Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC DPOC NA APS DEFINIÇÃO Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC - É definida como uma síndrome caracterizada pela obstrução crônica e difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. - Geralmente estão incluídos nesta definição os pacientes com bronquite obstrutiva crônica e/ou com enfisema pulmonar, os dois principais componentes da doença, ambos relacionados à exposição à fumaça do tabaco. EPIDEMIOLOGIA o Manifesta-se na quinta ou sexta década de vida – sexo masculino o Terceira causa de morte no mundo (OMS) o Tabagismo e DPOC – 90% dos casos o 15% dos fumantes de um maço/dia e 25% dos fumantes de dois maços/dia terão DPOC futuramente se mantiverem o hábito tabágico o Outros fatores de risco: tabagismo passivo, poluição atmosférica, exposição ocupacional a poeiras orgânicas, fumaças e vapores o Crianças expostas ao tabagismo materno; o Baixo nível socioeconômico FISIOPATOLOGIA A exposição inalatória a fumaça de cigarro, substâncias químicas, poluição, entre outras, provoca uma resposta inflamatória nas vias respiratórias e nos alvéolos. O processo é mediado pelo aumento da atividade da protease, liberadas pelos neutrófilos e outras células inflamatórias, e pela diminuição da atividade da anti- protease. As proteases pulmonares provocam a lise da elastina e do tecido conjuntivo no processo normal de reparação tecidual. ➔ Obstrução das Vias Aéreas e Hiperinsuflação. Esta é a característica mais marcante da DPOC! A manutenção das vias aéreas abertas durante a respiração depende da pressão gerada pelo fluxo de ar que, por sua vez, é dependente das forças inspiratórias e expiratórias. Na inspiração geralmente não ocorre limitação, pois a força geradora de fluxo provém da musculatura respiratória, mas o que acontece na expiração? A força expiratória depende em grande parte da elasticidade pulmonar, que se encontra reduzida na DPOC, e a resistência das vias aéreas distais está aumentada pela redução do seu lúmen, o que é gerado por dois fatores: 1. Diminuição do tecido elástico na parede dos. alvéolos (enfisema); 2. Edema e fibrose na parede dos pequenos brônquios (bronquiolite obliterante). Esses fatores, somados a uma pressão intratorácica progressivamente positiva, predispõem ao colapso das vias aéreas, impedindo a eliminação do ar armazenado nas porções periféricas do pulmão. Trata- se do fenômeno do aprisionamento de ar (air trapping), que promove um aumento característico do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total. O pulmão desses pacientes está cronicamente hiperinsuflado, o que pode ser notado na radiografia de tórax – ou até mesmo no exame físico: o famoso “tórax em tonel” – dos portadores de DPOC avançada. ANAMNESE o Queixa mais marcante: dispneia aos esforços; o Sintomas: chiado, tosse (mais frequente), produção de catarro, dispneia (mais importante) História de vida do indivíduo: • Aspectos socioeconômicos ocupacionais e psicodinâmicos; • Hábitos de vida; • Impacto da doença; • Sintomas depressivos e/ou ansiosos; • Suporte social e familiar; • História familiar; • Comorbidades; • Fatores de risco (tabagismo); • História de outras doenças respiratórias; 2 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC • Adequação ao tratamento; AVALIAÇÃO DA DISPNEIA EXAME FÍSICO - Sinais de hiperinsuflação pulmonar: tórax em barril, hipersonoridade à percussão do tórax, ausência de ictus, bulhas abafadas, excursão diafragmática reduzida; - Sinais de Obstrução ao fluxo aéreo: sibilos, expiração prolongada - Secreção nas vias aéreas: roncos; - Respiração: • Fase expiratória desproporcionalmente prolongada em relação a inspiratória; • Dispneicos: esforço maior na expiração; - Oximetria de pulso, peso e altura (IMC); - Comorbidades associadas FENÓTIPOS: ENFIZEMATOSO X BRONQUÍTICO Estereótipo Enfizematoso • “Sopradores róseos” • Tórax em tonel • Magros • Dispneia expiratória • Diminuição de MV Estereótipo Bronquítico • “Inchados azuis” • Estereótipo de bronquite grave; • Hipoxemia grave → cianose (azuis); • Insuficiência ventricular direita; • Congestão sistêmica; • Obesos; • Apneia do sono; • Ruídos adventícios ➔ A grande maioria dos pacientes apresentam um quadro misto DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS - Asma, insuficiência cardíaca, tuberculose, Bronquiectasias, Câncer de pulmão (todos podem coexistir com DPOC) EXAMES COMPLEMENTARES - A espirometria é recomendada para todos os fumantes com mais de 40 a 45 anos que apresentam falta de ar aos esforços, tosse persistente, chiado, produção de catarro ou infecções respiratórias frequentes. - Os aspectos espirométricos principais na DPOC são o VEF1 e a CVF. A limitação do fluxo aéreo é definida pela presença da relação VEF1/CVF < 0,7 após uso de broncodilatador pela maioria das diretrizes clínicas mundiais. - A radiografia torácica frequentemente mostra hiperinsuflação pulmonar, mas tem a função principal de afastar diagnósticos diferenciais e outras comorbidades - Outros exames podem ser solicitados conforme suspeita clínica, como hemograma, eletro e ecocardiograma, oximetria de pulso e gasometria arterial CONDUTA PROPOSTA A abordagem de pessoas com DPOC na APS deve incluir pelo menos quatro componentes: avaliação e monitoramento da doença, redução de fatores de risco, manejo do indivíduo com DPOC estável e manejo das exacerbações agudas. ● Aliviar os sintomas. ● Prevenir a progressão da doença. ● Melhorar a capacidade física (tolerância aos exercícios). ● Melhorar o estado geral de saúde e bem-estar. ● Prevenir e tratar complicações. ● Prevenir e tratar exacerbações agudas. ● Reduzir a mortalidade. 3 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC ● Referenciar ao especialista quando necessário e realizar a prevenção quaternária (não referenciar quando não necessário) TRATAMENTO O tratamento inclui modificações do estilo de vida, educação em saúde, intervenções multidisciplinares, tratamento específico e tratamento das exacerbações e das comorbidades A cessação do tabagismo é a intervenção mais importante para reduzir o risco de desenvolver DPOC e para retardar sua progressão. O esclarecimento sobre a natureza da doença, o acolhimento dos medos e inseguranças das pessoas com DPOC, a avaliação de suas dificuldades para o autocuidado, o apoio psicossocial, a participação em grupos na unidade, as orientações práticas sobre o uso de inaladores e a reabilitação pulmonar são parte fundamental das intervenções multiprofissionais e da educação em saúde. Os principais objetivos do manejo farmacológico de pessoas com DPOC são a redução na severidade dos sintomas e a prevenção das exacerbações. A terapia broncodilatadora (ação curta ou longa) é central para o manejo da DPOC, nos de ação longa, utiliza-se dos LABA e do LAMA Dependendo do estágio da DPOC e da gravidade da exacerbação, suplementação de oxigênio para manter a saturação entre 90 e 92% ou suporte ventilatório não invasivo, ou mesmo ventilação mecânica (VM), poderão ser indicados. Indivíduos com exacerbações agudas podem ser tratados tanto ambulatorialmente pelo médico de família como podem necessitar de internação hospitalar, dependendo da gravidade do episódio. QUANDO REFERENCIAR ● Incerteza diagnóstica. ● DPOC em pessoas com menos de 40 anos. ● DPOC em pessoas que possuem um parente de primeiro grau com história de deficiência de α1- antitripsina. ● DPOC grave. ● Exacerbações frequentes. ● Hemoptise. ● Dificuldade em controlar os sintomas. ● Necessidade de oxigenoterapia domiciliar. ● Necessidade de reabilitação pulmonar. ● Necessidade de cirurgia.ATIVIDADES PREVENTIVAS DE EDUCAÇÃO A busca ativa de casos sintomáticos por meio da utilização de questionários ou perguntas-chave pode ser realizada na APS e é muitas vezes confundida com o rastreamento. O uso de inaladores não é intuitivo, e os dispositivos são diferentes, portanto, o médico de família e comunidade, o enfermeiro ou o farmacêutico deve demonstrar como se usa cada tipo de inalador e espaçador. Sessões práticas em grupo ou individuais são úteis.
Compartilhar