÇA (TMS) • TEMPERATURA LETAL TMS (frutos tropicais) Temperatura ambiente Temperatura letal (ponto de congelamento) Estresse por frio -2 a 0ºC Danos de congelamento 10 a 13oC Morte < 10oC TMS (frutos temperados) Injúria por frio (“chilling injury”) • Como se desenvolve? – É uma alteração celular, ao nível de membrana, que pode ser reversível ou irreversível, dependendo da temperatura e do tempo de exposição – A injúria por frio é um tipo de estresse oxidativo, também denominado estresse por frio Resposta primária Alteração na membrana celular líquida cristalina >>>>> gel sólida Respostas secundárias Perda da integridade da membrana Aumento na permeabilidade da membrana Extravasamento de solutos Aumento na produção de etileno e respiração Acúmulo de compostos intermediários tóxicos Oxidação dos compostos fenólicos Manifestação dos sintomas Irreversível se exposição longa Produto sensível em baixa temperatura (abaixo da TMS) Estresse por frio Reversível se exposição curta Líquida-cristalina Gel-sólida Modelo de Lyons e Raison ESTRESSE OXIDATIVO INDUZIDO PELO FRIO Estresse oxidativo Espécies reativas de oxigênio Luz intensa Injúria mecânica Herbicidas Senescência Ozônio Seca Patógenos Calor/Frio Metais pesados Estresse oxidativo induzido pelo frio • O frio provoca a produção de espécies reativas de oxigênio que – EROs (ROS em inglês) – Superóxido – Peróxido de hidrogênio • Estas substâncias se estiverem em excesso na célula podem danificar as membranas e alterar o funcionamento celular Estresse oxidativo induzido pelo frio • A célula possui sistemas antioxidantes que podem eliminar EROs por algum tempo – Antioxidantes lipossolúveis: Tocoferol, b-caroteno – Antioxidantes hidrossolúveis: glutationa e ácido ascórbico – Antioxidantes enzimáticos: Superóxido dismutase (SOD); catalase (CAT); Glutationa redutase (GR); ascorbato peroxidase (APX) Lipídios das membranas O2 - OH- Radical superóxido Radical hidroxila 1O2 Oxigênio singleto ROS Ácido Graxo insaturado (ex.: ácido linoléico e linolênico) O2 - OH- Radical superóxido Radical hidroxila 1O2 Oxigênio singleto ROS H H Exterior Interior Exterior do vacúolo (enzima polifenoloxidase) Interior do vacúolo (fenóis) Enzima + fenóis + Oxigênio = formação de substâncias escuras Principais sintomas de injúrias pelo frio • Depressões superficiais na casca • Mudanças na coloração (interna e/ou externa) • Falha no amadurecimento •Aumento na incidência de podridões 1oC 4 oC 28 dias de armazenamento Pouco sensível Muito sensível Não existe produto insensível ao frio!!!! 5 0 10 15 20 B A 13 o C ) 5 0 10 15 20 B A 13 o C ) 5 0 10 15 20 B A 13 5 0 10 15 20 5 0 10 15 20 B A 13 V id a r el a ti v a d e a rm a ze n a m en toTemperatura ( o C ) A = produto pouco sensível ao frio (frutas e hortaliças de clima temperado) B = produto muito sensível ao frio (frutas e hortaliças de clima tropical) Banana 2 semanas de armazenamento 2 dias a 5oC + 1 dia a 25oC Sintomas de injúria pelo frio em acerola 14 dias a 5oC + 3 dias a 25oC Sintomas de injúria pelo frio em tomate + incidência de Alternaria sp Injúria pelo frio em goiaba Cortesia: Angelo Jacomino 15 dias a 2ºC + 2 dias a 24ºC 2ºC 10ºC Cortesia: Angelo Jacomino Injúria pelo frio em mamão (28 dias a 10 ºC) Cortesia: Angelo Jacomino Cortesia: Gabriel Bittencourt Injúria pelo frio em quiabo Escaldadura superficial em maçã e pêra Auto-oxidação do - farneseno INJÚRIA POR FRIO EM AMEIXA Cortesia: Gabriel Bittencourt TRATAMENTOS PARA REDUZIR INJÚRIAS PELO FRIO • Utilizar temperatura adequada para atrasar o desenvolvimento dos sintomas • Tratamentos para aumentar a resistência dos frutos ao frio: • Condicionamento através de temperatura (condicionamento térmico) • Aquecimento intermitente • Atmosfera modificada e controlada • Aplicação de reguladores vegetais e produtos químicos RECOMENDAÇÃO PARA O ARMAZENAMENTO DE ALGUMAS FRUTAS E HORTALIÇAS PRODUTO TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO (OC) TEMPO APROXIMADO DE CONSERVAÇÃO Abacaxi 10-12 5 semanas Alcachofra 0 2-3 semanas Alface 0 2 semanas Berinjela 10-12 2-3 semanas Figo 0 7-10 dias Lima Tahiti 9-10 2 meses Maçã -1 - 4 1-10 meses Manga 13 3-4 semanas Morango 0 5-7 dias Pepino 10-13 10-14 dias Pêssego -0,5 - 0 2-4 semanas Tangerina 4 1 mês Tomate (verde-maduro) 13-15 2-3 semanas Uva de mesa -1,0 - -0,5 1-6 meses Formação de proteínas de choque de calor (HSP) Aplicação de baixa, moderada ou alta temperatura por curto período antes do armazenamento refrigerado CONDICIONAMENTO TÉRMICO Aumento na síntese de aminas biogênicas Funcionam como antioxidantes e protegem a membrana celular Aumenta expressão de enzimas antioxidativas: Catalase Superoxido dismutase Glutationa redutase Ascorbato peroxidase Estabilizam as membranas Removem radicais livres Impedem peroxidação dos lipídios da membrana Fruto Temperatura de condicionamento ( o C) Duração Temperatura de armazenamento ( o C) Abobrinha 15 2 dias 2,5 ou 5 Berinjela 10 5-10 dias 1 Limão 15 7 dias 0-2 21 3 dias 1 Mamão 12,5 4 dias 2 Manga 20 12 dias 5 ou 10 Melancia 26 4 dias 0 ou 7 Pepino 37 1 dia 5 Pimentão 10 5 dias 1, 4 ou 7 Tomate 12 4 dias 5 40 3 dias 2 Temperatura e duração da exposição utilizadas no condicionamento térmico Realizado antes dos danos tornarem-se irreversíveis Interrupção do armazenamento refrigerado por um ou mais períodos de temperatura moderada AQUECIMENTO INTERMITENTE Aumento na síntese de aminas biogênicas Mantém o grau de insaturação dos ácidos graxos da membrana Aumenta expressão de enzimas antioxidativas Proporção ideal AGI/AGS = 3:1 Frequência, temperatura e duração do aquecimento intermitente para alguns frutos, como forma de reduzir os danos de frio Fruto Temperatura de armazenamento (oC) Frequência do aquecimento Temperatura de aquecimento (oC) Duração do aquecimento Abobrinha 2,5 a cada 3 dias 20 1 dia Ameixa 0 uma vez após 10 dias 7-8 7 dias Limão 2,0 a cada 21 dias 13 7 dias Maçã 0 Uma vez após 6 a 8 semanas 15 5 dias Pepino 2,5 a cada 3 dias 20 1 dia Pimentão 1 a cada 3 dias 21 1 dia Tomate 9 a cada 6 dias 20 1 dia INJÚRIAS POR FRIO EM PÊSSEGO Com lanosidade Sem lanosidade Escurecimento de polpa “Internal reddning” Fonte: Lurie & Crisosto (2005) EFEITO DO AQUECIMENTO INTERMITENTE EM PÊSSEGO ‘BR-6’ Tratamento Sem aquecimento Aquecimento por 7 h Aquecimento por 21 h Aquecimento por 25 h Aquecimento por 45 h Escurecimento de polpa (%) 67,83 62,60 2,34 1,10 0,00 Firmeza de polpa (Newtons) 48,95 30,57 26,01 25,85 23,55 Aquecimento a 25oC, realizado após 10 dias de armazenamento a 0oC Fonte: Kluge et al. (1996) Lanosidade (woolliness) • Lanosidade: está associada ao desbalanço enzimáticos das enzimas que degradam a parede celular • Enzimas envolvidas: – Poligalacturonase (PG) – Pectinametilesterase (PME) • Ocorre alteração na degradação das pectinas da parede celular, tornando-as parcialmente degradadas (aumento na atividade da PME e inibição ou diminuição da PG) MÉTODOS PARA REDUZIR A LANOSIDADE • Condicionamento térmico • Aquecimento intermitente • Alteração da atmosfera – Atmosfera modificada – Atmosfera controlada • Importante: não bloquear totalmente o etileno Aplicação de alta ou moderada temperatura por curto período antes do armazenamento refrigerado CONDICIONAMENTO TÉRMICO Pré-amadurecimento Mantém atividade enzimática responsável pela degradação da pectina Reduz lanosidade Desvantagem: perda de firmeza (30%) Pré-amadurecimento 15 a 25oC durante 24 a 48 horas 15oC durante 36-48 horas 20oC durante 24-36 horas 25oC durante 24 horas 6-7 semanas a 0oC Realizado antes dos sintomas tornarem-se irreversíveis Interrupção do armazenamento refrigerado por um ou mais períodos de temperatura moderada AQUECIMENTO INTERMITENTE Aumento na síntese de etileno Aumento na expressão das enzimas que degradam a pectina Exemplo de aquecimento intermitente para reduzir lanosidade AQUECIMENTO INTERMITENTE 10-12 dias 0oC 24 horas a 20oC + 3 semanas a 0oC Desvantagem: perda de firmeza (30%) Controle Aquecimento intermitente - Reduzem atividade das enzimas ao mesmo nível - Mantém relação PG/PME MODIFICAÇÃO DA ATMOSFERA Atmosfera Modificada Atmosfera Controlada Embalagens plásticas não perfuradas 8-10% CO2 2-3% O2 Vantagem: pouca perda de firmeza DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS RELACIONADOS COM A COMPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA •Alta concentração de CO2 •Baixa concentração de O2 •Amônia •Etileno ALTO TEOR DE CO2 > 8% morte de células escurecimento da polpa formação de cavernas Dano de CO2 em maçã (miolo marrom) Cortesia: Ivoni Gutler Dano de CO2 goiaba > 8% Cortesia: Angelo Jacomino BAIXO TEOR DE O2 < 1% respiração anaeróbica acúmulo de acetaldeído e etanol alteração do sabor Cortesia: Angelo Jacomino Cortesia: Angelo Jacomino Dano de Amônia Dano de irradiação > 1 kGy Foto: Marta Spoto