Prévia do material em texto
1 Fernanda E. Bocutti T6 Anatomia - É um órgão retroperitoneal - Localizado entre as vértebras T12 – L2 - Dividido em 3 partes – cabeça, corpo e cauda - Secreção pancreático pelo ducto de Wirsung Fisiologia - Função endócrina e função exócrina Função exócrina: - 80% do órgão composto por células mistas - Faz parte da digestão de lipídios, proteínas e carboidratos - Secretina – aumento o Ph para 7 na porção duodenal, protegendo contra lesão ácida e promovendo melhor ação das enzimas pancreáticas - Colecistoquinina (CKK) – estimulam as células acinares - Amilase e lipase – são as únicas enzimas liberadas em formas ativas pela CCK - Importante enzima para diagnóstico de pancreatite - Amilase eleva-se 2-12 horas após início da pancreatite aguda e mantem-se elevada até em torno de 5 dias (maior especificidade para pancreatite se estiver elevado de 3 a 5 vezes o valor de referência) - Lipase mantem-se elevada até 10 dias do quadro agudo Só Pancreatite eleva amilase e lipase?? Etiologia - Pancreatite biliar (litíase) e alcoólica juntas correspondem a 75% das causas de pancreatite aguda - Outras causas: hipertrigliceridemia, hipercalcemia, pós operatório, traumas, medicamentoso (imunossupressores – azatioprina, ciclosporina...), pós CPRE, hereditário, áscaris lumbricoides, pâncreas divisum. Pancreatite biliar - Passagem de cálculos biliares (geralmente menores que 5mm) pela papila de Vater - Pancreatite biliar não está associada a pancreatite crônica - Mais comum no sexo feminino (2:1) - Mais comum na faixa etária de 50-70 anos, porém pode ocorrer em qualquer idade Pancreatite alcoólica - Ocorre em 5-10% dos alcoólatras - Ocorre várias pancreatites devido: liberação em excesso de enzimas pancreáticas, contração transitória do esfíncter de Oddi, lesão tóxica, produção de cilindros proteináceos que obstruem os ductos. Pancreatina por hipertrigliceridemia - Causa em torno de 4% das pancreatites Pancreatite aguda e crônica 2 Fernanda E. Bocutti T6 - Normalmente seu nível sérico em torno de 500- 1000mg/dl Quadro clínico – pancreatite aguda - Dor abdominal em andar superior (mais típica quando dor irradia para o dorso tipo em faixa) - Náuseas e vômitos - A dor em pancreatite aguda alcoólica inicia-se de 1-3 dias após a liberação alcoólica Exame físico - Varia na gravidade da doença e etiologia - Pancreatite biliar – paciente com icterícia - Pancreatite necro-hemorrágica – Sinal de Cullen, Grey- turner e Fox Diagnósticos diferenciais - Doença péptica/ úlcera perfurada - Isquemia mesentérica - IAM inferior/ dissecação de aorta abdominal - Colelitíase, colicistite ou coledocolitiase Escores de gravidade Escore de Ranson Na admissão: - Idade > 55 anos - Leucocitose > 16.000/mm3 - Glicose > 200mg/dl - LDH > 350 UI/L - TGO (AST) > 250 UI/L Durante as 48 horas iniciais - Redução do hematócrito mais de 10% (com a reposição volêmica, sem hemotransfusão) - Aumento da ureia >10 mg/dl - Cálcio < 8mg/dl - PaO2 < 60mmHg - Base excess mais negativo que – 4,0 – estimativa de perda líquida > 6 litros ** Escore de Ranson – 3 ou mais critérios fechado com pancreatite grave Escore de Apache - Utilizam 14 critérios - Utilizado em qualquer doença grave - Paciente com pancreatite aguda com 8 ou mais critérios é caracterizado como pancreatite grave - Vantagem em relação ao Ranson, pois pode ser calculado nas primeiras 24 horas 3 Fernanda E. Bocutti T6 Exames de imagens - US de abdômen: primeiro exame a ser solicitado após o diagnóstico de pancreatite - Baixa sensibilidade para ver o pâncreas - Tomografia computadorizada com contraste é o melhor exame para avaliar pancreatite e complicações regionais - Nem sempre todos os pacientes com pancreatite aguda precisam realizar tomografia Tratamento Forma leve: - Menos que 3 pontos de Ranson e Apache < 8 - Não precisa de tratamento em UTI - Hidratação rigorosa + jejum + analgesia - Esses pacientes raramente precisam realizar TC de abdome - Introduzir dieta no momento adequado Forma grave: - Pacientes com Ranson >3 e Apache >8 - Podem evoluir com choque misto, insuficiência renal, ICC - Dieta zero + hidratação rigorosa + analgesia - Pode ser necessário UTI - Não é indicado antibiótico profilático, mesmo se tiver necrose - Antibiótico somente se mostrar necrose infectada Complicações Necrose pancreática infectada Geralmente ocorre após 10 dias de pancreatite É mais comum em pancreatite com mais de 30% de necrose Diagnóstico em tomografia é pela presença de ar na área de necrose (sinal da bolha) Em caso de dúvida é realizado punção do tecido pancreático guiado por tomografia Todo paciente com necrose infectada é indicado para necrosectomia (cirurgia), porém o procedimento cirúrgico pode esperar a depender do estado clínico do paciente (alto índice de óbito pós operatório) Pseudocisto pancreático É uma coleção líquida peri ou intra pancreática, não infectada, envolvida por uma cápsula de fibrose Desenvolve-se após 4 semanas da pancreatite aguda Complicações – obstrução gastroduodenal e biliar, hemorragia, rotura aguda, infecção do cisto e fístula pancreática Tratamento de cisto pancreático 4 Fernanda E. Bocutti T6 - Caso não haja nenhuma complicação – esperar até 6 semanas de evolução (a maioria regride de tamanho) - Antigamente cistos maiores que 6 cm era indicado para drenagem, porém estudos recentes mostram que alguns deles regridem espontaneamente - Indicações para drenagem de cisto – aumento de tamanho do cisto, sintomas (dor, vômitos) e complicações - Métodos de drenagem – cirurgia, drenagem por US, TC, Eco-EDA ou CPRE Abcesso pancreático É uma coleção líquida infectada Sem tratamento a letalidade chega perto de 100% Tratamento – antibioticoterapia (imipenem ou meropenem) + drenagem (sempre) Pancreatite crônica - É uma degeneração fibrótica, progressiva e irreversível após uma inflamação - São divididas em 3 tipos – calcificante crônica (95%), obstrutiva crônica e inflamatória crônica (comum em doença auto-imune, Sd Sjogren) Pancreatite crônica alcoólica É a mais comum (70-80% das causas) Consumo diário de 100g ou mais de etanol em mais de 5 anos Porém somente 5-10% dos etílicos crônicos desenvolvem pancreatite Parar de beber pode melhorar os sintomas, porém não impedem a progressão da doença Pancreatite crônica idiopática Acontece em 10-30% dos pacientes com pancreatite crônica Não tem etiologia esclarecida Pode-se estar relacionada a hipersensibilidade a ingesta de álcool ou fator genético (CRTF) ou disfunção do esfíncter de Oddi. Outras causas: - Pancreatite tropical (mais comum em adolescentes na África e Ásia – relacionada a alimentação) - Pancreatite hereditária - Pancreatite auto-imune (4-6% das causas) Sintomatologia - Tríade clássica está presente em torno de 30% dos pacientes: esteatorréia +DM + calcificações Tratamento • Abstinência etílica; • Fracionamento das refeições, redução da ingestão de gorduras e eventual substituição por triglicérides de cadeia média; • Suplementos enzimáticos orais (com tripsina); • Analgesia farmacológica escalonada e sequencial, conforme a resposta clínica (paracetamol / anti inflamatórios não esteroidais / antidepressivos / opiáceos). • Descompressão ductal endoscópica (retirada de cálculos / endoprótese / dilatação); • Descompressão ductal cirúrgica: pancreatojejunostomia lateral (= procedimento de Puestow = Puestow-Parrington- Rochelle); • Pancreatectomia subtotal (= procedimento de Whipple); • Bloqueio do plexo celíaco.