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Unidade 1 - Liderança e poder “O poder, em si, não constitui uma garantia moral: o poderoso pode ter a espada na mão, mas nem por isso é dono do bem.” (Contardo Calligaris) Esta frase de Contardo Calligaris, um dos maiores colunistas do nosso país, traz uma grande verdade: o poder, por si só, não garante o movimento em prol do que é certo e do que é bom. Ele não garante a realização de propósito e tampouco do comprometimento necessário à realização de algo perene e sustentável. Isto porque poder não é sinônimo de liderança. Mas liderança é poder. A liderança implica respeito, enquanto que o poder sem liderança implica imposição. A liderança está mais relacionada à influência que gera vontade, espontaneidade. O poder, quando à parte de uma liderança genuína, gera temor e insegurança. Mas podemos seguir com os paralelos e discorrer sobre as inúmeras diferenças e discrepâncias entre liderança e poder e ainda assim não nos aprofundarmos na questão, uma vez que mais que entender sobre um conceito e outro, é preciso delinear os aspectos práticos para o exercício de ambos. Também é muito importante que se contextualize as aplicações tanto de liderança quanto de poder. O poder, mesmo o que se propõe a enfatizar a patente, como no caso de instituições com caráter militar, pode ser seguido ou até precedido por uma liderança verdadeira. De fato, não é preciso que um exclua o outro. O cuidado que devemos ter aqui é o de não nos valermos tão somente por nossa posição, hierarquia, experiência ou sabedoria. A segurança de nossa liderança e do poder de influência está mais ligada à nossa autoridade e convicção de nossas crenças, propósitos e objetivos. Sem termos a pretensão de esgotar o assunto, até porque isso seria impossível, visto que há visões e definições a respeito do que é a liderança desde que o mundo é mundo, nosso objetivo é trazer um pouco mais de luz à reflexão não apenas dos aspectos de liderança e poder, mas especialmente de porque as pessoas seguem determinados líderes dentro do contexto organizacional e institucional e cumprem com seus propósitos de modo tão engajado e com resultados muito acima do esperado. Segundo Bennis e Nanus (1988), “liderança é a força subjacente às organizações de sucesso e que para criar organizações vitais e viáveis é necessária a liderança que ajuda organizações a desenvolverem uma nova visão do que podem ser e depois direciona a mudança para esta nova visão”. Este é o tipo de crença que trabalhamos para que se torne cada dia mais presente dentro do contexto organizacional. Para isso é necessário um novo tipo de líder, aquele que, segundo os mesmos autores, “lança as pessoas à ação, que converte seguidores em líderes e pode converter líderes em agentes da mudança”. Podemos concluir, portanto, que há um paradoxo aqui: o exercício da liderança é um tipo de poder e que exercer o poder não necessariamente significa exercitar a liderança. Unidade 2 - O Gestor, as fontes e os tipos de poder “Defende-se melhor o poder por meio de benefícios do que por meio de armas”. Sêneca Há diversas discussões e estudos a respeito das fontes de poder. Um dos mais conhecidos é de Likert (1971). Podemos destacar algumas que, tanto podem ser a causa, quanto podem ser a solução de conflitos e disputas nas relações interpessoais: Poder de coerção: baseado na imposição, na força, no medo, nas punições. O subordinado se sujeita às demandas do seu superior por entender que os prejuízos são maiores se não o fizer. Este é um modelo muito utilizado na era industrial, nos primórdios das grandes corporações, quando os objetivos e resultados eram obtidos quase que a qualquer custo e os papeis eram bem definidos e antagônicos. Aqui a máxima imperante era: “manda quem pode obedece quem tem juízo”. Lamentavelmente, a maioria das organizações atuais trazem o ranço dessa visão do século passado. Aqui pouco se falava em líderes e muito em chefia. Atualmente, os casos mais extremos foram um pouco minimizados pelo risco de processos por assédio moral. Ainda assim, o estigma permanece. Poder de recompensa: não se trata apenas de um subordinado receber algum tipo de recompensa material. Baseia-se muito mais na exploração de interesses mútuos. Podem ser recompensadas estruturadas e objetivas, desde bônus e premiações por desempenho a benefícios velados, como favores e promoções, para citar alguns exemplos. Este é um expediente perigoso, visto que pode gerar intrigas e transmitir uma mensagem de parcialidade por parte do líder o que irá minar a sua autoridade. A falta de critérios claros, de avaliação e de feedback mesmo em recompensas institucionalizadas também podem causar mais danos que benefícios e a médio e longo prazos desmotivar as equipes. Poder de referência: esse poder baseia-se no carisma, na atração, na capacidade de identificação entre subordinado e líder. Quando o líder consegue envolver e se tornar uma referência. As pessoas o admiram e procuram ser como ele. Se por um lado é um tipo de influência positiva, por outro pode implicar na construção de uma imagem de perfeição, “endeusamento” que em alguns casos pode beirar à idolatria. E nesse ponto, mesmo falhas de caráter e decisões erradas podem ser simplesmente ignoradas pelos subordinados, uma vez que têm essa percepção de infalibilidade de seu líder. Poder de perícia: aqui há o reconhecimento das capacidades técnicas do líder para o seu cargo. São consideradas suas competências e habilidades para estar à frente de determinado projeto, negócio ou equipe. Embora seja uma característica importante, devemos ter cuidado para não a colocar como essencial, uma vez que um líder pode exercer seu poder de liderança com eficácia mesmo não sendo tecnicamente o funcionário mais hábil. Ele pode compensar eventuais deficiência técnicas com sua capacidade para extrair o máximo potencial das pessoas. Poder legítimo: esse é um dos mais tradicionais poderes corporativos. Depende do organograma, da hierarquia. É legítimo, porque é conferido pela empresa dentro de sua estrutural organizacional, mas nem sempre é uma posição respeitada, pois ela por si só não garante a verdadeira liderança. A posição organizacional confere ao líder maior poder quanto mais elevada sua colocação no organograma. É uma autoridade legal e tradicionalmente aceita, porém não necessariamente respeitada. A máxima aqui é a de “bater o crachá na mesa”. 2.1 - O Gestor, as fontes e os tipos de poder Idalberto Chiavenato (1995, pág. 489) adaptada. 2.2 - O Gestor, as fontes e os tipos de poder Poderíamos ainda discorrer sobre outras formas de poder, mas em essência elas podem ser observadas dentro dos tipos citados. Por exemplo, o poder por sedução pode ser aparente dentro do poder de atração ou referência. O líder utiliza todo seu carisma para seduzir e por vezes manipular os seus subordinados. Um líder irá percorrer ao longo de sua trajetória por todos ou quase todos os tipos de poder. O ambiente, as situações e o contexto no qual está inserido irão influenciar profundamente o seu posicionamento. Isso faz parte do seu amadurecimento. Mais importante que os títulos, se líder, se gestor ou se chefe, ou que conceitos, é a capacidade que cada um terá de avaliar o contexto e de especialmente de se auto avaliar a fim de aplicar o melhor estilo de liderança para cada ocasião. Unidade 3 - Responsabilidades gerenciais “Gerenciamento é substituir músculos por pensamentos, folclore e superstição por conhecimento, e força por cooperação”. Peter Drucker Assim como possuir poder não significa necessariamente exercer liderança, liderar não significa necessariamente gerenciar e gerenciar também não garante a melhor liderança. É importante distinguir os dois papéis, ainda que o ideal que se busca é exatamente a combinação de ambos, as habilidades de gerenciamentoe liderança. O mundo corporativo está repleto de gerentes, nos mais diversos níveis. Aqui, quando digo gerente, não falo especificamente de um cargo, mas de um papel. Arrisco a dizer que talvez esta seja a maior camada de chefia dentro dos negócios atuais. O gerente está presente em todas as camadas das organizações e vive como se estivesse num limbo sem saber exatamente quais são as suas entregas. Vale destacar que, não raramente, são os primeiros a sofrerem as consequências por maus resultados. Um exemplo que talvez não seja o mais adequado, mas que pode ilustrar bem a situação desses gestores, é o que presenciamos no futebol na figura dos técnicos dos times. Esses são demitidos com uma frequência incrível, maior do que qualquer turnover corporativo, justamente por não entregarem, segundo seus dirigentes, os resultados esperados. Os técnicos são como os gerentes corporativos e vice-versa. Talvez esta seja, inclusive, uma característica cultural de nosso país. Justiça seja feita, assim como no mundo esportivo, no mundo corporativo os resultados são a única exigência e para muitos pouco importa a forma como são alcançados. Basta olhar para a quantas andas a gestão do nosso esporte. Mas, será que nas empresas as coisas são tão diferentes assim? Receio que não. Um dos fatores é justamente a falta de clareza de papéis. Na busca conceitual da liderança as empresas falham em preparar gestores capazes de implantar ações práticas com foco no desempenho das pessoas e consequentemente na entrega de resultados. Os gerentes (ou líderes se preferir) na maior parte do tempo não conhecem, de fato, suas responsabilidades gerenciais. Isto se torna ainda mais grave quando entendemos o quanto tais personagens são os protagonistas na gestão de empresas de quaisquer tamanhos. Eles é quem fazem acontecer as estratégias definidas pelo corpo diretivo as traduzindo numa linguagem extremamente prática e viável para a assimilação e o engajamento dos setores operacionais que garantem a execução. https://www.pensador.com/autor/peter_drucker/ 3.1 - Responsabilidades gerenciais Os papéis e o trabalho dos gerentes são objetos de estudo da administração da escola mais clássica à mais moderna há um bom tempo. Maximiano / TGA. Fig 2.1 – Principais autores que estudaram a figura dos gerentes (adaptado). 3.2 - Responsabilidades gerenciais Henri Fayol talvez tenha sido um dos mais importantes já no início do século passado. Depois dele surgiram outros, como Barnard e Mintzberg. Barnard é um dos que dão mais abrangência e ao mesmo tempo aprofundamento no papel dos líderes, trazendo à tona conceitos como autogestão, eficácia e eficiência, além de discorrer sobre a importância do equilíbrio entre o ambiente externo e interno. Barnard (1938) destaca ainda a importância da organização informal, aquela que não se limite aos aspectos formais e processuais da organização, antes se manifesta nas interações diárias de líderes e liderados, especialmente nas suas formas de comunicação. Também destaca a importância da tomada de decisão dos gerentes, segundo a sua eficácia que deve considerar a sua aceitação pelos subordinados. Decisões unilaterais e impositivas podem encontrar resistência por parte das pessoas e diminuir a liderança do dirigente. Como forma de sintetizar o pensamento e os estudos desses e de outros autores, podemos destacar algumas responsabilidades dos gestores. A intenção não é limitar essa lista ao que aqui está proposto; pelo contrário, pretendemos apenas iniciar a discussão. Temos certeza de que mesmo uma pequena reflexão pode expandir consideravelmente esta relação. Importante destacar também que não foi criado nenhum critério para a apresentação da ordem de cada conceito. Entendemos que todas são importantes e devem ser aplicadas na medida em que as demandas e contextos as exigirem. São, dentre muitas outras, responsabilidades dos gerentes: Katz: Robert L. Katz (1955) retoma muitas das ideias de Fayol e as divide, basicamente, em três categorias: Habilidades técnicas: esta habilidade diz respeito às competências e à capacitação do gestor em realizar as tarefas cujas especialidades estão dentro do seu escopo e área de atuação. Ainda que este não seja o maior especialista, é imprescindível que conheça, com alguma autoridade, das características de produtos e serviços sob sua alçada, bem como do mercado em que atua. Habilidades humanas: esta habilidade trata, obviamente, das relações humanas, seus conflitos, motivações e necessidades. Entender a dinâmica das pessoas, o que as motiva, como recompensá-las, avalia-las e estimulá-las na busca de seus objetivos pessoais e também organizacionais é condição sine qua non para o sucesso de qualquer líder. Habilidades conceituais: aqui está uma habilidade extraordinária que é a capacidade de enxergar a organização com uma visão holística e sistêmica ao mesmo tempo. Entender o todo e suas partes, seu funcionamento, não apenas como uma engrenagem, mas como um organismo vivo, com suas criações e entropias. Essa habilidade permite ao líder criar estratégias com maior criatividade indo além das obviedades a que somos submetidos constantemente. 3.3 - Responsabilidades gerenciais Vale destacar que quanto maior o nível diretivo, menor a necessidade de habilidades técnicas, visto que estas são executadas prioritariamente pelas equipes operacionais. 3.4 - Responsabilidades gerenciais Mintzberg: Para Henry Mintzberg (1973), há pelo menos oito habilidades fundamentais para a boa gerência. São elas: Habilidades de relacionamento: a capacidade de se relacionar bem com pares, subordinados e superiores é uma das maiores habilidades dos líderes. Isso lhe permite atender os interesses de todos os stakeholders, não apenas do ambiente interno, mas também do ambiente externo. Saber se comunicar, negociar, participar do ‘jogo” político e construir uma rede de conexão e networking poderosa é fundamental para o bom desempenho gerencial. Habilidades de liderança: a essência de quem ocupa cargos de chefia. A capacidade de atrair, conectar, reter, treinar, desenvolver, engajar, avaliar e recompensar pessoas e equipes e as conduzir ao atingimento de objetivos e entregas de resultados. Habilidades de resolução de conflitos: inclui a inteligência emocional para gerenciar crises, tensões e conflitos, com alta capacidade para intermediar soluções e tomar decisões para resolver os problemas de inter-relacionamento, mantendo o foco, a paciência e especialmente a resiliência que tais situações exigem. Habilidades de processamento de informações: Para Mintzberg, os gestores devem desenvolver alto poder de síntese, saber se colocar diante de plateias falando com autoridade e confiança, transmitindo seus conceitos e ideias de forma clara e se expressando como sendo os representantes oficiais da organização. Habilidades de tomar decisões: um gerente precisa saber lidar com as diversas contingências que se apresentam no universo corporativo. As situações enfrentadas são, em muitas ocasiões, não esperadas e desestruturadas, exigindo uma grande capacidade para tomar decisões rápidas e assertivas. Importante destacar também que o gerente não lida apenas com uma decisão por vez. Elas se sobrepõem e é preciso entender, inclusive, as interconexões e as relações de causa e efeito entre todas elas. Essa característica ambígua e volátil é inerente às decisões gerenciais, segundo Mintizberg. Habilidades de alocação de recursos: os gerentes precisam saber gerenciar custos e recursos limitados. Dimensionar equipes, definir prioridades e cronogramas são fundamentais para a tomada de decisão. Habilidades de empreendedor: esta é uma habilidade que hoje está ainda mais em evidência. A capacidade de ser intraempreendedor, ou seja, de empreender dentro da organização. Issosignifica ter autonomia para propor mudanças, tomar iniciativas inovadoras e que criem novas propostas de valor. Para isso é imprescindível que a organização tenha uma cultura mais aberta a esse tipo de postura e proposta a fim de estimular o espírito criativo. Habilidades de introspecção: a capacidade de se autoconhecer, de aprender com a própria experiência, de refletir e de se aprofundar nas questões relevantes para seu cargo, suas tarefas e da organização. Ter uma visão sistêmica e orgânica dos impactos de cada decisão em qualquer que seja o nível e qualquer que seja o público. 3.5 - Responsabilidades gerenciais Podemos ir além e se refletirmos um pouco mais sobre algumas habilidades que são a cada dia mais presentes e necessárias ao mundo atual e adaptadas ao novo mindset corporativo. Algumas dessas habilidades são: Habilidades criativas: um líder deve estar aberto a mudanças e incentivá-las. Deve promover um ambiente de abertura e participação de sua equipe a fim de despertar o potencial criativo. Deve ter pouco apego à rotina e evitar julgamentos e preconceitos. Deve ser sensível a novas percepções e oportunidades; Habilidades de delegação: ter a capacidade para desenvolver a maturidade da equipe, dando mais autonomia e permitindo às equipes serem autogeridas faz com que o líder possa delegar as tarefas de modo que as pessoas tenham mais liberdade para executá-las. Habilidades de inovação: além de ser e de estimular a criatividade, um líder deve ser capaz de inovar em processos, serviços e gestão. Deve, juntamente com sua equipe, ter a capacidade de propor soluções que vão além do lugar-comum. Vale destacar que a cultura de muitas empresas não valoriza e sequer facilita a proposta de inovação, o que se torna uma grande barreira a ser superada. Nesse ponto, ter a coragem de provocar disrupção é um grande diferencial para que grandes líderes consigam provocar grandes mudanças de paradigmas. Unidade 4 - Gestores e Líderes “Gerenciar é fazer direito as coisas; liderar é fazer as coisas certas”. Peter Drucker Gestão e gerência, ou como muito utilizado no meio corporativo o termo “management” têm sido aplicados como sinônimos de administração. Chiavenato (1995) os utiliza para significar direção de nível intermediário: “O gerente é o executivo que trabalha no nível intermediário das empresas, subordinando-se a outros executivos do nível institucional e dirigindo outros executivos do nível operacional”. Chiavenato (1995, pág. 499). Para nós ainda é uma questão semântica, uma vez que não importa o nível ou o cargo, gerir ou gerenciar tem um significado muito mais empírico que conceitual. Um gestor tem, por natureza, a capacidade de traduzir objetivos estratégicos em metas táticas e transformá-las, junto com sua equipe, em ações operacionais padronizadas e eficazes. Essa ideia é defendida também por Chiavenato: Na parte dedicada ao planejamento da ação empresarial, o nível intermediário se responsabiliza pelo planejamento tático, que nada mais é do que o desdobramento do planejamento estratégico definido no nível institucional. Na parte dedicada à organização da ação empresarial, o nível intermediário se responsabiliza pela diferenciação e integração dos órgãos no nível departamental ou divisional, tendo em vista o desenho organização definido pelo nível institucional. Nesta parte dedicada à direção, o nível intermediário se responsabiliza pela condução da atividade humana (motivação, liderança e comunicação, principalmente), tendo em vista o estilo de direção definido, no nível institucional. (Chiavenato, 1995, pág. 500) Mas, afinal, qual ou quais são as diferenças fundamentais entre gerenciar (ou administrar) e liderar? Bennis e Nanus (1988, pág. 19 e 20) trazem uma definição bastante clara e objetiva: “Há uma diferença profunda entre administração e liderança, e ambas são importantes. Administrar significa ocasionar, realizar, assumir a responsabilidade, conduzir. Liderar é influenciar, guiar em direção, curso, ação, opinião”. 4.1 - Gestores e Líderes https://www.pensador.com/autor/peter_drucker/ Parafraseandoo que diz Peter Drucker logo no início deste capítulo, os mesmos autorescompletam: “administradores são pessoasque fazem as coisas de forma certa e líderes são aqueles que fazem a coisacerta. A diferença pode ser resumida como atividades de visão e julgamento –efetividade – versus atividades de dominar rotinas – eficiência. (Bennis eNanus, 1988, pág. 20). Éimportante destacar que gerência e liderança não são excludentes. Elas secomplementam. Mas é possível ser um bom líder e não ser um bom gerente, assimcomo é possível ser um bom gerente e não ser um bom líder. O ponto chave é quese você é apenas um bom líder, irá precisar também de um bom gerente em suaequipe. E se você é apenas um bom gerente, irá precisar de um líder em seutime. O que o mundo empresarial não permite é que seja apenas um ou outro, ouseja, é imprescindível que haja ambos (ainda que na mesma pessoa) a fim de queos objetivos sejam alcançados, mas não a qualquer custo, visto que as pessoassão mais que recursos, os meios potenciais que garantem as entregas de valor.Nesse ponto avançamos para uma questão de comportamento e motivação humanos. Olíder consegue inspirar, influenciar e engajar as pessoas. Ele garante queaspectos de realização sejam considerados para que as pessoas se mantenhamentusiasmadas e comprometidas. O gerente irá garantir que isso seja feito damaneira mais sensata possível, de modo a não haver desperdícios, nem deenergia, nem de recursos, tampouco de tempo. ParaLewin (1935), a compreensão do comportamento humano depende de duas suposiçõesbásicas: a) Ocomportamento humano é derivado da totalidade de fatos coexistentes em umadeterminada situação. b) Essesfatos coexistentes têm o caráter de um “campo dinâmico”, isto é, um campo deforças no qual cada parte do campo depende de uma inter-relação dinâmica com asoutras partes. Esse campo dinâmico é um campo psicológico, ou seja, “o espaçode vida que contém a pessoa e o seu ambiente psicológico. (Lewin, 1936) Thompsone Van Houten (1975, pág.30) discutem a relação do ser humano com as forças doseu ambiente e apresentam três enfoques para o conhecimento do homem: 1. Maisque reagir ao ambiente ou receber insumos deste, o homem é proativo e capaz deprovocar as mudanças em seu meio. 2. Oser humano é motivado por objetivos e consegue aplicar um grande esforço paraque esses sejam alcançados. 3. Oser humano é aberto e consegue entender as inter-relações de objetivosdiversos, inclusive em natureza (física, emocional, social, financeira) etambém por isso desenvolve capacidades de análise crítica, criação de modelosde processos e procedimentos e tomada de decisão, além de desenvolverhabilidades e crenças que lhe dão suporte e sabedoria para entender as pessoase seus ambientes, bem como a superar eventuais barreiras externas ou internas. 4.2 - Gestores e Líderes Liderança e motivação, administradas com uma boa dose de gestão, são ingredientes fundamentais para entender o comportamento humano, gerir pessoas e recursos e alcançar a máxima eficácia e eficiência de equipes e negócios. Em que pese negócios precisem de bons gerentes, as pessoas não querem ser administradas. Elas querem se autogerir e, quando o conseguem efetivamente, não precisam tanto de gestores, mas continuam precisando de líderes. Bennis e Nanus (1988) citam uma mensagem publicada no Wall Street Journal pela United Technologies Corporation, Hartfor, Connecticut 06101: Livremo-nos da Administração “As pessoas não querem ser administradas. Querem ser lideradas. Quem já ouviu falar de um gerente mundial? Líder mundial, sim. Líder educacional. Líder político. Líder religiosos. Líder escoteiro. Líder comunitário. Líder trabalhista. Líder empresarial.Eles lideram. Eles não administram. Você pode guiar o seu cavalo em direção da água. Mas não pode fazer com que ele beba. Se você quer administrar alguém, administre-se a si mesmo. Faça isso direito e você estará pronto para deixar de administrar. E começará a liderar. Unidade 5 - O processo da motivação humana “A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável”. Mahatma Gandhi O conceito científico do trabalho oriundo na era industrial provocava uma reflexão sobre as divisões de papéis dos trabalhadores, como a divisão da força entre planejamento e execução. Obviamente o objetivo era o de melhorar o desempenho das linhas de produção. Ao mesmo tempo em que se criavam processos para que as tarefas fossem melhor executadas, surgia uma preocupação com o engajamento dos trabalhadores. Nesse ponto começavam a aparecer recomendações para que os trabalhadores fossem recompensados por sua produtividade. Tais fundamentos foram apresentados e popularizados por Frederick Winslow Taylor, o maior expoente da administração científica. No início do século passado ainda havia o ranço da escravidão e era preciso humanizar o trabalho, eliminando a condição de escravo do ser humano. Entretanto, se o homem não era subjugado por um “capataz”, passou a ser limitado por processos e sistemas de controle que praticamente limitavam o trabalhador o impedindo de pensar, decidir e agir por conta própria. E esse tipo de poder e controle estava nas mãos de poucos, os “senhores pensantes” e responsáveis pelo planejamento das tarefas. Elton Mayo (1933 apud Chiavenato, 2003) e sua equipe produziram uma experiência considerada clássica nos dias atuais, conhecida como experiência de Hawthorne (nome do bairro onde foi realizada) em 1924 na empresa Western Electric Company. Ao submeter equipes de trabalho a condições de iluminação diferentes, percebeu-se que a produtividade não se alterava em função desse fator físico. A produtividade dos trabalhadores melhorou em função da atenção dada aos trabalhadores, em outras palavras, o fator psicológico teve muito mais impacto que o fator fisiológico. Esse experimento, seguido por milhares de entrevistas realizadas levou os responsáveis a concluir que o fator de engajamento e motivação está associado às questões sociais e relacionais, com pouca relação com as questões salariais. Vale muito mais a atenção, respeito e o sentimento de pertencer a um grupo. Outro ponto importante observado é que quanto maior identificação entre os valores individuais e a cultura organizacional, maior é a produtividade. 5.1 - O processo da motivação humana Esse é um aspecto que ressalta o comportamento humano e suas complexidades quanto às suas, buscas, expectativas e necessidades. É a própria essência da motivação, que pode ser definida como o motivo ou os motivos pelos quais alguém sente vontade de fazer alguma coisa. São as razões, na maior parte das vezes intrínsecas. Os estímulos podem ser externos, mas é senso comum que o indivíduo precisa perceber valor no estímulo a fim de que encontre os seus próprios motivos para agir ou não. Para Chiavenato (1995), a motivação está relacionada ao aspecto cognitivo, ou seja, aquele que o indivíduo conhece de si mesmo e do ambiente que o circunda e passa por questões sociais, relacionais e pessoais. Esse é um complicador, uma vez que as pessoas têm motivações diferentes dentro do mesmo contexto no qual estão inseridas. Soma-se a isso os valores, crenças, competências, habilidades e atitudes antagônicas e temos um desafio monumental para criar as condições que atendam a todas as particularidades individuais. Para minimizar as dificuldades dessa situação, Leavitt (1964), considera que a dinâmica do comportamento humano passa por três suposições que estão intimamente ligadas: 1. O comportamento humano é influenciado por estímulos intrínsecos e extrínsecos, sendo que o ambiente tem um poder grande sobre o indivíduo. 2. O comportamento humano não é aleatório. Há sempre algum tipo de finalidade ou visão que motiva o indivíduo a agir de determinado modo. 3. O comportamento humano se orienta por algum tipo de vontade pessoal, necessidades, desejos ou impulso. Com base nessa análise, podemos concluir que o processo da motivação humana, ainda que espontâneo, é estimulado por objetivos internos e externos e, em que pese esse processo proponha um modelo de comportamento que o explique, estará sempre sujeito às individualidades e respectivas diferenças de cada pessoa. Unidade 6 - O ciclo motivacional “Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos”. Friedrich Nietzsch Entender os fatores que levam à motivação bem como o processo que representa o seu ciclo é extremamente importante para que um líder consiga prover os meios para que as equipes se sintam motivadas, afinal, este é um dos maiores, senão o maior, desafios da liderança. Há muitas teorias a respeito do tema e muita confusão também, visto que é comum que se confunda recompensa e punição como fatores motivacionais, por exemplo. Punir ou recompensar as pessoas têm um efeito momentâneo, mas dificilmente por si só são suficientes para manter uma equipe engajada, uma vez que o impulso vem de uma força externa, sem a qual dificilmente a pessoa tomaria alguma iniciativa para a ação. Por estar diretamente relacionada com o comportamento humano e possuir um aspecto cognitivo muito forte, a motivação perene surge muito mais dos aspectos internos, um propósito genuíno reflexo do encontro de desejos, necessidades e expectativas do indivíduo com cultura e propósito organizacionais. Quando não há esses elementos, a iniciativa permanece apenas enquanto há o estímulo externo. No momento em que esse falta ou não atinge plenamente os seus objetivos, não apenas deixa de motivar, como gera desmotivação. Ao discorrer sobre o conceito de ciclo motivacional, Chiavenato (1995) explica como é o comportamento humano dentro desse ciclo. Segundo o autor, como as necessidades não são estáticas, mas dinâmicas, quando surgem provocam um certo desequilíbrio ou desconforto que nos levam à ação a fim de descarregar essa tensão e buscar a satisfação. Isso explica, por exemplo, como entramos na chamada “zona de conforto” e o fato de, na maioria das vezes sairmos dela apenas com o surgimento de algum tipo de crise ou mudança, ou é claro, como no surgimento de algum fator motivador. AS ETAPAS DO CICLO MOTIVACIONAL ENVOLVENDO A SATISFAÇÃO DE UMA NECESSIDADE A satisfação de necessidades varia em função do tempo, do tipo, do ambiente e de variáveis particulares de cada indivíduo. Basicamente é um processo de solução de problemas com causas genéricas ou específicas. Significa que a motivação pode assumir vários significados, mas em essência traduz as aspirações de indivíduos rumo a objetivos individuais ou coletivos que lhe produzam satisfação ou contentamento. Alguns estudiosos trouxeram um olhar mais profundo sobre a motivação e as necessidades humanas e se tornaram referência tanto pela profundidade quanto pela clareza de seus estudos e que nos permitem até os dias atuais entender e aplicar seus conceitos na gestão e liderança de pessoas e equipes. Alguns desses autores e suas teorias são destacados no próximo capítulo. Unidade 7 - A pirâmide das necessidades: Abraham Maslow “Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento”. Abraham Maslow Impossível falar em motivação sem destacar a obra de Abraham Maslow (1954). A sua teoria sobre a hierarquia das necessidades é um marco não apenas nos ensaios sobre motivação, mas também sobre o próprio comportamento humano como indivíduo e em sociedade. Além disso, seus estudos transcendem a psicologia clássica e avançapara os campos de gestão, marketing, economia e sociologia. Ele entendia que não era possível desvincular os elementos de comportamento pessoais dos sociais; são intimamente ligados. Para ele o ser humano era multidimensional, com necessidades variadas em tipos e níveis de complexidade e que o caminho para a satisfação da necessidade dominante é exatamente a motivação. Significa dizer que o ser humano satisfaz primeiramente as necessidades mais elementares para somente então buscar o atendimento das que estão no topo da pirâmide. Por exemplo, um mergulhador jamais irá contemplar e sentir prazer na realização (topo da pirâmide) de um mergulho em alto mar em um ambiente paradisíaco se lhe faltar oxigênio (base da pirâmide). Imediatamente sua atenção se voltará para sua necessidade básica de sobrevivência que é respirar, para somente então buscar o atendimento de outras necessidades. Maslow, com sua teoria, buscava responder a algumas questões-chave, como: O que as pessoas buscam em vida? O que elas precisam para encontrar a felicidade? Porque buscam determinados objetivos? O que as faz seguir um líder ou outro? E foi com apenas 35 anos, em 1943, quando era professor de Psicologia no Instituto de Tecnologia de Massachusets e da Brandeis University, que ele publicou a teoria que revolucionou a forma como o mundo enxergava a motivação, na qual ele chamou de pirâmide ou hierarquia das necessidades humanas com o sonho de que ela pudesse melhorar o mundo e o modo como as pessoas conhecem a si mesmas e se relacionam com seus semelhantes. Para ele, a motivação é determinada pela necessidade de satisfação de necessidades e que essas necessidades possuem níveis de qualidade diferentes. Então Maslow dividiu as necessidades em cinco classes mutuamente exclusivas: 1. Necessidades fisiológicas; 2. Necessidades de segurança; 3. Necessidades sociais; 4. Necessidades de estima; 5. Necessidades de autorrealização. https://www.pensador.com/autor/abraham_maslow/ 7.1 - A pirâmide das necessidades: Abraham Maslow Ao escalar essas necessidades no formato de pirâmide, Maslow deixa clara a ordem em que as motivações humanas são apresentadas e que o impulso e a direção a uma necessidade passam necessariamente pelo atendimento da necessidade imediatamente anterior e é isso que faz com que o indivíduo avance rumo a um objetivo. a) Necessidades fisiológicas: referem-se à sobrevivência do indivíduo e são cíclicas, uma vez que são constantes e necessárias à satisfação, tais como respirar, se alimentar, dormir, fazer sexo, descansar entre outras. b) Necessidades de segurança: essas necessidades dizem respeito a questões como conforto, estabilidade, livrar-se do perigo, controle e previsibilidade entre outras, também relacionadas com a sobrevivência do ser humano. Assim como a fisiológica, esta é considerada uma necessidade primária. 7.2 - A pirâmide das necessidades: Abraham Maslow a) Necessidades sociais: relacionamentos, participação em um grupo, amizades, carinho, afeto, amor, necessidade de pertencer, dentre outras, são características dessas necessidades. b) Necessidades de estima: própria da pessoa e suas particularidades, tem relação com autoconhecimento, autoestima, , amor próprio, valor, competências, habilidades, autoconfiança, dentre outras. Sua ausência pode produzir sentimentos opostos, tais como complexos de inferioridade, desemparo, incompetência etc. c) Necessidades de autorrealização: capacidade de atingir o potencial máximo, de se sobrepor, de ter poder, conquista, sucesso, de alcançar os maiores objetivos, se ser independente e autônomo. O descontrole ou a insatisfação exagerada pode levar o indivíduo a satisfazê-la sem considerar aspectos como empatia e ética, por exemplo. O ser humano é, por natureza, um ser insatisfeito e está sempre em busca de atingir o máximo de seu potencial e realização. No mundo corporativo esse aspecto se exponencia consideravelmente e se agrava, o que torna a tarefa do líder ainda mais difícil. Lidar com tantas questões e variáveis individuais e coletivas em busca de motivação e satisfação é umas das maiores habilidades que líderes e gestores devem ter se desejarem pessoas e equipes motivadas e engajadas nos propósitos organizacionais. Unidade 8 - Fatores higiênicos e motivacionais: Frederick Herzberg “A verdadeira motivação vem de realização, desenvolvimento pessoal, satisfação no trabalho e reconhecimento”. Frederick Herzberg” Diferentemente de Maslow, Herzberg (1966) entendia que a motivação era provocada pela busca do atendimento de necessidades mais complexas, as do topo da pirâmide de hierarquia de Maslow, como estima e autorrealização. Para ele a valorização de cargos e das funções seria um excelente meio de motivação para atender a essas necessidades superiores. Sua teoria propõe que o comportamento humano no trabalho é orientado por dois tipos de fatores: higiênicos e motivacionais. Os fatores higiênicos, considerados extrínsecos, se referem especificamente ao ambiente, às condições de trabalho que não pode ser diretamente alterada pelo indivíduo. As condições, estruturas, processos e políticas são definidas pela organização. Fatores como salário, benefícios, condições físicas, regulamentos, normas, procedimentos, relação entre líderes e subordinados dentre outros são considerados higiênicos. A maioria das empresas se vale quase que única e exclusivamente dos fatores higiênicos para motivar os funcionários. Consideram que por si só são capazes de manter as pessoas engajadas aos propósitos organizacionais. Isso se deve em boa parte pelo pensamento de que o trabalho era uma atividade desagradável e que a única forma de fazer com que as pessoas se empenhassem era justamente por recompensas, prêmios e incentivos além, é claro, das punições e coações. Segundo Herzberg, tais fatores não produzem motivação de fato; ainda que por algum momento esse tipo de incentivo possa provocar satisfação e elevar em certo nível a motivação, eles apenas impedem, até certo ponto, que as pessoas se desmotivem; esse efeito é passageiro e em pouco tempo a indivíduo volta ao seu estado de equilíbrio e conformidade novamente. Se por um lado os fatores higiênicos não têm o poder de motivar e gerar satisfação plena, por outro, sua ausência ou sua deficiência é capaz de provocar desmotivação. Por isso são chamados de insatisfacientes. São, portanto, essenciais e preparam os indivíduos para o foco em necessidades superiores, visto que as inferiores estão sendo atendidas. Para resolver essa questão, Herzberg sugere que as tarefas devem ser valorizadas, tanto no que diz respeito aos incentivos quanto no que diz respeito às atribuições e responsabilidades de cada função. Isso envolve, portanto, maiores desafios, autonomia e abrangência de cada cargo (Hersey e Blanchard, 1986, p.77). Ir além dos fatores higiênicos (que não motivam, apenas não desmotivam) e encontrar propósitos motivadores é o que de fato impulsiona os indivíduos para uma ação produtiva e eficaz. São os fatores efetivamente motivacionais. 8.1 - Fatores higiênicos e motivacionais: Frederick Herzberg Os fatores motivacionais, também conhecidos como intrínsecos, estão relacionados com a tarefa em si e a gama de responsabilidades inerente ao cargo. Nesse caso tais fatores estão sob controle do próprio indivíduo e envolve as necessidades secundárias propostas por Maslow, como autorrealização, de estima, de reconhecimento e desenvolvimento. Nesse ponto encontramos um conflito: se por um lado os fatores motivacionais são próprios do indivíduo e de sua percepção da tarefa e seus desafios, por outro lado, para as organizações as tarefas são apenas um meio para se atingir objetivos econômicos e financeiros. Esse impasse causa um desequilíbrio que dificulta ao indivíduo agir na busca deseu crescimento e realização e focar apenas no aspecto pragmático e mecânico da tarefa, sem que se produza o engajamento que impulsionará seu desempenho e, consequentemente, produzirá os resultados esperados pela empresa. Dada a velocidade e a agilidade com que a informação e o conhecimento se exponenciam atualmente, os negócios precisam de pessoas mais criativas e inovadoras, dispostas a romper com velhos paradigmas e alterar o status quo. Lamentavelmente a maior parte das organizações atuais estão “matando” esse espírito disruptivo ao forçarem seus funcionários a agir segundo o mindset mecanicista da era industrial. Falhar nesse entendimento é abrir a porta para a desmotivação, a apatia e a falta de comprometimento de pessoas e equipes. Os fatores motivacionais têm o poder de produzir motivação profunda, mas sua ausência não chega a produzir insatisfação imediata. Por isso são chamados de fatores satisfacientes. FATORES SATISFACIENTES E FATORES INSATISFACIENTES COMO ENTIDADES SEPARADAS. Chiavenato explica clara e objetivamente ambos os conceitos acima: “A satisfação no cargo é função do conteúdo ou das atividades desafiadoras e estimulantes do cargo: são os fatores motivacionais; “A insatisfação no cargo é função do contexto, isto é, do ambiente, do salário, da supervisão, dos colegas e do contexto geral do cargo: são os fatores higiênicos.” 8.2 - Fatores higiênicos e motivacionais: Frederick Herzberg Existem paralelos nas abordagens de Maslow e Hezberg: “Os fatores higiênicos de Herzberg se referem às chamadas necessidades primárias de Maslow, enquanto os fatores motivadores se referem às chamadas necessidades secundárias de Maslow.” Chiavenato (1995). A figura a seguir ilustra bem esses paralelos: 8.3 - Fatores higiênicos e motivacionais: Frederick Herzberg Os estudos de Maslow e de Hezberg, embora não tenham comprovação científica, demonstraram empiricamente que funcionam, especialmente no ambiente corporativo. Empresas que deles fizeram ou fazem uso, conseguem dar um salto nas relações entre gestores e colaboradores, aumentando o nível de motivação e satisfação e com considerável aumento de desempenho. Entender as particularidades da cultura organizacional e respeitar as individualidades de cada pessoa, é o caminho para o sucesso dessas abordagens. Unidade 9 - A teoria X e a teoria Y, de Douglas McGregor “As pessoas são criativas por natureza e se empenham em encontrar soluções para os problemas”. Douglas McGregor – teoria Y Douglas McGregor (1999) apresenta duas teorias sobre estilos antagônicos no que diz respeito a administrar e entender o comportamento humano e as relações interpessoais. Um dos estilos é mais fortemente percebido no início do século passado, nos modelos de gestão organizacionais tradicionais cuja filosofia era mecanicista, engessada, negativa e que despreza o homem como ser auto motivado e com propósitos transcendentes aos da tarefa e da organização pura e simplesmente; essa é a chamada teoria X. O outro estilo é mais focado no comportamento positivo e realizador do homem, com suas ambições, responsabilidades e busca por desafios. Aqui a ênfase é na capacidade que o homem tem de evoluir e melhorar seu desempenho com o máximo alcance de seu potencial; McGregor a chamou de teoria Y. Para ele (McGregor, 1999), os ideais das pessoas e das empresas são conflitantes, uma vez que as pessoas são movidas apenas pelos fatores extrínsecos, fora de seu controle e vontade e pelo temor de punições. Esse pensamento sugere que é necessária uma gestão mais autoritária, com o poder da hierarquia e da posição sendo impostos para que as pessoas se movimentem para a ação. Segundo Chiavenato (2003), a teria X se inspira no estilo de administração científica de Taylor e a Clássica de Fayol, em diferentes níveis da gestão e com abordagens que inibem o desenvolvimento humano, tais como: a) Impedimento da iniciativa individual; b) Bloqueio da criatividade; c) Métodos e rotinas de trabalho intensos. Na teoria X os anseios e metas pessoais são completamente ignorados. Para a organização interessa apenas os seus objetivos e que as pessoas façam somente o que lhes é ordenado. Ainda nessa teoria as massas são tratadas como medíocres uma vez que o pressuposto é que os seres humanos têm aversão ao trabalho e que somente o fazem por forças externas, sejam punitivas ou recompensadoras. McGregor propunha que a ênfase na teoria x era a mesma da gestão da satisfação dos fatores higiênicos apresentados por Herzberg. São princípios da teoria X: O ser humano sempre que possível irá evitar o trabalho; Pelo motivo acima, o indivíduo se propõe a trabalhar quando está pressionado e ameaçado com punições ou manipulados com recompensas; O homem comum é naturalmente indolente e prefere que alguém lhe dê ordens, assumindo menos responsabilidades sem abrir mão de sua segurança e estabilidade. 9.1 - A teoria X e a teoria Y, de Douglas McGregor Diferentemente da teoria X, a teoria Y valoriza as escolhas e decisões individuais. Entende que o ser humano é intrinsecamente bom e que busca utilizar o máximo de seu potencial, qualquer que seja o ambiente. As metas das pessoas e da empresa não precisam conflitar-se. Trabalhar é uma atividade natural e cabe ao líder prover os meios para que o funcionário se dedique e tenha suas necessidades de autorrealização e estima atendidas. Os trabalhadores na teoria Y são vistos como seres realmente competentes, responsáveis e com alto poder criativo e que enxergam verdadeiro valor em seu trabalho. Quanto mais desafios e autonomia o indivíduo possuir, maior será sua satisfação e senso de realização. Nesse ponto essa teoria se equipara aos fatores motivacionais de Herzberg e às necessidades secundárias de Maslow. São princípios elementares da teoria Y: O esforço cognitivo e físico empenhando no trabalho é espontâneo quanto numa atividade de lazer; A organização entende que seus objetivos serão atingidos tanto maior forem as recompensas de alto valor agregado; O indivíduo é proativo e independente ao exercer suas responsabilidades; As pessoas são criativas por natureza e se empenham em encontrar soluções para os problemas; Os trabalhadores são maduros e capazes de se auto gerenciarem sem necessidade de supervisão constante; O indivíduo procura se identificar com seu trabalho e os objetivos organizacionais, fazendo apenas o que realmente acredita; ao mesmo tempo se torna mais exigente a fim de que a empresa o recompense por seu engajamento e motivação. Vale destacar que o objetivo de McGregor não era o de criticar ou elogiar um ou outro estilo, mas o de permitir com que as pessoas pudessem se auto examinar e entender quais atitudes e desejos fundamentam sua motivação, comportamento e satisfação. Unidade 10 - Teorias da liderança “Os líderes proeminentes saem de seu caminho para aumentar a autoestima de seu pessoal. Se as pessoas acreditam em si mesmas, é impressionante o que eles podem fazer”. Sam Walton. Nos primeiros capítulos abordamos sobre alguns aspectos da liderança especialmente a comparando com a gerência e como o poder pode influenciá-la. De modo geral o conceito de liderança tem, em essência, permanecido o mesmo do século passado, traduzido como a capacidade de alguém influenciar e motivar pessoas e equipes para um determinado fim. Obviamente é um conceito bastante simples e não acredito que alguém tenha dificuldade de entendê-lo e aceitá-lo. O grande desafio não está no significado de liderança, mas na forma de exercê-la. Os meios pelos quais os líderes conseguem movimentar as pessoas em direção aos resultados almejados é, talvez, a grande discussão a respeito do assunto. Embora haja várias teorias sobre liderança, especialmente no meio acadêmico,um dos maiores dilemas está em vivenciá-la no mundo corporativo. Existe um hiato entre a teoria e a prática e essa busca tem se tornado o santo graal de organizações em todo o globo. Para minimizar os efeitos da distância entre teoria e prática, é importante se aprofundar um pouco mais no conhecimento e na discussão de determinados conceitos de liderança. Não se propõe aqui definir se há uma teoria melhor que a outra, tampouco se um estilo é mais apropriado que outro. Mais importante é que a despeito das teorias, o líder consiga ser líder de fato, isto é, que seja aceito e respeitado como tal por sua equipe e que, juntos, consigam atingir os objetivos propostos. As teorias de liderança acompanharam a própria evolução das organizações e do mundo ao longo dos últimos 100 anos, afinal, não é possível desassociar o que acontece no meio corporativo do que acontece no restante da sociedade. A seguir apresentamos uma breve reflexão sobre algumas das principais teorias, fazendo uso da divisão que Chiavenato (1995) propõe: a) Teoria de traços de personalidade. b) Teorias sobre estilos de liderança. c) Teorias situacionais ou contingenciais da liderança. 10.1 - Teorias da liderança 1. Teorias de traços de personalidade Como o próprio nome já diz, essas teorias discorrem sobre características de personalidade específicas que podem ser encontradas nos líderes, distinguindo-os das demais pessoas. Um dos pressupostos é que é possível visualizar tais características na pessoa a fim de identificar potenciais líderes e também avaliar o sucesso da liderança. É provável que essas teorias tenham sido influenciadas pela teoria do “grande homem” proposta por Carlyle (1910) ao tentar explicar que a evolução do mundo se deu pela ação de pessoas que foram referências na história da humanidade e causaram grande impacto no mundo. Um dos problemas com essa abordagem é que vários autores que dela se utilizaram definiam características diferentes para representar os traços do líder, trazendo confusão a quem queria fazer uso dela. Sendo assim, Stogdill (1948 apud Chiavento 1995) condensou os traços mais comumente apontados pelos diversos proponentes na seguinte lista: 1. Traços físicos: energia, aparência e peso; 2. Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança; 3. Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa; 4. Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa. Conclui-se, de modo bem resumido, que um grande líder deve ter entusiasmo, confiança, proatividade, inteligência e perspicácia para produzir as mesmas características em seus liderados e ter sucesso em seus objetivos. Tais quais teorias sobre liderança ser uma capacidade inata, as teorias dos traços perderem crédito e ao longo do tempo foram sendo descartadas, uma vez que essas teorias não levam em conta o ambiente, mas apenas capacidades inatas e exclusivas de alguns seres “privilegiados”. Para elas um líder será sempre um líder, independentemente do contexto no qual estará inserido. Na prática, o que se percebe é que por mais habilidades que alguém possua para liderar, precisará analisar e conhecer bem o ambiente antes de poder exercer de fato sua capacidade de liderança e mesmo assim não terão garantia de sucesso. Não fosse assim, líderes jamais fracassariam. 10.2 - Teorias de liderança 1. Teorias sobre estilos de liderança Essas teorias estudam a liderança sob o ponto de vista do comportamento do líder para com seus liderados. Se nas teorias dos traços de personalidade a ênfase estava naquilo que o líder é, nas teorias dos estilos o enfoque está naquilo que o líder faz. Segundo Chiavenato (2003), as principais teorias sobre estilos de liderança são: 1. Autoritária, liberal e democrática; 2. Centrada na tarefa e centrada no trabalhador; 3. Ênfase na produção e ênfase nas pessoas; 4. 3D da eficácia gerencial. 1. Estilo de Liderança autoritária, liberal e democrática Um estudo realizado com muito sucesso e com uma grande repercussão por todos os Estados Unidos por White e Lippitt (1952) em 1939 com meninos de 10 anos submetidos às três abordagens desse estilo trouxe muita luz sobre como o comportamento pode influenciar fortemente os comportamentos, as motivações, as relações e os resultados de um grupo. Os autores repetiram exaustivamente os estudos e suas variáveis a fim de minimizar as diferenças dos comportamentos, atividades e ambientes entre meninos e adultos, de modo que os resultados foram muito bem aceitos pelo mundo acadêmico e corporativo. A seguir uma tabela clarifica os conceitos e as diferenças de cada abordagem: OS TRÊS ESTILOS DE LIDERANÇA Fonte: Chiavenato (1997, p. 150) 10.3 - Teorias da liderança Com os estudos realizados concluiu-se que os grupos sujeitos a líderes autocráticos eram mais tensos e frustrados, sem iniciativa ou espontaneidade e com poucas relações de amizade e que o trabalho só se realizava com a presença física do líder. Por outro lado, esses grupos apresentaram a maior quantidade de trabalho produzido. Já os grupos submetidos à liderança liberal (laissez-faire) tinham uma tendência a perder o foco e perdiam muito tempo com questões pessoais e menos com o trabalho. O líder é ausente e quase não tem participação nas decisões do grupo e na condução dos trabalhos. Há pouco processo e as tarefas são desenvolvidas ao acaso, o que comprometia grandemente os resultados do trabalho. Por fim, os grupos submetidos à liderança democrática eram mais abertos a relações produtivas e cordiais, as comunicações eram assertivas. Havia sentido de responsabilidade e o grupo mantinha o foco mesmo com a ausência do líder. O clima era de satisfação. Embora a quantidade de trabalho produzida por esses grupos era menor em alguns casos que os grupos sob liderança autocrática, a qualidade era imensamente melhor. Um dos pontos positivos do estilo autocrático, segundo Chiavenato (2003) é que pode ser utilizado para com funcionários resistentes e que afrontam o líder, ou quando o nível de maturidade é baixo e necessitam de alto grau de supervisão e orientação. Por outro lado, esse estilo de liderança tem o agravante de ser impositivo, autoritário e criar um ambiente desagradável, além de perder produtividade com a ausência do líder. A liderança autocrática traz como ponto fraco a centralização de decisões no líder de maneira autoritária sem qualquer consulta aos funcionários, o que pode gerar um ambiente desagradável e sem iniciativa, pois com a ausência do líder o grupo pode parar de produzir. Chiavenato (2003) afirma que grupos com alta maturidade responder melhor ao estilo liberal e com isso são mais criativos e proativos, valorizando sua importância para os resultados e a organização. Por lado, o estilo liberal se aplicado com equipes pouco maduras, pode gerar falta de respeito ao líder e a sua ausência pode atrasas as entregas e produzir baixa produtividade. Tem sido consenso desde então que o estilo democrático é o mais aceito e mais efetivo, uma vez que garante resultados em boa quantidade e com qualidade superior, além de melhor o clima e a satisfação com um processo de comunicação aberto e com estímulos à criatividade. Isso aumenta a confiança e a integração dos grupos. De modo prático, os líderes devem utilizar os três estilos de acordo com o ambiente, as tarefas e o nível de maturidade e independência de seus liderados. “A principal problemática da liderança é saber quando aplicar qual processo, com quem e dentro de que circunstâncias e atividades a serem desenvolvidas”. Chiavenato (1995, pág. 535). 10.4 - Teorias da liderança 1. Estilo de liderança centrada na tarefa versus centrada no trabalhador Para Likert (1971) há dois tipos básicos de liderança: Centrada na tarefa (job centered): foco totalna tarefa e seus resultados. Encontrada em culturas organizacionais com forte padronização de processos e rotinas de trabalho, especialmente em processos produtivos e industrializados. O foco é na alta produtividade e as pessoas são pressionadas constantemente a entregarem os resultados. Centrada no trabalhador (employee-centered): ao contrário da anterior, é uma liderança mais preocupada com as pessoas e suas necessidades e aspirações. Permite que as pessoas participem mais das decisões. Sem abrir mão dos resultados, está mais preocupada com que os funcionários encontrem os melhores meios de entrega-los. A supervisão é macro, focada nos aspectos mais estratégicos deixando a cargo dos indivíduos os aspectos táticos e operacionais. 2. Ênfase na produção versus ênfase nas pessoas Muito parecido com a abordagem de Likert, Blake e Mouton (1976, apud Chiavenato, 1995) criaram o Grid Gerencial (Managerial Grid), também voltado para os enfoques de pessoas e produção: Ênfase na produção: foco total no resultado da tarefa, na produção pura e simplesmente gerada pelos esforços do trabalhador; Ênfase nas pessoas: foco total nas pessoas, suas necessidades, expectativas, estima e realização. 10.5 - Teorias da liderança O mais interessante dessa teoria é vê-la dentro do Grid Gerencial, pois facilita o seu entendimento e especialmente sua aplicação já que permite a cada líder situar sua liderança dentro do seu contexto organizacional e com sua equipe: O GRID GERENCIAL (MANAGERIAL GRID) 10.6 - Teorias da liderança 1. Teoria 3D da eficácia gerencial Temos mais um autor, Willian J. Reddin que propõe um modelo com as mesmas orientações de Likert, Blake e Mouton (tarefas e relações). Nesse modelo é avaliada a eficácia gerencial, que está associada à capacidade que o líder tem de modificar o seu estilo de acordo com o que a situação exige. Segundo essa teoria existe três habilidades gerenciais básicas, daí seu aspecto 3D: Diagnóstico situacional: habilidade para identificar, perceber e sentir as diversas situações, suas particularidades e quais forças atuantes; Flexibilidade situacional: capacidade de resiliência, de adaptação em cada situação a despeito das forças atuantes; Gestão situacional: habilidade de alterar o status quo, de modificar quaisquer situações necessárias, independentemente do nível das forças atuantes. Para Reddin (1975) o comportamento gerencial pode ser orientado por dois aspectos: 1. Orientado para a tarefa (OT): gerente focado na tarefa; 2. Orientado para as relações (OR): gerente focado nas pessoas. Com esses dois enfoques Reddin criou uma matriz que exemplifica a atuação do gerente dentro de quatro estilos: OS QUATRO ESTILOS GERENCIAIS BÁSICOS SEGUNDO REDDIN 10.7 - Teorias da liderança Para Chiavenato, a única tarefa do administrador é ser eficaz, ou seja, mais importa o resultado final do seu produto ou entrega, portanto não é o que ele faz, mas o que ele alcança como resultado. Para se alcançar a eficácia é necessário saber a diferença entre eficácia e eficiência gerencial: 10.8 - Teorias da liderança 1. Teorias situacionais (ou contingenciais) da liderança As teorias Situacionais ou Contingenciais trazem um contexto muito mais amplo que as abordagens anteriores, uma vez que essas limitam a liderança a aspectos como personalidade ou comportamento, tarefas e resultados, sem considerar tanto as diversas variáveis situacionais, sejam de ambientes, sociedade, governos, sociológicas, demográficas dentre outros aspectos relevantes. As teorias situacionais ou contingenciais pressupõem que não existe um estilo único de liderança, nem mesmo uma característica determinante válida para qualquer situação (Chiavenato, 1999), pelo contrário, para cada situação, ambiente, pessoas e tempo será necessário um tipo de liderança mais adequado. É o que diz Maximiano (2002) sobre o estilo de liderança deve se ajustar à situação para então garantir verdadeira eficácia. Maximiano ainda cita Tannebaum e Schmidt, que sugeriram que alguns padrões de comportamento de liderança estão relacionados com o grau de autoridade do líder e o grau de liberdade disponível para os liderados especialmente na tomada de decisões. Essa abordagem é chamada de Continuum de liderança e trata do grau de autoridade e interferência do líder em contrapartida à liberdade e a capacidade de autogestão e tomada de decisão dos subordinados. A figura a seguir ilustra bem essa relação: CONTINUUM DE PADRÕES DE LIDERANÇA 10.9 - Teorias da liderança Chiavenato (1995, pág. 546) infere as seguintes proposições a respeito do gráfico acima: a) “Quando as tarefas são rotineiras e repetitivas, a liderança é geralmente limitada e sujeita a controles pelo chefe, que passa a se situar num padrão de liderança próximo ao extremo esquerdo do gráfico. b) Um líder pode assumir diferentes padrões de liderança para cada um de seus subordinados, de acordo com as forças acima. c) Para um mesmo subordinado, o líder também pode assumir diferentes padrões de liderança, conforme a situação envolvida. Em situações em que o subordinado apresenta alto nível de eficiência, o líder pode dar-lhe maior liberdade nas decisões; se o subordinado apresenta erros seguidos e imperdoáveis, o líder pode lhe impor maior autoridade pessoal e menor liberdade de trabalho. Outra teoria situacional ou contingencial é a teoria contingencial da liderança de Fiedler que também afirma não haver um estilo único de liderança. A liderança continua sendo situacional. Para Fiedler (1967), o modelo de liderança eficaz é baseado em três fatores situacionais: a) Posição e autoridade do líder: refere-se a sua posição hierárquica legalmente constituída e em nada tem a ver com sua capacidade de influência pessoal; b) Estrutura da tarefa: quanto mais estruturada, organizada e rotineira a tarefa, mais fácil medir sua execução e resultados. Por outro lado, quanto maior a liberdade para exercer a tarefa ou quanto mais criativa for, mais difícil o trabalho da liderança, daí a importância desse fator para aplicar o estilo de liderança apropriado; c) Relações: a própria relação entre líderes e liderados que envolve respeito, confiança e aceitação. Quanto melhor o relacionamento interpessoal, maior a tendência de se atingir eficácia na forma de liderança. O oposto também é verdadeiro: maus relacionamentos tendem a prejudicar a eficácia da gestão. Uma das principais teorias sobre liderança situacional e também uma das mais conhecidas é a proposta por Hersey e Blanchard. Os autores conseguiram chamar a atenção para liderança de tal modo que essa deixou de ser explorada apenas conceitual e academicamente e passou a ser buscada com muito maior propósito em organizações de todo o mundo. Vamos nos aprofundar um pouco mais em seus aspectos no capítulo a seguir. Unidade 11 - Liderança situacional: Hersey e Blanchard “Liderança não é sobre títulos, cargos ou hierarquias. Trata-se de uma vida que influencia outra”. John C. Maxwell. No capítulo anterior conhecemos algumas abordagens que tratavam de vários aspectos da liderança, focando outrora nas pessoas, outrora nas tarefas, nos resultados, bem como no comportamento do líder. Fato é que durante todo o século passado as abordagens mudaram muito. Para alguns autores o estilo mais autoritário era mais apropriado por ser mais eficiente. Para outros, o democrático era melhor por ter uma abordagem mais humana. Hersey e Blanchard (1986) abordaram a questão de modo mais abrangente e bastante prático, valorizando tanto o aspecto humano quanto o situacional, sem que um fosse mais importante que o outro. Hersey e Blanchard (1986, p.117), postulam que “os líderes eficazes são capazes de adaptar seu estilo de comportamento às necessidades dos lideradose à situação”. Para estes autores a liderança é um processo de influenciar pessoas e equipes em prol de objetivos comuns dentro de um determinado contexto ou ambiente. Significa dizer que a liderança terá sucesso se considerar as variáveis líder, liderado e situação. O grande diferencial na liderança situacional está, portanto, na capacidade do líder de perceber o estado das pessoas, suas motivações, seu nível de engajamento e maturidade, suas competências e habilidades para somente então aplicar o estilo de liderança que seja mais relevante e eficaz para aquele contexto, sempre tendo em vista os objetivos e resultados que devem ser alcançados. Ao focar nas pessoas o líder deve ter a capacidade de avaliar e conhecer seus níveis de maturidade a fim de ajustar o seu estilo de liderança. Segundo essa teoria, um líder poderá adotar diferentes estilos de liderança para cada pessoa e também de acordo com o momento em que ela se encontra dentro da organização, dentro de uma equipe ou ainda dentro de uma nova tarefa ou desafio. 11.1 - Liderança situacional: Hersey e Blanchard 11.1 Maturidade da equipe Para Hersey e Blanchard é a maturidade do liderado no que diz respeito à sua capacidade e motivação o principal desafio a ser encarado pelo líder. Importante destacar que a maturidade não se refere ao indivíduo ou grupo por completo, mas especificamente em relação à tarefa a ser desempenhada. Uma pessoa ou equipe pode não ter maturidade suficiente para uma tarefa, mas já ter atingido nível máximo para outras. A maturidade, como diz SILVA (2001), está diretamente relacionada com a disposição e a capacidade de executar a tarefa sem, necessariamente, precisar de supervisão ou encorajamento externo. Talvez esse seja um dos principais problemas a serem resolvidos: como conduzir pessoas e equipes com diferentes níveis de maturidade, de necessidades, de expectativas e de habilidades? Para Spricigo (1999, pág. 48), “na Liderança Situacional está embutida a ideia de que o líder deve ajudar os liderados a amadurecer até o ponto em que sejam capazes e estejam dispostos a fazê-lo”. Para isso o líder irá utilizar quatro estilos, sendo eles direção, treinamento, apoio e delegação de acordo com o nível de cada liderado. É uma abordagem mais intimista, que desafia o líder a ir além das questões puramente organizacionais como objetivos e resultados e entrar no nível mais pessoal. Isso exige do líder um posicionamento de desenvolver novas competências em seus liderados, além de criar melhores condições para que estejam realmente motivados e comprometidos com os resultados. Quanto maior o nível de maturidade da equipe, mais fácil o trabalho do líder e também mais recompensador. 11.2 - Liderança situacional: Hersey e Blanchard Hersey e Blanchard (1986 p.187), entendem a maturidade como: “... a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento, devendo estas variáveis de maturidade ser consideradas somente em relação a uma tarefa específica a ser realizada. Quer dizer, um indivíduo ou grupo não é maduro ou imaturo num sentido total”. A maturidade inclui duas dimensões: maturidade de trabalho (capacidade) e maturidade psicológica 11.3 - Liderança situacional: Hersey e Blanchard Pela imagem acima é fácil identificar as relações entre tarefa e relacionamento entre líder e liderados. Quanto maior o comportamento de tarefa, menor a capacidade do indivíduo de realizá-la por conta própria. O líder precisa acompanhar, dirigir e controlar a realização do trabalho do indivíduo; quanto mais baixo o comportamento de tarefa, mais o líder deixa estas atividades a cargo do subordinado. Já o comportamento de relacionamento se refere ao apoio dado, como motivacional, emocional ou social. O líder precisa estar em constante comunicação com o liderado, se mostrando presente, ainda que não necessariamente fisicamente. 11.2 Nível de maturidade e estilo de liderança E1- determinar - a ênfase na tarefa é a alta e no relacionamento é baixo. E2 - persuadir - a ênfase na tarefa e no relacionamento são altos. E3 - compartilhar - ênfase baixa na tarefa e alta no relacionamento. E4 - delegar - ênfase na tarefa e no relacionamento baixos. A tabela a seguir exemplifica bem o ideal de aplicação de cada estilo de liderança ao nível de maturidade correspondente: 11.4 - Liderança situacional: Hersey e Blanchard4 Obviamente o sonho de todo líder é ter uma equipe de nível de maturidade mais alto (M4). Ocorre que esse é um processo lento, uma vez que ele deve respeitar o nível de maturidade individual bem como o tempo que cada pessoa leva para atingir o nível mais elevado. Unidade 12 - Delegação eficaz “A delegação eficaz é, provavelmente, o melhor indicador de uma gerência eficaz, simplesmente por se um componente básico tanto do crescimento pessoal quanto do organizacional”. Covey No momento em que um líder tem sob sua responsabilidade pessoas maduras, competentes e dispostas, seus resultados serão exponenciados consideravelmente. Essa é a maior busca de um líder, especialmente no mundo corporativo. Mas temos visto que o caminho para chegar até esse ponto é realmente árduo e infelizmente poucos são os que querem pagar o preço para chegar lá. Ainda hoje vemos pessoas focadas só em metas e resultados, sem se interessar pelo ser humano e suas peculiaridades. Na outra ponta encontramos pessoas que se entregam às causas de outras, mas se esquecem da entrega; seus resultados são pífios e por mais amáveis e amadas sejam, são descartadas. Encontrar esse equilíbrio entre resultados e pessoas, entre motivação e entrega, entre competência e atitude é condição sine qua non para os líderes atuais. Mas qual é o caminho, afinal de contas? Uma das premissas mais importantes para ter uma liderança de sucesso é ter a habilidade de delegar eficazmente. O bom líder sabe como delegar, não importa o nível de maturidade em que se encontram seus liderados. Ter a convicção e a confiança para compartilhar, dividir e retribuir são qualidades admiráveis de um grande líder. Muitos líderes delegam ou desejam delegar, mas pecam não na motivação, mas no modo como o fazem. A seguir apresentamos alguns cuidados que devem ser observados antes de delegarmos qualquer tarefa a alguém: 1. Propósito: com qual propósito o líder está decidindo delegar determinada tarefa ou responsabilidade? Por que é necessária a delegação nesse caso? 2. Clareza: está claro para o líder e para o seu liderado qual é o tipo de tarefa ou responsabilidade que deve ser executada? 3. Condições: a pessoa tem todas as condições de assumir a tarefa para a qual está sendo demandada? Ela tem todos os recursos? 4. Competência: a pessoa tem toda a competência e capacidade para assumir a tarefa? 5. Confiança: o líder realmente confia naquela pessoa? Está disposto a não interferir a todo momento na execução da tarefa? 6. Disponibilidade: o líder está disponível e disposto a apoiar o liderado quando for requisitado? 7. Responsabilidade: o líder está ciente que o fracasso na execução da tarefa é de sua responsabilidade e está disposto a assumir as consequências? 8. Prazos: o cronograma com prazos, datas e horários está bem definido? 9. Metas e objetivos: existem metas, objetivos e expectativas bem definidas e claras? 10. Desafios: as tarefas são desafiadoras, motivadoras ou apenas rotineiras e “chatas”? 12.1 - Delegação Eficaz Essas são apenas algumas questões que se consideradas seriamente irão produzir um processo de delegação extremamente eficaz. É importante que o líder deleguecom fins específicos e claros para cada pessoa e para cada situação. Em que pese a delegação normalmente é direcionada a funcionários mais maduros justamente por terem mais competência, autonomia e disposição, a delegação não deve ser exclusiva desses. Tarefas de menor responsabilidade e com menor impacto devem ser delegadas a pessoas menos capacitadas com o propósito não apenas de realizar a tarefa, mas de desenvolver, treinar, motivar e até dar mais segurança e confiança quando for o caso. Por fim, o líder deve ter paciência e muita sabedoria para delegar não apenas tarefas desagradáveis ou “aquelas que ninguém quer”, mas especialmente aquelas que geram satisfação, engajamento e entusiasmo na sua realização.
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