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Docente: Nutricionista Mestre e Doutora em Ciências Especialista em Nutrição Clínica Desnutrição “É um estado mórbido secundário a uma deficiência ou excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais, que se manifesta clinicamente ou é detectado por meio de testes bioquímicos, antropométricos, topográficos ou fisiológico.” Jellife DB, 1966 Foto: Pinterest DESNUTRIÇÃO Definição DESNUTRIÇÃO ➢ Primária (referente a alimentação) • Ingestão alimentar inadequada devido à falta de alimentos ou de apetite; • Seleção inadequada de alimentos; • Perda de dentes. Waitzberg DL et al.,2009 Causas da desnutrição e da desnutrição hospitalar ➢ Secundária (decorrente de uma falha fisiológica) • Resultado de outras doenças que levam a uma baixa ingestão de alimentos; • Absorção ou uso inadequado de nutrientes; • Necessidades e/ou perdas aumentadas de nutrientes. ➢ Terciária ou Iatrogênica (“alteração patológica provocada ao paciente por tratamento qualquer”) • Dados antropométricos não mensurados; • Longos períodos a que o paciente é submetido a jejum proteico-energético→ Jejum pré-op. • Não percepção do aumento das demandas energéticas; • Não observação da ingestão alimentar; • Retardo na indicação da terapia nutricional; • Ausência de terapia nutricional pré ou pós-operatória; • Alta rotatividade de pessoal e divisão de responsabilidades. Waitzberg DL et al.,2009 DESNUTRIÇÃO Causas Resposta metabólica ao jejum agudo — deflagrada pela hipoglicemia • Exaustão do glicogênio hepático e muscular (15h); • glicose; • insulina plasmática; • ↑ glucagon, catecolaminas e cortisol – estímulo para gliconeogênese hepática e renal (pp. aa gliconeogênicos - alanina e glutamina); • Oxidação de ácidos graxos – fonte de energia; • taxa metabólica basal – queda do consumo de oxigênio. Waitzberg DL et al.,2009 DESNUTRIÇÃO Inanição aguda Resposta metabólica ao jejum crônico • Maior oxidação de gorduras; • Menor degradação de proteínas; tempo de sobrevida não ultrapassaria 10 dias. • Se a gliconeogênese continuasse no mesmo ritmo • Manutenção da inanição: gorduras - produção de corpos cetônicos Cérebro; • Objetivo: poupar massa proteica corpórea Perda proteica de 30-50% = associada à mortalidade elevada; DESNUTRIÇÃO Inanição crônica CID-10 E40 Kwashiorkor Desnutrição grave com edema nutricional e despigmentação da pele e do cabelo E41 Marasmo nutricional Desnutrição grave com marasmo E42 Kwashiorkor marasmático Desnutrição protéico-energética grave · com sinais tanto de kwashiorkor quanto de marasmo · forma intermediária E44 - Desnutrição protéico-calórica de graus moderado e leve E440 - Desnutrição protéico-calórica moderada E441 - Desnutrição protéico-calórica leve DESNUTRIÇÃO Classificação Marasmo (Caquexia) - Desnutrição Crônica • Causado por deficiência crônica de energia; • Catabolismo adiposo (DCT<3mm) e muscular (CB<15mm); • Letargia; • Fraqueza generalizada; • Perda de peso (>10% em 6 meses) → redução ponderal. • Responde ao tratamento nutricional→manutenção de compartimento proteico-visceral (albumina >3,0 g/dL) → SEM edema. Atentar para a Síndrome de Realimentação — durante a 1a semana de repleção nutricional. Waitzberg DL et al.,2009 DESNUTRIÇÃO Desnutrição energética ou calórica DESNUTRIÇÃO Marasmo (Caquexia) Fome ou Doença Crônica Perda de tecido muscular Perda de tecido subcutâneo Reduz insulina Aumenta H. catabólicos Aumento Glicose Aumento AA essenciais Aumento AG p/ músculo DESNUTRIÇÃO Desnutrição energética ou calórica Marasmo (Caquexia) - Desnutrição Crônica DESNUTRIÇÃO Desnutrição energética ou calórica Marasmo (Caquexia) - Desnutrição Crônica Kwashiorkor (edema) — Desnutrição Aguda • Carência proteica aguda ou resposta à injúria; • Edema nutricional, ascite (hipoalbuminemia <3,0 g/dL); • Hepatomegalia; • Cabelo ralo, despigmentado com “sinal da bandeira”, perda de cabelo → indolor; • Má cicatrização e ruptura de pele. • Diminuição de função imune (leucopenia <1500 céls/mm³); • Def. de dissacaridases (diarreia), esteatose hepática; • Ligada a trauma e infecções (pacientes internados recebendo soluções glicosadas a 5% por 10 a 15 dias)→ (transferrina < 180 mg/dL). Waitzberg DL et al.,2009 DESNUTRIÇÃO Desnutrição proteica DESNUTRIÇÃO Kwashiorkor (edema) Pouca proteína ou Doença catabólica Aumenta insulina Falta de substrato para tecido Aumenta ingestão de CHO Reduz AA Reduz lipoproteínas Reduz produção albumina Kwashiorkor (Edema) — Desnutrição Aguda DESNUTRIÇÃO Desnutrição proteica • Fracos, quebradiços, perda de brilho e cor →Deficiência de proteína e zinco. Kwashiorkor (Edema) — Desnutrição Aguda DESNUTRIÇÃO Desnutrição proteica Marasmo (Caquexia) x Kwashiorkor (Edema) DESNUTRIÇÃO Desnutrição proteica DESNUTRIÇÃO Mista • Combina características clínicas do marasmo e do Kwashiokor; • Presença de edema do Kwashiokor, com ou sem lesões cutâneas; • Definhamento muscular e gordura subcutânea diminuída do marasmo. Torun & Chew, 2003 Desnutrição proteico-energética Kwashiokor marasmático De Micronutrientes • Zinco, ferro; • Vitaminas hidrossolúveis; • Ácido fólico. • A desnutrição crônica desenvolve-se gradualmente, permitindo uma série de ajustes metabólicos e comportamentais que resultam em demandas diminuídas de nutrientes e um equilíbrio nutricional compatível com um nível mais baixo de disponibilidade celular; • As rupturas metabólicas podem derivar de um déficit grave de nutrientes, complicações (infecção), ou tratamento inadequado (administração abrupta de grandes quantidades de energia ou proteína na dieta). Torun & Chew, 2003 DESNUTRIÇÃO Fisiologia e resposta adaptativa Repercussões da Desnutrição Simples • Inicialmente uma rápida perda ponderal; • Posteriormente, a perda ocorre em um ritmo mais lento; • Com a degradação proteica: ↑ da produção de ureia (com excreção urinária), além de aumentar a excreção de cálcio, potássio e magnésio (caracterizando a degradação muscular); • ↑ da diurese; • Ação do glucagon sobre o túbulo renal promove a diurese sódica; • Natriurese é o principal responsável pela perda de peso inicial. Torun & Chew, 2003 DESNUTRIÇÃO Alterações da composição corporal Repercussões da Fase Avançada • ↓ do tecido adiposo; • ↑ da água corporal total (↓ da taxa de filtração glomerular, hipoalbuminemia, levando à retenção de água e sódio); • ↑ de volume plasmático (líquido extracelular); • ↓ do hematócrito; • ↓ de hemoglobina; • ↓ de água e potássio intracelular (por ↓ de massa corporal total); • ↑ do sódio corporal e hiponatremia dilucional; • Resposta imunológica deficiente. Torun & Chew, 2003 DESNUTRIÇÃO Alterações da composição corporal Redução prolongada da ingestão oral • Bola gordurosa de Bichart • Relacionadacom redução prolongada de tecido adiposo • Sinal da“asaquebrada” = perda daBola gordurosa de Bichart • + musculatura temporal DESNUTRIÇÃO Avaliação Física ▪ Atrofia da musculatura temporal- atrofia do músculo temporal com exposição do arco zigomático sugere diminuição prolongada da mastigação Ingestão insuficiente por anorexia ou disfagia Redução prolongada da ingestão oral DESNUTRIÇÃO Avaliação Física ▪ Atrofia das musculaturas de pinçamento do polegar- menor força de apreensão e, consequentemente, menor competência em ingerir alimentos Visualização de um contorno ósseo do indicador e polegar formando uma concha DESNUTRIÇÃO Avaliação Física ▪ Atrofia da musculatura dos membros inferiores - sugere perda de massa muscular Panturrilha - é a mais precoce atrofia a ocorrer quando se instala o processo de desnutrição. Principalmente nos pacientes graves em terapia intensiva Coxa- maior → fraqueza nas pernas DESNUTRIÇÃO Avaliação Física ▪ Atrofia das musculaturas nas regiões da fúrcula esternal, supra, infraclavicular - sugere perda crônica de massa muscular Supraclavicular Infraclavicular Fúrcula Esternal DESNUTRIÇÃOAvaliação Física ▪ Atrofia das musculaturas intercostal/paracostal e paravertebral – Reduz sustentação corporal (cifose). ↓ capacidade de expansão ventilatória pulmonar. DESNUTRIÇÃO Avaliação Física Acúmulo de líquido no espaço intersticial: Pesquisa através da pressão contínua sobre a face anterior da perna x osso → depressão tecidual → Sinal de CACIFO. Ins. cardíaca, renal, hetática. DESNUTRIÇÃO Avaliação Física Redução das concentrações de hemoglobina e de hemácias, relacionado às necessidades teciduais de oxigênio. A massa corporal magra reduzida e a menor atividade física também baixam as demandas de oxigênio. O início do tratamento nutricional reverte esse quadro. Resultado: • A ingestão insuficiente de proteína, ferro, ácido fólico e vitamina B12 leva a diminuição da atividade hematopoiética; • Pode ocorrer anemia funcional com hipóxia tecidual. DESNUTRIÇÃO Alterações Hematológicas DESNUTRIÇÃO Contribuem para manutenção da homeostase energética através do aumento dos níveis de glucagon, hormônio do crescimento, catecolaminas e glicocorticoides, associado a diminuição da insulina, somatomedina e hormônios tireoidianos. Resultado: • ↑ glicólise e lipólise; • ↑ mobilização de aminoácidos; • preservação inicial das proteínas viscerais através da decomposição aumentada de proteínas musculares; • ↓ Armazenamento de glicogênio, gorduras e proteínas. Alterações Endócrinas O coração e o rim perdem massa progressivamente durante a evolução de um estado carencial proteico-calórico. Resultado: • ↓ débito cardíaco; • ↓ frequência cardíaca; • ↓ pressão arterial; • Alteração dos reflexos cardiovasculares levando a hipotensão postural e a ↓ do retorno venoso; • ↓ fluxo sanguíneo renal e da TFG* em consequência da ↓débito cardíaco. *TGF- taxa de filtração glomerular DESNUTRIÇÃO Alterações Cardiovasculares e Renais DESNUTRIÇÃO Atrofia da musculatura acessória e do diafragma, comprometendo as trocas gasosas e a força muscular, o que diminui a resposta ventilatória a hipóxia e a hipercapnia. Resultado: • ↓ desempenho respiratório ao esforço; • Ocorrência de insuficiência respiratória aguda; • Dificuldade de interromper a ventilação artificial; • ↑ suscetibilidade a infecções pulmonares. Alterações Respiratórias DESNUTRIÇÃO O trato gastrointestinal e o pâncreas atrofiam. Resultado: • Absorção intestinal prejudicada de lipídios e dissacarídeos, e uma taxa diminuída de absorção de glicose ocorrem na deficiência grave de proteínas; • ↓ da produção de secreções gástrica, pancreática e biliar; • A hipocloridria, a hipomotilidade intestinal e a deficiência imunológica (↓IgA* secretora) leva a supercrescimento bacteriano no intestino delgado. *IgA - imunoglobulina A Alterações do Aparelho Digestório Diminuição do crescimento cerebral, da mielinização nervosa, da produção de neurotransmissores e da velocidade de condução dos estímulos nervosa. Resultado: • As implicações funcionais a longo prazo ainda não foram claramente demonstradas. DESNUTRIÇÃO Alterações do Sistema Nervoso DESNUTRIÇÃO Os tecidos linfoides atrofiam e as principais alterações observadas parecem envolver os linfócitos T e o sistema complemento. Resultado: • Mais predisposição a infecções e a complicações graves de doenças infecciosas; • Morbidade e mortalidade. Alterações do Sistema Imune Efeito deletério na cicatrização e regeneração tecidual. Resultado: • ↓ da atividade fibroblástica; • Retardo e ineficiência na cicatrização; • ↓ da resistência das suturas; • Retardo e ineficiência na consolidação das anastomoses. DESNUTRIÇÃO Alterações da Cicatrização • Mais vulnerabilidade a quadros infecciosos; • Redução na cicatrização de feridas; • Hipoproteinemia (edema); • Fraqueza muscular; • Redução na força tênsil nas suturas; • Aumento da morbidade; • Aumento da mortalidade; • Hospitalização prolongada; • Custos elevados; • Convalescência prolongada. Waitzberg DL et al.,2009 DESNUTRIÇÃO Consequências No Brasil, o IBRANUTRI evidenciou que pacientes desnutridos apresentaram incidência de complicações, significativamente aumentada, quando comparados com os nutridos (27% versus 16,8%). O tempo de internação hospitalar foi maior no grupo de pacientes desnutridos (16,7 dias versus 10,1 dias) e a mortalidade também foi superior em pacientes desnutridos (12,4% versus 4,7%). Desnutridos apresentam risco aumentado de: ✓ Complicações; ✓ Reinternação em unidade de terapia intensiva; ✓ Mortalidade. DESNUTRIÇÃO Complicações Waitzberg DL et al.,2009 Homem de 40 anos foi hospitalizado após acidente automobilístico. Relato de peso usual de 50 Kg. Na internação relatou apresentar insuficiência cardíaca congestiva decorrente de insuficiência de válvula mitral. Submetido à cirurgia para corrigir fraturas em MMII e MMSS. Após 1 semana de CTI, seu cabelo desprendia facilmente, sem lesões em pele.; com edema nos MMII; consumo de musculatura temporo-mandibular, fúrcula esternal, supra e infraclavicular e quadríceps. Sua temperatura era elevada (39.5°C). Antropometria: Peso atual: 48Kg; Estatura: 193 cm; DCT: 5 mm; CB: 25,2 cm. Resultados laboratoriais: Contagem de linfócitos: 700 céls/mm³ (normal>1500 céls/mm³) Glicose: 220 mg/dL (até 99 mg/dL ) Albumina sérica: 2,2 g/dL (3,5 – 4,7 g/dL ) DESNUTRIÇÃO Exercício Avalie: 1. IMC; 2. Peso ideal; 3. % de Adequação de peso; 4. % de Perda Ponderal; 5. Mecanismos fisiopatológicos de consumo de musculatura temporo-mandibular, fúrcula esternal, supra e infraclavicular e quadríceps, associados às informações antropométricas de peso, IMC, dobra cutânea e circunferência muscular. 6. Mecanismos fisiopatológicos de hipoalbuminemia, edema e saída indolor de cabelo. 7. Diagnóstico nutricional. DESNUTRIÇÃO Exercício Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I MAHAN, L. Kathleen; ESCOTT-STUMP, Sylvia. Krause. Alimentos, nutrição e dietoterapia. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. cap. 14 (p: 383-410). SHILS, Maurice E.; OLSON, James A.; SHIKE, MOSHE; Ross, A. CATHARINE; CABALLERO, Benjamin. Nutrição moderna na saúde e na doença. 2. ed. Barueri: Manole, 2009. cap.: 48 (p. 781-801). WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 2 volumes. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009. Bibliografia complementar Até a próxima!
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