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Colangite Esclerosante Primária (CEP) Introdução É uma colestase idiopática, que consiste em uma inflamação irregular e crônica, com fibrose e estreitamentos do ducto biliar. 80% dos pacientes têm doença inflamatória intestinal, mais frequentemente retocolite ulcerativa. Outras condições associadas incluem fibrose retroperitoneal, tireoidite de Ridel, doenças do tecido conjuntivo, causas autoimunes e síndromes de deficiência imunitária, eventualmente complicadas por infecções oportunistas. O diagnóstico é feito pela colangiografia por RM ou endoscópica. O transplante está indicado na doença avançada. A maioria (70%) dos pacientes com CEP é composta por homens. A idade média no momento do diagnóstico é 40 anos. Fisiopatologia Parece ser uma doença autoimune primária. Estudos genômicos de associação implicam loci próximos ao antígeno leucocitário humano (HLA)-B no cromossomo 6p21 e loci não ligados ao HLA nos cromossomos 13q31, 2q35 e 3p21. A doença é progressiva, com obliteração dos ductos biliares de pequeno, médio e grande calibres, levando a três síndromes clínicas distintas: 1) colestase com eventual cirrose biliar; 2) colangite recorrente e estenoses dos ductos de maior calibre; 3) colangiocarcinoma. A CEP está associada tanto à colite ulcerativa quanto à doença de Crohn. Ocorre uma síndrome cruzada entre a CEP e a hepatite autoimune. Sinais e sintomas O aparecimento é, em geral, insidioso e progressivo, com fadiga e prurido. Icterícia tende a se desenvolver posteriormente. Sugere doença avançada. Episódios repetidos de dor no hipocôndrio direito do abdome e febre, atribuíveis a episódios de colangite bacteriana ascendente, ocorrem em 10 a 15% dos pacientes. Pode haver desenvolvimento de esteatorreia e deficiência de vitaminas lipossolúveis. Cálculos biliares sintomáticos e coledocolitíase tendem a se desenvolver em cerca de 75% dos pacientes. Alguns destes são assintomáticos até tardiamente na evolução da história natural da doença, apresentando então hepatosplenomegalia ou cirrose. A fase terminal envolve cirrose em fase descompensada com hipertensão portal, ascite e insuficiência hepática. O tempo do diagnóstico até a insuficiência hepática é de cerca de 12 anos. A presença tanto de CEP como de doença intestinal inflamatória aumenta o risco de carcinoma colorretal. Diagnóstico CEP deve ser a suspeita em pacientes com anormalidades inexplicáveis nos testes da função hepática; se o paciente tiver doença inflamatória intestinal, a suspeita é ainda mais elevada. Um padrão colestático nos exames bioquímicos do fígado é típico, com fosfatase alcalina e gama-GT geralmente mais elevadas do que TGO/TGP. Níveis de gamaglobulina e de IgM tendem a aumentar. Anticorpos antimúsculo liso e pANCA são geralmente positivos. Anticorpo antimitocondrial é caracteristicamente negativo. Exploração do sistema hepatobiliar por imagens geralmente começa com USG, para excluir obstrução extra-hepática. A colonoscopia deve ser sempre solicitada no momento do diagnóstico. O diagnóstico exige colangiografia para a demonstração de múltiplas estenoses e dilatações envolvendo os canais biliares intra e extra-hepáticos. Colangiografia deve começar com colangiopancreatografia por RM (CPRM). CPRE (colangiografia retrograda por endoscopia) geralmente é uma 2ª escolha porque é invasiva. Contas de rosário: sinal de CEP em CPRM e CPRE. Biópsia hepática normalmente não é necessária para o diagnóstico. Quando realizada por qualquer outra razão (colestase inexplicada + colangiografia normal), revela proliferação ductal, fibrose periductal (em casca de cebola), inflamação e perda ou desaparecimento de ductos biliares. À medida que a doença progride, a fibrose estende a partir dos espaços-porta e, eventualmente, leva à cirrose biliar. Programas de rastreamento/vigilância, com a utilização periódica de CPRE com análise citopatológica de escovado biliar, podem ajudar a predizer o desenvolvimento de colangiocarcinoma. Diagnóstico diferencial Estenose iatrogênica, colangiopagia relacionada ao HIV, Amiloidose/Sarcoidose/Histiocitose, colangiocarcinoma, coledocolitíase, colangiopatia portal, colangite associada ao IgG4, e outras. Complicações Cirrose e hipertensão portal, deficiência de vitaminas lipossolúveis, osteoporose/Osteopenia estenose biliar dominante, colangite e coledocolitíase, colangiocarcinoma, câncer hepatobiliar, carcinoma hepatocelular, câncer de cólon (associação com RCU). Tratamento Geral: rastreio de varizes, se cirrose; dosar vitaminas lipossolúveis; pesquisar osteopenia/osteoporose. Nenhum tratamento retarda a progressão da doença. As terapias médicas incluem o tratamento da colangite e terapia endoscópica para estenoses dominantes através de dilatação por balão e inserção de endopróteses. A cirurgia é evitada, se possível, porque aumenta o risco de colangite recorrente. Em ensaios randomizados, o ácido ursodesoxicólico (AUDC) (15 mg/kg/dia) melhorou os níveis de bilirrubina, de fosfatase alcalina e de albumina, mas não resultou em nenhum benefício definitivo para sobrevida ou tempo até a descompensação hepática. O transplante de fígado, que é a única terapia potencialmente curativa fornece uma taxa de sobrevida atual de 83% em um ano e de 73% em cinco anos. Se no transplante forem encontrados colangiocarcinoma pequenos (<1 cm) incidentais, a sobrevivência não será afetada, mas colangiocarcinomas maiores (>2 cm) detectados durante a avaliação pré-transplante pela TC ou RM são uma contraindicação para o transplante hepático. Vigilância neoplásica Todos os pacientes com CEP que são submetidos a transplante devem ser examinados periodicamente para adenocarcinoma de cólon por apresentarem colite crônica. Pacientes com CEP devem ser examinados para possível colangiocarcinoma por colangiografia a cada seis a 12 meses com escovados e biópsias. Se o colangiocarcinoma for detectado, deve ser oferecida aos pacientes ressecção cirúrgica ou radioterapia.