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Análises Bromatológicas e Toxicológicas Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Flávia Bonfim Lima Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Revisão Textual: Prof. Everton Carlos Gomes Aspectos Bromatológicos Aspectos Bromatológicos • Mostrar a aplicação dos conhecimentos em bromatologia nas diferentes áreas que envol- vem os alimentos e a sua interação e impacto na Sociedade. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Legislação dos Alimentos; • Conhecendo a Legislação; • Alterações dos Alimentos. UNIDADE Aspectos Bromatológicos Legislação dos Alimentos Registro de Alimentos no Brasil Os principais órgãos reguladores que atuam compartilhando tarefas na área dos alimentos são o MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) e a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Cada um exerce papel importante, vez que o alvo principal é a garantia à segu- rança alimentar da população. A ANVISA é responsável pelo registro de alimentos, regulamentação (leis) e con- trole da fiscalização sanitária. Existem alimentos cujo registro junto à ANVISA é obrigatório, de acordo com a lista do ANEXO II da RDC 27/2010. Outros tipos de alimentos podem ser considerados isentos de registro, conforme descrito na RDC 23/2000. O MAPA exerce função de fiscalizar, principalmente, os produtos de origem ani- mal e vegetal. Sendo assim, todo alimento de origem animal ou vegetal deve ser registrado junto ao MAPA, de acordo com o Artigo 51 do Decreto n° 30.691/52, que especifica: Art. 51. Nenhum estabelecimento pode realizar comércio interestadual ou internacional com produtos de origem animal, sem estar registrado na D.I.P.O.A. Parágrafo único. Para efeito de comércio internacional, além do registro, o estabelecimento deverá atender às condições técnico-sani- tárias fixadas pela D.I.P.O.A. (Parágrafo único acrescido pelo Decreto do Conselho de Ministros nº 1.255, de 25/6/1962). Demais Alimentos Processados Aditivos Alimentares (registro obrigatório) Alimentos com Registro Obrigatório Alimentos com Dispensa de Registro Alimentos Regulamentados pela ANVISA Figura 1 – Estrutura de regulamentação ANVISA Fonte: Adaptado de foodsafetybrazil.org 8 9 Vegetais in natura Alimentos Regulamentados pelo MAPA Produtos Exclusivamente de origem animal Carne e Derivados Leite e Derivados Ovos e Derivados Mel e Derivados Pescados e Derivados Bebidas em Geral Não-Alcoólicas Alcoólicas Fermentadas Figura 2 – Estrutura de regulamentação MAPA Fonte: Adaptado de foodsafetybrazil.org Rotulagem Com o crescimento da industrialização de alimentos e do desenvolvimento de novos produtos, o que tornou a área alimentícia extremamente diversificada, ques- tões sanitárias e legislações se tornaram necessárias do ponto de vista de controle e de segurança alimentar. De acordo com o Decreto Lei Federal nº 986/69 – Normas Básicas sobre ali- mentos, o rótulo pode ser definido como: “Toda a inscrição, impressão, legenda, imagem, com texto escrito ou desenho, que esteja impresso, afixado, estampado, gravado, carimbado ou colado na embalagem do alimento”. Já o processo de rotulagem é o “Processo por meio do qual se estabelece uma linha de comunicação entre as empresas produtoras de alimentos e os consumidores que desejam maiores informações sobre os produtos que estão comprando”. Os rótulos trazem informações importantes como em que consiste o produto, o modo de preparo, a composição, o valor energético etc. Você pode estar se perguntando se realmente existe a necessidade de controle e de legislações para um item que tem apenas a função de identificar o alimento. Pois bem! Para entendermos as Legislações e todo o racional sanitário por trás do rótulo, é importante considerar dois aspectos importantes que envolvem a neces- sidade de rotulagem adequada nos alimentos: 9 UNIDADE Aspectos Bromatológicos • Aspecto legal: normas legais, fiscalização por órgãos sanitários, normas de Saúde Pública e de defesa ao consumidor atuando para garantir a qualidade e segurança e a confiabilidade do alimento; • Aspecto comercial: permite o reconhecimento do produtor por parte do con- sumidor e permite que haja outras opções de marcas para determinado produto. Aspecto comercial, disponível em: https://bit.ly/3nawuHF Conhecendo a Legislação Existem várias Normas, Portarias e Resoluções com a finalidade de regulamentar a área alimentícia. Vamos conhecer algumas delas. RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002: é uma regulamentação geral, caso o alimento apresente características particulares, normas mais específicas terão de ser aplicadas juntamente com esta. Estabelece as regras básicas de elaboração de um rótulo para produto alimentício, sendo que o não cumprimento implica infração sanitária sujeita à penalidade prevista por Lei: 3.1. Os alimentos embalados não devem ser descritos ou apresentar rótulo que: a) utilize vocábulos, sinais, denominações, símbolos, emblemas, ilustra- ções ou outras representações gráficas que possam tornar a informação falsa, incorreta, insuficiente, ou que possa induzir o consumidor a equívo- co, erro, confusão ou engano, em relação à verdadeira natureza, compo- sição, procedência, tipo, qualidade, quantidade, validade, rendimento ou forma de uso do alimento; b) atribua efeitos ou propriedades que não possuam ou não possam ser demonstradas; c) destaque a presença ou ausência de componentes que sejam intrínse- cos ou próprios de alimentos de igual natureza, exceto nos casos previs- tos em Regulamentos Técnicos específicos; d) Ressalte, em certos tipos de alimentos processados, a presença de componentes que sejam adicionados como ingredientes em todos os ali- mentos com tecnologia de fabricação semelhante; e) ressalte qualidades que possam induzir a engano com relação a reais ou supostas propriedades terapêuticas que alguns componentes ou ingredientes tenham ou possam ter quando consumidos em quantidades diferentes daquelas que se encontram no alimento ou quando consumidos sob forma farmacêutica; f) indique que o alimento possui propriedades medicinais ou terapêuticas; g) aconselhe seu consumo como estimulante, para melhorar a saúde, para prevenir doenças ou com ação curativa. 10 11 Figura 3 – Exemplo de rotulagem incorreta Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 3.2. As denominações geográficas de um país, de uma região ou de uma população, reconhecidas como lugares onde são fabricados alimentos com determinadas características, não podem ser usadas na rotulagem ou na propaganda de alimentos fabricados em outros lugares, quando possam induzir o consumidor a erro, equívoco ou engano. 3.3. Quando os alimentos são fabricados segundo tecnologias caracterís- ticas de diferentes lugares geográficos, para obter alimentos com proprie- dades sensoriais semelhantes ou parecidas com aquelas que são típicas de certas zonas reconhecidas, na denominação do alimento deve figurar a expressão “tipo”, com letras de igual tamanho, realce e visibilidade que as correspondentes à denominação aprovada no regulamento vigente no país de consumo. 3.4. A rotulagem dos alimentos deve ser feita exclusivamente nos esta- belecimentos processadores, habilitados pela autoridade competente do país de origem, para elaboração ou fracionamento. Quando a rotulagem não estiver redigida no idioma do país de destino deve ser colocada uma etiqueta complementar, contendo a informação obrigatória no idioma correspondente com caracteres de tamanho, realce e visibilidade adequa- dos. Esta etiqueta pode ser colocada tanto na origem como no destino. No último caso, a aplicação deve ser efetuada antes da comercialização.” Todo rótulo deve conter as informações obrigatórias de: • Denominação de venda do alimento; • Lista de ingredientes; • Conteúdos líquidos; • Identificação da origem; • Nome ou razão social e endereço do importador, no caso de alimentos importados; • Identificação do lote; • Prazo de validade;• Instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário. 11 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Figura 4 – Modelo de rótulo de acordo com a legislação Fonte: rio.rj.gov.br Esta norma também traz a obrigatoriedade de informar a presença de aditivos como corantes, aromatizantes e flavorizantes: • Aroma Natural Sabor de...; • Aroma Idêntico ao Natural Sabor de...; • Aroma Artificial Sabor Artificial de...; • COLORIDO E AROMATIZADO ARTIFICIALMENTE. Outras informações importantes que devem estar presentes nos rótulos e que são regulamentadas estão apresentadas. Advertências • “CONTÉM GLÚTEN” ou “NÃO CONTÉM GLÚTEN” (Lei 10.674/2003); • “CONTÉM GLÚTEN” – Lei 8.543/92 Alimentos com trigo, aveia, cevada, cen- teio, malte e/ou derivados (Celíacos); • “CONTÉM FENILALANINA” – Portaria SVS/MS 29/98 (Alimentos com Aspartame). Atenção Fenilcetonúricos; • “ESTE PRODUTO PODE TER EFEITO LAXATIVO” – Portaria SVS/MS 29/98. Alimentos com alto teor de polióis e/ou polidextrose; • “CONSUMIR PREFERENCIALMENTE SOB ORIENTAÇÃO DE NUTRICIO- NISTA OU MÉDICO” – Portaria SVS/MS 29/98. Alimentos para fins especiais. 12 13 • Qual o papel da ANVISA e do MAPA no contexto de segurança alimentar? • A fiscalização de produtos exclusivamente de origem animal é da responsabilidade de qual Órgão? • De a cordo com o Decreto Lei Federal nº 986/69, qual a definição para rotulagem? • Quais os aspectos que envolvem a importância do rótulo nos alimentos? • O que a RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002 diz sobre informações de determinado produto que possam ser utilizadas de forma a induzir o consumidor a comprar um produto acreditando nas propriedades terapêuticas? • Cite 4 frases de advertência que devem estar presentes nos alimentos. Alterações dos Alimentos Os alimentos estão sujeitos a sofrerem alterações na sua composição química, sabor, textura, cor, odor e valor nutricional. E essas alterações podem ser desejáveis ou indesejáveis. Nesse último caso, essas alterações podem levar o alimento a ser tornar impró- prio para consumo. Podemos classificar os alimentos em três grandes grupos de acordo com o potencial de perecibilidade de cada um. Esse potencial está relacionado, também, ao teor de água presente no alimento: • Perecíveis: são alimentos com alto potencial de perecibilidade, e precisam de baixas temperaturas para sua conservação, ou seja, refrigeração. São eles: frios, carnes, peixes, frango, ovos, leite e derivados; • Semi-perecíveis: são alimentos com médio potencial de perecibilidade, ou seja, deterioram-se rapidamente, porém levam mais tempo que os alimentos perecí- veis. Em geral, apresentam uma barreira física ou química que contribui para sua conservação como a casca por exemplo. Nabo, cenoura, batata, beterraba, nozes e tubérculos; • Não-perecíveis: são alimentos com baixo teor de água em sua composição e apresentam baixo potencial de perecibilidade. Podem ser armazenados à tempe- ratura ambiente. Grãos em geral (milho, feijão, arroz, soja), cereais, óleo, farinha de trigo, fubá, leite em pó, café, sal, açúcar, macarrão, achocolatado em pó são exemplos de alimentos não perecíveis; Seguindo esse raciocínio, podemos entender que os alimentos perecíveis e os se- mi-perecíveis, geralmente, estão mais susceptíveis a sofrerem alterações indesejadas. 13 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Vejamos, agora, os tipos de reações que podem ocorrer nos alimentos: Alteração dos Alimentos Ação Enzimática Reações Químicas Ação Microbiana Ação Macrobiana Ação Física Figura 5 Ação Microbiana As alterações nos alimentos causadas por ação microbiana estão relacionadas a fatores intrínsecos do alimento e extrínsecos, que afetam diretamente o desenvolvi- mento microbiano. Pensando nos fatores intrínsecos dos alimentos, podemos citar: teor de água (atividade de água), pH, constituintes do alimento e presença ou ausência de antimi- crobianos presentes no alimento. Já os fatores extrínsecos dizem respeito ao ambiente em que o alimento se encontra. Podemos pensar na temperatura, na umidade e na atmosfera. Esses fatores combinados podem favorecer o crescimento microbiano e isso resul- tará na deterioração mais rápida do alimento, tornando-o impróprio para consumo. Podem ser notadas alterações de viscosidade, cor, odor, sabor, como resultado da ação dos micro-organismos. Figura 6 – Frutas em decomposição Fonte: Adaptado de Getty Images 14 15 Figura 7 – Vegetais próprios e impróprios para consumo Fonte: sap.sp.gov.br Figura 8 – Alimentos próprios e impróprios para consumo Fonte: sap.sp.gov.br Ação Enzimática As enzimas desempenham diversas funções importantes, tanto no organismo quanto nos alimentos. No contexto de deterioração, as enzimas são responsáveis por promover altera- ções características, como: sabor amargo (hidrólise de proteínas), amolecimento ou abrandamento da textura (hidrólise péctica) e rancificação (hidrólise lipídica) e escu- recimento enzimático. O escurecimento enzimático é um tipo de alteração que facilmente observamos no cotidiano. Provavelmente, você já cortou uma maçã, deixou uma das metades exposta e percebeu que após algum tempo a superfície estava escurecida (Figura 9). 15 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Figura 9 – Escurecimento enzimático Fonte: Getty Images Isso ocorre porque uma série de reações acontecem como mecanismo de defesa quando o tecido vegetal é exposto ao oxigênio atmosférico. Essas reações são mediadas pela Enzima Polifenol Oxidase (PFO). O nível do es- curecimento varia de acordo com a concentração de PFO presente nas frutas. Esse tipo de alteração é muito comum nas frutas tropicais e acaba sendo respon- sável pela perda de cerca de 50% das frutas por conta da apresentação imprópria para comercialização e consumo pois leva à alteração de sabor e nutricional: Figura 10 – Escurecimento enzimático Fonte: Getty Images Reações Químicas Entre as reações químicas que promovem alterações nos alimentos, podemos destacar a rancificação de gorduras, que se trata da oxidação lipídica em presença do oxigênio. Essa oxidação ocorre nos lipídeos insaturados: quanto maior o número de insatu- rações, maior o potencial de rancificação dessa gordura. Fatores como temperatura e exposição à luz aceleram esse processo. Outra reação química que podemos destacar é o escurecimento não enzimático (reação de Maillard). Nesse tipo de reação, temos a condensação do carbono redutor de um açúcar com o grupo amina proveniente dos aminoácidos, como produto dessa reação. 16 17 Temos a formação de pigmentos escuros de diferentes formas e composições que podem ser chamados de uma forma geral de melanoidinas. Essa reação é influenciada pelo pH e temperatura e, nutricionalmente, a perda está relacionada aos aminoácidos. Por fim temos a reação de caramelização. Ação macrobiana São alterações causadas por insetos e roedores. Normalmente, as marcas e as alterações são visíveis e tornam o alimento completamente impróprio para consumo. A presença desse tipo de alteração é um indicador sanitário. Indica alerta para a pre- sença de pragas urbanas ou não no local de produção, armazenamento ou transporte. Ação Física São alterações decorrentes de agentes físicos externos como temperatura e clima (frio, calor extremo, chuva intensa, desidratação), impacto mecânico (batidas, que- da, sobrecarga). • Todos os alimentos estão sujeitos a sofrerem algum tipo de alteração. Cite as 5 principais alterações observadas nos alimentos; • Tanto a ação macrobiana quanto a ação física envolvem fatores externos ao alimento. Qual deles serve como indicador sanitário? • Explique a formação do pigmento melanoidina na reação de escurecimento não enzimático (Reação de Maillard); • Qual a diferença entre o escurecimento não enzimático e o enzimático? Fraudes e Falsificações Todas as alterações que vimos anteriormente estão relacionadas ao próprio ali- mento, ou seja, são alterações naturais em resposta à agressão externa, sejade ori- gem física, microbiológica, macrobiana ou química. Quando falamos de fraude e falsificação, estamos falando de crimes intencionais que colocam em risco a vida de pessoas e são caracterizados como Crime, contra a Saúde Pública de acordo com o Código Penal (Lei nº 9.677, de 2.7.1998): Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios (NR) Art. 272. Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou pro- duto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: (NR) 17 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.(NR) § 1º-A. Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. § 1º. Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. (NR) De acordo com o FDA (Food and Drug Administration), fraude alimentar: “É um termo coletivo usado para abranger a substituição intencional, adição, adulteração de alimentos, ingredientes ou embalagens; ou declarações falsas ou enganosas feitas sobre um produto, para ganho econômico. A fraude alimentar envolve a adulteração motivada economicamente (EMA) (MOYER, 2011). O escândalo da “Operação a carne é fraca” em 2017, despertou a atenção de todo o país para o alerta de fraude de produtos de carne em larga escala, envolvendo grandes Frigoríficos. Disponível em: https://bit.ly/2HGxQcP Adulteração Pode ocorrer em 3 níveis: por adição, substituição ou remoção. A adulteração do leite é muito comum, e pode ocorrer de diferentes formas, como, por exemplo, na adição de peróxido de hidrogênio (água oxigenada), para mascarar falhas de origem. Também pode acontecer a adição de melanina para mascarar a deficiência de pro- teínas ou para aumentar o valor durante a análise por determinação de nitrogênio. A redução do teor de gordura no leite integral também se enquadra nesse caso. Podem ser adicionadas outras substâncias para manter a viscosidade do leite e mas- carar a redução do percentual de gordura, que pode ter sido eventualmente removido para ser utilizado na produção de outros alimentos. Além disso, podem ser adicionadas substâncias alcalinas, como o hidróxido de sódio para reduzir o título de acidez do leite para mascarar a fermentação bacteriana no caso de contaminações. No caso do mel, a forma mais utilizada de adulteração é obtida a partir do caldo de cana-de-açúcar “apurado” no fogo para engrossar. A aparência dessa mistura é melhorada pela adição de iodo (cor) e pela adição de aditivos químicos (viscosidade) (ROSSI et al., 1999). Já nos produtos de carne, um tipo de adulteração muito comum é o que ocorre com a salsicha. É adicionado nitrito de sódio e água, para aumentar o peso do pro- duto. Então, o consumidor está comprando água e não carne. Adulteração por adição de corantes para mascarar o estado de decomposição de carnes ou para mascarar o tipo de carne também ocorre em pescados. 18 19 De a cordo com o Food Science Journal, a seguir, temos alguns dos principais alimentos que são alvo de adulterações: Tabela 1 Alimento Adulterante Café Milho, cevada e centeio, fubá e caramelo. Açafrão Amido, corante e gelatina. Azeite Óleo de milho, óleo de avelã e óleo de palma. Mel Xarope de milho, glicose e frutose. Leite Água oxigenada e soda cáustica. Suco de maçã Arsênio, xarope de milho, adoçante sintético e ácido málico. Fonte: Adaptado de pet.agro.ufg.br Adulteração Intencional A contaminação contaminação deliberada ou proposital de alimentos para consumo humano ou animal através de agentes químicos, biológicos, radiológico ou físico por um indivíduo ou grupo de indivíduos tem o objetivo de causar danos ou morte em popula- ções civis, ou alterar a ordem social, econômica ou política estabelecida (FDA, 2019). A falsificação de alimentos entra na mesma classe de crimes que a adulteração. A diferença é que o alimento ou sua embalagem ou informações contidas são falsas. Em outras palavras, é quando se compra “gato por lebre”. Isso mesmo: o produto oferecido é totalmente diferente do que está especificado no rótulo. Veja o caso a seguir, no qual a Polícia Federal apreendeu 110 toneladas de leite em pó adultera- do (com teor proteico reduzido) e que eram comercializadas com rótulos falsos (30 mil encon- trados) de grandes Empresas conhecidas no Mercado. Disponível em: https://bit.ly/2HRPdYn Alimentos Funcionais Atualmente, existe uma grande preocupação com o cuidado alimentar. Este inte- resse na alimentação saudável vem ganhando espaço no Mercado alimentício. Mas afinal, o que são alimentos funcionais? Bem, de acordo com RDC 18 de 30 de abril de 1999: Alegação de Propriedade Funcional: é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desen- volvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano; Alegação de Propriedade de Saúde: é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à saúde. 19 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Com o avanço do estudo dos alimentos, diversas informações sobre a funcionali- dade de diferentes ingredientes e alimentos motivando a produção e comercialização de alimentos com a alegação de “funcional” se for satisfatoriamente demonstrado que ele afeta beneficamente uma ou mais determinadas funções no corpo, além dos efeitos nutricionais adequados, de um modo que seja relevante para um estágio melhorado de saúde e bem-estar e/ou redução de risco de doença. Um alimento fun- cional deve permanecer alimento e deve demonstrar seus efeitos em quantidades na dieta que podem ser esperadas de um consumo normal: não é uma pílula ou cápsula, mas parte do padrão alimentar normal” Como vimos, o alimento funcional é aquele que contribui para a manutenção de processos fisiológicos do organismo. Para que o alimento seja comercializado com essa indicação, é necessário que haja uma comprovação científica. A mesma RDC 18/1999, esclarece essa questão: 3.2 O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde pode, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervi- são médica. 3.3. São permitidas alegações de função e ou conteúdo para nutrientes e não nutrientes, podendo ser aceitas aquelas que descrevem o papel fisiológico do nutriente ou não nutriente no crescimento, desenvolvimen- to e funções normais do organismo, mediante demonstração da efi- cácia. Para os nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela comunidade científica não será necessária a demonstração de eficácia ou análise da mesma para alegação funcional na rotulagem. 3.4. No caso de uma nova propriedade funcional, há necessidade de comprovação científica da alegação de propriedades funcionais e ou de saúde e da segurança de uso, segundo as Diretrizes Básicas para Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos. Exemplo de alimento funcional, disponível em: https://bit.ly/3l3WiU3 • Qual a diferença entre as alterações nos alimentos que são resultado da fraude ou da falsi- ficação e as alterações encontradas, como a rancificação de gorduras? • Qual a definição de fraude, de acordo com o FDA? • De quais formas um alimento pode ser adulterado? • Dê um exemplo de um alimento falsificado; • O que é necessário para que um alimento seja caracterizado como funcional? • Qual a diferença entre “Alegação de Propriedade Funcional e Alegação de Propriedade de Saúde”? 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Uso de corantes artificiaisem alimentos: legislação brasileira https://bit.ly/3cRM0DJ Análise da adulteração de méis por açúcares comerciais utilizando-se a composição isotópica de carbono ROSSI, N. F. et al. Análise da adulteração de méis por açúcares comerciais utilizando- se a composição isotópica de carbono. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 19, n. 2, p. 199-204, May 1999. https://bit.ly/3cQZ5gf Diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos RDC 18, de 30 de abril de 1999. Diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Brasília: Ministério da Saúde/MS Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 1999 https://bit.ly/3ncXoyI Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados. Brasília: Ministério da Saúde/MS Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 2002. https://bit.ly/2Sgaaya 21 UNIDADE Aspectos Bromatológicos Referências BOBBIO, F. O.; BOBBIO, P. A. Introdução à química de alimentos. 3.ed. São Paulo: Varela, 2003. Competência pela inspeção e regulamentação de alimentos. Disponível em: <https://foodsafetybrazil.org/competencia-pela-inspecao-e-regulacao-de-alimentos- -mapa-ou-anvisa>/. Decreto Lei Federal nº 986/69 de 21 de outubro de 1969. Institui normas bási- cas sobre alimentos. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- -lei/Del0986..htm>, Acesso em: 25/09/2020. FDA. Draft Guidance for Industry: Mitigation Strategies to Protect Food Against Intentional Adulteration. Disponível em: <https://www.fda.gov/media/113684/ download>. Lei nº 9.677, de 2.7.1998. Código Penal Brasileiro. Brasília: Presidência da Repú- blica, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9677.htm>. Acesso em: 26/09/2020. RDC nº 27 de 6 de agosto de 2010. Dispõe sobre as categorias de alimentos e em- balagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário. Brasília: MS/Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 2010. Disponível em: <http://bvsms. saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2010/res0027_06_08_2010.html>. Acesso em: 27/09/2020. RDC n° 43, de 1°de setembro de 2015. Dispõe sobre: A prestação de serviços de alimentação em eventos de massa. Brasília: MS/Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 2015. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-/as- set_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/32825363/do1-2015-09-02-resolucao- -rdc-n-43-de-1-de-setembro-de-2015-32825340>. Acesso em: 27/09/2020. RDC nº 23, de 15 de março de 2000. Dispõe sobre: O Manual de Procedimentos Básicos para Registro e Dispensa da Obrigatoriedade de Registro de Produtos Per- tinentes à Área de Alimentos. Brasília: MS/Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 2000. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvi- sa/2000/rdc0023_15_03_2000.html>. Acesso em: 25/09/2020. RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002, Ministério da Saúde. Dispõe sobre Rotu- lagem de Alimentos Embalados. Brasília: MS Agência Nacional de Vigilância Sanitá- ria – ANVISA, 2020. Dispoível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/912/o/ resoluo_rdc_n_259_2002_-_rotulagem_em_geral.pdf>. Acesso em: 28/09/2020 ROSSI, N. F. et al. Análise da adulteração de méis por açúcares comerciais utili- zando-se a composição isotópica de carbono. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 19, n. 2, p. 199-204, maio 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scie- lo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20611999000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 11/03/2020. 22
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