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TRABALHO PENAL crimes contra vida

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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE UNAÍ
FACTU
JOÃO LUCAS MONTEIRO DA FONSECA
			Trabalho da disciplina de Direito Penal 			 III de Direito pela a Faculdade de 				 Ciências e Tecnologia de Unaí
 Prof.: Me. Henrique Alves Pinto.
UNAÍ – MG
2020
	A classificação dos crimes pode ser legal ou doutrinária. Classificação legal é a qualificação, ou seja, o nome atribuído ao delito pela lei penal. A conduta de “matar alguém” é denominada pelo art. 121 do Código Penal de homicídio. Na Parte Especial do Código Penal, todo crime é acompanhado por sua denominação legal (nomen iuris), também chamada de rubrica marginal.Classificação doutrinária é o nome dado pelos estudiosos do Direito Penal às infrações penais. Será, doravante, objeto do nosso estudo.Crimes comuns ou gerais: são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa. O tipo penal não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial. Exemplos: homicídio, furto, extorsão mediante sequestro, crimes contra a honra, etc.Crimes próprios ou especiais: são aqueles em que o tipo penal exige uma situaçãofática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Exemplos: peculato (só podeser praticado por funcionário público) e receptação qualificada pelo exercício deatividade comercial ou industrial, delito previsto no art. 180, § 1.º, do Código Penal(somente pode ser praticado pelo comerciante ou industrial). Admitem co-autoria e participação.Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível: sãoaqueles que somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipopenal. É o caso do falso testemunho (CP, art. 342).Tais crimes não admitem coautoria, mas somente participação, eis que a lei nãopermite delegar a execução do crime a terceira pessoa. Crimes simples e complexos. A classificação se refere à estrutura da conduta delineada pelo tipo penal.Crime simples: é aquele que se amolda em um único tipo penal. É o caso do furto(CP, art. 155).Crime complexo: é aquele que resulta da união de dois ou mais tipos penais. Fala-se, nesse caso, em crime complexo em sentido estrito. O crime de roubo (CP, art.157), por exemplo, é oriundo da fusão entre furto e ameaça (no caso de ser praticadocom emprego de grave ameaça – CP, art. 147) ou furto e lesão corporal (se praticadomediante violência contra a pessoa – CP, art. 129). Denominam-se famulativosos delitos que compõem a estrutura unitária do crime complexo.
Crimes materiais, formais e de mera conduta
	A divisão diz respeito à relação entre a conduta e o resultado naturalístico,compreendido como a modificação do mundo exterior, provocada pela conduta doagente.
	Crimes materiais ou causais: são aqueles em que o tipo penal aloja em seu interioruma conduta e um resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último necessáriapara a consumação.
	Crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: são aquelesnos quais o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado naturalístico,mas este último é desnecessário para a consumação. Em síntese, malgrado possa seproduzir o resultado naturalístico, o crime estará consumado com a mera prática daconduta.
	Na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), basta a privação da liberdade davítima com o escopo de obter futura vantagem patrimonial indevida como condição oupreço do resgate. Ainda que a vantagem não seja obtida pelo agente, o crime estaráconsumado com a realização da conduta.
	No caso da ameaça (CP, art. 147), a vítima pode até sentir-se amedrontada com apromessa de mal injusto e grave, mas isso não é necessário para a consumação docrime.
	Na injúria (CP, art. 140), a pessoa contra quem foi dirigida a ofensa podeconsiderar-se menosprezada. Não se exige, contudo, que isso ocorra. Basta que aspalavras proferidas tenham potencialidade para violar a honra subjetiva, isto é, adignidade e o decoro que a pessoa tem no tocante a si própria.Outro exemplo é o crime de extorsão.
Crimes de mera conduta ou de simples atividade: são aqueles em que o tipo penalse limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razãopela qual ele jamais poderá ser verificado. É o caso do ato obsceno.
Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e aprazo
	A classificação se refere ao momento em que o crime se consuma.Crimes instantâneos ou de estado: são aqueles cuja consumação se verifica em ummomento determinado, sem continuidade no tempo. Os crimes permanentes se subdividem em:
a) necessariamente permanentes: são aqueles que para a consumação éimprescindível a manutenção da situação contrária ao Direito por tempojuridicamente relevante. É o caso do sequestro (CP, art. 148);
b) eventualmente permanentes: em regra são crimes instantâneos, mas, no casoconcreto, a situação de ilicitude pode ser prorrogada no tempo pela vontadedo agente. Como exemplo pode ser indicado o furto de energia elétrica (CP,art. 155, § 3.º).
Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são aqueles cujos efeitos subsistemapós a consumação, independentemente da vontade do agente, tal como ocorre nabigamia (CP, art. 235).
Crimes a prazo: são aqueles cuja consumação exige a fluência de determinadoperíodo. É o caso da lesão corporal de natureza grave em decorrência da incapacidadepara as ocupações habituais por mais de 30 dias (CP, art. 129, § 1.º, I), e do sequestroem que a privação da liberdade dura mais de 15 dias (CP, art. 148, § 1.º, III).
Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos
Crimes unissubjetivos, unilaterais, monossubjetivosou de concurso eventual:são praticados por um único agente. Admitem, entretanto, o concurso de pessoas. É ocaso do homicídio (CP, art. 121).
Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário: são aqueles emque o tipo penal reclama a pluralidade de agentes, que podem ser coautores oupartícipes, imputáveis ou não, conhecidos ou desconhecidos, e inclusive pessoas emrelação às quais já foi extinta a punibilidade. 
Subdividem-se em:
a) crimes bilaterais ou de encontro: o tipo penal exige dois agentes, cujascondutas tendem a se encontrar. É o caso da bigamia (CP, art. 235);
b) crimes coletivos ou de convergência: o tipo penal reclama a existência detrês ou mais agentes. Podem ser:
b.1) de condutas contrapostas: os agentes devem atuar uns contra os outros.É o caso da rixa (CP, art. 137);
b.2) de condutas paralelas: os agentes se auxiliam, mutuamente, com oobjetivo de produzirem o mesmo resultado. É o caso da associaçãocriminosa (CP, art. 288).
Crimes eventualmente coletivos: são aqueles em que, não obstante o seu caráterunilateral, a diversidade de agentes atua como causa de majoração da pena, tal como sedá no furto qualificado (CP, art. 155, § 4.º, IV) e no roubo circunstanciado (CP, art.157, § 2.º, II).
Crimes de subjetividade passiva única e de dupla subjetividade Passiva
	A classificação se relaciona com o número de vítimas.Crimes de subjetividade passiva única: são aqueles em que consta no tipo penaluma única vítima. É o caso da lesão corporal (CP, art. 129).Crimes de dupla subjetividade passiva: são aqueles em que o tipo penal prevê aexistência de duas ou mais vítimas, tal como se dá no aborto sem o consentimento dagestante, em que se ofendem a gestante e o feto (CP, art. 125), e na violação decorrespondência, na qual são vítimas o remetente e o destinatário (CP, art. 151).
Crimes de dano e de perigo
	Essa classificação se refere ao grau de intensidade do resultado almejado peloagente como consequência da prática da conduta.
	Crimes de dano ou de lesão: são aqueles cuja consumação somente se produz coma efetiva lesão do bem jurídico. Como exemplos podem ser lembrados os crimes dehomicídio (CP, art. 121), lesões corporais (CP, art. 129) e dano (CP, art. 163).Crimes de perigo: são aqueles que se consumam com a mera exposição do bemjurídico penalmente tutelado a uma situação de perigo, ou seja, basta a probabilidade
de dano. Subdividem-se em:
a) crimes de perigoabstrato, presumido ou de simples desobediência:consumam-se com a prática da conduta, automaticamente. Não se exige acomprovação da produção da situação de perigo. Ao contrário, há presunçãoabsoluta (iuris et de iure) de que determinadas condutas acarretam perigo abens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33,caput). 
b) crimes de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, nocaso concreto, da ocorrência da situação de perigo. É o caso do crime deperigo para a vida ou saúde de outrem (CP, art. 132);
c) crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinadode pessoas, tal como no perigo de contágio venéreo (CP, art. 130);
d) crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado depessoas, como no caso da explosão criminosa (CP, art. 251);
e) crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo, como no abandono deincapaz (CP, art. 133);
f) crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer;
g) crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente daconduta se projeta para o futuro, como no porte ilegal de arma de fogopermitido ou restrito (Lei 10.826/2003, arts. 14 e 16).
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes
	Dizem respeito ao número de atos executórios que integram a conduta criminosa.Crimes unissubsistentes: são aqueles cuja conduta se revela mediante um único atode execução, capaz de por si só produzir a consumação, tal como nos crimes contra ahonra praticados com o emprego da palavra.Não admitem a tentativa, pois a conduta não pode ser fracionada, e, uma vezrealizada, acarreta automaticamente na consumação.
Crimes plurissubsistentes: são aqueles cuja conduta se exterioriza por meio dedois ou mais atos, os quais devem somar-se para produzir a consumação. É o caso docrime de homicídio praticado por diversos golpes de faca.É possível a tentativa justamente em virtude da pluralidade de atos executórios.
Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista
Crimes comissivos ou de ação: são os praticados mediante uma conduta positiva,um fazer, tal como se dá no roubo (CP, art. 157). Nessa categoria se enquadra a amplamaioria dos crimes.Crimes omissivos ou de omissão: são os cometidos por meio de uma condutanegativa, de uma inação, de um não fazer. Subdividem-se em:
a) Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão está contida no tipo penal, ouseja, a descrição da conduta prevê a realização do crime por meio de uma condutanegativa.Não há previsão legal do dever jurídico de agir, de forma que o crime pode serpraticado por qualquer pessoa que se encontre na posição indicada pelo tipo penal.Nesses casos, o omitente não responde pelo resultado naturalístico eventualmenteproduzido, mas somente pela sua omissão.
	
1) A conduta omissiva está descrita na lei, seja na modalidade “deixar deprestar”, seja na variante “não pedir”. O agente responde penalmente pelasua inação, pois deixou de fazer algo determinado por lei;2) Qualquer pessoa pode praticar o crime de omissão de socorro. Basta seomitir quando presente a possibilidade de prestar assistência, sem riscopessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,ao desamparo ou em grave e iminente perigo. E, mediatamente, qualquerindivíduo pode se omitir quando não for possível prestar assistência semrisco pessoal, deixando de pedir o socorro da autoridade pública.
b) Crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão: o tipo penalaloja em sua descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente, quedescumpre seu dever jurídico de agir, acarreta a produção do resultado naturalístico ea sua consequente responsabilização penal.As hipóteses de dever jurídico de agir8 foram previstas no art. 13, § 2.º, do CódigoPenal: (a) dever legal; (b) posição de garantidor; e (c) ingerência.O crime de homicídio foi tipificado por uma conduta positiva: “Matar alguém”.c) Crimes omissivos por comissão: nestes crimes há uma ação provocadora da omissão. Exemplo: o funcionário público responsável por uma repartição impede queuma funcionária subalterna, com problemas de saúde, seja socorrida, e ela vem afalecer. Essa categoria não é reconhecida por grande parte da doutrina.
d) Crimes omissivos “quase impróprios”: esta classificação, ignorada pelo direitopenal brasileiro, diz respeito aos crimes em que a omissão não produz uma lesão aobem jurídico, como nos crimes omissivos próprios, mas apenas um perigo, que podeser abstrato ou concreto. Nas hipóteses de perigo concreto, tutela-se um bem jurídiconaturalístico (exemplo: a vida humana), ao passo que, nos casos de perigo abstrato,
busca-se a proteção de um bem jurídico normativo (exemplo: uma obrigação jurídica).
Crimes de conduta mista: são aqueles em que o tipo penal é composto de duasfases distintas, uma inicial e positiva, outra final e omissiva. É o exemplo do crime deapropriação de coisa achada, definido pelo art. 169, parágrafo único, II, do CódigoPenal: “[...] quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridadecompetente, dentro no prazo de 15 dias”.Inicialmente, o agente encontra uma coisa perdida e dela se apropria (condutapositiva). Depois, deixa de restituí-la a quem de direito ou de entregá-la à autoridadecompetente, no prazo de 15 dias (conduta negativa).
Crimes de forma livre e de forma vinculada
	Essa divisão se relaciona ao modo de execução admitido pelo crime.Crimes de forma livre: são aqueles que admitem qualquer meio de execução. É ocaso da ameaça (CP, art. 147), que pode ser cometida com emprego de gestos,palavras, escritos, símbolos etc.
Crimes de forma vinculada: são aqueles que apenas podem ser executados pelosmeios indicados no tipo penal. É o caso do crime de perigo de contágio venéreo (CP,art. 130), que somente admite a prática mediante relações sexuais ou atos libidinosos.
Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos
	Essa divisão é atinente ao número de bens jurídicos atingidos pela condutacriminosa, e guarda íntima relação com a estrutura do crime (crimes simples oucomplexos).
Crimes mono-ofensivos: são aqueles que ofendem um único bem jurídico. É o casodo furto (CP, art. 155), que viola o patrimônio.Crimes pluriofensivos: são aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, talcomo no latrocínio (CP, art. 157, § 3.º, parte final), que afronta a vida e o patrimônio.
Crimes principais e acessóriosRefere-se à existência autônoma ou não do crime.
Crimes principais: são os que possuem existência autônoma, isto é, independem daprática de um crime anterior. É o caso do estupro (CP, art. 213).Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: dependem da prática de um crimeanterior, tal como na receptação (CP, art. 180), nos crimes de favorecimento pessoal ereal (CP, arts. 348 e 349) e na lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1.º). Nos termos do art. 108 do Código Penal, a extinção da punibilidade do crimeprincipal não se estende ao crime acessório.
Crimes transeuntes e não transeuntes
	Essa divisão se relaciona à necessidade ou não da elaboração de exame de corpode delito para atuar como prova da existência do crime.
Crimes transeuntes ou de fato transitório: são aqueles que não deixam vestígiosmateriais, como no caso dos crimes praticados verbalmente (ameaça, desacato, injúria,calúnia, difamação etc.).
Crimes não transeuntes ou de fato permanente: são aqueles que deixam vestígios materiais, tais como o homicídio (CP, art. 121) e as lesões corporais (CP, art. 129).Nos crimes não transeuntes, a falta de exame de corpo de delito leva à nulidade daação penal, enquanto nos delitos transeuntes não se realiza a perícia (CPP, arts. 158 e564, III, “b”).
Crimes à distância, plurilocais e em trânsitoCoaduna-se com o local em que se produz o resultado.
Crimes à distância: também conhecidos como “crimes de espaço máximo”, sãoaqueles cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos. Como analisado na parterelativa ao lugar do crime, o art. 6.º do Código Penal acolheu ateoria mista ou daubiquidade.
Crimes plurilocais: são aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem emcomarcas diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, oart. 70 do Código de Processo Penal dispõe que, nesse caso, será competente para oprocesso e julgamento do crime o juízo do local em que se operou a consumação. Há,contudo, exceções.
Crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre emum país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nelevivem. Exemplo: “A”, da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva comofensas a “B”, e essa carta passa pelo território brasileiro.
Crimes independentes e conexosA classificação se importa com o vínculo existente entre dois ou mais crimes.
Crimes independentes: são aqueles que não apresentam nenhuma ligação comoutros delitos.
Crimes conexos: são os que estão interligados entre si. Essa conexão pode serpenal ou processual penal. A conexão material ou penal, que nos interessa, divide-seem:a) teleológica ou ideológica: o crime é praticado para assegurar a execução deoutro delito. É o caso de matar o segurança para sequestrar o empresário;b) consequencial ou causal: o crime é cometido para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro delito. Exemplos: matar uma testemunha para manter impune o delito, e assassinar o comparsa para ficar com todo o produto do crime.Essas duas espécies de conexão têm previsão legal. Funcionam como qualificadorasno crime de homicídio (CP, art. 121, § 2.º, V) e como agravantes genéricas nos demaiscrimes (CP, art. 61, II, alínea “b”);
c) ocasional: o crime é praticado como consequência da ocasião, da oportunidadeproporcionada por outro delito. Exemplo: um ladrão, após praticar o roubo, decideestuprar a vítima que estava no interior da loja assaltada. O agente responde por ambosos crimes, em concurso material. Trata-se de criação doutrinária e jurisprudencial, semamparo legal.
Crimes condicionados e incondicionados
	O critério reside na liberdade ou não para iniciar a persecução penal contra oresponsável pela prática de um crime.Crimes condicionados: são aqueles em que a inauguração da persecução penaldepende de uma condição objetiva de procedibilidade. É o caso do crime de ameaça,de ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou de seurepresentante legal (CP, art. 147). Anote-se que a legislação penal indicaexpressamente a condição de procedibilidade, quando necessária, pois a ausência demenção direta acarreta a conclusão de tratar-se de crime de ação penal públicaincondicionada.Crimes incondicionados: são aqueles em que a instauração da persecução penal élivre. Constituem a ampla maioria de delitos no Brasil. O Estado pode iniciá-la semnenhuma autorização, como ocorre no crime de homicídio, de ação penal públicaincondicionada.
Outras classificações
Crime gratuito
	É o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação. Não seconfunde com o motivo fútil, definido como aquele de menor importância,desproporcional ao resultado provocado pelo crime.Com efeito, a ausência de motivo conhecido não deve ser equiparada ao motivofútil. Destarte, o desconhecimento acerca do móvel do agente não deve ser colocado nomesmo nível do motivo de somenos importância. Há, todavia, adeptos de posiçãocontrária, os quais alegam que, se um motivo ínfimo justifica a elevação da pena, commaior razão deve ser punida mais gravemente a infração penal imotivada.
Crime de ímpeto
	É o cometido sem premeditação, como decorrência de reação emocional repentina,tal como no homicídio privilegiado, cometido pelo agente sob o domínio de violentaemoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (CP, art. 121, § 1.º). Essescrimes são, normalmente, passionais (movidos pela paixão).
Crime exaurido
	É aquele em que o agente, depois de já alcançada a consumação, insiste na agressãoao bem jurídico. Não caracteriza novo crime, constituindo-se em desdobramento deuma conduta perfeita e acabada.Em outras palavras, é o crime que, depois de consumado, alcança suasconsequências finais, as quais podem configurar um indiferente penal, como no falsotestemunho (CP, art. 342), que se torna exaurido com o encerramento do julgamentorelativo a este crime, ou então condição de maior punibilidade, como ocorre na
resistência (CP, art. 329), em que a não execução do ato dá ensejo à forma qualificadado crime.
Crime de circulação
	É o praticado com o emprego de veículo automotor, a título de dolo ou de culpa,com a incidência do Código Penal ou do Código de Trânsito Brasileiro (Lei9.503/1997).
Crime de atentado ou de empreendimento
	É aquele em que a lei pune de forma idêntica o crime consumado e a forma tentada,isto é, não há diminuição da pena em face da tentativa. É o caso do crime de evasãomediante violência contra a pessoa (CP, art. 352: “Evadir-se ou tentar evadir-se opreso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violênciacontra a pessoa”).
Crime de opinião ou de palavra
	É o cometido pelo excesso abusivo na manifestação do pensamento, seja pela forma
escrita, seja pela forma verbal, tal como ocorre no desacato (CP, art. 331).
Crime multitudinário
	É aquele praticado pela multidão em tumulto. A lei não diz o que se entende por“multidão”, razão pela qual sua configuração deve ser examinada no caso concreto.Exemplo: agressões praticadas em um estádio por torcedores de um time de futebol.No Direito Canônico da Idade Média, exigiam-se ao menos 40 pessoas.
Crime vago
	É aquele em que figura como sujeito passivo uma entidade destituída depersonalidade jurídica, como a família ou a sociedade. Exemplo: tráfico de drogas(Lei 11.343/2006, art. 33, caput), no qual o sujeito passivo é a coletividade.
Crime internacional
	É aquele que, por tratado ou convenção devidamente incorporado ao ordenamentojurídico pátrio, o Brasil se comprometeu a evitar e punir, tal como o tráficointernacional de pessoa para fim de exploração sexual (CP, art. 231).
Crime de mera suspeita, sem ação ou de mera posição
	O agente não realiza conduta penalmente relevante. Ao contrário, ele é punido em razão da suspeita despertada pelo seu modo de agir. Essa modalidade, idealizada naItália por Vicenzo Manzini, não encontrou amparo seguro na doutrina.No Brasil, pode ser apresentada como exemplo a contravenção penal tipificada peloart. 25 do Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais (posse nãojustificada de instrumento de emprego usual na prática de furto). Para o SupremoTribunal Federal:O art. 25 da Lei de Contravenções Penais – LCP (Decreto-lei 3.688/41: “Art. 25. Ter alguém em seu poder,depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecidocomo vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na práticade crime de furto, desde que não prove destinação legítima.
Discutia-se a temática relativa à recepção do mencionado art.25 da LCP pelo novo ordenamento constitucional. No caso, os recorrentes foram condenados pela posseinjustificada de instrumento de emprego usual na prática de furto, tendo em conta condenação anterior peloaludido crime (CP, art. 155, § 4.º). (...) No mérito, destacou-se que o princípio da ofensividade deveria orientar aaplicação da lei penal, de modo a permitir a aferição do grau de potencial ou efetiva lesão ao bem jurídicoprotegido pela norma. Observou-se que, não obstante a contravenção impugnada ser de mera conduta, exigiria,para a sua configuração, que o agente tivesse sido condenado anteriormente por furto ou roubo; ou que estivesseem liberdade vigiada; ou que fosse conhecido como vadio ou mendigo. 
Crime inominado
	Delineado pelo uruguaio Salvagno Campos, é o que ofende regra ética ou culturalconsagrada pelo Direito Penal, embora não definido em lei como infração penal. Nãopode ser aceito, haja vista que o princípio da reserva legal veda a analogia in malampartem em âmbito criminal.
Crime habitual
	É o que somentese consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos querevelam um criminoso estilo de vida do agente. Cada ato, isoladamente considerado, éatípico. Com efeito, se cada ato fosse típico, restaria configurado o crime continuado.Exemplos: exercício ilegal da medicina e curandeirismo (CP, arts. 282 e 284,respectivamente).
Crime profissional
	É o crime habitual, quando cometido com finalidade lucrativa. Exemplo: rufianismo
(CP, art. 230).
Quase-crime
	É o nome doutrinário atribuído ao crime impossível (CP, art. 17) e à participação
impunível (CP, art. 31). Na verdade, inexiste crime.
Crime subsidiário
	É o que somente se verifica se o fato não constitui crime mais grave. É o caso dodano (CP, art. 163), subsidiário em relação ao crime de incêndio (CP, art. 250). ParaNélson Hungria, o crime subsidiário funciona como “soldado de reserva”.
Crime hediondo
	É todo aquele que se enquadra no rol do artigo 1.º da Lei 8.072/1990, na formaconsumada ou tentada. Adotou-se um critério legal: crime hediondo é aquele que a leidefine como hediondo.11
Crime de expressão
	É o que se caracteriza pela existência de um processo intelectivo interno do autor.Exemplo: falso testemunho (CP, art. 342), no qual a conduta tipificada não se funda naveracidade ou na falsidade objetiva da informação, mas na desconformidade entre ainformação e a convicção pessoal do seu autor.
Crime de intenção ou de tendência interna transcendente
	É aquele em que o agente quer e persegue um resultado que não necessita seralcançado para a consumação, como se dá na extorsão mediante sequestro (CP, art.159).
Crime de tendência ou de atitude pessoal
	É aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação típica, ou seja, atipicidade pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente.Exemplos: toque do ginecologista na realização do diagnóstico, que pode configurarmero agir profissional ou então algum crime de natureza sexual, dependendo datendência (libidinosa ou não), bem como as palavras dirigidas contra alguém, quepodem ou não caracterizar o crime de injúria em razão da intenção de ofender a honraou de apenas criticar ou brincar.
Crime mutilado de dois atos ou tipos imperfeitos de dois atos
	É aquele em que o sujeito pratica um delito, com a finalidade de obter um benefícioposterior. Ex.: falsidade documental para cometer estelionato.Nas palavras de Juarez Cirino dos Santos:O resultado pretendido exige uma ação complementar (a falsificação do documento e a circulação dodocumento no tráfego jurídico). 
 Crime de ação violenta
	É o cometido mediante o emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça,
como no caso do roubo (CP, art. 157).
Crime de ação astuciosa
É o praticado por meio de fraude, engodo, tal como no estelionato (CP, art. 171).
Crime falho
	É a denominação doutrinária atribuída à tentativa perfeita ou acabada, ou seja,aquela em que o agente esgota os meios executórios que tinha à sua disposição e,mesmo assim, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade.Exemplo: “A” desfere os seis tiros do revólver contra “B”, que mesmo ferido consegue fugir e vem a ser eficazmente socorrido.
 Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto
	É aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na verdade cometeu um indiferente penal. Exemplo: “A” vende um pó branco, acreditandotratar-se de cocaína. Na verdade, era talco.Trata-se de um “não crime”, que se divide em três espécies: a) crime putativo porerro de tipo; b) crime putativo por erro de proibição, também conhecido como “delitode alucinação”; e c) crime putativo por obra do agente provocador.
Crime remetido
	É o que se verifica quando sua definição típica se reporta a outro crime, que passa aintegrá-lo, como no uso de documento falso (“fazer uso de qualquer dos papéisfalsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302” – CP, art. 304).
Crimes de responsabilidade
	Dividem-se em próprios (são, na verdade, crimes comuns) e impróprios (infraçõespolítico-administrativas). Esses últimos são apreciados pelo Poder Legislativo, e a suaprática redunda na imposição de sanções políticas.
Crime obstáculo
	É aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelolegislador. É o caso da associação criminosa (CP, art. 288) e dos petrechos parafalsificação de moeda (CP, art. 291).
Crime progressivo
	É aquele que para ser cometido deve o agente violar obrigatoriamente outra leipenal, a qual tipifica crime menos grave, chamado de crime de ação de passagem. Emsíntese, o agente, pretendendo desde o início produzir o resultado mais grave, praticasucessivas violações ao bem jurídico. Com a adoção do princípio da consunção parasolução do conflito aparente de leis penais, o crime mais grave absorve o menos grave.Exemplo: relação entre homicídio e lesão corporal.
Progressão criminosa
	Verifica-se quando ocorre mutação no dolo do agente, que inicialmente realiza umcrime menos grave e, após, quando já alcançada a consumação, decide praticar outrodelito de maior gravidade. Há dois crimes, mas o agente responde por apenas umdeles, o mais grave, em face do princípio da consunção.Exemplo: “A” decide lesionar “B”, com chutes e pontapés. Em seguida, com “B” jábastante ferido, vem a matá-lo. Responde apenas pelo homicídio, pois, uma vez punido
pelo todo (morte), será também punido pela parte (lesões corporais).
Crimes de impressão
	Nos dizeres de Mário O. Folchi, são aqueles que provocam determinado estado de
ânimo na vítima. Dividem-se em:a) crimes de inteligência: são praticados mediante o engano, como o estelionato(CP, art. 171);b) crimes de vontade: recaem na vontade do agente quanto à sua
autodeterminação, como o sequestro (CP, art. 148); ec) crimes de sentimento: são os que incidem nas faculdades emocionais, tal como a injúria (CP, art. 140).
Crimes militares
	São os tipificados pelo Código Penal Militar (Decreto-lei 1.001/1969).Subdividem-se em próprios e impróprios.Crimes militares próprios (ou puramente militares) são os definidosexclusivamente pelo Código Penal Militar.14 Exemplo: deserção (CPM, art. 187).Por outro lado, crimes militares impróprios são os que encontram previsãolegislativa tanto no Código Penal Militar como também no Código Penal comum, taiscomo furto, roubo, estupro e homicídio.Podem ser ainda crimes militares em tempo de paz (CPM, art. 9.º) e crimesmilitares em tempo de guerra (CPM, art. 10).
Crimes falimentares
	São os tipificados pela Lei de Falências (Lei 11.101/2005). Podem ser ante ou pósfalimentares,conforme sejam praticados antes ou depois da sentença declaratória dafalência; ou ainda próprios ou impróprios, se forem cometidos pelo falido ou por outrapessoa (exemplo: administrador judicial, contador etc.).
Crimes funcionais ou delicta in officio
	São aqueles cujo tipo penal exige seja o autor funcionário público.15 Dividem-se empróprios e impróprios.Crimes funcionais próprios são aqueles em que a condição de funcionário público,no tocante ao sujeito ativo, é indispensável à tipicidade do fato. A ausência desta condição conduz à atipicidade absoluta, tal como ocorre na corrupção passiva e naprevaricação (CP, arts. 317 e 319, respectivamente).
	Nos crimes funcionais impróprios, ou mistos, se ausente a qualidade funcional,opera-se a desclassificação para outro delito. Exemplo: no peculato-furto (CP, art.312, § 1.º), se desaparecer a condição de funcionário público no tocante ao autor,subsiste o crime de furto (CP, art. 155).
Crimes parcelares
	São os crimes da mesma espécie que compõem a série da continuidade delitiva,desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do CódigoPenal. Com efeito, o ordenamento penal brasileiro filiou-se, no campo do crimecontinuado, à teoria da ficção jurídica, razão pela qual os diversos delitos (parcelares)são considerados, para fins de aplicação da pena, como um único crime.
Crimes de hermenêutica
	São os que resultam unicamente da interpretação dos operadores do Direito, pois nasituação concretanão existem provas, nem sequer indícios consistentes, da prática deum fato legalmente descrito como criminoso.16 Esta expressão – “crimes dehermenêutica” – foi idealizada por Rui Barbosa.
Crimes de rua, crimes do colarinho branco e do colarinho azul
	Crimes de rua são os praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, aexemplo dos furtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Esses delitossão cometidos aos olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (praças,parques, favelas etc.), e por essa razão são frequentemente objeto das instâncias deproteção (Polícia, Ministério Público e Poder Judiciário). Quando ficam alheios aoconhecimento do Poder Público, integram as cifras negras do Direito Penal.
	Os crimes de rua se contrapõem aos “crimes do colarinho branco” (whitecolarcrime), cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condição econômica edo poder daí decorrente, como é o caso dos delitos contra o sistema financeironacional (Lei 7.492/1986), de lavagem de capitais (Lei 9.613/1998) e contra a ordemeconômica (Lei 8.176/1991), entre tantos outros.Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal”,indicativas da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidadeconhecida e enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitosdessa natureza, inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade daspessoas privilegiadas no âmbito econômico.
	De fato, em tais crimes o Poder Público pouco interfere, pois são praticados emlocais privados (escritórios, restaurantes de luxo, casas, apartamentos etc.), resultandono desconhecimento pelo Estado e, consequentemente, na ausência do correspondenteregistro para viabilizar a persecução penal.
	Se os crimes econômicos são etiquetados como crimes do colarinho branco, oscrimes de rua são rotulados como crimes do colarinho azul:19 aqueles fazem alusão àsfinas camisas utilizadas pelos executivos das grandes empresas, enquanto estes sereferem à cor dos macacões utilizados pelos operários norte-americanos da década de1940.
Crime liliputiano
	Crime liliputiano, também chamado de “crime anão” ou “crime vagabundo”, é onome doutrinário reservado às contravenções penais.20 Esta terminologia tem origemno livro Viagens de Gulliver, do inglês Jonathan Swift, no qual o personagem principalviaja por um mundo imaginário, e em sua primeira jornada vai a Liliput, terra em queos habitantes medem apenas 15 (quinze) centímetros de altura.
	Na verdade, não há crime (ou delito), em face da regra contida no art. 1.º doDecreto-lei 3.914/1941 – Lei de Introdução ao Código Penal: “Considera-se crime ainfração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente,quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infraçãopenal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas,alternativa ou cumulativamente”.
Crimes de catálogo
	Esta classificação surgiu em Portugal, e diz respeito aos delitos compatíveis com ainterceptação telefônica, disciplinada pela Lei 9.296/1996, como meio de investigaçãoou de produção de provas durante a instrução em juízo.
Crimes de acumulação ou crimes de dano cumulativo.
	Esta classificação tem origem na Dinamarca (“kumulationsdelikte”), e parte daseguinte premissa: determinadas condutas são incapazes, isoladamente, de ofender ovalor ou interesse protegido pela norma penal. Contudo, a repetição delas,cumulativamente consideradas, constitui crime, em face da lesão ou perigo de lesão aobem jurídico. Exemplo: Embora o comportamento seja imoral e ilícito, quem joga lixouma única vez e em quantidade pequena às margens de um riacho não comete o crimede poluição. Contudo, se esta conduta for reiterada, surgirá o delito tipificado no art.54 da Lei 9.605/1998 – Lei dos Crimes Ambientais.

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