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BIODISPONIBILIDADE E INTERAÇÕES ENTRE NUTRIENTES Profa. Dra. Renata Junqueira Pereira Conceituação Biodisponibilidade: é a proporção dos nutrientes dos alimentos que é absorvida e utilizada nos processos de transporte, assimilação e conversão à forma biologicamente ativa. Refere-se à fração de qualquer nutriente ingerido que tem o potencial para suprir demandas fisiológicas em tecidos alvos. Conceituação Bioconversão: é proporção do nutriente ingerido que estará biodisponível para a conversão em sua forma ativa. Ex.: quanto de carotenóides da dieta estará disponível para ser convertido a retinol. Conceituação Bioeficácia: é a eficiência com a qual os nutrientes ingeridos são absorvidos e convertidos à sua forma ativa. Ex.: quanto de carotenóides da dieta será absorvido e convertido à retinol. Conceituação Bioeficiência: proporção em que a forma ativa convertida do nutriente absorvido atingirá o tecido alvo. Os componentes alimentares liberados no trato digestório, durante o processo digestivo meio propício para rearranjos moleculares e reações químicas entre nutrientes, afetando positiva ou negativamente a absorção. Momentos de Ocorrência de Interações Diversos tipos de interações entre nutrientes afetando seu balanço normal e utilização no organismo: Antes da absorção (no lúmen intestinal); Durante o transporte pelo enterócito e distribuição ao organismo (mucosa intestinal); Ao longo das transformações metabólicas (biotransformação); No processo de excreção do nutriente. Considerações Considera-se que o total ingerido do nutriente corresponde à soma dos teores contidos nos vários alimentos da dieta, de acordo com tabelas de composição de alimento. Desconsideram a ocorrência de interações em nível fisiológico. Total ingerido pode não corresponder à quantidade efetivamente retida no organismo, podendo haver superestimação ou subestimação dos teores de nutrientes efetivamente fornecidos por uma dada refeição ou dieta. Considerações Os constituintes de uma refeição influências marcantes (positivas ou negativas) sobre o teor de um determinado nutriente em um alimento. As dificuldades para quantificar o teor de nutrientes efetivamente biodisponíveis nos diferentes alimentos ou refeições conseqüências imprevisíveis sobre a nutrição dos indivíduos. Em especial os enfermos, ou aqueles que se encontram em estado nutricional marginal. Considerações Maioria das dietas consumidas nos países desenvolvidos e pelas populações de maior poder aquisitivo dos países em desenvolvimento provêem um teor de nutrientes superior ao mínimo recomendado para a manutenção de um bom estado nutricional. Para estes indivíduos as interações nutricionais não representam riscos de inadequação nutricional. Considerações Parcelas expressivas da população brasileira e mundial refeições contendo quantidades de nutrientes no limite mínimo de suas recomendações, ou mesmo um teor inferior ao recomendado. As interações nutricionais podem influenciar significativamente a utilização dos nutrientes, de forma negativa, afetando o estado nutricional dos indivíduos. Considerações Necessidade de se revisarem os procedimentos de estimativa da composição de nutrientes nos diferentes alimentos e tipos de dietas, determinando-se a biodisponibilidade dos mesmos. Iniciativas Em 1980, na formulação das RDAs, reconheceu-se que a absorção do ferro era maior em duas situações: Na presença de altos teores de vitamina C, durante as refeições; Na presença de mais de 100g de tecidos animais, durante as refeições. Com base nesses fatores promotores da absorção de ferro recomendados procedimentos para o cálculo do ferro efetivamente absorvido na dieta. Iniciativas Recomendou-se ainda que se evitasse a ingestão de alimentos ou medicamentos que contivessem substâncias redutoras da absorção do ferro: sais de fosfato e cálcio; EDTA (ácido etilenodiaminotetracético); fitatos; taninos e Antiácidos Particularmente quando o estado nutricional de ferro estivesse comprometido. Conclusão No planejamento dietético, faz-se necessário conhecer as interações entre nutrientes para a escolha dos alimentos a serem combinados nas refeições, visto que existem substâncias que podem prejudicar ou favorecer o aproveitamento de nutrientes, quando consumidos juntamente. FATORES QUE AFETAM A BIODISPONIBILIDADE DOS NUTRIENTES FATORES INTRÍNSECOS OU FISIOLÓGICOS Metabólicos (lactação,crescimento, gestação); Genéticos; Idade; Microbiota intestinal. FATORES EXTRÍNSECOS Antagonismos competitivos entre íons; Estado de oxidação da molécula; Quelantes naturais (vitamina C, aminoácidos); Solubilidade; Adsorção em componentes dietéticos (fibras); Escolha e combinação adequada dos alimentos da dieta. TIPOS DE INTERAÇÕES QUE PODEM OCORRER ENTRE NUTRIENTES INTERAÇÕES PRÉ-ABSORTIVAS Combinação Química (formação de quelatos; solubilidade) INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS Interações Competitivas; Interações Metabólicas Não-competitivas; Interações Multi-elementos; Interações de Troca; Interações de Precursor; INTERAÇÕES INTERAÇÕES POSITIVAS: a presença de um nutriente favorece a absorção e/ou ação metabólica de outro. Ex.: interação entre vitamina C e ferro. INTERAÇÕES NEGATIVAS: a presença de excesso de um determinado nutriente reduz a absorção e/ou antagoniza as ações metabólicas normais de outro. Ex.: interação entre ferro e cálcio. INTERAÇÕES PRÉ-ABSORTIVAS São interações que envolvem combinações químicas entre os nutrientes e são influenciadas pelas condições presentes no lúmen intestinal como: pH, presença simultânea de vários tipos de substâncias ligantes (quelantes), forma química do nutriente ingerido. INTERAÇÕES PRÉ-ABSORTIVAS Durante a passagem do nutriente pelo TGI: Solubilização dos complexos de nutrientes, na presença do HCl do estômago, resultando em liberação do nutriente, que pode então formar novos complexos (absorvíveis ou não); A osmolaridade e o pH do lúmen, bem como a presença de diversas substâncias, podem influenciar a formação de complexos entre nutrientes; O pH alcalino no lúmen reduz a solubilidade de sais formados por minerais; A presença de quelantes, de origem dietética, pode reduzir ou aumentar a absorção de um dado nutriente, pois a solubilidade dos compostos formados é a principal determinante da absorção e transporte do nutriente pela mucosa intestinal. INTERAÇÕES PRÉ-ABSORTIVAS MAIS COMUNS Positivas Negativas Vitamina C ------ Ferro, Selênio Vitamina C ------ Cobre Aminoácidos ------ Ferro, Selênio Fosfatos ------ Ferro, Zinco e Cálcio Carnes ------ Ferro Oxalatos ------ Ferro, Zinco Lipídeos, TCM ------ Ferro Fibras ------ Fe, Zn, Ca, Lipídeos Frutose ------ Ferro Fitatos ------ Proteína, Fe, Zn, Cu, Ca, Mg Ácido picolínico ------ Zinco Taninos ------ Proteínas, Fe, Zn, Cu Lactose ------ Cálcio INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES COMPETITIVAS: são relacionadas com a forma química do nutriente. Por exemplo: Zn+2, Cu++, Cd2+ têm a mesma configuração eletrônica e, portanto, tendência a formar compostos de coordenação semelhantes, com disposição tetraédrica dos ligantes. Os antagonismos biológicos entre esses elementos ocorrem em função da substituição isomórfica de um elemento por outro, em um mesmo sítio funcional, tanto de enzimas como de membranas celulares. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS A similaridade da forma química entre o agonista e seu antagonista é fundamental para que uma interação se caracterize como competitiva. Essas interações são sempre mutuamente negativas, mas os efeitos resultantes da ingestão excessiva do antagonista podem ser revertidos se a ingestão do agonista também for aumentada. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS Exemplo: interação competitiva entre zinco e cobre. O excesso dietético de zinco pode resultar em deficiência de cobre já que esses elementos competemtanto pela absorção, como pelo transporte através do enterócito e sua posterior distribuição para os tecidos. Por outro lado, o excesso de cobre reduz a captação intestinal de zinco. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES METABÓLICAS NÃO-COMPETITIVAS: ocorrem quando a deficiência ou o excesso de um nutriente interfere na ação biológica de outro. As mais comuns são aquelas em que um nutriente se faz necessário para a utilização do outro. Exemplo: importância da vitamina D para a utilização adequada do cálcio e do fósforo de origem alimentar, para a manutenção da calcemia. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES MULTI-ELEMENTOS: ocorrem quando a interação de um nutriente com outro resulta em efeitos negativos sobre um terceiro nutriente. Exemplos: interações zinco-ferro-cobre e cálcio- fitato-zinco. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS No primeiro caso, um excesso de zinco dietético pode inibir a utilização do cobre pelo organismo e, conseqüentemente, reduzir a atividade da enzima ferroxidase, resultando em anemia ferropriva, que somente poderá ser curada com a suplementação por cobre. No segundo caso, a formação de um complexo entre o cálcio e o fitato favorece a inibição da absorção de zinco. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES DO TIPO PRECURSOR: caracterizam-se pela transformação de um nutriente em outro durante o metabolismo. Duas situações podem ocorrer: Diminuição da necessidade de um nutriente pelo aumento da ingestão de seu precursor; Diminuição da necessidade do precursor pela presença, na refeição, de maiores quantidades do nutriente em que se transforma. INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES DO TIPO PRECURSOR: Exemplos: Fenilalanina ----- Tirosina Metionina ----- Cisteína Triptofano ----- Niacina INTERAÇÕES PÓS-ABSORTIVAS INTERAÇÕES DO TIPO TROCA: são as menos comuns, caracterizando-se pela possibilidade de substituição de um nutriente deficiente por outro com função semelhante, mesmo que apresente modo de ação diferente. Exemplo:Selênio ---- Vitamina E (como antioxidantes) INTERAÇÕES ENTRE NUTRIENTES MAIS RELEVANTES Vitamina C + Ferro A vitamina C tem um potencial de redução de 75 a 98% dos íons férricos (Fe+3) a ferrosos (Fe+2), no lúmen intestinal. Os íons ferrosos são mais solúveis e melhor absorvidos. Quelatos [Vit.C - Fe] são muito bem absorvidos. Cálcio, Fósforo - Magnésio Na presença de fosfatos, forma-se o quelato Ca-Mg- Fosfato, que é insolúvel, reduzindo a absorção desses minerais. Condições em que há grande possibilidade de formação do quelato Ca-Mg-Fosfato: [Ca]/[Mg] >8 maior risco de doença cardiovascular [P]/[Ca] >5 ocorre menor absorção do magnésio da dieta Cálcio, Fósforo - Magnésio Dietas habituais (ocidente): [Ca]/[Mg] varia entre 2,5 e 3,5. Crianças alimentadas exclusivamente com leite de vaca: [Ca]/[Mg] = 9,1 [P]/[Ca] = 6,0 risco de carência de cálcio e magnésio. Fitatos Fitatos - Ca, Zn, Fe,Cu, Mg Fitatos são substâncias presentes em: chocolate, chás, café, cereais integrais, farelos, vegetais folhosos, leguminosas, raízes e tubérculos. Formam heterocomplexos estáveis e insolúveis com: Ca, Zn, Fe, Cu, Mg aumento da excreção fecal do mineral, com conseqüente redução da absorção. Fitatos - Ca, Zn, Fe,Cu, Mg Formam compostos insolúveis com aminoácidos: Fit- Aa diminuição da digestibilidade protéica pelas proteases e redução da utilização pelo organismo, reduzindo o valor protéico do alimento ou refeição. A microbiota intestinal produz fitases, capazes de desfazerem os quelatos e liberarem os minerais, porém apenas na região do cólon, onde poucos minerais podem ser absorvidos, em pequena extensão. Fitatos - Ca, Zn, Fe,Cu, Mg Praticamente todos os minerais de importância nutricional têm sua absorção afetada pela presença dos fitatos. Complexos entre Fe e fitatos não se formam em pH levemente alcalino, como na porção superior do duodeno, onde grande parte do ferro é absorvida. Semelhantemente, é pequena a formação de complexos entre fitatos e zinco ou cobre, pois estes minerais encontram- se presentes em quantidades muito pequenas nos alimentos, insuficientes para provocar formação de quelatos. Fitatos - Ca, Zn, Fe,Cu, Mg Minerais como o cálcio e magnésio estão presentes em concentrações elevadas nos alimentos e, na presença dos fitatos, podem formar quelatos estáveis, provocando co- precipitação de outros minerais como zinco e o cobre. O consumo de alimentos ricos em fitatos reduz significativamente a absorção do zinco, cobre, magnésio, manganês, cálcio e, com menor intensidade, do ferro, contidos na refeição. Fibras O meio intraluminal é profundamente afetado pela presença dos componentes da fibra dietética que afetam o metabolismo microbiano, a pressão intraluminal e a composição química das fezes. Gomas e Pectinas (Fibras Solúveis) • reduzem a velocidade de difusão dos produtos da digestão, pela superfície absortiva da mucosa intestinal. • Quando hidratadas no lúmem intestinal, formam um gel onde alguns nutrientes se difundem. • São capazes de modular a absorção de alguns nutrientes como a glicose, resultando em menores níveis séricos pós-prandiais de glicose e insulina. • Influenciam negativamente a absorção de lipídeos como o colesterol e os triglicerídeos, em função de sua difusão no gel hidratado, reduzindo a absorção desses lipídeos. Fibras • Hemiceluloses e mucilagens formam quelatos com alguns minerais no lúmem,em pH fisiológico. • Cereais integrais e leguminosas apresentam associação de fitatos, taninos e saponinas, com alto potencial de quelação de minerais. • Interações das fibras da dieta com ferro, zinco, cobre, cálcio e magnésio são freqüentes. • Dietas com altos teores de fibras podem ser prováveis causadoras das deficiências de ferro e zinco. Fibras • Interações entre fibras e vitaminas parecem não ocorrer com a mesma intensidade: apenas a piridoxina e a vitamina B12 podem ter sua absorção reduzida por componentes da fibra dietética. •As conseqüências negativas sobre o estado nutricional dos indivíduos poderão ser significativas, particularmente para aqueles que apresentam deficiências e/ou ingestão marginal de minerais, como anêmicos e vegetarianos estritos. •Dietas com altos teores de fibras mas com boa concentração de minerais não oferecem risco de deficiências de minerais, até 35g de fibra/dia. Taninos Ácido Tânico + Casuarictina Ácido Gálico COOH HO OH OH Ácido Elágico O O OH OH OH HO O O H + O O O OH OH OH OH O HO OH OH OHOH HO OH OH OH OH OH O O O O O O O Casuarictina Presentes em chás, café, chocolate, leguminosas com casca; Possuem grande afinidade por quelarem Fe, Zn, Cu e Proteína; Reduzem significativamente a disponibilidade mineral da refeição; Reduzem a digestibilidade das proteínas da dieta, por reduzirem a capacidade digestiva das proteases e, conseqüentemente, a utilização das proteínas pelo organismo; Formam quelatos insolúveis, de alta estabilidade, difíceis de se desfazerem. Taninos Taninos e compostos polifenólicos podem se combinar quimicamente com o ferro e o iodo, formando compostos não absorvíveis; Taninos (chás) e compostos polifenólicos (café) são possivelmente os responsáveis pelo efeito negativo significativo destas bebidas sobre a absorção do ferro não-heme da refeição. Taninos Fosfatos inorgânicos liberados da digestão de proteínas ou naturalmente presentes no alimento, se rearranjam no lúmem intestinal, formando compostos insolúveis com Fe, Zn, Ca, Mg,reduzindo a absorção desses minerais. As fosfoproteínas contidas na clara e na gema do ovo formam com o ferro não-heme, complexos de elevada estabilidade, bloqueando significativamente a absorção do mineral. Fosfoproteínas do leite de vaca e seus derivados apresentam a mesma interação com o ferro não-heme da dieta. Fosfatos O ácido oxálico (oxalato), presente em alguns vegetais como o espinafre e a beterraba, formacomplexos com o cálcio dietético e com o zinco, que precipitam no lúmem e são excretados nas fezes. Oxalatos A soja possui alta concentração de Fitatos (1400mg/100g), Cálcio (90mg/100g), Fosfatos (218mg/100g), Conglicina (proteína inibidora de Fe e Zn), hemaglutininas (reduzem a absorção de Iodo). Fe e Zn estão em baixa disponibilidade em produtos a base de proteína de soja (fórmulas infantis, dietas enterais) --- preocupação!!!! Soja As proteínas das carnes (vaca, porco, carneiro, peixes, aves) aumentam a absorção do ferro não-heme. A explicação para tal aumento de absorção ainda não está clara, mas há hipóteses: Ocorre complexação de alguns aminoácidos, presentes em quantidades elevadas nestes alimentos, e liberados durante a digestão (cisteína, alanina, histidina), formando com o ferro quelatos solúveis e bem absorvidos. Existe nas carnes algum fator capaz de se complexar com o ferro e promover a absorção; Alguns aminoácidos liberados na digestão, como a glutationa e a cisteína, possuem poder redutor, o que contribuiria para aumentar a absorção dos minerais que são melhor absorvidos em sua forma reduzida (ferro e selênio). Proteínas Teores elevados de proteínas na refeição promovem também um aumento significativo na absorção e na deposição óssea de zinco. Efeitos das proteínas das carnes, no sentido de aumentar a biodisponibilidade de minerais da dieta, foram também observados com o cobre e o selênio. Proteínas A caseína, uma proteína presente em quantidade significativamente mais elevada no leite de vaca do que no leite materno, é forte quelante de zinco. Esta interação tem grande importância nutricional para o lactente que, prematuramente desmamado, alimenta-se com o leite de vaca. Os coágulos de caseína com grande quantidade de zinco ligado, não são digeridos pelo trato gastrointestinal imaturo do lactente, levando a uma excreção fecal aumentada do zinco. Proteínas Lipídeos da dieta, particularmente triglicerídeos e ácidos graxos saturados, formam sabões insolúveis com o cálcio, aumentando a excreção fecal e reduzindo a absorção. A absorção do ferro é aumentada proporcionalmente ao aumento do teor de gordura das refeições. O efeito é conseqüência do estímulo à secreção pancreática, rica em quelatos endógeno protetores, induzido pela presença dos lipídeos da dieta no TGI. Lipídeos Carboidratos digeríveis também interagem com minerais no lúmen. A lactose promove a absorção de cálcio e zinco; A frutose forma quelatos de grande estabilidade com o ferro e aumenta significativamente sua absorção. Tal interação pode ser parte resultante do metabolismo da frutose no enterócito, cujos metabólitos (ácidos lático e pirúvico) complexam o ferro nas bordas da membrana e facilitam seu transporte transcelular. A frutose e a sacarose mostraram efeito negativo sobre a absorção de cobre. Carboidratos Ácidos orgânicos e refeições de ph ácido aumentam consideravelmente a absorção de ferro (vitamina C – ferro); Tanto o ferro como o zinco apresentam afinidade pelo ácido cítrico para favorecer a absorção; O ácido fólico parece formar quelato insolúvel com o zinco. Estudos mostraram que a suplementação com ácido fólico, comum na gestação, aumenta a excreção fecal do zinco. Zinco e cobre apresentam afinidade por ligação ao ácido picolínico, um metabólito do aminoácido triptofano. Ácidos Tanto na forma de ácido ascórbico como na forma oxigenada, ácido dehidroascórbico, apresenta poder redutor sobre os componentes do bolo alimentar. Além de promotora da absorção do ferro, a vitamina C também é: Protetora do selênio contra oxidação no lúmem e, conseqüentemente, promove o aumento de sua absorção e ação; Redutora da absorção do cobre dietético, devido a seu poder redutor sobre o mineral. Uma suplementação de 1,5g de vit C/dia é suficiente para causar redução dos níveis sanguíneos de cobre e ceruloplasmina. Vitamina C Tanto a vitamina C quanto a vitamina A aumentam a captação de selênio pela mucosa intestinal, promovendo um aumento na atividade da glutationa peroxidase, a nível metabólico. A ação inibitória da vitamina C sobre a absorção do cobre parece ocorrer não somente no lúmen, mas também a nível da mucosa intestinal, interferindo na ligação do mineral à metalotioneína intracelular, responsável por seu transporte e armazenamento no enterócito. Vitamina C As interações entre Fe e Zn em nível de mucosa intestinal podem ter conseqüências negativas importantes para o estado nutricional dos indivíduos; A forma química do ferro é decisiva para a ocorrência da interação, uma vez que o ferro heme não apresenta qualquer efeito negativo sobre a utilização do zinco dietético; O ferro não-heme, em excesso, parece bloquear a captação de zinco pelo enterócito e vice-versa; O zinco interfere na incorporação e liberação do ferro da ferritina, presente no enterócito, provocando uma redução na absorção de ferro; Fe - Zn O zinco também tem uma grande afinidade pela transferrina, que transporta o ferro no plasma. Suplementar ferro quando refeições [Zn]/[Fe] >6, para evitar anemia; Alimentos fortificados com Fe podem causar deficiência de zinco quando [Fe]/[Zn] >2; Dietas habituais no Brasil: [Fe]/[Zn]= 0,5 a 2,0. Fe - Zn A competição entre zinco e cobre pode ocorrer tanto a nível da captação destes nutrientes pela mucosa, como durante a incorporação dos minerais a enzimas presentes no enterócito, proteínas transportadoras, compostos de armazenamento intracelular e mesmo na liberação destes nutrientes para o sistema porta-hepático. Estes dois minerais competem pela ligação intracelular à metalotioneína. O zinco induz a síntese intracelular da metalotioneína, mas devido à maior afinidade do cobre pela proteína, este desloca o zinco do complexo, o qual permanece na célula da mucosa intestinal sem entrar no sistema circulatório. Com a renovação do epitélio intestinal, o cobre ligado retorna ao lúmen intestinal. É improvável que a inibição da absorção de zinco pelo cobre dietético seja significativa em humanos, dado o pequeno teor deste nutriente presente nas refeições. Zn - Cu Teores elevados de cobre dietético inibem o transporte de zinco do fígado para os tecidos, demonstrando a existência de competição entre ambos, por ligação à proteína que os transporta no plasma. Porém, a suplementação alimentar com 5 a 20 mg zinco/dia aumenta as necessidades de cobre de 0,89 mg/dia para 1,64 mg/dia e pode resultar no aparecimento de sintomas de deficiência de cobre, em indivíduos sadios, caso a ingestão dietética não seja aumentada concomitantemente à suplementação. Dietas habituais no Brasil: [Zn]/[Cu]= 7 a 12; Quando [Zn]/[Cu]>15 caem as concentrações de ceruloplasmina; Aumenta o LDL e diminui HDL (relação ruim) Aumenta a probabilidade de DCV A suplementação medicamentosa de Zn deve ser evitada. Zn - Cu A concentração de cálcio nas refeições tem influência marcante sobre a absorção o ferro nelas contido; A interação ocorre somente quando Ca e Fe são ingeridos numa mesma refeição; O cálcio possui raio atômico maior que o ferro não-heme e compete pelo mesmo canal de absorção na mucosa; O efeito inibitório da absorção do ferro, exercido pelo cálcio, se estende também ao ferro heme. O complexo porfirínico é absorvido e, somente dentro do enterócito, ocorre a liberação do ferro nele contido. Assim, o efeito do cálcio sobre ferro hemínico é conseqüência da competição entre Ca e Fe por etapas comuns de transporte do enterócito para o plasma; Ca - Fe A inclusão e leite ou derivados às refeições pode reduzir a absorção do ferro (heme ou não-heme) em até 60%; Indivíduos com maiores necessidades de ferro como crianças, adolescentes, gestantes, idosos e anêmicos devem evitar a ingestão de leite e seus derivados nas principais refeições; Quando ingeridos de 2 a 4 horas antes ou após as principais refeições, os alimentos ricos em cálcionão apresentam qualquer efeito inibitório sobre a absorção do ferro da refeição; É possível melhorar a utilização do ferro dietético redistribuindo a ingestão diária de cálcio, sugerindo que o mesmo seja oferecido nas refeições de menor conteúdo de ferro, como desjejuns, lanches e refeições noturnas (ceia); Ca - Fe Na presença de fitatos há uma maior depleção do ferro pela formação dos complexos Ca-fitato-Fe; A suplementação de cálcio ou a ingestão sistemática de leite e derivados às refeições (>165mg Ca) predispõe o indivíduo ao risco de anemia; Risco de anemia: [Ca]/[Fe] >35 Necessidade de suplementação com ferro quando [Ca]/[Fe] >150 Dietas habituais no Brasil: [Ca]/[Fe]= 33 a 99 Ca - Fe Competem por etapas comuns no transporte; O efeito do cálcio sobre o zinco depende da presença de fitato – quelação; Quando há fitatos na dieta o cálcio ganha maior poder de depleção de zinco; Refeições com baixas [fitatos] = [Ca]/[Zn]>200 (suplementar Zn); Refeições com altas [fitatos] = [Ca-Fit]/[Zn]>0,4 (suplementar Zn); Dietas habituais [Ca]/[Zn]=50 a 80 (quanto maior a relação, pior a absorção de Zn) Ca - Zn A tiamina (B1) é absorvida no intestino delgado por um mecanismo de transporte ativo que pode ser desemparelhado nas deficiências de folato, piridoxina e B12, vitaminas necessárias à renovação da mucosa intestinal. A atrofia intestinal parcial provocada pela redução da renovação normal das células, resulta em redução da absorção e utilização da tiamina e de outras vitaminas, constituindo-se em uma síndrome que pode ter efeitos múltiplos sobre a assimilação dos nutrientes. Folato, Piridoxina e Vitamina B12 Proteína e zinco interagem com a vitamina A tanto a nível da mucosa intestinal como a nível de distribuição para o tecidos; A deficiência de proteínas resulta em redução da produção de enzimas e proteínas necessárias à formação dos agregados lipoprotéicos (quilomícrons) no enterócito, afetando o mecanismo de absorção e transporte da vitamina A para o fígado; Proteína, Zn - Vitamina A A carência protéica causa ainda redução nos níveis plasmáticos da proteína transportadora de retinol (RBP), que transporta o retinol do fígado para os tecidos; e também reduz os níveis da proteína celular transportadora de retinol (CRBP) que, dentro das células, transporta o retinol da membrana para o núcleo; Conseqüentemente, a vitamina A não pode ser distribuída aos tecidos e se acumula no fígado, indicando que a utilização da vitamina é dependente da disponibilidade de uma mistura balanceada de aminoácidos, para manter a síntese de RBP e CRBP; Proteína, Zn - Vitamina A A deficiência de zinco resulta na queda marcante da atividade da retinil éster hidrolase, afetando a formação do agregado lipoprotéico no enterócito, dificultando igualmente a captação, o transporte e a distribuição da vitamina A no organismo; O zinco também é cofator da enzima álcool desidrogenase e verifica-se que, indivíduos que apresentam deficiência deste mineral, apresentam uma redução de 30 a 50% nos níveis plasmáticos de RBP, afetando a distribuição da vitamina A do fígado para os tecidos. Proteína, Zn - Vitamina A A vitamina A participa ativamente da hematopoiese auxiliando a mobilização do ferro dos depósitos e, portanto, tornando o mineral mais disponível para a síntese de hemoglobina. Na hipovitaminose A o ferro se acumula nos tecidos do fígado e do baço e surge uma anemia por carência de ferro. Com o aumento na ingestão da vitamina A, o ferro armazenado passa então a ser novamente distribuído aos tecidos, restabelecendo a normalidade dos níveis séricos do mineral. A vitamina B2 também se faz necessária à remoção do ferro dos estoques hepáticos para a síntese de hemoglobina (arriboflavinose --- anemia moderada). Vitamina A + Fe A vitamina D produzida na pele e ativada nos rins, pela ação do paratormônio, penetra no enterócito e induz a síntese de uma proteína ligante de cálcio, a qual é responsável por uma fração razoável da captação de cálcio pela mucosa intestinal. Na deficiência de vitamina D, a absorção do cálcio é drasticamente reduzida. Vitamina D + Ca Ingestões excessivas de vitamina E resultam em acúmulo hepático de lipídeos e vitamina A, concomitantemente a uma redução nos níveis plasmáticos de lipídeos totais, colesterol e retinol; A vitamina E interfere na síntese hepatocelular e na distribuição das lipoproteínas para os tecidos, resultando no desemparelhamento do transporte de vitamina A e outros lipídeos do fígado para os tecidos; Além disso, indivíduos deficientes em vitamina E têm reservas hepáticas de retinol menores que indivíduos normas, sugerindo que a deficiência da vitamina E resulta em depleção da vitamina A hepática. Vitamina E - Lipídeos e Vitamina A O cobre é necessário para a utilização do ferro. Uma das conseqüências da deficiência de cobre é a ocorrência de anemia hipocrômica, que ocorre a despeito de um aumento no teor de ferro armazenado no fígado, e que não é curada pela ingestão de ferro. Isso indica que a deficiência de cobre leva a uma disfunção no processo de distribuição do ferro, dos estoques hepáticos para os tecidos, onde o mineral seria incorporado à hemoglobina. A interação ocorre devido a uma redução expressiva nos teores plasmáticos de ceruloplasmina, enzima que contém cobre como grupo prostético, e é a responsável pela oxidação do íon ferroso, necessária para a incorporação do ferro à transferrina, para posterior distribuição aos tecidos. Cu – Fe A ingestão excessiva de proteína poder resultar em desequilíbrio do mecanismo homeostático de retenção do cálcio no organismo, resultando em um aumento anormal na excreção renal do mineral, não compensada por aumento proporcional na sua absorção. O efeito é conseqüência da oxidação de aminoácidos sulfurados (metionina), que produz abaixamento do pH renal e, conseqüentemente, o aumento no processo de filtração glomerular e redução da reabsorção tubular do cálcio. Proteína – Cálcio A ingestão acima de 95g proteína/dia, já é suficiente para afetar negativamente o balanço de cálcio, sendo, portanto, indesejável. Ingestão protéica > 150g proteína/dia --- risco documentado pela evidência científica. O risco é potencializado conforme a prevalência de proteína animal na dieta (altas concentrações de metionina). O estabelecimento de um balanço negativo de cálcio em indivíduos que consomem dietas hiperprotéicas por longos períodos de tempo; hábito característico de uma parcela significativa da população de maior poder aquisitivo; tem sido apontado como um dos fatores de risco da osteoporose. Proteína – Cálcio O aumento da ingestão de fósforo parece neutralizar o efeito negativo da proteína sobre o cálcio. O fósforo induz maior secreção de hormônio da paratireóide, resultando em aumento da reabsorção tubular renal de cálcio e, conseqüentemente, em redução de sua excreção urinária. Essa constatação introduz novas considerações nas estimativas dos requerimentos de fósforo, propondo que sejam adequadas à ingestão protéica dos indivíduos. Também refeições excessivamente salgadas (excesso de sódio) induzem um aumento na excreção renal do cálcio. Estudos constataram uma redução nas perdas urinárias de cálcio em indivíduos hipercalciuréticos, que receberam dietas hipossódicas em tratamento dietoterápico. Proteína – Cálcio As interações metabólicas entre sódio e potássio são bastante complexas e determinam a osmolaridade dos fluidos corporais intra e extracelulares; Boa parte desses minerais é reabsorvida ativamente nos túbulos renais proximais; A reabsorção renal de sódio é afetada pelo potássio; A toxicidade resultante de uma ingestão excessiva de sódio pode ser contrabalançada pelo aumento na ingestão de potássio, assim como indivíduos hipertensos podem ser tratados tanto pela redução do consumo de sódio dietético como pelo aumento da ingestão depotássio. Sódio Potássio
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