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85 TÉCNICA DIETÉTICA Unidade III 7 ÓLEOS, GORDURAS E CARNES 7.1 Óleos e gorduras Os óleos e as gorduras abrangem uma gama de substâncias. De maneira genérica, podem ser considerados compostos encontrados nos organismos vivos, geralmente, insolúveis em água (hidrofóbicos), porém solúveis em solventes orgânicos. São formados, predominantemente, por produtos de condensação entre o glicerol e ácidos graxos, denominados triglicerídeos. A distinção entre óleos e gorduras se deve às diferenças de estado físico. À temperatura ambiente as gorduras são semissólidas e os óleos são líquidos. Óleos e gorduras são substâncias que agregam sabor às preparações, servem de condutor de calor durante as ações de cocção dos alimentos, apresentam alta densidade energética e servem de veículo de vitaminas lipossolúveis. Entre eles destacam‑se os óleos extraídos de grãos e sementes (soja, milho, canola, girassol) ou extraídos de frutos (azeitona e dendê). Entre as gorduras têm‑se a banha, o toucinho, a manteiga e o bacon. 7.1.1 Valor nutricional Óleos e gorduras são fonte de energia na dieta, já que contribuem com calorias, ou seja, um grama de gordura fornece 9 kcal. 7.1.2 Características funcionais Os óleos e as gorduras desempenham várias funções, tais como: • Valor nutritivo, por meio da adição de óleos ou gorduras em preparações aumenta a densidade energética. • Aumenta o sabor e a palatabilidade da preparação. • Confere maciez e leveza. • Saciedade. 86 Unidade III • Estabilidade à preparação, já que cria uma barreira contra a umidade. • Veículo de vitaminas lipossolúveis. 7.1.3 Classificação • Saturadas: geralmente de origem animal, apresentam maior quantidade de ácidos saturados. Em temperatura ambiente são semissólidas e apresentam alto ponto de fusão. Exemplos: toicinho, bacon e sebo. • Insaturadas: geralmente de origem vegetal e líquidas à temperatura ambiente, apresentam maior quantidade de ácidos insaturados. Pertencem a esse grupo os óleos vegetais, tais como amendoim, canola, milho, oliva e soja. • Gorduras do leite e derivados: apresentam ácidos graxos de cadeia curta em grande quantidade e se decompõem em baixa temperatura. Exemplos: creme de leite e manteiga. • Grupo de ácido láurico: gorduras que apresentam alta concentração de ácido láurico (ácido graxo de cadeia média) e pequenas concentrações de ácidos saturados e insaturados. Essa característica aumenta o tempo de armazenamento de óleos pertencentes a este grupo. Exemplos: óleo de dendê e babaçu. 7.1.4 Conservação Óleos e gorduras podem ser conversados fora da geladeira desde que conservados adequadamente em recipientes vedados, local fresco e sem muita presença de luz, impedindo assim a oxidação. Eles podem se deteriorar rapidamente e com facilidade, produzindo ranço, ou seja, ocorrem mudanças físico‑químicas em sua estrutura (oxidação e hidrólise), ocasionando alterações em suas propriedades sensoriais. A oxidação ocorre quando gorduras não saturadas são expostas ao ambiente sem que haja proteção (luz, calor e umidade), produzindo hidroperóxidos. Essas moléculas se hidrolisam rapidamente em pedaços, originando substâncias voláteis que conferem cheiro de ranço e produzindo sabor e odor característicos. A rancidez (por processo oxidativo) produz compostos maléficos à saúde, tais como malonaldeído e óxidos de colesterol, havendo também perdas vitamínicas (A e E). A presença de traços de metais (ferro e cobre, por exemplo) podem acelerar o processo de oxidação. A oxidação lipídica pode ser prevenida pelo armazenamento adequado, que consiste em acondicioná‑las sob o frio com exclusão de ar e luz, além da adição de antioxidantes que podem retardar ou impedir o processo. 87 TÉCNICA DIETÉTICA H H H H H H H H H C C C C C C C C C O O O ROO radical peroxil Pigmentos Descoloração ROOH: peróxido (oxidação) Oxidação da proteínaProteína Proteína Terminação Propagação Iniciação Alteração de “flavor“, cor, textura, val. nutritivo Vitaminas A‑C‑D‑E‑KDiminuição do valor nutritivo Oxidação Reaç. Maillard deg. Strecker Oxid. secundária (rancificação) Aldeído, ácidos, álcoois, epóxido, polímeros, hidrocarbonetos, ácidos graxos cíclicos etc. H H R O O (3O2) C C C C O OH H H C C C C H H + .H Local da oxidação Energia: luz U.V., calor Sensores: pigm. naturais, metaisPeróxido radical livre C C R + (CH 2)6 (CH2)7 CH3O O O 1O2 O O R R H R RH: triglicerídio R: ácido graxo O Figura 11 – Alterações químicas nos alimentos em decorrência da oxidação lipídica • Hidrólise: ocorre quando a gordura possui enzimas que a desdobram em ácidos graxos e glicerinas, aumentando a acidez, soltando o odor dos ácidos que então são liberados. A manteiga, por exemplo, tem esse odor proveniente dos ácidos butírico e caproico, que são voláteis. A decomposição da lecitina confere um sabor de peixe às gorduras. 7.1.5 Tipos • Óleos: são líquidos à temperatura ambiente, extraídos de sementes de várias plantas (girassol, milho, algodão, soja). Podem ser utilizados para fritar, refogar ou temperar alimentos. Agem como condutores de calor e podem agregar sabor e maciez às preparações como bolos e pães. 88 Unidade III • Óleo misto: composto de azeite de oliva e óleo de soja, a uma proporção mínima de 15% de azeite de oliva. É muito utilizado para temperar saladas. • Azeite de oliva: obtido pela prensagem mecânica das azeitonas. Fonte de vitamina E, pode ser classificado em: extravirgem, virgem, lampante e oliva comum. A qualidade do azeite está associada à sua acidez. O melhor azeite é aquele que tem acidez de até 0,8%, denominado extravirgem. Quanto menor a acidez, mais gorduras boas, melhor a qualidade nutricional e maiores serão os benefícios à saúde. A leitura do rótulo é de fundamental importância para escolher o melhor azeite. O azeite é muito utilizado para temperar saladas, elaborar molhos ou preparar emulsões. Serve também para regar preparações como pizza, refogados, entre outros. O azeite não é indicado para frituras, pois quando aquecido em altas temperaturas (acima do seu ponto de fumaça) pode perder o odor e o sabor. — Extravirgem: obtido pela prensagem a frio das azeitonas. Como não sofre processo de refinamento, preserva seus nutrientes benéficos integralmente (principalmente os antioxidantes e vitaminas) e possui alta qualidade gastronômica, devido ao sabor acentuado. — Virgem: obtido do fruto de oliva apenas por processos físicos e/ou mecânicos. O azeite de boa qualidade pode apresentar diferenças de cheiro e sabor se comparado ao azeite extravirgem. — Azeite lampante: não é recomendado para consumo direto, por apresentar acidez intensa. Para ser comercializando deve ser submetido à refinação (neutralização, descoloração e desodorização) e misturado a outros óleos. — Comum: proveniente do azeite lampante, porém refinado, o que faz com que tenha cor mais clara e perfume/sabor menos acentuado. Para ser comercializado, recebe a adição de azeite virgem ou extravirgem. É normalmente usado para frituras, e por ser mais barato é bastante comum no mercado brasileiro. Apresenta menores teores de vitaminas que os azeites virgens. • Banha: gordura oriunda dos tecidos adiposos de suínos. Ao ser aquecida, transforma‑se em óleo, se solidificando à temperatura ambiente. Apresenta cor branca, odor e sabor bem característicos. Muito utilizada em preparações de massas, principalmente na massa podre, em empadas e nas tortas, já que apresentam a propriedade de isolar o glúten. • Gordura vegetal hidrogenada: apesar de ser de origem vegetal, se apresenta na forma sólida à temperatura ambiente. Os ácidos graxos instaurados presentes no óleo de soja, com o processo de hidrogenação, se tornam saturados, mudando seu estado físico de líquido para sólido (em temperatura ambiente). O processo de saturação aumenta o ponto de fusão. Sua utilização em algumas receitas pode apresentar vantagens ao preparar massas, empadas e tortas, pois exigemenos farinha. Ao ser utilizada no preparo de bolos pode proporcionar maciez e melhorar o crescimento da massa, uma vez que incorpora mais ar ao ser batida. Utilizada ainda em frituras de imersão e em glacês. 89 TÉCNICA DIETÉTICA • Toucinho, bacon (toucinho defumado) e gorduras da carne: tecidos gordurosos do porco com o respectivo couro, localizados logo abaixo da pele. Quando submetidos ao calor se separam. • Creme de leite e gorduras da gema do ovo: apresentam‑se em forma emulsionada, facilitando a digestão. • Manteiga: produto derivado do leite, obtido por meio do creme de leite batido. Apresenta 80% de gordura, lactose, água e sal. Fonte de gordura saturada e colesterol, além de vitamina A. Deve ser consumida com moderação. É utilizada no acompanhamento de pães e torradas, como agregador de sabor. É adequada para o preparo de bolos e massas podres. Por apresentar partículas sólidas e bastante umidade, quando aquecida queima antes de atingir o ponto de fumaça, podendo espirrar, não sendo ideal em frituras de imersão. Porém, pode ser utilizada no preparo de ovos, omeletes, panquecas e para refogar, dourar ou até mesmo saltear os alimentos. • Margarina: gordura líquida de origem vegetal, que quando hidrogenada se torna sólida à temperatura ambiente. Contém leite, soro do leite e aditivos, pouca gordura do leite (até 3%), com teor de gordura que varia entre 35% a 85%. Margarinas com menores teores de gordura (35%) são classificadas como light. Devem ser enriquecidas com vitaminas A e D e substâncias que tornem sua cor e sabor semelhantes ao da manteiga. Sua utilização em preparações se assemelha à da manteiga. • Manteiga ghee: manteiga clarificada muito utilizada na culinária indiana. Suporta altas temperaturas (até 190 °C) e seu preparo se dá por meio do cozimento lento da manteiga, no qual há a formação de uma espuma que deve ser retirada, sendo o líquido remanescente no fundo da panela a ghee. • Creme vegetal: produto com características similares à margarina em relação a sabor, textura, maciez e cor. Se diferencia no teor de gorduras (42% a 68%) e por não apresentar leite ou derivados lácteos. Apresenta as mesmas aplicações em preparações que a margarina. • Manteigas de oleaginosas (castanhas) e amendoim: atualmente existe no mercado uma gama de produtos à base de amendoim e oleaginosas, que podem ser utilizados para agregar sabor e densidade energética e nutritiva às preparações. • Maionese: mistura de óleo e água emulsionada com auxílio de ovos. Deve conter, no mínimo, 65% de óleos e três gemas de ovo por quilo (maionese ultraprocessada). Utilizada no preparo de lanches, saladas, sanduíches e preparações requintadas. 7.1.6 Propriedades • Ponto de fusão: ao aplicar calor à gordura passa do seu estado sólido para o líquido, sendo influenciada pelo tamanho da cadeia carbônica (quanto maior a cadeia, mais alto será o ponto de fusão) e pelo número de duplas ligações (quanto mais duplas ligações, menor será o ponto de fusão). 90 Unidade III Ácido esteárico (C18:0) PF = 70 ºC Ácido elaídico (C18:1 trans) PF = 51 ºC Ácido oleico (C18:1 cis) PF = 11 ºC Figura 12 – Estruturas e ponto de fusão de óleos e gorduras • Ponto de fumaça: em altas temperaturas as gorduras sofrem alterações, podendo se decompor. Inicialmente se desdobra em ácidos graxos e glicerol, e intensificando o aquecimento (por exemplo, durante a fritura) o glicerol é desidratado, o que dá origem ao aldeído acrílico, também chamado de acroleína, substância que irrita a mucosa gástrica e conjuntiva. O H+ água Triacilglicerol (óleo ou gordura) lipase 2H R1 R3 + + C C O O OH OH H C C R1 R2 R3 O O C C C C H O O O O H H H H C H R2 O C C C H H O O O H H H Figura 13 – Reação de hidrólise enzimática A acroleína é percebida como um vapor tênue, de cor esbranquiçada, de odor bem desagradável, que pode ser observada a olho nu pela liberação de uma fumaça densa denominada ponto de fumaça. Lembrete A acroleína é conhecida como propenal, cuja fórmula química é C3H4O. É um composto aldeído obtido pela desidratação da glicerina. Apresenta odor e sabor amargo. Pelo fato de as gorduras e os óleos apresentarem diferentes pontos de fumaça, quando utilizados para frituras deve‑se escolher aquela que apresentar maior resistência (maior ponto de fumaça). 91 TÉCNICA DIETÉTICA A presença de partículas suspensas, como farinhas de preparações empanadas, pode diminuir o ponto de fumaça. Tabela 11 – Tipos de gordura, temperatura do ponto de fumaça e tempo de aquecimento Tipo de gordura Temperatura do ponto de fumaça Tempo de aquecimento (minutos) Óleo de soja 240 °C 7’ Óleo de canola 233 °C 9’ Óleo misto 220 °C 9’ Óleo de milho 215 °C 7’ Óleo de girassol 183 °C 5’ Óleo de oliva 175 °C 7’ Gordura vegetal hidrogenada 215 °C 17’ Margarina 192 °C 8’ Fonte: Philippi (2003, p. 161). A gordura é um agente de transferência de calor (t = >175‑195 °C). No processo de fritura, ocorre desidratação superficial com formação de crosta, o que confere aroma e sabor característico aos alimentos fritos. Temperaturas de gordura entre 135 °C e 140 °C são consideradas baixas; entre 155 °C a 160 °C, altas (óleo quente); e entre 180 °C a 200 °C ou mais, muito altas. O tempo de aquecimento do óleo pode variar de acordo com a quantidade de óleo utilizada e o tamanho da superfície e espécie do recipiente utilizado para o aquecimento, bem como a intensidade da chama. Ao introduzir alimentos frios, por exemplo, bastonetes de batatas para fritar em óleo quente, a temperatura abaixa. Ao adicionar as batatas em óleo quente (180 °C) a temperatura abaixa para 150 °C. Dessa maneira, o óleo abaixa a temperatura de maneira que impossibilita o dourar do alimento. Cozinhar o alimento previamente pode economizar tempo e também favorecer o processo de fritura e o dourar do alimento. A manteiga ghee (manteiga clarificada) apresenta ponto de fumaça entre 135 °C a 140 °C, uma vez que sua composição foi alterada. Isso ocorre por conter quase que exclusivamente gordura, já que houve a retirada da caseína juntamente com a espuma, havendo também perda de água e de ácidos graxos voláteis por evaporação. A decomposição da gordura também modifica o seu ponto de fumaça, caso seja reutilizada ou por sofrer superaquecimento prévio. Por exemplo, uma gordura ou óleo que se decompõe a 200 °C passa a decompor‑se a 190 °C a 180 °C, e assim sucessivamente, à medida que se repetem os procedimentos. 92 Unidade III O ideal é não reutilizar óleo ou gordura sucessivamente durante as preparações (máximo duas vezes). As gorduras apresentam a propriedade de absorver odor e sabor do alimento que nelas se fritou, como os peixes, por exemplo. Dessa maneira, é preciso destinar essa gordura somente às preparações à base de peixe. 7.1.7 Temperatura e métodos de cocção A gordura e o óleo podem ser utilizados em distintas técnicas de preparações dietéticas, como: • Dourar: para dourar o alimento que foi previamente cozido (bolinhos e croquetes), deve‑se mantê‑lo em óleo quente o mínimo de tempo possível a uma temperatura de 190 °C a 198 °C para não encharcar demais a preparação. • Corar: quando se deseja apenas corar a superfície do alimento, por exemplo, batatas coradas, deve‑se utilizar pequenas quantidades de gorduras à temperatura de 130 °C a 150 °C. • Fritar: técnica na qual o alimento deve estar cru antes de ser imerso em óleo em temperatura alta (180 °C, 200 °C ou mais). O ideal é a utilização de óleo de soja ou milho, pois apresentam maior ponto de fumaça e resistem a temperaturas mais altas. 7.1.8 Tipos de preparação A escolha do tipo de óleo ou gordura varia de acordo com a preparação. Cada receita apresenta características de elaboração que lhe são inerentes, fazendo com que em algumas situações não seja possível alterar o tipo de óleo ou gordura empregado na receita. No preparo de bolos, empadas e tortas (salgadas ou doces) recomenda‑se o uso de margarina oumanteiga, já que incorporam ar na massa, aumentando o volume e mantendo a textura fina. Para a elaboração de pães sugere‑se o uso de gordura vegetal, pois facilita o processo de mistura, promove melhor absorção da massa, aumenta o volume da massa, bem como proporciona textura fina e compacta. Na elaboração de massa folhada o ideal é o uso de margarina ou manteiga. A gordura definirá a estrutura folhada da massa. Já na preparação de biscoitos, o ideal é o uso de gordura vegetal hidrogenada, pois apresenta alta estabilidade, impedindo a rancificação da preparação. 7.1.9 Absorção de gorduras A quantidade de óleo ou gordura absorvida (QAG) em alimentos ou preparações pode sofrer variações de acordo com: tempo de duração do aquecimento do óleo ou gordura; quantidade de alimento ou preparação exposta ao óleo ou à gordura; composição do alimento; e sua forma de apresentação, por exemplo, bife à milanesa, bolinha de queijo, croquete, entre outros. 93 TÉCNICA DIETÉTICA Dessa maneira, a quantidade de óleo (em gramas) absorvido na preparação pode ser obtida pela fórmula: Quantidade de óleo absorvido (g) = (PI (g)) – [(PF (g) + POA (g)] PI = Peso inicial do óleo PF = Peso final do óleo POA = Peso do óleo absorvido no utensílio Para se estimar a porcentagem de óleo absorvido em uma preparação pode‑se utilizar a seguinte fórmula: % de absorção de óleo = Quantidade de óleo absorvido (g) x 100 Peso final da preparação (g) Exemplo de aplicação Avalie a quantidade de óleo absorvido e o percentual de absorção de óleo presente na batata frita, sabendo que o peso líquido da batata é de 338 gramas e o peso final da batata frita (porção) de 163 gramas. A panela continha 500 gramas de óleo antes da fritura e apenas 437 gramas de óleo depois. QAG = (500 g) – (437 g) + (3,5 g) QAG = 59,5 g Assim, é possível calcular a porcentagem que foi absorvida: % de absorção de óleo = 59,5 x 100 63 % de absorção de óleo = 36,50% Saiba mais Para saber mais sobre o calor, assista ao capítulo “Gordura” da série a seguir: SAL, Gordura, Acidez e Calor. Direção: Caroline Suh. EUA: Netflix, 2018. 40 min. 94 Unidade III 7.2 Carnes Carne é um conjunto de tecidos de cor e características que recobre o esqueleto dos animais, bem como o diafragma, a língua, o esôfago e as vísceras. A carne é constituída de tecido muscular, conjuntivo e adiposo. É toda parte comestível dos animais que serve de alimento ao ser humano, como a carne bovina, suína, aves, peixes, moluscos, crustáceos e animais de caça. A carne é constituída de tecido muscular, conjuntivo e adiposo. 7.2.1 Estrutura Tecido muscular O tecido muscular é composto de fibras responsáveis por determinar a consistência da carne. Carnes macias são oriundas de animais mais jovens e de fêmeas, já os animais mais velhos apresentam maior resistência em todos os tecidos, sendo compostos por uma carne mais dura. O exercício muscular também modifica a textura da carne, já que tornam as fibras mais rijas. Outros fatores que influenciam na textura da carne são a espécie do animal e sua alimentação. As fibras musculares apresentam pigmentos, sais inorgânicos, substâncias extrativas, glicogênio, proteínas etc. Eles são responsáveis pela coloração das carnes, como a mioglobina (do músculo) e a hemoglobina (do sangue). Esses pigmentos se comportam de maneira semelhante quando expostos ao oxigênio ou ao calor. Na presença do oxigênio, a hemoglobina forma uma substância denominada oxiemoglobina, de cor vermelho intensa e brilhante. Já quando aquecida (mais de 64 °C) se decompõe, liberando uma substância conhecida como hematina, responsável pela coloração marrom. Em animais jovens a carne é mais clara do que em animais mais velhos. A carne suína apresenta menos pigmentos que outros animais. Além disso, o processo de cocção é um fator determinante na mudança da cor da carne. A carne também apresenta em sua estrutura muscular substâncias extrativas, que são componentes nitrogenados, derivados de nucleoproteínas (bases purínicas, ácido úrico, creatinina, entre outros). Elas são substâncias solúveis em cocção responsáveis por dar sabor à preparação. Tecido conjuntivo Nos tecidos animais tem a função de sustentação, podendo ser branco ou amarelo. Os tendões são de cor branca e apresentam consistência mais rija. Os ligamentos, por sua vez, são mais amarelados e elásticos. 95 TÉCNICA DIETÉTICA O tecido branco, apesar de poder endurecer a carne, transforma‑se em gelatina, quando aplicado calor úmido durante o preparo, tornando‑a mais macia. O tecido amarelo é composto de elastina, sendo encontrado em abundância nos ligamentos que unem os ossos e os órgãos, não podendo ser amaciado quando em cocção. Tanto o colágeno quanto a elastina são insolúveis em água fria, e quando submetidos a calor seco endurecem e dessecam‑se. A quantidade de tecido conjuntivo presente nos animais varia nos diferentes músculos. A carne de porco tende a apresentar menos tecido conjuntivo se comparada à carne de boi. O tecido conjuntivo se encontra de maneira mais presente e em maior proporção em animais machos. Gordura O tecido adiposo está localizado entre as células do tecido conjuntivo, sendo constituído de 75% a 90% de gordura, cuja cor e consistência variam conforme o animal e a localização desse tecido. Apresenta em média de 2% a 4% de proteínas, 0,1% a 0,2% de minerais e 5% a 20% de água. A gordura tem a função de melhorar o sabor, a maciez e suculência da carne cozida e diminui o tempo de cocção. A suculência pode estar relacionada à quantidade e distribuição da gordura (superficial e intramuscular). As carnes compostas de gordura intrafascicular (carnes marmorizadas) são mais macias, uma vez que a gordura impede o ressecamento do tecido muscular durante o processo de cocção. Ossos e cartilagens Em animas adultos os ossos e cartilagens são duros, quebradiços e brancos. Em animais jovens são mais maleáveis, menos quebradiços e de cor rosácea. Relação entre estrutura e maciez A maciez da carne está relacionada à sua palatabilidade e é determinada pela idade e sexo do animal, bem como pela quantidade de gordura. As partes mais exercitadas dos animais (pescoço, pernas, quarto dianteiro) apresentam carnes mais rijas, mas possuem grande quantidade de extratos, responsáveis por acentuar o sabor da carne. Entre os cortes mais macios destacam‑se: filé mignon, lombo e costelas; os mais duros são: acém, paleta, coxão duro e músculo. Métodos de cocção adequados podem tornar esses cortes mais duros em preparações mais macias. 96 Unidade III 7.2.2 Valor nutritivo As carnes são fonte de proteínas de alto valor biológico (10% a 20%), gorduras (5% a 30%), vitaminas (complexo B, A) e minerais (ferro, cálcio, fósforo, zinco, sódio, magnésio, potássio). 7.2.3 Digestibilidade Alimentos fonte de proteína, tais como as carnes, estimulam a secreção dos sucos digestivos. As carnes apresentam uma média de 87% de absorção das proteínas e 96% das gorduras. 7.2.4 Agentes amaciadores Uma série de procedimentos podem ser utilizados com o objetivo de abrandar e amaciar a carne, por exemplo: ação mecânica, enzimática, química ou por maturação a vácuo. Ação mecânica Na prática culinária doméstica, o batedor de bife é o instrumento utilizado para amaciar a carne. Em cozinhas industriais, onde o volume de produção de preparações culinárias é maior, utiliza‑se um equipamento conhecido pelo nome de tenderator. Trata‑se de um equipamento com uma série de lâminas cuja função é seccionar as fibras das carnes, tornando‑as macias. Ação enzimática A utilização de enzimas naturais (papaína e bromelina, enzimas extraídas do mamão e do abacaxi) ou de enzimas industrializadas têm a função de promover a desorganização estrutural das fibras, aumentando a maciez, o que resulta em uma consistência mais gelatinosa. Grandes quantidades de enzimas aplicadas às carnes podem resultar em uma textura friável, textura semelhante às das vísceras, o fígado. Ação químicaUm dos processos mais comuns de aplicação da ação química como amaciante é aplicar a técnica de vinha d’alhos (temperos e vinagre ou vinho). Trata‑se de uma técnica aplicada às carnes (gado, porco, carneiro, coelho, entre outras), na qual são adicionados diferentes temperos de acordo com o tipo de carne. Esse processo é feito às vésperas do preparo. O pH ácido da vinha d’alhos possui ação hidrolisante sobre as proteínas, continuando o fenômeno de maturação natural conferido pelo ácido lático. O uso de limão em peixes, pescados e frutos do mar pode conferir maciez, além de agregar sabor às preparações. 97 TÉCNICA DIETÉTICA 7.2.5 Maturação a vácuo O processo de maturação da carne influencia em sua textura e qualidade. O glicogênio presente no tecido muscular continua a se desdobrar mesmo após o abate do animal, isso porque nem todos os tecidos morrem simultaneamente. Após o abate, há produção de glicose e ácido lático, que por já não existir circulação sanguínea depositam‑se no tecido muscular, modificando o estado de embibição dos coloides. Observa‑se também que as micelas proteicas se agrupam em decorrência do baixo pH, ocasionando assim a rigidez cadavérica. O ácido lático apresenta ação reversível, já que continua agindo sob o tecido muscular, hidrolisando as proteínas, o que leva ao seu abrandamento. As carnes embaladas a vácuo e mantidas sob refrigeração protegem os aspectos sensoriais (cor, sabor e textura), sem que haja alteração do valor nutricional. 7.2.6 Cocção A cocção associa‑se ao tipo de corte e qualidade da carne. Em cortes de carne com pouco colágeno (paleta, acém, fraldinha, peito e capa de filé) deve‑se aplicar calor úmido no preparo. Já o calor seco pode ser aplicado em cortes de carnes mais macias e de primeira, tais como: alcatra, lagarto, peito de frango e peixes, e em preparações grelhadas ou até mesmo malpassadas. O método a ser empregado na cocção depende do tamanho e da grossura do pedaço de carne a ser preparado. A cocção também tem como objetivo eliminar micro‑organismos patogênicos, coagular as proteínas, abrandar o tecido conjuntivo e propiciar o desenvolvimento de sabor agradável. O processo de cocção das carnes reduz em pelo menos 10% do seu peso inicial. Em preparações como churrasco, por exemplo, há perda por goteio (liquefação da gordura da carne ao se aplicar calor a uma temperatura média de 50 °C). Outras preparações, tais como bife à milanesa, rosbife e carne assada perdem cerca de 15%, 25% e 40% de peso, respectivamente. O processo de cocção das carnes propicia perda por goteio (até 5%) de substâncias nitrogenadas não proteicas, perdendo também de 20% a 30% de substâncias extrativas até 30% de sódio e potássio e 20% de cálcio e ferro. Em cocção úmida por fervura perde‑se em média de 2% a 5%, enquanto a vapor a perda é de 2%. O processo de cocção por calor seco (fritura) concentra a quantidade proteica presente na carne. 98 Unidade III Temperatura de cocção A tabela a seguir determina as temperaturas ideais de cocção de carnes. Carnes como peixe e aves, que apresentam maior quantidade de tecido conjuntivo, devem ser cozidas em temperaturas mais brandas (média de 50 °C a 60 °C). Tabela 12 – Temperatura de cocção das carnes Malpassada 52 – 55 °C Ao ponto para malpassada 55 – 60 °C Ao ponto 60 ‑65 °C Ao ponto para bem passada 65 – 69 °C Bem passada 70 – 100 °C Adaptada de: Philippi (2003). 7.2.7 Cortes de carne de vacum Os cortes das carnes diferem de um país para o outro ou até mesmo de açougue, que é guiado pelo mercado consumidor, bem como pelas características de cada sistema produtivo. A nomenclatura também pode variar. O corte de carne no Brasil difere, por exemplo, dos cortes dos Estados Unidos e da Austrália. Uma das razões se deve ao alto custo da mão de obra desses países, onde há maior utilização de máquinas para a realização dos cortes, menos específicos e detalhados como no Brasil, que são mais manuais e há menos processamento das carcaças. Observe as características de cortes a seguir: • Pescoço: um dos cortes que apresenta maior quantidade de gordura. • Acém: carne relativamente magra (com pouca gordura). Ideal para ser preparada com calor úmido, sendo consumida de diversas maneiras. • Peito: constituído por músculos e fibras grossas e compridas, sendo necessário longo cozimento por calor úmido. Consumido sob a forma de cozidos, caldos, sopas, refogados, enrolado com temperos e assado na panela com molho. Caso seja preparado como churrasco ou na grelha, deve ser assado por várias horas e com bastante calor. • Braço ou paleta: corte formado por músculos, contendo muitos nervos e gordura. • Músculo dianteiro: corte de característica mais rija. Deve ser cozido por calor úmido, podendo ser moído ou cortado em bifes ou tiras. 99 TÉCNICA DIETÉTICA • Cupim: porção de fibras musculares entremeadas de gordura. Deve ser preparado de maneira lenta. Corte com muita gordura e utilizado em churrascos ou grelha. Pode ser consumido assado ou cozido. • Capa de filé: com textura desigual e grande quantidade de nervos. Ideal no preparo de carnes com molho que precisam de cozimento mais longo. • Ponta do contrafilé: localizada na costela do boi. Apresenta fibras curtas, que deixam a carne muito mais macia. Utilizada principalmente para o preparo de churrasco ou na grelha, também é apreciada quando consumida cozida, em assados, refogados e picadinhos. • Contrafilé (ou bife de chorizo, em espanhol): este corte situa‑se “contra” o filé mignon, separado pelas vértebras. Carne de textura macia e sabor acentuado, que por sua camada de gordura na lateral mantém sua umidade. Ideal no preparo de bifes de chapa, estrogonofe, grelhados, rosbife, medalhões, churrasco e assados. • Picanha: parte macia e com capa de gordura. Apresenta sabor acentuado. O ideal é prepará‑la com a gordura para que o sabor e maciez fiquem mais acentuados. Muito utilizada no preparo de churrasco. • Filé mignon (ou lomo, em espanhol): corte mais macio de carne bovina, com sabor adocicado e menos acentuado que a alcatra e o contrafilé. Apresenta caraterística suculenta e pouca gordura. É ideal para bifes, como turnedô, medalhão, escalope, estrogonofe e também para rosbifes, assados, refogados e picadinhos. • Alcatra: a alcatra completa compreende o miolo, a picanha e a maminha. Apresenta característica macia e com pouca gordura, sendo ideal para bifes, refogados, assados, ensopados e churrasco. • Fraldão: é um corte inteiro, com fibras grossas e longas, retirado do final da costela, com boa quantidade de gordura. É uma carne firme, mas que não é dura, com sabor acentuado. Quando dividido ao meio, dá origem a duas peças de fraldinha. É bastante utilizado em churrasco. • Coxão mole: com fibras curtas e macias, é um corte macio adequado para assados, ensopados e até milanesas e bifes finos e enrolados. • Lagarto: de cor mais clara, fibras longas e magras, apresenta formato arredondado, alongado e bem definido. Entre as preparações destacam‑se: carne de panela, carne desfiada (carne louca) e recheada com linguiça ou vegetais e assado no forno. Ainda cru e cortado em fatias bem finas, produz o famoso carpaccio. • Ponta de agulha: parte do boi constituída das últimas costelas, com músculos duros, fibras grossas e compridas. Ideal no preparo de ensopados e sopas. 100 Unidade III • Maminha (ou ponta da alcatra): parte mais macia da alcatra, é suculenta e tem sabor suave. Ideal no preparo de assados, churrasco ou na grelha, carnes de panela ou bifes servidos bem passados, pois apresenta maior teor de gordura. • Coxão duro (ou chã de fora): músculo grande e um pouco fibroso. Ideal no preparo de cozidos, moído, em caldos e ensopados, como bife a rolê e rosbife. • Aba/Bife do vazio (ou aba da costela ou pacu): localizado abaixo das costelas. Ideal quando preparado em churrasco, assado ou grelhado. • Patinho: menos macio que a alcatra, é usado no preparo de bifes à milanesa e em preparações decarne moída. • Músculo: corte formado por músculos com consistência mais rija. Utilizado no preparo de sopas e ensopados, moído, em caldos e cozidos. Quadro 10 – Cortes de carne e classificação Cortes de carne Carne magra Carne gorda Lagarto Picanha Filé mignon Fraldinha Coxão duro ou chã de fora Acém Coxão mole ou chã de dentro Capa de filé Patinho Filé de costela Alcatra Contrafilé Maminha de alcatra Ponta de agulha Músculo Aba de filé Pescoço Fonte: Philippi (2003, p. 120). Vísceras ou miúdos São os órgãos internos dos animais. Apresentam cor vermelho‑escura. Entre eles, destacam‑se: coração, rins, língua e fígado. O fígado apresenta alto teor de ferro, vitaminas do complexo B e vitamina A. Os miolos são ricos em lipídeos. Já a dobradinha (estômago e intestino) contém cerca de 11% de proteínas. As vísceras são partes que se deterioram com grande facilidade e possuem características bem específicas, com formas de preparo que lhe são inerentes. 101 TÉCNICA DIETÉTICA Quadro 11 – Formas de preparo de miúdos e vísceras Miúdo/ Víscera Preparações Fígado Acebolado, frito, ao molho, grelhado, refogado, picadinho, almôndega, patê, croquete e espetinho Miolo Croquete, à milanesa, ao molho branco, com ovos mexidos Rim Frito, assado e croquete Língua Assada, cozida e croquete Moela Refogada, com arroz, farofa e recheio Dobradinha Ensopada, à milanesa e ao molho Rabo Cozido, refogado, sopa e à milanesa Pulmão (bofe) Xinxim de bofe, à passarinha (bofe retalhado, deixado em vinha d’alhos dois dias e seco ao ar) Testículo Grelhado e frito Fonte: Philippi (2003, p. 124). 7.2.8 Formas de preparo Todos os cortes de carne podem render excelentes e saborosas preparações culinárias. A forma de preparo mais adequada para cada corte se relaciona a uma série de fatores: • Maciez natural de cada corte: se relaciona à localização do corte em si, à quantidade de tecido conjuntivo presente no corte, à idade do animal e à forma de processamento da carne (as carnes maturadas geralmente tendem a ser mais macias). • Quantidade e tipo de tecido conjuntivo: cortes com maior quantidade de tecido conjuntivo são mais rijos. O ideal é que sejam preparados com calor úmido, com cocção mais prolongada ou sob pressão, no intuito de abrandar a carne. • Marmorização ou marmoreio: se relaciona à quantidade de gordura entremeada nas fibras da carne. Cortes magros cozinham mais rápido do que cortes com maior teor de gordura entremeada. Quando cozidos por longos tempos, cortes magros perdem o suco e se tornam rijos. Diante disso, para cada corte há um preparo ideal que preserva a qualidade da carte, acentuando seu sabor. Para cada tipo de corte há um tempo ideal de preparo, como mostra a tabela a seguir. Tabela 13 – Tempo médio (em minutos) de preparação de bifes Corte Malpassado Ao ponto Bem passado Medalhão 1,5 min 2,0 min 4,0 min Bife 2,0 min 3,0 min 4,5 min Turnedô 2,5 min 3,5 min 5,0 min Bisteca 3,5 min 5,0 min 7,5 min Chateaubriant 5 min 7,0 min 8,5 min Fonte: Philippi (2003, p. 116). 102 Unidade III • Bifes: é necessário sempre fatiar as carnes para bife em sentido transversal à fibra, seccionando‑a, impedindo que a carne se torne dura durante o processo de cocção. Deve‑se ficar atento à gordura presente na carne, que não deverá ser retirada integralmente, já que ela tem a função de agregar sabor e maciez. O ideal é que os cortes de bifes tenham em média de 1 a 1,5 centímetro de espessura. • Medalhão: cortes de aproximadamente de 150 gramas, com 3 centímetros de espessura, de formato arredondado ou oval. • Turnedô: cortes de carne com aproximadamente 180 gramas, com 4 a 5 centímetros de espessura, de formato arredondado, contornado por uma fatia de bacon presa a um barbante. • Chateaubriant: cortes de carne com aproximadamente 300 a 400 gramas, com 6 a 7 centímetros de espessura, em formato arredondado. • Escalope: fatia de carne pequena e desossada, com aproximadamente 60 gramas, com corte em sentido transversal à fibra, que foi desbastada com auxílio de um martelo, rolo ou espancando com a alça da faca. Esse processo torna a carne mais tenra e fina, cozinhando mais rápido e perdendo menos umidade. • Émincé: corte de carnes em tiras médias. • Picados: carnes picadas em mesmo padrão de espessura e tamanho, com mesmo formato. Entre os tipos de cortes de picado tem‑se: — Brocehette ou espeto: cortes em cubos de aproximadamente 3 centímetros. — Goulash: cortes em cubo de aproximadamente 4 centímetros. — Picadinho: cortes em cubo de aproximadamente 2 centímetros. — Iscas: cortes em tiras de aproximadamente 5 centímetros de comprimento por 1 centímetro de largura. • Moída: carne picada em moedor de carne ou com uma faca. Este tipo de corte pode ser utilizado no preparo de diversas receitas culinárias, tais como almôndegas, bolinhos, recheio de massas (pastéis, rissoles, rocamboles), ou refogada com legumes. • Assadas: ao assar cortes de carne o ideal é manter as peles e gorduras que as recobrem, já que mantêm a umidade e agregam mais sabor. 103 TÉCNICA DIETÉTICA Quadro 12 – Cortes de carne bovina e técnicas de preparo Cortes Preparações Pescoço Sopa, cozido Acém Ensopado, refogado, assado na panela, picado, bife de caldo Peito Cozido, sopa, moído, carne recheada, carne enrolada Braço, pá ou paleta Ensopado, molho, moído, sopa, caldo, picado, cozido Fraldinha Ensopada, refogada, assada de panela, espetinho, churrasco Ponta de agulha Ensopada, sopa Filé mignon Bife alto (medalhão, chateaubriant), estrogonofe, escalope Filé de costelas Ensopado, churrasco, cozido Contrafilé ou filé de lombo Bife na chapa ou grelhado, rosbife, estrogonofe, churrasco, escalope, medalhão Capa de filé Assada, refogada, ensopada Alcatra Bife na chapa ou grelhada, refogada, assada, picadinho, espeto, escalope, medalhão, estrogonofe, churrasco Patinho Assado, bife, almôndegas, bife a rolê, cubos, moído Coxão duro ou chã de fora Cozido, moído, caldo, ensopado, bife a rolê, rosbife Coxão mole ou chã de dentro Assado, bife a rolê, refogado, à milanesa, estrogonofe, espetinho, picado, moído Lagarto Assado, bife, rosbife, carpaccio, bife a rolê Músculos Sopa, ensopado, moído, caldo, cozido Maminha de alcatra Assada, bife, grelhada Picanha Assada na panela, churrasco, espeto Cupim Churrasco, assado, bife Bisteca Grelhada, na chapa, cozida Tutano Cozido, sopa, caldo Fonte: Philippi (2003, p. 121). 7.3 Suínos (porco, leitão, leitoa) O porco é um mamífero adulto, descendente do javali e criado para a alimentação humana. Ainda jovem, recebe o nome de leitão. Trata‑se de uma carne saborosa, fonte de vitaminas A e B2, cálcio, ferro e fósforo. Além da carne do porco, são utilizados seus subprodutos, como: toucinho, presunto, miúdos, embutidos, defumados e ossos. O ideal é consumi‑la após o cozimento (até atingir temperatura interna de 75 °C) e jamais com sangue. Deve apresentar cor rosada e firme, com gordura branca e consistente. Recomenda‑se o consumo de carne de porco submetidas a controle higiênico sanitário oficial, já que pode transmitir parasitoses (teníase, triquinose). Várias são as possibilidades de preparações culinárias com a carne de porco. Destacam‑se os cortes a seguir: 104 Unidade III • Paleta com osso: corte retirado da parte dianteira do porco. Muito utilizada em preparações assadas. • Copa de lombo: corte de carne bastante marmorizado e muito saboroso. Geralmente é consumido em bifes ou moído. • Lombo: situado na parte superior do dorso do animal, naturalmente caracterizado como corte magro, sendo considerado um corte nobre. Corresponde ao contrafilé do boi. • Carré: corte do lombo sem o osso, abrangendo todo o dorso e as costelas. • Bisteca: um dos cortes mais populares da carne de porco. Corte marmorizado, no qual a gordura contribui com a suculência do corte. • Pernil: corte tradicional que compreende toda a parte traseira do porco, inclui a alcatra, picanha e maminha. Pode ser preparado assado inteiro ou picadoem cubinhos e escalope. • Picanha: corte suculento, no qual preserva‑se a umidade da carne. Ideal no preparo de churrascos. • Filezinho: derivado do lombo. Corte macio e saboroso, combina com distintos acompanhamentos, podendo ainda ser preparado como bife, medalhão e escalope. • Paleta: corte retirado da parte dianteira do porco. Pode ser preparada assada. • Costela: corte retirado da caixa torácica do porco, é um dos cortes de maior sucesso e consumo. • Barriga: corte oriundo da barriga do porco, contendo pele, carne e gordura. É dele que provém o bacon. Quando fresco, se produz torresmo. Pode ser consumido ainda em forno ou churrasco. • Joelho: também conhecido como jarreta; quando defumado recebe o nome de eisben (prato típico da culinária alemã). Se localiza acima do pé. Trata‑se de um corte que não faz parte do hábito das refeições diárias dos brasileiros. Muito comum em preparações tipo feijoada. • Máscara com orelha: corte utilizado inteiro com a língua e os miolos, cortado pela metade ou em pedaços. Utilizado na preparação de patês. • Papada: corte constituído por banha e pouca carne. Muito utilizado como torresmo. Apresenta muito colágeno, sendo muito utilizada em fiambres. • Rabo: junto com outros cortes (orelha, pés, focinho) é muito utilizado para enriquecer e agregar sabor à feijoada. • Pé: corte apreciado pelos franceses na tradicional preparação culinária denominada pieds de porc e pelos irlandeses, no cruibeens. No Brasil, encontra‑se presente na feijoada. 105 TÉCNICA DIETÉTICA Quadro 13 – Cortes suínos e técnicas de preparações Cortes suínos Preparações Acém Refogado, frito, grelhado, picado (recheio de linguiça e torta), assado Papada Torresmo Paleta (braço ou pá) Assado, guisado, hambúrguer Lombo Assado, grelhado, medalhão, escalope Costela Frita, assada Barriga Matéria‑prima para toucinho e bacon Pernil Assado, diversos tipos de presunto e tender Joelho Sopa, cozido, feijoada, eisbein (preparação culinária alemã) Pé Feijoada Toucinho Torresmo Cabeça Patê Fonte: Philippi (2003, p. 126). 7.4 Caprinos (cabrito, bode, cabra) A carne caprina geralmente provém de animais tipo cabrito (animal de 2 a 3 meses de idade). Quando jovem apresenta carne insípida e quando muito velho carne escura, de sabor desagradável. A cabra é a fêmea e o bode o macho. É importante atentar‑se ao processo de higienização da carne de caprinos, lavando adequadamente e em abundância, com o intuito de retirar a mucosidade que a envolve, extraindo as glândulas, manchas e os coágulos. Trata‑se de uma carne muito apreciada em cozinhas e preparações culinárias típicas e regionais, principalmente, em pratos como a buchada de bode. • Cabrito inteiro: forma mais comum de se comprar um cabrito. Ideal no preparo de parrillas e assados em forno. • Meio cabrito: corte que corresponde à metade do animal. Também é consumido em parrillas e assados em forno. • Cabeça: corte utilizado no preparo de caldos e assado. • Pescoço: corte com as mesmas características do peito de cordeiro, porém com menos gordura. • Peito: corte do qual se obtém os filés (com osso e desossado). • Lombo (carré francês e carré t‑bone): corte bem saboroso e com bastante gordura. 106 Unidade III • Costela: ideal no preparo de parrillas e assados em forno. • Paleta: corte correspondente às patas dianteiras do cabrito, com abundância de carne. Ideal no preparo assado. • Ossobuco: corte transversal realizado entre o fim das pernas e as paletas. Ideal no preparo de churrasco. • Pernil: um dos cortes com maior abundância de carne e sabor. Quadro 14 – Corte de ovinos e técnicas de preparações Cortes de ovino Preparações Pernil Assado, frito, grelhado, ao leite de coco Paleta, pá Assada (inteira), recheada (desossada), picadinho Lombo Assado, frito, recheios, molho Carré Assado, frito, grelhado Selle Assado Medalhão Grelhado, frito Bisteca Grelhada, frita Costelinha Grelhada T‑bone Churrasco Peito e pescoço Assado, ensopado Fonte: Philippi (2003, p. 127). 7.5 Aves Agrupam‑se entre as aves as domésticas ou de caça utilizadas na alimentação. Entre as espécies mais consumidas estão: frango, peru, pato, marreco, ganso, faisão, galinha‑d’angola, codorna, perdiz, pombo e chester. Apresenta conteúdo proteico semelhante à de outras carnes. As aves mais jovens são constituídas por carnes mais tenras, pois possuem menos tecido conjuntivo e menos gordura, o que facilita a digestão. 7.5.1 Tipos As aves (tipo frango) podem ser classificadas em quatro tipos, de acordo com o tamanho e a idade do animal. • Frango de leite ou galeto: ave de 3 meses de idade, pesa cerca de 600 gramas. Possui carne macia, com cartilagem e ossos moles, apresenta pouca gordura e gosto não muito forte. O ideal é prepará‑la grelhada, frita ou assada. 107 TÉCNICA DIETÉTICA • Frango comum: ave entre 3 e 7 meses de idade, pesa cerca de 1 quilo. Geralmente são machos, já que as fêmeas são destinadas à postura de ovos. Apresenta carne de sabor acentuado, com ossos firmes e cartilagens mais duras. Pode ser consumido assado, grelhado, frito e ensopado. • Galo ou galinha: ave adulta, com mais de 7 meses de idade, pesa cerca de um 1,5 quilo. De sabor característico, que varia conforme a raça e o tipo de ração, o galo apresenta carne mais rija, necessitando de mais tempo de cocção. Pode ser consumida em ensopados e canja. • Frango capão: frango castrado com objetivo de engorda. Normalmente é abatido com cerca de 7 meses e pensa mais que um galo ou galinha (acima de 1,5 quilo). Carne muito saborosa, com bastante gordura, ideal para assar. 7.5.2 Cortes O frango pode ser consumido de diferentes maneiras de acordo com o corte. • Pescoço: parte escura com pequenos ossos. Ideal para o preparo de sopas e caldos. • Peito: corte que apresenta mais carne, de cor branca, macia e seca. Preparado frito, cozido, grelhado, recheado. Ideal para pratos como saladas, molhos, assados, empanados, caldos, sopas, recheios de vários pratos, e em preparações culinárias como estrogonofe, frango xadrez e recheios. • Tulipa: porção de carne localizada no meio da asa, de carne tenra e saborosa. • Coxa da asa: parte com pouca carne, é utilizada como aperitivo ou acompanhamento também em sopas, na grelha ou frita. • Dorso: corte oposto ao peito e geralmente com pouca carne. Utilizado no preparo de sopas e molhos para se extrair o sabor e o aroma da carne. • Sambiquira: porção terminal do corpo das aves, macia e suculenta. Corte ideal para quem busca variar o cardápio, muito utilizada em porções assadas, fritas, empanadas ou apenas temperadas. • Sobrecoxa: corte mais escuro, pode ser utilizado com osso ou desossado. Ideal em preparações fritas, assadas e grelhadas. Utilizada também em ensopados, empanadas e recheios. • Coxa: corte mais escuro, pode ser utilizado com osso ou desossado. Muito utilizada em ensopados, mas também grelhada, ao forno e frita. • Miúdos: cortes de órgãos como coração, moela e fígado. Podem ser utilizados no preparo de farofa, molhos, assados (coração), bifes (fígado) e ensopados (moela). 108 Unidade III Quadro 15 – Cortes de carne de frango e técnicas de preparação Cortes de carne de frango Preparações Peito Grelhado, frito, assado, à milanesa, estrogonofe Coxa, sobrecoxa Grelhada, frita, ensopada Asa, tulipa Assada, grelhada, ensopada Coxinha da asa, tulipa Grelhada, ensopada, frita, cozida Miúdos Frito, refogado, em recheio, com arroz, no espeto, farofa, patê Pés Caldo, sopa, galantina Pescoço Sopa, caldo Fonte: Philippi (2003, p. 129). 7.6 Pescado São todos os animais aquáticos (de água doce ou salgada) que podem servir de consumo na alimentação humana. Entre os de água doce estão: pirarucu, lambari, pintado, dourado, traíra, corimbatá, pacu, surubim, piau, tambaqui, tucunaré, entre outros; já os de água salgada são: pescada, merluza, sardinha, atum, bacalhau, pargo, robalo, tainha, cação, namorado, badejo, corvina, salmão, cavala, bonito, meca, camarão, lula, lagosta, siri,polvo e ostra. Do pescado consome‑se a carne, os ovos e as ovas, e preparam‑se derivados alimentícios, tais como: gelatina, farinha de peixe, concentrado de proteína (CPP), gordura de óleo de fígado, produtos defumados, entre outros. 7.6.1 Classificação Para consumo alimentar os pescados são classificados em: peixes, moluscos, crustáceos e quelônios. Peixes São animas aquáticos, com esqueleto cartilaginoso ou ósseo, com a presença de guelras. Entre os peixes tem‑se como exemplo: tubarão, cação, arraia, corvina, badejo, pescada e pargo. Os peixes migratórios apresentam maior quantidade de gordura e carne mais escura (por exemplo, atum, sardinha, bagre, cardumes, tainha, anchova, cavala, arenque, salmão). Os de carne branca são: pescada, robalo, corvina, linguado, badejo, garoupa, meca, entre outros. Os peixes ainda podem ser classificados como: peixes finos e peixes populares. Os finos são de água fria, clara e profunda, obtidos pela pesca de linha (namorado, cherne, garoupa, vermelho, badejo, robalo, 109 TÉCNICA DIETÉTICA entre outros). Os magros apresentam sabor mais suave e o sabor difere pela água em que são criados (salgada ou doce). Já os peixes populares são de água morna, rasa e lamacenta, ou capturados em maior proporção por arrastão. Destacam‑se entre eles: corvina, pescadinha, cavalinha, sardinha. Em relação ao valor nutricional, os peixes apresentam teor proteico elevado e valores distintos de gordura. Entre os que apresentam 4%, tem‑se: pescada, robalo, linguado, bonito, truta, namorado, badejo, espada etc.; já os ricos em gordura (6‑15%) são: salmão, cavala, tainha, merlusa, enguia, sardinha etc. Os peixes de água salgada são fonte de iodo, possuem maior teor de cálcio e baixa concentração de tecido conjuntivo, o que torna a digestão mais fácil. Os óleos de peixe são fonte de vitaminas A e D. Mariscos Os mariscos são animas que normalmente possuem uma concha ou carapaça, tais como crustáceos e moluscos, que são extraídos do mar ou da água doce. • Crustáceos: apresentam carapaça dura, pigmento esverdeado (astaxantina), que quando aquecido muda para vermelho (astaceno). Exemplos: camarão, lagosta, caranguejo. • Moluscos: podem apresentar conchas (valvas) ou não. Quando apresentam uma concha, tem‑se: caracóis e escargot; quando possuem duas conchas: mexilhões, ostra e sururu. Os moluscos sem conchas (lula e polvo) possuem coluna vertebral cartilaginosa. Os moluscos (ostras, mariscos e mexilhões) contém valor nutricional semelhante aos peixes magros, em média de 8,4 a 17% de proteína e 1 a 7% de carboidrato. Já os crustáceos (lagostas camarões, caranguejos) apresentam valor nutricional semelhante aos peixes gordos, além de vitaminas e iodo. Cetáceos Os cetáceos constituem uma infraordem de animais predominantemente marinhos, pertencentes à classe mamífera, dos quais são aproveitados, do ponto de vista culinário, o óleo, a pele e os ossos. Exemplos: baleia e golfinho. Quelônios Apresentam como característica principal um escudo (carapaça) ósseo ou cartilaginoso desenvolvido a partir de sua costela, que atua como escudo. Essa carapaça apresenta grande quantidade de carne. Exemplo: tartaruga. 110 Unidade III 7.6.2 Cocção Os peixes possuem carne com pouco tecido conjuntivo, o que facilita o processo de cocção (cocção em curto tempo sem necessidade de altas temperaturas). Os pescados apresentam diferentes opções de preparações culinárias, dependendo da espécie utilizada. Podem ser preparados cozido, assado, grelhado, frito, ensopado, entre outros. Quadro 16 – Frutos do mar e técnicas de preparações Frutos do mar Preparações Peixe Ao molho, à doré, empanado, frito, grelhado, ensopado, à milanesa, à escabeche, marinado, defumado, sashimi Camarão Ao molho, alho e óleo, frito, refogado, ao vapor, ao leite de coco, ao molho branco, com arroz Mexilhão Com molho vinagrete ou limão, caldo, ensopado, assado, cozido Ostra Crua na própria concha com limão, assada, gratinada, caldo Vôngole Cozido com molho vinagrete, em molhos para massas, refogados, com arroz Lula Cozida, paella, com arroz, frita, à milanesa, recheada Caranguejo Cozido, patinha à milanesa ou frita, torta, casquinha Siri Casquinha, cozido, mariscada Lagosta Assada, cozida, frita, sem casca (saladas e coquetéis) Polvo Refogado, frito, ao molho, ensopado, sashimi Fonte: Philippi (2003, p. 130). 7.6.3 Características sensoriais O pescado fresco para consumo deve apresentar uma série de características que lhe são específicas. Peixes • Carne firme, elástica e resistente à pressão dos dedos. • Carne branca, rosácea e reflexos em madrepérola. • Cauda firma em direção ao corpo. • Olhos brilhantes e salientes. • Cheiro característico. • Escamas brilhantes e aderentes à pele. 111 TÉCNICA DIETÉTICA • Vísceras íntegras. • Ventre não deve estar abaulado. Crustáceos • Aspecto geral brilhante e úmido. • Corpo rígido e em curvatura normal. • Carapaça aderente ao corpo. • Cheiro característico e suave. • Olhos destacados e vivos. Peixes compõem um grupo de alimento muito perecível, desta maneira é de suma importância saber avaliar alguns itens ao escolher o pescado. Quadro 17 – Como escolher peixes frescos Firmeza O corpo deve estar firme e com certa rigidez. Ao apertar, a região deve voltar ao normal rapidamente, e não permanecer afundada. A região da barriga não pode estar inchada e tampouco murcha Cheiro O peixe fresco deve ter cheiro de maresia Olhos Apresentam pupilas negras e olhos brilhantes, não podem estar opacos Pele O corpo deve estar escorregadio e coberto por uma película levemente viscosa e transparente. As escamas devem estar bem presas ao corpo e não podem se soltar facilmente Guelras Devem estar brilhantes, vermelhas ou rosadas. Cores acinzentadas indicam que o pescado não está fresco Moluscos (mariscos, ostras e mexilhões) • Cheiro agradável. • Carne úmida, aderente à concha, com aspecto esponjoso e cor clara (nas ostras acinzentado e nos mexilhões amarelado). • Vivos e com valvas fechadas, com retenção de água (límpida) nas conchas. Polvo e lula • Olhos vivos e salientes na borda. • Carne consistente e elástica. 112 Unidade III • Pele lisa e úmida. • Cheiro característico. Camarões • Cheiro e sabor agradável. • Carne firme, branca/acinzentada, que ao ser cozida se torna rosácea. Lagosta, siri e caranguejo • A lagosta deve ser comprada já lavada e cozida ainda viva, com a cauda curvada para baixo do corpo. 7.6.4 Deterioração O pescado é o tipo de carne mais susceptível às alterações microbiológicas. São vários os processos que corroboram com sua deterioração, como a ação de sucos digestivos, enzimas dos tecidos e desenvolvimento bacteriano. • Ação de sucos digestivos: normalmente, ao capturar‑se um peixe, encontram‑se em seu intestino alimentos que são digeridos por ação de sucos ácidos (secretado por glândulas). Esses sucos são fortes e protegem a parede intestinal quando o peixe ainda está vivo. Porém, quando morto as paredes intestinas são destruídas por esses sucos, atingindo o tecido muscular. Assim, os tecidos escurecem ocasionando as chamadas queimaduras abdominais, o que torna o peixe impróprio para consumo. • Enzimas dos tecidos: o intestino apresenta enzimas com função construtiva vital, quando o peixe ainda está vivo. Ao morrer, essas enzimas se tornam destrutivas, amolecendo e desintegrando a carne. Esse processo autodestrutivo propicia maior penetração de bactérias no pescado. Esse processo é mais comum quando não acontece a correta higienização do pescado, quando não são retirados por completo os conteúdos estomacais. • Desenvolvimento bacteriano: um dos principais fatores que contribui com o processo de deterioração do pescado. Tais bactérias se encontram no trato intestinal, nas guelras e no limo superficial do pescado. Ao ser capturado, aumenta‑se o contato com o ambiente externo, possibilitando novas fontes de contaminação (gelo, manuseio, equipamentos), o que modifica ou aumentaa microflora. 7.6.5 Aproveitamento do peixe fresco Os peixes apresentam alto desperdício em ações de pré‑preparo, já que possuem vísceras, escamas, cauda e nadadeiras a serem retiradas no processo de higienização. 113 TÉCNICA DIETÉTICA A cabeça e as espinhas podem ser reaproveitadas no preparo de caldos, gelatinas, moquecas e também no preparo de peixes menores, tais como sardinha frita, por exemplo. Cada espécie de peixe pode apresentar uma maior ou menor perda durante o pré‑preparo, de acordo com as características que lhe são específicas. Tabela 14 – Perdas normais em diferentes espécies de peixes Tipo de peixe Perda em 1 kg (em g) % Aproveitamento em 1 kg (em g) Arraia 350 35 650 Badejo 130 15 870 Garoupa 190 19 810 Merlusa 320 32 680 Namorado 250 25 750 Pescadinha 150 15 850 Tainha 310 31 690 Adaptada de: Ornellas (2007). Exemplo de aplicação Exemplo 1 A gelatinização do amido é a reação química que caracteriza alguns atributos do arroz cozido, como a maciez e a textura. A maciez é inversamente relacionada ao teor de amilose. A textura, que é a resistência do grão cozido ao mastigamento, é afetada, entre outros fatores, pelas condições de cozimento — tempo e temperatura. O arroz do tipo agulhinha, com 15% a 17% de amilose, requer uma proporção de 1 parte de arroz para 2 partes de água, para que esses atributos sejam obtidos de forma ideal. Para esse tipo de arroz, a gelatinização ocorre em um intervalo de temperatura entre 55 ºC e 60 ºC. Após o cozimento, os grãos se apresentam soltos e macios. Considerando as informações apresentadas no texto anterior, assinale a opção correta. A) Variedades de grãos de arroz com elevado teor de amilose, de 25% a 30%, por exemplo, quando cozidas, devem absorver menor quantidade de água que a variedade de arroz do tipo agulhinha, e a cremosidade obtida é resultado da lixiviação de frações de amido para o meio de cocção. B) A hidratação prévia do arroz pelo remolho tem a vantagem de diminuir o seu tempo de cocção sem alterar a sua maciez e textura, independentemente do teor de amilose. C) Na preparação de um arroz com reduzido teor de amilose, entre 10% e 12%, por exemplo, a razão entre as quantidades de arroz e de água a serem utilizadas deverá ser menor que uma parte de arroz para duas partes de água na obtenção dos referidos atributos, de forma ideal. 114 Unidade III D) Para quaisquer variedades de grãos de arroz, a água a ser adicionada à preparação deve ser quente, para reduzir o fenômeno da retrogradação. E) O processo de obtenção do arroz integral consiste na retirada da casca do grão, o que lhe confere maior teor de amido e, consequentemente, de amilose, o que requer maior tempo de cocção, para a obtenção dos referidos atributos, de forma ideal. Resolução Resposta correta: alternativa C. A) Alternativa incorreta. Justificativa: a maciez do arroz cozido é inversamente relacionada ao teor de amilose. Desse modo, grãos com maiores teores de amilose são menos macios e, portanto, não são cremosos. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a hidratação prévia do arroz diminui o tempo de cocção, mas esse tempo é dependente do teor de amilose do grão. C) Alternativa correta. Justificativa: o arroz com menor teor de amilose requer menor quantidade de água para o seu preparo. Caso se utilizasse a mesma proporção de água para prepará‑lo, como descrita para o arroz que é constituído de 15% a 17% de amilose, o grão não ficaria solto e macio, mas com uma característica mais cremosa (grãos grudados). D) Alternativa incorreta. Justificativa: a gelatinização ocorre com o aquecimento, de modo que a rede cristalina dos grânulos de amido é sensibilizada, permitindo a hidratação do grão. No resfriamento, ocorre a retrogradação, processo pelo qual as móleculas de amilose tendem a se aproximar, criando novamente zonas cristalinas. Todavia, se no preparo do arroz a água é adicionada, aquecida ou fria, ela não interferirá efetivamente no processo de retrogadação, apenas no tempo de cocção. E) Alternativa incorreta. Justificativa: diferentemente do arroz polido, no processamento do arroz integral é retirada a casca, mas se mantêm as películas externas (pericarpo, farelo) ricas em fibras alimentares insolúveis. Essas fibras dificultam a penetração das moléculas de água e consequentemente o tempo de cocção é maior em relação ao arroz polido. Neste, o farelo é retirado. 115 TÉCNICA DIETÉTICA Exemplo 2 Os glicídios presentes nos cereais, como o arroz, estão, em sua maior parte, na forma de amido. Quando sofre cocção em meio úmido a uma temperatura de 61 °C a 78 °C, o arroz manifesta uma mudança típica, em função do teor de amido que contém. A mudança observada e o nome do processo que a determina, respectivamente, são: A) Cor caramelo pela dextrinização do amido. B) Cor leitosa pela decomposição do amido em lactose e glicose. C) Consistência dura e resistente pela desidratação do amido. D) Consistência gelatinosa pela gelatinização do amido. E) Redução de volume pela desidratação do amido. Resolução Resposta correta: alternativa D. A) Alternativa incorreta. Justificativa: a cor caramelo é característica do processo de caramelização dos açúcares e não é a dextrinização que promove a caramelização. B) Alternativa incorreta. Justificativa: não há cor leitosa no processo de decomposição do amido, bem como na composição do amido não está presente o açúcar lactose. C) Alternativa incorreta. Justificativa: no processo de cocção, o grânulo de amido é hidratado, promovendo maciez, e não dureza do grão de arroz. D) Alternativa correta. Justificativa: a gelatinização do amido ocorre quando, em solução aquecida, os grânulos tornam‑se permeáveis à água e aumentam de volume. Nesse processo em que a água livre fica incorporada às moléculas de amido, a viscosidade e transparência do grânulo aumentam. 116 Unidade III E) Alternativa incorreta. Justificativa: quando o arroz sofre cocção em meio úmido, há aumento de volume do grão pela hidratação do amido. 8 AÇÚCARES, AÇUCARADOS, EDULCORANTES, CALDOS, MOLHOS, SOPAS, BEBIDAS, INFUSÕES, CONDIMENTOS, ERVAS E ESPECIARIAS 8.1 Açúcares, açucarados e edulcorantes São compostos orgânicos formados por pequenas unidades denominadas sacarídeos, classificados em: monossacarídeos (glicose, frutose e galactose), dissacarídeos (sacarose, maltose e lactose) e polissacarídeos (amido, dextrina, glicogênio e celulose). Monossacarídeos Oligossacarídeos Polissacarídeos Figura 14 – Estrutura dos diferentes tipos de açúcares (carboidratos) Açúcar é o termo utilizado para classificar os carboidratos de constituição mais simples, o que inclui o grupo dos monossacarídeos e dissacarídeos. Entre eles destaca‑se a sacarose (glicose e frutose), o açúcar mais empregado na dieta. Proveniente da cana‑de‑açúcar, da beterraba, de frutas, do néctar de flores, de seiva de árvores (bordo do Canadá) ou acer, de onde pode ser extraído sob a forma de sucos e/ou soluções. No Brasil, o açúcar mais consumido é o proveniente da cana‑de‑açúcar. Pelo suco concentrado da cana‑de‑açúcar obtém‑se o melaço, alimento fonte de ferro. A rapadura é obtida pela cristalização do açúcar bruto. Durante o processo de refinamento obtém‑se o açúcar branco. 8.1.1 Sacarose Trata‑se do açúcar adicionado às preparações culinárias. É o dissacarídeo dietético mais comum, constituindo, em média, até 25% da ingestão calórica total em alguns países. Utilizado como açúcar de mesa e em preparações para adoçar bebidas (café, chá, sucos). A sacarose é um dissacarídeo formado por glicose e frutose, presente naturalmente na maioria dos alimentos que são fonte de carboidrato, em particular, açúcar de cana e de beterraba, açúcar mascavo, xaropes e mel. 117 TÉCNICA DIETÉTICA Seu poder de adoçar é de 100%, sendo considerado parâmetro de grau de doçura. Possui rápida absorção e metabolização, eleva glicemia e fornece energia (4kcal/g) imediata para a atividade física, contribuindo para a formaçãodas reservas de glicogênio. CH2OH CH2OH CH2OHOH OH HO OH OH O O O Figura 15 – Estrutura da sacarose 8.1.2 Classificação O açúcar sofre distintos processos tecnológicos de produção e apresenta diferentes classificações. • Artesanal: produzido por pequenas empresas ou até mesmo por empresas familiares, nas quais são produzidos o açúcar mascavo e a rapadura. • Açúcar mascavo e rapadura: obtidos pela primeira extração da cana‑de‑açúcar, sendo constituídos, principalmente, de sacarose, apresentando também glicose e frutose, além de cálcio, ferro e fósforo. • Melado: produto elaborado pela fervura do caldo de cana até se obter uma concentração de aproximadamente 30% de água e 65‑75% de açúcares. Fonte de sacarose, frutose e vitaminas do complexo B. • Demerara: açúcar com características mais artesanais, retirado diretamente do melado da cana‑de‑açúcar. É um açúcar não clarificado, com cristais grandes, que não são lavados durante a centrifugação, recobertos por um resíduo de mel, tornando‑o instável e podendo empedrar com facilidade. Apresentam coloração amarronzada e maior teor de umidade. • Açúcar cristal: conhecido como açúcar branco de usina, sendo comercializado com distintas nomenclaturas, de acordo com o grau de pureza: cristal superior, cristal especial e cristal especial extra. Destinado ao consumo humano, é presente nas dietas e preparações culinárias açucaradas, sendo matéria‑prima para a indústria de alimentos no preparo de doces, refrigerantes e outros alimentos ultraprocessados. Sua obtenção é oriunda do açúcar demerara, decorrente de um processo químico de sulfitação (agente clarificante) do caldo, lavagem em água potável e remoção do mel que envolve os cristais. • Açúcar refinado: mais comum dos açúcares, apresenta grãos de cor esbranquiçada e amorfos. Obtido por métodos químicos e físicos pelo açúcar cristal por um processo de refino que consiste em sua dissolução e remoção de material insolúvel, além de corantes naturais. 118 Unidade III • Açúcar de confeiteiro (açúcar impalpável): bem fino, apresenta tendência de reter umidade e, assim, empedrar. Pode ter um percentual de amido em sua composição para que impeça que as partículas de sacarose se aglomerem e formem pedras. Utilizado na confeitaria, principalmente para fazer macarons e outros doces franceses. • Açúcar líquido: destinado à indústria de alimentos, uma vez que apresenta uma série de vantagens no desenvolvimento de produtos processados e ultraprocessados tais como: bebidas, xaropes, sorvetes, compotas, doces e outros. • Açúcar em tablete: obtido pela cristalização da sacarose. • Açúcar invertido: produto oriundo da hidrólise da sacarose. Tal denominação deriva‑se da inversão do poder rotatório da sacarose após sua hidrólise. A mistura (frutose e glicose) obtida apresenta maior solubilidade e poder edulcorante que a sacarose, sendo assim utilizada como ingrediente em grande variedade de alimentos açucarados. • Mel: produto natural obtido pelas abelhas, por meio do néctar das flores e folhas das plantas. Apresenta distintas classificações de acordo com o processo de obtenção. É bastante utilizado na panificação e confeitaria (bolo, pão de mel, biscoito), em iogurtes e bebidas lácteas. • Frutose: presente nas frutas, no mel e em alguns vegetais. Em termos calóricos equivale à sacarose, mas apresenta maior poder edulcorante (duas vezes maior que a sacarose)., 8.1.3 Valor nutricional fonte Por apresentar alto teor de carboidratos, o açúcar é fonte de energia. O melado é fonte de ferro e contém pequenas quantidades de cálcio e vitaminas do complexo B. Já a rapadura é composta de quantidades moderadas de ferro e cálcio. Tabela 15 – Composição nutricional dos diferentes tipos de açúcar Composição nutricional Açúcar mascavo Açúcar demerara Açúcar cristal Açúcar refinado Valor energético (kcal) 396 n.a. 387 387 Carboidrato (%) 94,5 n.a. 99,6 99,5 Umidade (%) 3,3 0,10 0,1 0,1 Proteínas (%) 0,8 n.a 0,3 0,3 Resíduo mineral fixo (%) 1,4 0,36 Tr. Tr Potássio (mg) 522 n.a. 3 6 Cálcio (mg) 127 n.a. 8 4 Magnésio (mg) 80 n.a. 1 1 Ferro (mg) 8,3 n.a. 0,2 0,1 Tr.: traços n.a.: não analisado Adaptada de: Unicamp (2011). 119 TÉCNICA DIETÉTICA 8.1.4 Alimentos açucarados Existem diferentes tipos de alimentos açucarados, como os a seguir: • Açúcares: refinado, cristal, demerara, melado. • Mel • Alimentos elaborados com açúcar e/ou mel: xaropes, calda, caramelos, balas, bombons. • Açúcar + Feculentos: pães, bolos, biscoitos, bolachas. • Açúcar + Fruta: geleias, sucos, doces em pasta e compota, frutas cristalizadas, picolés, sorvetes. • Açúcar + Leite: sorvetes em pasta, vitaminas, creme, mousses, pudins. 8.1.5 Propriedades Os açúcares apresentam distintas propriedades. Uma delas é o poder edulcorante, ou seja, o sabor doce. O grau varia conforme o tipo de substância presente, a sacarose, por exemplo, é considerada como açúcar referência e padrão, apresentando poder edulcorante igual a 100. Tabela 16 – Sabor doce relativo de açúcares e edulcorantes Açúcares* e edulcorantes não calóricos** Sabor doce relativo Levulose* 175 Frutose* 170 Açúcar invertido* 130 Glicerol* 110 Sacarose* 100 Glicose* 70 Maltose* 30 Galactose* 30 Lactose* 30 Ciclamato de sódio** 35 Sacarina** 550 *calórico **não calórico Adaptada de: Salinas (2002). Por sua vez, a solubilidade é a capacidade de se transformar de sólido em líquido na presença de calor. Ela é diretamente proporcional ao aumento da temperatura. A classificação dos açúcares 120 Unidade III pela solubilidade se relaciona também ao seu poder de adoçar. Entre os açúcares, a frutose é o tipo mais solúvel. Em 55 °C/100 milímetros de água dissolvem‑se 740 gramas. Já a lactose é o açúcar menos solúvel, em 100 °C/100 milímetros dissolvem‑se apenas 139,2 gramas. A sacarose dissolve 184,7 gramas em 5 °C/100 milímetros e a 1000 °C dissolvem‑se 487,2 gramas. Os açúcares apresentam também capacidade higroscópica, ou seja, absorvem água. Quando mantidos em local úmido tendem a empedrar. Assim, por exemplo, o merengue depois de velho fica mole e umedecido. Bolos e biscoitos contendo mel e melado permanecem úmidos por mais tempo do que preparações com açúcar comum. Isso se deve ao fato do mel e melado apresentarem maior quantidade de frutose (absorvem mais água que a sacarose e outros açúcares). Por meio de ações enzimáticas os açúcares podem sofrer desdobramento e fermentação alcóolica, propriedade que permite o preparo de confeitos ou bombons de licor. Alimentos ricos em açúcar favorecem o processo de fermentação. Dessa forma, preparações açucaradas (compotas e doces em geral), quando expostas às bactérias do ar, em temperatura ambiente, tendem a criar bolor e fermentar. A hidrólise é a capacidade do açúcar em quebrar em sacarídeos. Ela ocorre pela presença de calor, substâncias ácidas, enzimas ou combinação desses três fatores. Já o ponto de fusão se dá ao aplicar calor seco, fazendo com que o açúcar mude de estado físico (sólido para líquido) se fundindo. O ponto de fusão acontece até 160 °C, no qual se forma um açúcar líquido de cor esbranquiçada. À medida que a temperatura aumenta, ultrapassando 170 °C, o açúcar vai mudando a cor, tornando‑se pardo/amarronzado, a caramelização. A caramelização é um processo no qual açúcares são aquecidos na ausência de compostos que contêm nitrogênio (proteínas), sofrendo desidratação e condensação e formando um composto ligeiramente colorido, o caramelo. Após o ponto de fusão, acima de 170 °C o açúcar muda seu estado físico (se torna líquido) e sua cor se torna amarronzada. Nesse ponto, além das mudanças descritas ocorrem alterações nas características sensoriais (sabor, aroma e cor). Sacarose Maltol (sabor “caramelo”) Ácido acético Glicose Frutose Caramelização HO HO HO HO HO HO O O O O OH OH OH OH OH OH OH O OH OH OH OH OH OH OH O O O O Figura 16 – Processo de caramelização 121 TÉCNICA DIETÉTICA Trata‑se de umareação de escurecimento não enzimático. Para realizar esse processo é necessário ultrapassar o ponto de fusão de um determinado açúcar, para assim ocorrer a desidratação do açúcar. A melanoidina é o pigmento liberado durante o processo de caramelização, sendo o responsável pela cor escura/amarronzada característica do processo. Quando a reação de aquecimento continua, mais moléculas são formadas e o sabor fica amargo. Os tipos de açúcares usados na caramelização são sacarose, glicose e melado. Observação A caramelização é um tipo de escurecimento não enzimático e não deve ser confundida com a reação de Maillard. O caramelo, por sua vez, é utilizado como corante em bebidas alcoólicas, cervejas, molhos de carne e temperos. A caramelização inicia a uma temperatura de aproximadamente 165 °C. Nesse ponto o açúcar começa a mudar de tonalidade, variando do dourado ao castanho. Cada uma dessas cores se caracteriza por ser um tipo de caramelo utilizado em distintas preparações. 8.1.6 Caramelo A palavra caramelo deriva do francês le caramel clair e do inglês light caramel ou medium caramel). Ele é obtido a uma temperatura média entre 160 °C a 170 °C, no qual o açúcar liquefeito se torna marrom adquirindo uma tonalidade dourada e um sabor mais rico. A temperatura de 175 °C é a ideal para a adição de outros ingredientes, como creme, manteiga e baunilha. Nesse ponto, o caramelo tem uma textura mais macia e pegajosa quando arrefecer. O caramelo é muito utilizado em xaropes para adição de cor e sabor; em sobremesas como: creme brûlée, creme catalana, flã, cobertura para sorvete, cremes de caramelo e calda de pudim de leite; e no revestimento de frutas secas, como: nozes, amêndoas e avelãs. Caramelo vidrado ou caramelo castanho O caramelo vidrado ou caramelo castanho (do francês, le caramel foncé e, em inglês, dark caramel, é obtido a uma temperatura média entre 177 °C a 182 °C, no qual o açúcar liquefeito adquire uma tonalidade marrom e o sabor se torna mais complexo. Neste estágio, o caramelo pode ser modelado em fios finos e se tornar duro e vítreo quando arrefecido. Esse tipo é muito utilizado em preparações do croquembouche e decoração para sobremesas como gaiola de açúcar, espirais etc. 122 Unidade III Caramelo castanho‑escuro O caramelo castanho‑escuro (do francês, le caramel noir ou le caramel brun e do inglês black caramel, é obtido a uma temperatura média entre 190 °C a 193 °C, na qual o açúcar liquefeito adquire uma coloração mais escura e um sabor amargo, sendo muito utilizado como corante para molhos. Caramelo queimado O caramelo queimado (do francês, le caramel brûlée, e do inglês burnt caramel, é obtido a uma temperatura média acima de 210 °C, na qual o açúcar liquefeito adquire uma coloração quase negra e um sabor queimado. Ele não costuma ser utilizado em preparações culinárias, pois deve ser descartado. Outra propriedade do açúcar é a cristalização, que ocorre quando o estado físico da água (presente no açúcar) é modificado para a forma de cristais. Uma solução de água e sacarose, na qual a quantidade de sacarose é menor que a quantidade máxima que pode ser dissolvida, denomina‑se solução insaturada. Uma solução de água e sacarose que apresente a quantidade máxima de açúcar dissolvido é chamada de solução saturada. Quando a solução contém mais açúcar do que a quantidade máxima do coeficiente de solubilidade, essa solução é denominada supersaturada. Assim, o processo de cristalização do açúcar ocorre em soluções supersaturadas. Pode‑se conceituar o processo de cristalização como uma mudança de estado do soluto (água), que até então está em solução, para um estado cristalino sólido devido ao aumento da concentração do meio. Para compreender a propriedade de cristalização é preciso entender o processo de interação entre o soluto e o solvente (água e sacarose). Esse processo consiste em uma solução que apresenta água suficiente para dissolver todo o soluto presente no meio por meio de interações como a ligação de hidrogênio entre a água e a sacarose. Enquanto a quantidade de água for suficiente para interagir com todas as moléculas de sacarose, não ocorre cristalização. No entanto, a partir do momento que diminui a quantidade de água (aumento da concentração), as moléculas de sacarose, que até então estavam dissolvidas na água, surgirão dando origem aos novos cristais ou desenvolvendo os cristais já existentes. CH2OH CH2OH CH2OH H H OH HO OH OH O O O Figura 17 – Estrutura da sacarose contendo as identificações dos hidrogênios que formam a ligação de hidrogênio com a água conferindo a sua solubilidade Esses hidrogênios contidos nas hidroxilas (‑OH) da estrutura da sacarose podem formar ligações de hidrogênio ou pontes de hidrogênio com a água, o que confere solubilidade. A dissolução de um 123 TÉCNICA DIETÉTICA soluto (sacarose) depende de interações com a água. Caso a quantidade de água não seja suficiente para dissolver a sacarose, a ligação de hidrogênio pode ocorrer entre as próprias moléculas de sacarose (interação intermolecular), formando assim os cristais (processo de cristalização). Ou seja, se a quantidade de água não for suficiente para interagir com todas as moléculas de sacarose, esses dissacarídeos (sacarose) vão, obrigatoriamente, interagir entre si, ocorrendo, assim, uma interação intermolecular entre as moléculas de sacarose, dando origem a um agrupamento denominado núcleo cristalino (processo de cristalização). A formação dos cristais de açúcar (tamanho e quantidade) depende do grau de intensidade com que se agita a solução e também da presença ou ausência de ingredientes, que pode impedir sua formação. O processo de cristalização pode ser retardado pela presença de diferentes tipos de açúcar durante o processo (diminuição do tamanho dos cristais); pela gordura e proteína do leite, que impedem que os cristais aumentem de tamanho; pelo xarope de milho e mel, que retardam o processo de cristalização; pelo cremor tártaro, que provoca inversão da sacarose, diminuindo a velocidade de cristalização; e pelo açúcar invertido, que evita e/ou impede a cristalização. O açúcar invertido, ou hidrólise, é outra propriedade do açúcar, obtido por meio de ácidos fracos (limão, vinagre, cremor tártaro), calor, enzima invertase ou uma combinação desses três fatores. Durante esse processo ocorre a isomerização das moléculas (de dextrógiro para levógiro), invertendo sua conformação. Assim, a sacarose se hidrolisa em frutose e glicose. O produto obtido é denominado açúcar invertido em decorrência dessa inversão da conformação da cadeia dos monossacarídeos. Sacarose Glicose FrutoseO O O O O CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH H2O + Figura 18 – Reação de inversão do açúcar (açúcar invertido) A importância desse processo reside no fato de a molécula de açúcar tornar‑se mais emoliente, ou seja, reter mais água (apresentar maior solubilidade) do ambiente, apresentar um poder maior de dulçor que a sacarose em si, além de diminuir o tamanho de cristais durante o resfriamento, pois impede a formação de cristais em preparações doces e açucaradas. Essa menor perda de água reduz a atividade de água, sendo empregada para reduzir a proliferação microbiológica, o que evita mudanças de textura, já que reduz a perda de água e evita a ocorrência da cristalização. Isso contribui com aumento do shelf life (validade de prateleira) de muitos produtos alimentícios. 124 Unidade III Assim, o açúcar invertido apresenta menor quantidade de água, o que contribui com a redução da proliferação de micro‑organismos e evita mudanças de textura, já que reduz a perda de água e evita a ocorrência da cristalização. Isso contribui também com o aumento do shelf life (validade de prateleira) de muitos produtos alimentícios. Por apresentar uma preparação menos endurecida (tipo fondant), o açúcar invertido é utilizado na cobertura de produtos da confeitaria e no preparo de uma variedade de alimentos ultraprocessados açucarados,
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