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Clínica cirúrgica de grandes animais 1 Lívia Maria SISTEMA LOCOMOTOR O sistema locomotor é o sistema de sustentação e que é a perfeita harmonia em que as estruturas anatômicas permitem uma dinâmica locomotora específica e adequada para essas espécies. A biomecânica, anatomia e fisiologia são importantes para perceber se há algo errado em determinada região. Quanto maior a exigência do animal (equino) maior lesão. 1) QUERATOMA É um tumor de células produtoras de queratina que se desenvolve na face profunda do casco em bovinos. Animais que já tiveram histórico de ter abscesso sub solear porém era um queratoma. SINAIS CLÍNICOS ● claudicação ● aumento de temperatura no casco DIAGNÓSTICO ● Histórico ● exame radiográfico - venografia (injetar contraste na veia para observar a vascularização, se tiver um influxo maior na região vai suspeitar) ● Histopatologia - coletar material (confirmatório) ● Raio-x - localização exata (se vai ser feita a cirurgia a campo ou bloco cirúrgico) Se o queratoma estiver na região da pinça pode ser retirado pois não tem nenhuma estrutura anatômica importante, porém se ele estiver na região da ranilha (osso navicular repousa sobre a ranilha) precisa ter cuidado para não aprofundar muito e chegar na bolsa do navicular e causar um sepse. TRATAMENTO Usa um torniquete para diminuir o sangramento no casco, faz exérese com bisturi e retira o queratoma e trata o casco como uma ferida (limpar todos os dias com clorexidina, para retirar as sujidades, pomada antibiótica e colocar bandagem). Se foi preciso tirar muito da muralha do casco, ele vai ficar aberto e ter Clínica cirúrgica de grandes animais 2 Lívia Maria chance de abrir e fraturar, sendo assim é necessário colocar uma ferradura adequada para conter o crescimento do casco e não abrir de vez quando o animal andar e casqueamento contínuos. PERFUSÃO REGIONAL Acima da ferida colocar o torniquete para que o antibiótico haja só naquela região. Acessa a veia o mais próximo da ferida e injeta antibiótico e deixe por 20 minutos, depois retira o torniquete e tampa a ferida. Faz esse procedimento em dias alternados, e associado faz antibioticoterapia sistêmica e anti- inflamatório. 2) LAMINITE Processo inflamatório que acomete a falange distal e provoca alterações sistêmicas. É uma síndrome que acomete principalmente o MA 's (torácicos), mas pode acometer os membros posteriores devido a sobrecarga de peso. A laminite nos 4 membros pode acontecer e geralmente têm decorrência de uma causa infecciosa (pneumonia, cólica). A laminite possui etiologia de origem alimentar, infecciosa, mecânica, mista. a) Alimentar - ingestão excessiva de grãos - histidina -histamina - causa vasoconstrição da rede vascular digital b) Obesidade - aumento dos ácidos graxos livres e níveis de produção de adipocinas - aumento de leptina e diminuição da adiponectina - contribui para o estado inflamatório aumentando cortisol - resistência insulina - acúmulo nos tecidos (lipídicos) - lipotoxicidade - laminite PATOGENIA DA LAMINITE NA CÓLICA: Na cólica a laminite acontece por sobrecarga de grãos, vai haver um desequilíbrio dos microorganismos presente no ceco essas bactérias (gram -) que começar a ficar em maior quantidade vão começar que liberam LP’s que entram na corrente sanguínea e leva a um quadro de endotoxemia. Essa endotoxemia vai causar uma hipoperfusão na região distal. Devido a isso no pós-operatório de cólica o animal já inicia tratamento preventivo para laminite, colocando-o no gelo (crioterapia). Durante a cirurgia evitar a hipoperfusão ou hipotensão para evitar a laminite. O tendão flexor digital profundo (palmar) se insere na superfície semilunar da terceira falange. E dorsalmente temos o tendão extensor digital comum (frEnte) que se insere no processo extensor da 3 falange. Nos quadros de laminite tem processo inflamatório presente o que faz com que haja edema, aumenta a permeabilidade, separação das lâminas que faz com que a força de tração do Extensor Clínica cirúrgica de grandes animais 3 Lívia Maria (frEnte) diminui, ficando só a força do tendão flexor digital profundo por esse motivo a rotação da falange, pois o tracionamento da 3 falange de maneira palmar pelo tendão flexor digital profundo. DIAGNÓSTICO ● Clínico ● palpação (aferindo a temperatura do casco com a mão) ● raio-x (latero medial/ dorso palmar - observar a rotação (perda do paralelismo da falange na face dorsal da 3 falange e da muralha do casco) - sensibilidade epicrítica - laminite(muita dor), queratoma - sensibilidade protopática - síndrome do navicular (pressiona mais o local) SINAIS CLÍNICOS ● atitude antálgica - animal joga o peso em direção ao talão, pq a pinça dói mais ● pinça de casco TRATAMENTO CLÍNICO 1. ANTIINFLAMATÓRIO (FIROCOXIBE +FENILBUTAZONA - 2 vezes ao dia durante 20 dias), 2. VASODILATADOR - ACEPROMAZINA 3. AAS (ANTITROMBOGÊNICO) 4. GELO (diminui o aporte de oxigênio e o influxo de toxinas, analgesico e antiiflamatorio, pode ser feito por até 72 horas) PALMILHAS, FERRADURAS CORRETIVAS E CASQUEAMENTO - Não usa corticoide (aumenta o estado inflamatório) Antes de fazer a tenotomia precisa fazer a venografia (injetar contraste na veia, se foi perdido a vascularização na região dorsal do casco precisa fazer a tenotomia, mas se ainda tem vascularização na face dorsal pode fazer o tratamento clínico. TRATAMENTO CIRÚRGICO - TENOTOMIA DO TFDP (incisão) Pré operatório: decúbito ou estação Técnica: fazer a incisão do tendão flexor profundo retirar até 2 terços da 3 falange Pós cirúrgico: cuidado com luxação da articulação interfalangeana distal (faz ferradura) 3) LAMINITE - BOVINOS Vacas leiteiras são as mais acometidas, excesso de concentrado de amido e açúcares, que causa fermentação no rúmen. Animais pesados, > idade, > lactações possuem maior risco de desenvolver lesões podais, parto, mudança brusca de dieta, tamanho do rebanho. Clínica cirúrgica de grandes animais 4 Lívia Maria 4) DEFORMIDADES ANGULARES (ÓSSEAS) Podemos ter 2 tipos de deformidades, as angulares e as flexurais. As angulares estão relacionadas ao ângulo adotado pelo osso, e as flexurais estão relacionadas a contratura ou frouxidão do tendão e ligamento. Os mais acometidos: carpo - valgo (casco para fOra), boleto - varo, tarso - valgo. ETIOLOGIA Etiologia multifatorial, genético, nutricional (suplemento quando o animal é jovem), mau posicionamento intrauterino, mas a causa é o crescimento assíncrono da epífise com a metáfise. DIAGNÓSTICO ● clinico + radiográfico ● radiográfico - 0-2: discreto - 2-4: moderado - 4-8: grave TRATAMENTO CLÍNICO Para saber se o tratamento vai ser clínico ou cirúrgico vai depender da articulação acometida e o tempo de fechamento da epífise. 1) Uso de talas (deve ser colocado do lado do crescimento e retirada) 2) casqueamento (no lado mais desgastado - a cada 15 ou 30 dias) 3) restringir o movimento e fazer manejo nutricional. 4) Fitas de kinesio - no momento que está colocando faz uma massagem para ativar a fita TRATAMENTO CIRÚRGICO - PONTE TRANSPHYSEAL O tratamento mais antigo era a colocação de grampos - onde era feita a incisão de pele que localiza a epífise e coloca o grampo e bate e sutura a pele. O problema dessa técnica é que os animais exacerbam na cicatrização criando uma área fibrosa com estética não desejável no pós-operatório. A ponte transphyseal é a técnica mais utilizada, que consiste na colocação de parafusos e fios de cerclagem. Clínica cirúrgica de grandes animais 5 Lívia Maria Coloca parafuso acima da epífise a abaixo da epífise, o problema dessa técnica é o parafuso atingir a articulação (abaixo da epifise), por esse motivo essa técnica deve ser acompanhada deraio-x ❖ Pré operatório: ❖ Técnica: Inicialmente faz a incisão acima e abaixo e coloca as agulhas guia com o raio x, coloca os parafusos acima e abaixo da epífise, ´põe o fio de cerclagem para ajudar a conter o crescimento e fecha. É feito o acompanhamento radiográfico até que o grau de angulação esteja menor que 5 graus, ai depois é feita outra cirurgia para retirada dos parafusos. ❖ Pós-cirúrgico: antibioticoterapia, antiinflamatório, perfusão regional É importante saber a articulação comprometida e o tempo de fechamento da epifise! DEFORMIDADES FLEXURAIS Estão relacionados a deformidades tendinosas ou ligamentos. As estruturas anatômicas comprometidas podem ser o tendão flexor digital superficial ou profundo. Se o animal está na ponta dos cascos o flexor profundo que está afetado se na contratura o boleto é projetado para frente há envolvimento do superficial. - tendão flexor digital superficial - boleto - projetado para frente - tendão flexor digital profundo - pontas dos casco - O tendão mais superficial TFDS, o ligamento que sai dos superficial, chamasse ligamento acessório do tendão flexor digital superficial ou check superior. Saindo do profundo temos o ligamento acessório do tendão flexor digital profundo ou check inferior. TRATAMENTO CLÍNICO 1. OXITETRACICLINA - diluída em soro, ela tem a função de quelar o cálcio do músculo, promovendo o relaxamento 2. TALAS Clínica cirúrgica de grandes animais 6 Lívia Maria 3. CASQUEAMENTO TRATAMENTO CIRÚRGICO Se tem contratura do flexor digital profundo: check inferior ou ligamento acess do tendao flexor digital profundo. Antes de seccionar o tendão pode-se seccionar o check ou o ligamento acessório dele - DESMOTOMIA - O problema da desmotomia do check superior (feita por artroscopia tenoscopia) é que ele está muito próximo ao túnel do carpo que é uma estrutura sinovial. Inside no terço lateral da pele, vai difusionando o subcutâneo identifica superficial ou profundo e check depois ligamento suspensório e terceiro metacarpo, achou o check isola com hemostática curva e secciona com bisturi. Depois fecha subcutâneo com absorvível poliglactina 2-0, pele fio de nylon 2-0 (wolf). TENOTOMIA - Só faz quando não tem vascularização na face dorsal (depois da venografia) FRATURAS As fraturas podem ser: únicas, múltipla ou cominutiva podendo também ser por - avulsão: ocorre por hiperextensão do ligamento e fratura do osso que insere ou epifisárias: fratura + fácil correção A correção vai depender do tipo e local da fratura. O tratamento clínico é a imobilização com gesso e o tratamento cirúrgico existem 3 opções fixadores, placa, parafuso e fixadores externos (fraturas expostas). 1) FRATURA DE 3ª FALANGE TRATAMENTO CLÍNICO: casqueamento e ferrageamento corretivo (ferradura fechada) TRATAMENTO CIRÚRGICO: osteossíntese - colocação de 2 parafusos 2) FRATURA DE 1ª FALANGE Precisa ter cuidado com as estruturas de tecidos moles; Clínica cirúrgica de grandes animais 7 Lívia Maria TRATAMENTO CIRÚRGICO: placa e parafuso 3) FRATURA DE METACARPO Tratamento cirúrgico: 2 parafusos para estabilizar o foco da fratura e depois uma placa IMOBILIZAÇÃO: imobilizar a articulação acima e abaixo do foco da fratura, limpeza do membro, malha tubular, algodão ortopédico, talas e gesso sintético ARTROSCOPIA: Para fraturas com fragmentos articulares (pequenas). Através do artroscopia vai acessar a articulação visualizar e retirar o fragmento 4) OSTEOARTRITES Osteófito: proliferação óssea em espaço articular. Entesófito: proliferação óssea em local de inserção de ligamento. TRATAMENTO CIRÚRGICO: Artrodese com a colocação de placa e parafuso para bloquear o movimento 5) DESLOCAMENTO DORSAL DA PATELA Ocorre quando o ligamento patelar medial se desloca sobre a tróclea medial do fêmur, acarretando na dificuldade de flexionar o membro. SINAIS CLÍNICOS: Dificuldade em flexionar o membro; andar arrastando a pinça no solo; patela e tarso não flexiona; pode ser intermitente ou permanente; ligamentos patelares tensos TRATAMENTO CLÍNICO: miorrelaxantes + kinesio tape. TRATAMENTO CIRÚRGICO: desmotomia do ligamento patelar medial ou splint do ligamento (é melhor) + movimentos de reabilitação. 6) RUPTURA TENDÍNEA TRATAMENTO CIRÚRGICO: deve-se ir para o bloco e lavar a bainha tendínea por tenoscopia com solução fisiológica e injetar antibiótico ⇢faz a sutura do tendão com poliglactina 2 ou 0, com tipo de sutura loocking loop; colocar gesso nos pós. 7) DERMATITE DIGITAL Infecção de pele nos boletos. Principais agentes: dichelobacter e fusobacterium. TRATAMENTO CLÍNICO: antibiótico sistêmico, pedilúvio com permanganato de potássio, pomada com antibiótico + sulfato de cobre (cáustico). 8) FLEGMÃO INTERDIGITAL Ocorre pelo agente fusobacterium. É uma infecção necrótica aguda ou sub aguda que acomete a pele. SINAIS CLÍNICOS: lesão e dor, eritema, calor, tumefação da pele interdigital, Obs: pode desencadear uma artrite. TRATAMENTO: antibioticoterapia, tratamento tópico e ressecção cirúrgica Clínica cirúrgica de grandes animais 8 Lívia Maria 9) ARTRITE SÉPTICA EM BOVINOS Presença de fístula. É preciso fazer o fresamento e drenagem. Obs: pode ser feita a amputação da falange quando não se consegue tratar. Membro torácico: amputa o dígito lateral. Membro pélvico: Amputar o dígito medial.