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1 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 3 Adenocarcinoma de esôfago distal e transição esofagogástrica • Esôfago médio/proximal → CEC. Bebidas quentes • Esôfago distal e TEG (transição esofagogástrica) → adenocarcinoma. Refluxo. De maneira geral, 80% dos casos de neoplasia de esôfago são CEC e, em 90% das vezes, os tumores de esôfago são malignos. Então, a palavra de ordem quando se ver tumor de esôfago é MALIGNO. • Existem fatores de risco e referenciais epidemiológicos bastante marcantes quando se trata de câncer epidermóide e adenocarcinoma. • No Brasil, não se separa incidências de CEC X Adenocarcinoma. O CEC é mais incidente em países com baixo desenvolvimento. • Quinta década de vida (55-65 anos) ESÔFAGO DE BARRETT • 6-14% dos indivíduos com DRGE; prevalência muito alta. 1% desenvolve adenocarcinoma; • Barret curto (3cm) – menor risco de câncer x Barret longo (>3 cm). Fatores de risco: DRGE (esôfago de Barret – alteração de mucosa (metaplasia intestinal) pelo contato prolongado ao ácido) – risco 7x maior de fazer adenocarcinoma// 40x se sintomas começaram com mais de 20 anos; O 1º passo é saber se é um Barret curto ou longo. Depois, descobrir se tem ou não displasia. Se o paciente tem metaplasia ele tem metaplasia, não quer dizer que tem displasia. Se for só Barret → repetir EDA com 1 ano. Se for Barret com displasia é de acordo com o grau de displasia (baixo ou alto). • Manejo: IBP por 8 semanas +. ❖ Ausência de displasia: repetir EDA em 1 ano e a cada 3 anos; paciente com bom controle medicamentoso. ❖ Displasia de baixo grau: repetir em 6m e anualmente até ausência de displasia; ❖ Displasia de alto grau: mucosectomia (retira por completa) e repetir exame a cada 3 meses. Nessa displasia precisa de intervenção imediata, é uma lesão pré-câncer. ❖ Esofagectomia: sem possibilidade de mucosectomia. Ex.: Barret longo, alto grau, os endoscopistas têm que partir para esofagectomia, isso é uma conduta de EXCEÇÃO. OBS.: O paciente teve uma displasia de baixo grau, tratei com medicamento, não sumiu, progrido medicação, otimizo IBP, trata H. Pylori e repito com 6 meses. O médico só para de repetir na hora que a lesão sumiu para a lesão não progredir. Se retira a lesão e faz o tratamento por 8 semanas com IBP para o caso de ter ficado algum resíduo de neoplasia. Com 6 meses – ou um pouco antes – deve-se reavaliar. Se essa lesão não tiver margem comprometida, trata com IBP, para caso tenha alguma célula exposta e que ainda não fez displasia, já estou tratando para que não volte. OBS.: A de baixo grau não faz necessariamente a mucosectomia, mas precisa tirar um pedaço da lesão para biopsiar. A lesão pediculosa tem que tirar completamente e colocar um “clip” para não sangrar. A lesão plana e uma lesão que não seja sugestiva de câncer, não precisa tirar com margens distais e proximais. Fatores de risco • Obesidade: centrípeta e IMC (DRGE); • Tabagismo e etilismo: neoplasia do trato gastrointestinal alto. • Dieta hiperlipidica, hiperproteica: muita gordura e proteína na dieta. • Medicamentos que relaxam o EEI: anticolinérgicos, benzodiazepínicos; mesma patologia do refluxo. • História familiar. Prova: paciente branco, obeso, perda de peso, HDA e com refluxo. Geralmente o paciente com adenocarcinoma de esôfago é esse. Câncer de esôfago 2 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 3 Classificação CLASSIFICAÇÃO DE SIEWET Classificação de siewert, particular de câncer de esôfago distais. (na imagem são os CA de TGE) • Aspectos da anatomia (adenocarcinoma de esôfago distal e TEG). ❖ De 5-1 cm do cardia – sewert 1; câncer de esôfago – provável adenocarcinoma de esôfago. ❖ De 1-2 cm do estômago – sewert 2; ❖ De 2-5 cm do estômago – sewert 3; câncer de estômago. • Bastante importante no tratamento. • Apresentação clínica: branco, obeso, DRGE, perda de peso, HDA, 58 anos → EDA. • Diagnóstico: EDA. Necessária quando se fala em queixas dispépticas + sinal de alarme (ex.HDA). Fazer biopsia da lesão. • Localização e tipo histológico: Com a endoscopia, a gente vai saber a localização, fazer a biópsia e saber o tipo histológico. É necessário saber, além do seguimento proximal, a distância da arcada dentária superior, se a lesão está no esôfago cervical, proximal, médio ou distal. Exames de estadiamento • O TNM do CEC de esôfago é igual ao do adenocarcinoma de esôfago, o que vai mudar é estadiamento. • ECO endoscopia (T/N): deve-se fazer sempre. Endoscopia → lesão → biópsia → maligna → ecoendoscopia. T 74-92%/N 74-88%. • TC de tórax e abdome (T/N/M). • Por ser esôfago distal, não precisa realizar broncoscopia (se faz em esôfago proximal, cervical e seguimento médio). OBS.: A disseminação metastática linfonodal nos tumores de TEG é principalmente abdominal. Estadiamento O estadiamento do adenocarcinoma é diferente do carcinoma. Tratamento CA in situ (lesões < 2 cm, não ulcerados, sem invasão de submucosa) ou displasia de alto grau → RESSECÇÃO ENDOSCÓPICA (mucosectomia), ou seja, retirada da lesão com margens laterais e profundas negativas. Não precisa fazer outro tipo de cirurgia. Porém, se as margens forem comprometidas, é necessário estender no tratamento cirúrgico. 3 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 3 Adenocarcinoma o tratamento principal e primordial é cirúrgico (estômago, esôfago, cólon). Ex. paciente que não foi possível fazer a ressecção endoscópica, lesão de 3cm, N+, ecoendoscopia (T2/T3) → não tem indicação de ressecção. SIEWERT I • Esofagectomia transtorácica ou transhiatal + linfadenectomia mediastinal e abdominal de tronco celíaco. ❖ Esofagectomia trans-hiatal: esôfago distal (Siewert I). SIEWERT I → retirada do esôfago (esofagectomia total – didática cirúrgica). Menos morbidade. ❖ Sem diferença de sobrevida; ❖ Maiores complicações pulmonares em transtorácica; a anastomose é dentro do tórax, tem mais morbidade. Adenocarcinoma de esôfago distal, 32-40 cm da TEG esôfago distal ou a área de interesse com relação ao SIEWERT I é 5 cm da TEG até 1 cm da TEG. Se é só esôfago, o tratamento é do esôfago (esofagectomia – transtorácica ou trans-hiatal). Lembrar: os tumores de TEG tem um acometimento de linfonodos abdominais bastante significativos. SIEWERT II • Gastrectomia total com esofagectomia distal (tirar um pedaço do esôfago) e esofagogastroanastomose (***) + linfadenectomia M/A; É uma gastrectomia estendida. • Esofagectomia transhiatal com reconstrução com tubo gástrico e anastomose cervical + linfadenectomia M/A. Não é feita mais, mas ainda é possível ver em livros. • Siewert II → cardia, com 1 cm de esôfago e 2 cm de estômago. Tem que mesclar os dois. • Tira um pedacinho do esôfago e o estômago inteiro. • Os tumores de cárdia têm um acometimento linfonodal que é todo abdominal (1% é só torácico) e se não realizar uma gastrectomia com linfadenectomia tirando toda essa parte arterial, não é possível tirar esses linfonodos. Por isso, o prejuízo que se pode ter em termos de linfadenectomia ao se fazer apenas esofagectomia não vale a pena. • Neoplasia de esôfago distal e proximal se faz esofagectomia total. Já na região da cárdia, se faz gastrectomia total e esofagectomia trans- hiatal. Imagem: gastrectomia total com esofagectomia distal com margem de segurança de 5 cm. Esse procedimento é a esofagogastroanastomose. SIEWERT III • Gastrectomia total + linfadenectomia D2(***). Linfadenectomia D1 é pouco, D2 é ideal e D3 confere muita morbidade. Todas às vezes que for visto “linfadenectomia D2” é a curativa. • Esôfago → esofagectomia; • TEG → gastrectomia com esofagectomia; • Estômago → gastrectomia. A linfadenectomiaé a suficiente/curativa. 4 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 3 Fluxograma do tratamento multimodal Em um adenocarcinoma de esôfago distal e TEG, sendo T3/T4 ou N+, faz-se quimioterapia neoadjuvante com aumento de sobrevida em até 23%. No CEC essa conduta se faz a partir de T2 (então T2/T3 e N+). Só não faz nos metastáticos porque é basicamente paliação. Com relação a adjuvância, no caso de neoplasia de adenocarcinoma de esôfago distal e TEG, não gera um ganho verdadeiro de sobrevida. A adjuvância tá mais reservada para um tratamento cirúrgico inadequado. Seguimento • 2 primeiros anos: a cada 3 meses; • 3-5 anos: a cada 6 meses; • 5 anos: anual. Caso clínico • Paciente, CS, sexo masculino, 58 anos, pardo; • QUEIXA PRINCIPAL: emagrecimento; • HMA: Paciente vem com queixa de perda ponderal de 10kg nos últimos 3 meses (peso atual de 70kg), não associada a história de alteração de hábitos alimentares. Refere pirose retroesternal e disfagia para alimentos sólidos, que iniciou junto com perda ponderal. Nega febre, alterações do TGI ou TGU. Resumindo o paciente: paciente de 58 anos, emagrecimento, associado a pirose e disfagia. Outras perguntas que devem ser feitas ao paciente: tabagismo, etilismo, uso de medicações, história familiar de câncer (Ca prévio não, porque não há aumento da prevalência de câncer em quem já teve um primário), IMC, epidemiologia para Chagas (pensar em megaesôfago). • História patológica pregressa: sem comorbidade • Antecedentes familiares: Nega história de câncer na família, refere obesidade paterna. • Antecedentes pessoais: história de tabagismo 35 maços/ano nos últimos 10 anos e etilismo social. • Exame físico: sem alterações. ❖ BEG, LOTE, eupneico, afebril, acianótico, anictérico; ❖ AR: MVBD sem RA; ❖ ACV: RCR em 2t sem SS; ❖ ABD: Plano, flácido, sem VMG ou massas. Podia ter sido visto algo no exame físico pensando no CA, megacólon, que tivesse alterado? Linfonodomegalia que pode ser cervical e supraclavicular, que já é metastático. Suspeitas diagnósticas 1. Neoplasia digestiva - esôfago (a queixa de pirose é esofágica). 1º hipótese (paciente idoso com queixa de emagrecimento). 2. Megaesôfago (disfagia progressiva iniciando com sólidos já se atenta para o megaesôfago); importante pedir epidemiologia pra Chagas. 3. DRGE (em casos graves o paciente pode ficar sem se alimentar, mas normalmente a perda ponderal não é tão significativa como no caso do paciente, 5% em 6 meses de perda ponderal já é considerada significativa). Pirose é uma das únicas queixas que nos levam a ter certeza absoluta que o paciente tem refluxo. Pirose (sintoma típico) = refluxo. ❖ Complicações do refluxo: Estenose cicatricial por processo inflamatório crônico de esofagite crônica também é uma possibilidade. Não está entre as 3 primeiras hipóteses, mas deve ser considerada. 5 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 3 Exames solicitados Sempre que for pedir um exame, pensar: vai mudar minha conduta? Se não vai, não pede. • Laboratoriais: hemograma (anemia normo normo, hipo normo ou hipo hipo, que é anemia de doença crônica - câncer), parasitológico de fezes (em um paciente com queixa de dispepsia avalia bolo de áscaris que pode fazer uma compressão, síndrome de Loeffler, no entanto, ele tende a ter mais tosse, não sendo provável nesse caso que tem pirose e não tosse), marcadores tumorais (CEA, que é marcador de tumor de esôfago, inicialmente). Foca na solicitação de hemograma completo e CEA (marcador de tumor de esôfago). • OBS: PCR (prova inflamatória; neoplasia tem uma reação chamada de desmoplásica que aumenta o PCR; megaesôfago também tem inflamação pela esofagite de estase e refluxo também inflama esôfago; no entanto, não muda conduta, logo, não tem necessidade de solicitar). Inespecífica. • Marcadores: a principal suspeita é neo de esôfago ❖ PSA: marcador de câncer de próstata. ❖ AFP: marcador de câncer de fígado. ❖ Calcitonina: marcador de lesão tireoidana. ❖ CEA: adenocarcinoma de aparelho digestivo, tumores epiteliais. • Imagem: EDA, manometria, EREED. A TC não seria solicitada inicialmente. Endoscopia: foi vista essa lesão ulcerada com aspecto em carne de peixe, esbranquiçada, ocupando x cm da luz, a y cm da arcada dentária superior e o tipo histológico. Ao ser feita a biópsia: BX ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: lesão a 34 cm da ADS (arcada dentária superior), ocupando 60% da luz, adenocarcinoma de esôfago G2 (gradação histológica: bem diferenciado, moderadamente diferenciado, indiferenciado, G0 a G4). Se localiza no esôfago distal (siewert I), já que a transição esôfago-gástrica é 40 cm da ADS. Não é neo de cárdia nem de estômago. Tratamento: esofagectomia transhiatal + linfadenectomia mediastinal e abdominal. • Eco endoscopia: T3 (faz tratamento neoadjuvante, ou seja, antes) N0 M0; • TAC de tórax: espessamento concêntrico do esôfago distal e ausência de linfonodomegalias; • TAC de abdome: vide tórax, restante do exame sem alteração. • A TC não seria solicitada inicialmente. Conduta • Neoadjuvância; • Esofagectomia total transhiatal + linfadenectomia mediastinal e abdominal.
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