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TECNOLOGIA DO PESCADO: SECAGEM, SALGA E DEFUMAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS Profª: Thaisa Abrantes Souza Gusmão Secagem do Pescado Introdução A secagem é um processo que consiste na remoção da água; Método tradicional de conservação; Pode ser combinada com a salga e/ou defumação; Muito utilizado em regiões onde não existe fácil acesso a redes de frio; É aplicável a várias espécies de crustáceos, moluscos e peixes Introdução A água presente no pescado é determinante para sua conservação (60 a 80%); Disponíveis para serem utilizados em fenômenos químicos ou biológicos; A secagem tem como principal objetivo prolongar a vida útil; Diminui o peso e o volume do pescado, facilitando o transporte e armazenamento; Técnica mais utilizada: evaporação da água da superfície do produto; Outras técnicas: Liofilização Umidade e atividade de água A quantidade de água presente no pescado é frequentemente expressa pelo teor de água; Pescado seco: <25%; A umidade não representa uma medida da disponibilidade de água para o crescimento de MO; Água livre (disponível) e água ligada; O teor de água “disponível” Aw (0 a 1); Pescado fresco aw > 0,95; Após a secagem aw < 0,75; A aw diminui com a adição de solutos (sal, açúcar); Fundamentos secagem No pescado, a forma de secagem mais frequente é a sua exposição ao ar quente; A capacidade do ar para remover a água depender do teor de água e de sua temperatura (psicrometria): Umidade absoluta ou específica; Umidade de saturação Ponto de orvalho; Umidade relativa; Temperatura de bulbo úmido; Temperatura de bulbo seco; oTBU < T , pois a evaporação esfria a superfície; Se TBU= T não ocorre evaporação; oSe UR for 100%, o ar está saturado e não ocorre evaporação Fases da operação A operação de secagem compreende dois fenômenos: 1. a evaporação da água da superfície 2. a migração da água do interior do pescado até a superfície; Métodos de secagem Métodos naturais e/ou artificiais; Natural a secagem realiza-se expondo o pescado ao sol e ao vento; A secagem natural depende das condições naturais do tempo; Durante a noite deve-se proceder o recolhimento do pescado; Existe sempre o perigo do sol queimar o produto e das chuvas o deteriorarem; Em muitas áreas os peixes são simplesmente colocados na praia ou sobre rochas ao sol pode resultar em contaminações e não possibilita a circulação do ar; Preferível sua suspensão em grelhas afastados do chão (técnica barata, mas pode durar semanas) redução do teor de água de 50%; Só é efetiva com baixa umidade relativa Métodos de secagem Uma vez que a secagem ao ar livre depende das condições climáticas (incertas e incontroláveis) recorre-se à montagem de tendas solares; São aquecidas por materiais que absorvem radiações solares; Baixa velocidade do ar em seu interior (baixa eficiência de secagem); Métodos de secagem Utilização de secadores artificiais (operam em condições termodinâmicas controladas) controle dos parâmetros de processo; Temperatura, Umidade relativa e velocidade do ar; Produtos com características uniformes e de qualidade; O pescado é colocado em tabuleiros no interior da câmara de secagem , sendo seco através da circulação forçada de ar; Os valores dos parâmetros dependem do teor de gordura do pescado; Em geral: T= 30-40°C UR= 45-55% Velocidade do ar: 2-3 m/s Métodos de secagem Aplicações e limitações Regra geral: qualquer espécie de peixe, molusco ou crustáceos pode ser conservada pela secagem; Vasta aplicação em espécies magras; Espécies gordas estão sujeitas à alteração da gordura (rancificação); Apenas peixes de pequeno porte ou peixes planos finos são secos inteiros; O pescado seco é estável a temperatura ambiente durante meses; Devem ser embalados com materiais impermeáveis; O pescado reidratado não recupera a turgidez dos produtos frescos ( <CRA, > dureza); Salga do pescado Introdução É um dos métodos mais antigos usados na preservação do pescado; Consiste no emprego do sal em concentrações adequadas; Diminui ou até mesmo impede a decomposição do produto. Matérias-primas (pescado) Todas as espécies de pescado podem ser objeto de salga; A qualidade do pescado salgado está intrinsecamente relacionada com a qualidade da MP; A salga não atenua os efeitos de alterações sensoriais, bioquímicas e microbiológicas que tenham ocorrido; O pescado destinado a salga não deve estar “rasgado” e deve-se apresentar fresco. Matéria-prima (Sal) A qualidade do sal é igualmente importante; Deve apresentar cor branca brilhante, não ter sabor amargo, não conter areia ou outras impurezas; Estar acondicionado em caixas ou sacos limpos e fechados. Tipos de sal e composição Tipos de sal: Sal marinho (extraído por evaporação da água do mar) mais utilizado; Sal de águas subterrâneas; Sal-gema (resultante de minas de mares e lagos que secaram); Em termos de granulometria: Fino (pequenos cristais 0,5 a 1,5 mm); Médio (cristais entre 1,5 a 3 mm); Grosso (> 3-5 mm); Traçado (mistura de sal grosso e fino). Tipos de sal e composição O sal marinho é constituído fundamentalmente por NaCl; - Sal fraco: < 90% NaCl; - Sal forte: 90-95% NaCl; - Muito forte: > 95% NaCl; Restante: cloretos, sulfatos de cálcio e magnésio Sal marinho: cloretos (Cl -55,03%); sódio (Na-30,59%); sulfato (SO4- 8,68%); magnésio (Mg- 3,68%); Cálcio (Ca-1,18%) e potássio (K-1,11%). Tipos de sal e composição Os padrões internacionais de composição química de sal de primeira qualidade são: Teor mínimo de cloreto de sódio – 97,5%; Impurezas de sais de cálcio até 0,6%; Impurezas de sais de magnésio até 0,5%. Funções do sal A conservação pelo sal baseia-se na sua difusão para o interior dos tecidos do pescado acompanhada de perda da água livre: < aw; A adição do sal também pode aumentar a palatabilidade e acentuar a percepção do flavor do pescado; Nos produtos com teores elevados de gordura, a percepção e a aceitação de sal são superiores; Concentrações de Sal: 1 a 3% – verifica-se uma aceleração no desenvolvimento da maioria das bactérias patogênicas e envolvidas no processo de putrefação; Acima de 15% – inibem o desenvolvimento das bactérias pela redução da atividade de água. Lavagem Descamação e Evisceração Lavagem Cortes SALGA Salga seca Salga úmida Pilhas Tanques de cura Prensagem Embalagem Secagem Estocagem Fluxograma das Etapas de Salga O processo de salga exige uma preparação adequada da MP e a seleção do tipo de processo Preparação da MP Devem utilizar-se mesas de trabalho limpas, facas bem afiadas para não rasgar o peixe; O pescado deverá ser sangrado, descabeçado, eviscerado, lavado e/ou filetado; Pode ser salgado a bordo (BPF); A lavagem deve ser com água limpa e conter uma pequena quantidade de sal; Depois de lavado o peixe é escorrido e a salga é a etapa seguinte. Métodos de salga A salga pode ser efetuada de diferentes maneiras: Seca ou livre; Em salmoura ou úmida; Mista; A vácuo por injeção (recente) Os produtos salgados podem ser classificados em: Muito salgados (bacalhau aw 0,75); Ligeiramente salgados. Salga seca Consiste no empilhamento do peixe sobre estrados ou dentro de caixas/tanques perfurados; Os peixes são intercalados com camadas de sal; Devem ser arrumados com a parte aberta virada para cima; A primeira e a última camada da pilha é constituída por sal (1,5 a 2 cm); A escolha da granulometria do sal é muito importante: Uso 1/3 de sal fino traçado com 2/3 de sal grosso Salga seca Durante a salga pode ser necessário refazer a pilha de peixe; O peixe de camadas inferiores é transferido para as superiores (acrescentando mais sal se necessário); Para acelerar a saída de água podem colocar-se pesos sobre o peixe; A altura das pilhas de peixe e o tempo de salga é variável; Bacalhau: 2 a 8 semanas A maior parte do peixe salgado por este processo destina-se a secagem posterior Salga em salmoura É mais fácil controlar do que a salga seca; Mais conveniente para peixes pequenos (são difíceis de arrumar em camadas uniformes); Salmoura saturada (360 g por cada litro de água a T=20°C); 100 l de salmoura para 100 kg de peixe; Se o sal tiver qualidade duvidosa ou a água, a salmoura pode ser fervida (eliminando a espuma que fica na superfície) Salga em salmoura Vantagem: Penetração uniforme do sal; Maior rendimento e melhor qualidade. Temperatura (°C) Quantidade de sal para preparar uma salmoura concentrada (g) 0 350 15 357 20 360 100 390 Salga em salmoura Depois da salmoura pronta, introduz-se o pescado assegurando que fique todo mergulhado; Se a salmoura for agitada de vez em quando a salga será mais rápida; O processo de salga pode ocorrer em até 24hrs (espécies pequenas) e 60hrs (espécies de maior tamanho); Possibilita a preparação de produtos delicados e com teores de sal mais homogêneos. Salga mista Mista – é uma combinação dos processos anteriores sendo o método mais empregado atualmente. Formam-se camadas de pescado e sal em recipientes que impedem a perda da salmoura. Usam-se também pesos para garantia de imersão dos pescados na salmoura formada. Salga por impregnação sob vácuo e por injeção Resulta da experiência obtida na fabricação de queijo e presunto; Tem sido aplicado na salga de bacalhau e salmão; É uma operação rápida e o rendimento é superior em relação as tecnologias tradicionais; O processo requer uma câmara hermética acoplada a um sistema de vácuo; O produto é colocado em uma salmoura com concentração definida; Salga por impregnação sob vácuo e por injeção Fatores que influenciam a salga Temperatura; Tamanho e espessura do peixe; Agitação da salmoura; Imersão do pescado; Pele e escamas; Presença de açúcares na salmoura; Espécies gordas Conservação do peixe salgado O período de conservação depende do teor de sal, pH e temperatura ambiente; Apenas os produtos de “salga forte” podem ser armazenados por períodos mais longos; Produtos ligeiramente salgados tem que ser conservados a temperaturas entre 2 a 8°C; Defumação do pescado Defumação A combinação da fumaça, sal e secagem (defumação) é um dos métodos mais antigos de conservação; Proporciona uma nova alternativa de sabor, cor, aroma e textura agradável ao pescado; Agrega valor ao produto; A perda da água e a ação dos constituintes da fumaça conferem uma barreira física e química; Lavagem Corte e Limpeza da matéria-prima Lavagem Salga Lavagem e drenagem DEFUMAÇÃO Esfriamento Empacotamento Processamento da Defumação Distribuição Pré-secagem As matérias primas utilizadas são: Anchova; Sardinha; Cavalinha; Arenque; Tilápia; Alguns mariscos, polvos, lulas, etc. Peixes magros – aspecto externo e rendimento são insatisfatórios não conferindo sabor e aroma desejados; Peixes gordos – a secagem é dificultada. Matérias-primas Tipos de defumação Defumação: fria ou quente; A defumação a frio conta com uma etapa de desidratação pelo uso do sal (sal + açúcar + especiarias); A defumação a frio não tem como função exclusiva aplicação de fumaça ao produto; A defumação a quente tem a função de aplicar calor (cozimento do produto); Devem ter uma aw < 0,85 Defumação a quente Usa temperatura superior a 40°C; Dividem-se em três processos: pré-aquecimento, dessecação e acondicionamento; É necessário um cuidado especial para evitar o cozimento excessivo da carne; O pescado deve ficar exposto à fumaça por tempo suficiente para dar cor desejada ao produto (80-85°C por 2-3horas); Os produtos submetidos a esse tipo de defumação não duram muito; Podem ser consumidos sem necessidade de cozimento; A fonte combustível recomendada é a madeira (serragem ou aparas). Defumação a frio Temperatura da fumaça: 15 a 30°C; Os produtos exigem cocção antes de serem consumidos; Tempo de defumação - 3 a 4 semanas; Umidade final – cerca de 40%; Teor de sal – elevado. Defumação a quente – visa mais proporcionar sabor característico do que prolongamento da vida útil do produto. Defumação a frio – a matéria-prima é submetida ao processo de salga seca tornando a carne mais firme favorecendo uma maior impregnação da fumaça e maior poder de conservação. Defumação líquida Imerge-se o pescado por alguns segundos em solução de extratos líquidos de fumaça; Em seguida, o pescado é defumado normalmente; Solução de fumaça (condensação da fumaça em água); Reter os componentes da fumaça em suportes líquidos (água, azeite, vinagre); Concentração: 0,2 até 0,5% Composição da fumaça A composição química da madeira determina a composição e as propriedades da fumaça; As mais utilizadas são carvalho e elmo; Da pirólise da hemicelulose e celulose resultam ácidos e álcoois; Temperaturas acima de 250°C - ocorre combustão da lignina acarretando: formação de compostos cancerígenos; influência negativa sobre o valor biológico, digestibilidade e textura; favorece o desprendimento de gás sulfídrico que prejudica a qualidade do sabor do produto. Composição da fumaça Os componentes químicos da fumaça podem ser classificados em quatro grupos: compostos ácidos, fenólicos, carbonílicos e hidrocarbonetos; Os três primeiros contribuem com as reações que afetam a cor e o sabor; O quarto grupo (hidrocarbonetos) não é desejável; Recentemente tem-se utilizado a casca de arroz como material para obtenção Tipos de defumadores Dois tipos são comumente utilizados: defumador tradicional (simples) e o defumador mecânico(industrial); Defumador simples: A fonte de calor e fumaça e o suporte de apoio aos peixes fica na mesma câmara, ou apenas a fonte de fumaça fica em câmaras separadas; Utilizam convecção natural Tipos de defumadores Defumadores mecânicos (industrial): Câmaras diferentes; A temperatura, umidade, a distribuição da fumaça devem ser uniformes; Sistemas de defumação automáticos; Convecção forçada do ar: - Horizontal: produtos que são colocados em bandejas; - Vertical: produtos pendurados por hastes Rendimentos e características do produto final Varia com o tipo e método de defumação: Peixes grandes – 51 a 78%; Peixes médios – 42 a 76%; Peixes pequenos – 39 a 75% Vida útil e Índices de qualidade Depende da embalagem e temperatura de estocagem. Os índices de qualidade são superfície brilhante, ausência de sais na superfície, coloração uniforme e dourada e textura firme. Etapas da defumação a quente de filés de esturjão: (1) Esturjão cultivado; (2) Preparo dos filés sem pele; (3) Salga seca; (4) Toalete dos filés; (5) Disposição nas grades do defumador; (6) Colocação de termopares para registro de temperatura do processo; (7) Filés defumados; (8) Embalagem a vácuo; (9) Produto final congelado e embalado a vácuo. Vida de prateleira de produtos defumados A vida de prateleira de produtos defumados pelo processo a quente depende:embalagem e temperatura de estocagem; Logo após a defumação os produtos devem ser resfriados á temperatura ambiente antes de serem embalados; Embalagem a vácuo: maior tempo; Pescado defumado a quente: duas semanas a 4°C; Pescado defumado a frio (mais salgado): refrigerado por 2 meses; Grande parte do pescado defumado é congelado Marinação do pescado Marinação Desenvolvimento de técnicas de preservação; Combinação de todas as técnicas; A salmoura ácida é usada para a conservação do pescado (marinado); Tratamento osmótico com uma solução de NaCl e ácido acético; Também utilizado como amaciante da carne; O pescado marinado é caracterizado por cheiro e gostos típicos (adição de temperos); São classificados como semiconservas; Mercado europeu (arenque); Marinados frios O peixe em solução de ácido acético e sal leva alguns dias para alterar as propriedades físicas e sensoriais; 4-4,5% de ácido acético; 7-8% de sal; O pescado inteiro pode ser colocado em solução (vinagre, temperos em geral). Fluxograma de elaboração de pescado marinado Pescado in natura Classificação/sele ção Limpeza/lavagem Filetagem ou corte Salmouragem Branqueamento Banho de acabamento (marinado) Banho de cobertura Embalagem Descrição das estapas Salmouragem: 8-10% de sal por 1hora; Branqueamento: Peróxido de hidrogênio a 30%; Banho de acabamento: ácido acético + sal ( 3 a 8 dias); Banho de cobertura: os peixes são embalados e coloca-se o molho de cobertura (1-2% ácido acético e 2-4% de sal); Rodelas ou pedaços de cebola, cenoura em conserva podem servir de “enfeites”; Vida de prateleira: 14 dias 0-8°C Marinados cozidos Após a limpeza, os produtos são espalhados em peneiras chatas que são empilhadas em um banho-maria (82°C por 10-15min); O banho contém ácido acético e sal na proporção 1:1; O conteúdo de sal e ácido no final do produto é crucial para a sua conservação; Recomenda-se: 1,2% de ácido e 2-4% de sal; Após essa etapa, o pescado é lavado e resfriado em água; No processo de embalagem, o produto é recoberto com uma solução de gelatina (sal+ácido+condimentos); O objetivo do tratamento térmico é exclusivamente para deixar o produto final para o consumo Marinados fritos São ajustados para o consumo humano pela fritura; Após a limpeza e salga, o pescado é bem escorrido e tratado duas vezes com uma mistura de empanados com farinha de trigo; O pescado é frito em óleo vegetal (160-180°C por 4- 6 min); Posteriormente o produto é coberto por uma solução contendo ácido acético, sal, açúcar e condimentos; São embalados em latas ou vidros; Podem chegar a 1 ano (0-8°C) Pesquisas Estocagem sob congelamento de camarão rosa de profundidade marinado; Vida de prateleira de sardinha marinada em molho de tomate; Estabilidade de mexilhões em duas diferentes formulações de marinação; Estudo da vida de prateleira de filés de bonito e anchova marinados
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