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Semiologia do Abdome

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MARIA EDUARDA SAMPAIO – TURMA 99 
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PAPM V – PEDIATRIA 
SEMIOLOGIA DO ABDOME 
 Objetivos da aula: Discutir as particularidades exame físico do abdome na criança; Orientar as técnicas para 
obtenção do exame físico para realização de consultas médicas ambulatoriais e em situações de emergências 
por médicos generalistas. 
1. Inspeção 
 Alterações de forma e volume: fisiologicamente, o abdome da criança fica num nível mais alto que o tórax 
devido a uma hipotonia muscular. A medida que a criança cresce o abdome fica na altura do tórax. 
 Síndrome de Prune-Belly ou síndrome do abdome em ameixa: Mal formação congênita na qual o reto do 
abdome não se forma. 
 Abaulamentos 
 Pode ser difuso ou localizado. Se for localizado, pode ser uma simples diástase do reto do abdome, que é 
fisiológico e se resolve espontaneamente. 
 Quando o abaulamento é difuso pode ser causado por vísceras, por massas, por coleções líquidas ou por 
gases (aerofagia, pneumoperitônio ou obstrução intestinal – quando mais alta a obstrução menor a 
distensão abdominal). 
SÍNDROME DE PRUNE-BELLY 
 DIFUSO DIASTÁSE DO RETO HÉRNIA UMBILICAL 
SÓLIDO LÍQUIDO AR 
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 Depressões: podem ser encontrada na caquexia e nas hérnias de hiato (vísceras migram para o tórax). A 
desnutrição pode ter duas formas clínicas: marasmo (abdome deprimido) ou Kwashiorkor (falta de produção de 
proteínas, leva ao edema de MMII e ascite, ou seja, abdome abaulado) 
 Aspecto da pele e alterações cutâneas 
 Circulação Colateral: Dependendo da localização podemos supor o nível da obstrução: 
 Veia cava Inferior: parte inferolateral do abdome 
 Veia cava superior: parte superior do tórax 
 Veia porta: parte superior do abdome 
 Movimentos Respiratórios: é importante observar a mobilidade do abdome durante a 
respiração da criança, na inspiração o abdome se contrai e na expiração se relaxa. 
 Ondas peristálticas 
 Umbigo: o aspecto normal do coto umbilical do RN é ser composto por 2 artérias (em caso de artéria umbilical 
única, pode indicar outras malformações) e 1 veia, com 1 semana de vida o coto cai e aos 14 dias de vida deve 
cicatrizar. Quando a cicatrização não ocorre, a causa mais comum é o granuloma de coto umbilical. Antes do 
umbigo cair ele deve mumificar, durante esse processo pode ocorrer inflamação na base do umbigo (onfalite). 
 A hérnia umbilical é frequente em crianças até 4 anos, a conduta deve ser conservadora até essa idade, caso 
a hérnia permaneça, então o tratamento deve ser cirúrgico. Diferente da hérnia inguinal, na qual 
independentemente da idade o tratamento cirúrgico é indicado pelo risco de encarceramento. 
 
2. Palpação 
 É a parte do exame físico mais importante, que traz mais informações. Por isso, mesmo sabendo que altera a 
ausculta deve ser feita primeiro. 
 Mãos Aquecidas 
 Posicionamento: Espalmar as mãos, não devendo posiciona-las verticalmente, sempre horizontalmente. A 
exploração deve ser feita com as polpas digitais em crianças menores. 
 A criança deve estar confortável e de preferência sem travesseiro no leito, com os membros inferiores esticados, 
 Não começar pelo pontos dolorosos 
 Tentar sempre desviar a atenção da criança e observar a fisionomia durante o exame 
 Nunca utilizar perguntas como: DÓI AQUI? Por que, tem crianças que relatam dor em todos os quadrantes ou 
em nenhum. 
 Em crianças chorando, utilizar a fase inspiratória do choro onde a tensão abdominal é menor. 
 A parede abdominal normal é: elástica, depressível e indolor. 
 
a. Palpação superficial 
 Pode ser bimanual ou manual, mas sempre difusa. 
 Sensibilidade: Hiperesetesia indica irritação peritoneal 
 FORMA MARASMÁTICA FORMA KWASHIORKOR 
GRANULOMA DE COTO UMBILICAL ONFALITE ONFALOCELE GASTROESQUISE 
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 Espessura e turgor da parede: devem ser medidos com o pinçamento da pele entre os dedos polegar e 
indicador. Em crianças obesas a espessura é maior, em crianças desnutridas o turgor é menor. 
 Tumefações anormais 
 Continuidade: em casos de ausência de continuidade podem indicar hérnias ou diástases. 
 Tensão: Resistencia oferecida pelo abdome à mão apoiada sobre ele. Encontramos aumento dessa tensão em 
casos como os de ascite, pneumoperitônio, meteorismo, massas inflamatórias e apendicite (descontração 
dolorosa) 
 Piparote: sensação da ondulação líquida. Está presente em coleções líquidas de grande volume do abdome. 
b. Palpação Profunda 
 Avaliar: Vísceras, Consistências, Massas e Tumores 
 Fígado: Borda superior na altura da 5ª ou 6ª costela e a borda 
inferior em RN 2 à 3 cm do rebordo costal, já nos pré-escolares 1 à 2 
cm do rebordo costal. Pode ser palpado por três manobras: 
Bimanual (mais realizada, mão esquerda atrás do fígado e mão 
direita palpando), em garra (sinal de Murphy: parada brusca da 
inspiração por sensibilidade da vesícula biliar) ou simples, sempre 
começar de baixo na linha axilar para cima em direção ao apêndice xifoide. Deve-se avaliar a superfície, a 
consistência, borda inferior e a sensibilidade. O fígado pode estar mais abaixo do rebordo costal 
patologicamente por duas causas: hepatomegalia ou aumento da pressão torácica (asma, por exemplo). 
 Baço: Deve ser palpado na posição de Schuster ou em decúbito dorsal. Pode ser palpado por duas 
manobras: Em Garra ou Bimanual. Normalmente não é palpável, exceto em RN nos quais se pode sentir a 
ponta do baço. 
3. Percussão 
 Som timpânico. 
 Aumento do timpanismo: obstrução intestinal (quanto mais baixa maior o grau de distensão), pneumoperitônio 
e aerofagia com meteorismo 
 Percussão do espaço do traube: espaço entre a 6ª e a 10ª costela. O normal é apresentar timpanismo, ou seja, 
traube livre. Em casos de macicez, podem indicar aumento do baço ou massas. 
 Macicez no abdome em gral indicam: localização das vísceras maciças, vísceras ocas preenchidas por líquido (ou 
fezes) ou contratura muscular 
 
PALPAÇÃO SUPERFICIAL MANOBRA DE PIPAROTE 
 PALPAÇÃO SIMPLES PALPAÇÃO BIMANUAL PALPAÇÃO “EM GARRA” 
POSIÇÃO DE SCHUSTER PALPAÇÃO BIMANUAL 
MARIA EDUARDA SAMPAIO – TURMA 99 
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4. Ausculta 
 Borborismo ou Borborigmo: Leves ruídos da passagem dos gases pelas dobras intestinais 
 A ausculta é realizada nos 4 quadrantes do abdome. 
 O aumento do peristaltismo indica: fase inicial da peritonite, diarreia, fase inicial da obstrução intestinal (ruído 
de luta) 
 A diminuição do peristaltismo indica: fase posterior da peritonite, íleo paralítico e fase final da obstrução 
intestinal 
CASO CLÍNICO 
1. Pré-escolar de 3 anos com quadro de edema progressivo iniciado há aproximadamente 20 dias. Mãe refere 
que notou o aumento da bolsa escrotal e que as fraldas começaram a ficar mais apertadas. Evoluiu com 
progressão do quadro, apresentando distensão abdominal e por fim edema palpebral bilateral. Segundo a 
mãe, não apresentou alteração no volume da diurese, alteração na cor da urina ou outras manifestações 
sistêmicas. Procurou a unidade pediátrica para atendimento. Ao EF, apresentava bom estado geral, com 
edema periorbitário (++/4) e de membros inferiores. Na parte cardiovascular e respiratória sem alterações. 
Abdome ascético e pressão de 70x40 mmhg. 
a. Exame Físico 
 Inspeção: Aumento global difuso e protrusão da cicatriz abdominal. 
 Palpação superficial: aumento da tensão e piparote positivo 
 Palpação profunda: dificultada pela própria tensão, sem presença de 
massas, fígado palpável à 1,5 cm do rebordo costal, baço não palpável 
 Percussão: macicez generalizada 
 Ausculta: peristaltismo preservado 
 
b. Diagnóstico: Síndrome Nefrótica. Pode ter aumento do tamanho do fígado, pelo aumento da demanda de 
proteínas (albumina). Tratamentoespecífico é corticoide 
2. Adolescente de 15 anos queixa-se de dor periumbilical que iniciou-se a 8 horas antes do atendimento que 
evoluiu para dor em fossa ilíaca direita. Relata que apresentou dois episódios de vômito e uma evacuação 
diarreica. Nega queixa urinárias. Refere perda de apetite. Ciclos menstruais normais, com última menstruação 
há uma semana. Ao EF: temperatura axilar de 38,7°C, FC = 70bpm, FR = 24 irpm, PA = 120x80 mmHg. 
a. Exame Físico 
 Inspeção: restrição dos movimentos durante à inspiração 
 Palpação superficial: doloroso e com aumento da tensão 
 Palpação profunda: Compressão e descompressão dolorosa, presença de massa em fossa ilíaca direita 
(plastrão – peritônio envolvido ao apêndice inflamado) 
 Percussão: macicez localizada 
 Ausculta: diminuição do peristaltismo 
b. Diagnóstico: Abdome inflamatório – Apendicite 
 
3. Pré-escolar de três anos com quadro de vários episódios de vomito e dor abdominal iniciado há menos de 12 
horas. Mãe nega febre, diarreia e outros sintomas, mas relata que a criança parou de eliminar gases e fezes. 
Durante um dos episódios de vômitos, a criança eliminou alguma coisa que a mãe não sabia o que era, mas 
tirou uma foto para mostrar: 
a. Exame Físico: 
 Raio X: imagem de miolo de pão que indicam resíduos no colo 
 Inspeção: abaulamento localizado ou generalizado - distensão p/gás 
 Palpação superficial: tensão aumentada doloroso difusamente 
 Palpação profunda: massa palpável 
 Percussão: aumento do timpanismo difuso 
 Ausculta: aumento do peristaltismo 
b. Diagnóstico: Semi-oclusão por áscaris. Tratamento é passar uma sonda nasogastrica, por onde são 
administrados sucessivas doses de óleo mineral até o óleo ser eliminado pelo ânus. Então, é administrado 
antiparasitário.