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QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES AULA 1 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Vamos falar sobre um ator muito importante na cadeia de suprimentos, que são os fornecedores de produtos e serviços. Muitas empresas dependem desta relação cliente x fornecedor para entregar produtos e serviços com qualidade. Para isso, se torna necessário realizar a gestão de fornecedores para que a empresa fornecedora tenha consciência das necessidades de seus clientes para que, em função dessas, possa definir os critérios de qualidade de seus produtos e serviços. Com o objetivo de manter a produtividade e qualidade nos produtos e serviços, as empresas desenvolvem métodos de qualificação de fornecedores que informem requisitos de confiabilidade, qualidade, rapidez, custo e flexibilidade. É isso que se espera para manter um fornecedor por um longo tempo na empresa, buscando reduzir o número de cancelamentos de contratos, que geram desperdícios de custos e tempo. Por isso, espera-se manter uma relação de parceria entre clientes e fornecedores que permita redução de custos de compras por meio da eliminação de atividades que não agregam valor. Vamos entender a evolução do mercado fornecedor e consumidor, navegando pela dinâmica do processo de compras. Também será apresentada a problemática da seleção de fornecedores, e o porquê e como avaliá-los para criar um cadastro de fornecedores. Ao final, você terá entendimento maior sobre o processo introdutório sobre qualificação de fornecedores. Poderá utilizar esses conceitos em sua rotina e ajudar as organizações a estruturar um processo de qualificação de fornecedores. Bons estudos! TEMA 1 – EVOLUÇÃO DO MERCADO A revolução na área industrial no começo do século XVIII, foi marcado com a substituição das pequenas empresas ainda quase artesanais, que fabricavam muitas vezes um único produto e eram voltadas para o mercado regional. O surgimento da produção em massa trouxe ganhos de produtividade para as empresas, acompanhados por grandes reduções nos custos unitários de produção, conforme experimentado por Henry Ford no conceito da linha de 3 montagem. Na Figura 1, é possível observar um modelo de linha de produção do ano de 1920. Figura 1 – Linha de produção Crédito: Everett Collection/Shutterstock. Muitos ganhos foram obtidos por meio da diluição dos custos fixos da indústria devido um volume de produção cada vez maior que, somados as reduções dos custos variáveis, obtidos através das melhorias nos processos de produção, representam as economias de escala que viabilizaram o crescimento das empresas. Deste modo, houve a necessidade de contratar mais mão-de-obra e com isso ocorre o surgimento das grandes empresas com alto grau de verticalização, em que encontram pessoas em vários pontos da cadeia de suprimentos, desde os recursos ou a matéria-prima até o produto acabado. De acordo com Dias (2013), a verticalização é uma estratégia que prevê que a empresa produzirá internamente tudo o que for possível, ou pelo menos tentará produzir. Foi dominante no início do século, quando as grandes empresas produziam quase tudo o que utilizavam nos produtos finais. É 4 denominada como uma estratégia em que a empresa “faz tudo”. Este conceito era resultante da preocupação em manter o controle sobre as tecnologias de processo, de produtos e negócios (segredos industriais), entre outras. Um exemplo disso era a fábrica da Volkswagen em Anchieta-SP nos anos 50, que possuía uma panificadora que produzia 50 mil pães por dia, para alimentar seus colaboradores nos refeitórios. Ela, além de produzir os veículos, precisava se preocupar em fazer alimentos. Isso representa um alto grau de verticalização do processo. De acordo com Britto (2002), a decisão de verticalização deve envolver a análise dos seguintes fatores. • Condicionantes de ordem técnica: como os desequilíbrios entre os diferentes estágios de produção e a interdependência e interconexão entre as atividades. • Condicionantes referentes a eficiência econômica: como a redução de custos ganhos de eficiência e aumento dos níveis de segurança. • Condicionantes relativos ao processo competitivo da indústria: uma vez que a integração vertical gera uma proteção contra a concorrência de novos produtores, reforçando as barreiras de entrada. Para Hayes e Wheelwright (1994), no que se refere a estratégia de integração vertical de uma empresa, há o envolvimento de decisões relacionadas a três aspectos importantes. • Direção da expansão: que pode ser em direção ao fornecimento, assumindo o controle de seus fornecedores, denominada de integração vertical a montante ou para trás (upstream), ou em direção a demanda, denominada integração vertical a jusante ou para frente (downstream), em que a empresa se aproxima de seus clientes. A integração a montante tem a clara intenção de redução de custos, sendo definida como defensiva, e a integração a jusante tem como propósito um maior contato com o mercado, sendo definida como ofensiva. • Amplitude necessária: significa definir até que ponto a integração ocorrerá em uma direção definida, seja a montante ou a jusante. A amplitude define o grau de verticalização da atuação da empresa, conforme Figura 2. 5 Figura 2 – Direção e amplitude do processo de integração vertical de uma operação de montagem Fonte: Elaborado com base em Slack (1997). • Equilíbrio entre as etapas verticalmente integradas: representa a definição de comportamento da organização em relação a capacidade de unidades integradas. Estabelecendo o nível da capacidade de cada etapa fornecer a etapa seguinte. Este grande número de atividades realizado internamente trouxe problemas gerenciais devido ao aumento do porte das empresas, e atividades que não eram ligadas diretamente ao negócio principal, trazendo consequências como a perda da eficiência, aumento do custo de produção. A horizontalização passou a ser uma opção para manter a competividade das empresas. Esta é uma estratégia de comprar de terceiros (fornecedores) o máximo possível dos itens que compõe o produto final ou os serviços dos quais necessita. Atualmente, as empresas preferem a horizontalização, sendo o setor de terceirização (outsourcing) um dos que mais se expandem no mercado. De maneira geral, não se terceiriza os processos fundamentais (core business), por questões de detenção tecnológica, qualidade do produto e responsabilidade final sobre ele. O objetivo desta estrutura organizacional é que a empresa possa se concentrar em um conjunto limitado de tarefas operacionais e gerenciais, constituindo uma rede de fornecedores competentes – outsourcing interno e global sourcing. Pode ser definida como uma estratégia em que a empresa “faz bem algumas coisas” (Francischini; Gurgel, 2016). Sabendo das diferenças entre as duas estratégias, a empresa deverá analisar qual delas se adequa melhor ao seu contexto e necessidades, neste 6 momento vem a questão: Comprar ou fazer? Na Figura 3, podemos observar essa encruzilhada de decisão que a empresa necessita optar. Figura 3 – Decisão de fazer ou comprar? Fonte: Vieira, 2022. Existem algumas vantagens e desvantagens nessas estratégias, que serão descritas no Quadro 1. Quadro 1 – Vantagens e desvantagens da verticalização e horizontalização Vantagens Desvantagens Verticalização - Independência de terceiros; - Maiores lucros; - Melhor controle de qualidade; - Domínio sobre tecnologia própria - Maior investimento; - Menor flexibilidade; - Aumento da estrutura da empresa; - Perda de foco. Horizontalização - Possibilidade de redução de custos; - Flexibilidade para definir volumes de produção; - Incorporação de novas tecnologias; - Foco no principal produto da empresa. - Menor controle tecnológico;- Riscos na qualidade; - Dependência de terceiros. Fonte: Elaborado com base em Marques (2019). 7 O modo que as organizações se relacionam com seus fornecedores é um tema que vem ganhando importância em várias áreas de estudos. A grande quantidade de itens comprados pelas organizações, comparando com os itens produzidos por elas, o aumento da quantidade de processos terceirizados e os impactos sobre a qualidade, financeiro e imagem da empresa compradora, mostra a importância de um eficaz processo de gerenciamento de fornecedores dos produtos e serviços adquiridos. A decisão sobre comprar ou fabricar é uma dúvida persistente para as empresas. Isso se trata de um assunto largamente discutido no âmbito empresarial. Essa discussão tem ganhado espaço em razão das decisões que precisam ser tomadas em relação a terceirização ou não dos itens que não são negócio principal da empresa. A decisão para saber se é viável comprar ou fabricar determinados itens incluem aspectos econômicos. Quando determinado item é candidato para ser produzido internamente, a empresa demonstra capacidade suficiente para produzi-lo; quando o valor do item se apresenta demasiadamente elevado para cobrir todos os custos variáveis de produção, além de contribuir com os custos fixos, a empresa pode optar por adquiri-lo externamente (Novaes, 2017). TEMA 2 – A DINÂMICA DE COMPRAS E DO MERCADO FORNECEDOR De acordo com Gonçalves (2013), um diagnóstico preliminar já demonstra que, nos setores de compras, há uma falta de atitudes prospectivas com uma visão estratégica, em vez de uma atuação, como ocorre com frequência, de buscar o possível a cada instante, em uma característica situacional de “bombeiro” que vive apagando “incêndios”, em vez de estudar e analisar a evolução dos mercados, sua conjuntura, com o objetivo de dominar a dinâmica dos eventos futuros. Muito raramente, observa-se que se tem reservado tempo para o planejamento das aquisições e prospecção de fornecedores tanto de materiais quanto de serviços. É importante quebrar o paradigma da administração de compras a crença de que a eficácia de sua atuação se baseia no impacto de operações espetaculares, em que se obtêm preços aparentemente mais vantajosos. O que se deve procurar com muito esforço, é a construção de uma eficácia de longo prazo, talvez menos visível em um primeiro instante, mas, muito mais rentável. A compra pelo menor preço muitas vezes é um ato ilusório, pois: 8 • não sendo todas as compras negociadas com o mesmo cuidado, o ganho de uma será fatalmente perdido em outra aquisição; • os fornecedores têm uma tendência natural de melhor servir os bons clientes em detrimento dos demais. Obviamente, toda transformação produz ameaças as nossas crenças, valores, empregos, ambiente social etc., do mesmo modo que aconteceu na explosão da Revolução Industrial. Com a evolução das empresas, essas sofrem pressões diversas. • Pressões externas: são caracterizadas por uma competição acirrada, envolvendo a possibilidade de intervenção do Estado na economia; exigência do mercado consumidor; problemas relacionados com seus clientes, acionistas e empregados; pressões por alterações ecológicas; entre outras. • Pressões internas: surgem a partir do momento em que a administração deixa de aproveitar novas oportunidades de negócios ou a expansão do negócio atual. Não tendo uma visão estratégica, a empresa é pouco ágil às mudanças que ocorrem e fatalmente perde a corrida na competição. Muitas ameaças estão sempre presente no contexto das empresas, que precisam ser claramente identificadas e diagnosticadas para um perfeito equacionamento da dinâmica de suprimentos dos materiais e serviços e as articulações com fornecedores e demais atores envolvidos no processo, na Figura 4 podemos observar essas ameaças. Figura 4 – Ameaças no contexto das empresas Fonte: Elaborado com base em Gonçalves (2013). 9 • Ameaças naturais: sabe-se que as matérias-primas existentes em abundância na natureza não são inesgotáveis, assim como as modificações climáticas poderão produzir efeitos desastrosos para as economias dos países e suas empresas. • Ameaças políticas: devido a intervenções do Estado na economia e no sistema jurídico dos países que são normalmente criadas com a finalidade de obtenção de um benefício direto ou indireto. • Ameaças financeiras: diante das flutuações bruscas de moedas fortes, com probabilidade de surgimento de riscos financeiros com seus impactos no comércio internacional. • Ameaças dos mercados: em face as altas de preços, oscilações nos preços das comodities, políticas protecionistas de alguns países e mesmo a internacionalização dos mercados. • Ameaças tecnológicas e dos avanços industriais: as modificações profundas na natureza da concorrência por meio da automação e da modernização dos parques industriais. Exigências de produtos com qualidade sem agredir o meio ambiente; com o consequente desaparecimento de empresas marginais, aceleração das fusões e aquisições e o crescimento das falências e concordatas. O impacto dessas ameaças é de tal ordem que o uso de métodos tradicionais de análise se mostrou ineficaz. Tornou-se obrigatório rever estratégias de suprimentos a partir da implementação de técnicas mais apropriadas, em que o estudo do mercado fornecedor vise a permitir que o ato de comprar seja focado, desde o recebimento da manifestação da necessidade de compra até o fechamento do contrato de fornecimento. 10 Crédito: Wright Studio/Shutterstock. Realizar a caracterização do mercado fornecedor é estabelecer uma fonte de suprimentos constituída por um encontro econômico, em que se defrontam compradores e fornecedores, com o objetivo de formalizar contratos de fornecimento. Essa caracterização tem por objetivo traçar um cenário da empresa no contexto do mercado que a supre, bem como seu potencial e suas fraquezas. 2.1 Procurement Esse novo enfoque está concebido sob a ótica de uma ação modificadora, envolvendo uma análise das atividades internas e as ameaças e atividades do mercado aplicáveis ao suprimento dos itens mais importantes no médio e longo prazo. O termo Procurement muitas vezes é confundido com o Compras, mas é algo que engloba mais elementos da cadeia de suprimentos e dispões de diversas ferramentas de suporte, não apenas o ato de fazer o pedido de compras e adquirir os produtos ou serviços. 11 Crédito: Dapitart/Shutterstock. O Procurement envolve as atividades que são executadas de acordo com fundamentos e diretivas preestabelecidas, que se iniciam em estratégia até chegar maduras para tática, tais como: • Pesquisa de mercado (inteligência); • Avaliação de fornecedores(auditoria e indicadores); • Negociação de contratos (modelos de custos); e • Atividades de compras. O Procurement busca sincronizar todas as partes interessadas internas e externas da empresa para que os profissionais de compras envolvidos possam expandir suas áreas de conhecimentos e práticas. Migrar para este conceito não é um item mandatória, pois, dependendo como a empresa interpreta, o papel do departamento de compras difere de uma para outra, baseado na sua história e cultura. É importante saber que existe este avanço no conceito na gestão de aquisição de produtos e serviços, para saber qual direção seguir, buscando ser mais competitivo no mercado (Setti Jr., 2014) TEMA 3 – A PROBLEMÁTICA DA SELEÇÃO DE FORNECEDORES Como a atividade de compras é uma operação estratégica para as organizações, emerge o problema da seleção de fornecedores. Sabe-se que no atual ambiente operacional competitivo é difícil produzir com sucesso e baixo custo, produtos e serviços com alta qualidade, sem fornecedores satisfatórios. 12 Desse modo, uma das decisões com grande importância do setorde compras é a seleção e manutenção de um grupo competente de fornecedores. Segundo Kirytopoulos et al. (2008), a escolha de um fornecedor está cada vez mais sendo reconhecida como uma decisão crítica para a gestão da cadeia de suprimentos, pois se tornou um elemento essencial para a redução de custos na aquisição de materiais e para atingir os tempos de entregas necessários. Um modelo para o apoio do problema de seleção de fornecedores foi proposto por Boer et al. (2001), conforme Figura 5. Figura 5 – Fases de seleção de fornecedores Fonte: Boer et al. (2001). Na primeira fase, acontece o entendimento do problema e da definição de questões como: quantos fornecedores serão consultados; substituição ou não dos fornecedores atuais; quantidade de pedidos para cada fornecedor, entre outros. A segunda fase diz respeito a identificação dos critérios de seleção de fornecedores. Cada organização avalia seus fornecedores por critérios diferentes, dependendo dos problemas em questão. Os critérios de seleção podem ser quantitativos ou qualitativos, encontrando-se frequentemente agrupados de acordo com a possibilidade ou não de serem traduzidos 13 numericamente. Os critérios mais utilizados para seleção de fornecedores são: qualidade, entrega, custo, reputação, relacionamento, risco, segurança e meio ambiente, variando de acordo com as características e necessidades de cada empresa (Ho et al., 2010). A terceira fase diz respeito a qualificação dos potenciais fornecedores de acordo com os critérios definidos, na qual é realizada a atribuição de pesos aos diferentes critérios selecionados. Possui como objetivo eliminar os fornecedores ineficientes, reduzindo as alternativas disponíveis para um conjunto menor de fornecedores em potencial. Na última etapa, um ranking de fornecedores pré-qualificados fica estabelecida, resultando na escolha do melhor fornecedor segundo os critérios adotados nas etapas anteriores. Um fator de complexidade são as restrições políticas internas e externas que são impostas de forma implícita ou explícita no processo de compra. As restrições políticas dizem respeito a questões como: número de fornecedores, quantidades máximas e mínimas, uso de fornecedores de menor porte, compras locais, etc. Os fornecedores também podem impor restrições sobre o processo, como determinação de quantidades mínimas e máximas a serem fornecidas ou a vontade de fazer negócios com outras empresas (Weber et al., 2000). Na prática, observa-se que, nos casos de compras de rotina e de baixo valor agregado, não é utilizado um sistema formal de seleção de fornecedores, e pode-se optar por recorrer aos fornecedores habituais por um período de tempo. Nos casos de compras estratégias, a escolha do fornecedor pode se manter fixa por um longo período, por causa do elevado risco de fornecimento. Em ambos os casos, a escolha final do fornecedor passa a ser o monitoramento do desempenho dos fornecedores atuais em detrimento da seleção de novos fornecedores (Boer et al., 2001). 14 Crédito: Vectormine/Shutterstock. TEMA 4 – POR QUE E COMO AVALIAR FORNECEDORES? Em uma empresa que busca a melhoria contínua, do ponto de vista do gerenciamento de fornecedores, a cadeia de suprimentos é responsável por um alto índice de desperdício e custos que ficam ocultos. Isto é devido aos custos de estoque, onde entram os custos de inventários, espaço para estocagem, perdas de materiais por danos, obsolescência ou perecimento. As perdas por baixa qualidade de fornecedor, atrasos de entrega, trocas, retrabalhos, devoluções e outras despesas. Crédito: Naumova Marina/shutterstock. 15 A forma com que as empresas administram um crescente número de fornecedores, nacionais ou internacionais, seu risco aumenta. Mensurar e compreender a atuação de cada um de seus fornecedores é um item crítico para garantir o bom funcionamento de sua cadeia de suprimentos, e como consequência, a competitividade da empresa. De acordo com Aberdeen Group (2005) a avaliação de desempenho dos fornecedores traz diversos benefícios para a empresa, como: • ter melhor visão do desempenho de cada fornecedor; • descobrir e remover fontes de custo ocultos; • reduzir riscos; • aumentar a vantagem competitiva reduzindo seus tempos de ciclo e inventários; • ter uma visão de como extrair o melhor de sua base de fornecimento; e • alinhar práticas em si e seus fornecedores. Segundo Aberdeen Group (2005), empresas que realizam avaliação sistemática de seus fornecedores normalmente aumentam suas métricas de desempenho em 20% (qualidade, custo e entregas no prazo). A forma como o fornecedor será avaliado vai depender do tipo de produto que será adquirido. Itens que são considerados críticos, seja por valor, importância para o produto final, tempo de entrega ou complexidade tecnológica, exigem uma avaliação mais criteriosa. Itens que são mais simples e com baixo custo requerem apenas a análise de preços e do histórico do fornecedor. Crédito: ESB Professional/shutterstock. 16 A intenção da avaliação dos fornecedores é verificar se tem capacidade de suprir os itens adquiridos pela empresa atendendo os critérios estabelecidos. Uma vez sendo aprovado como fornecedor, passará a ser avaliado pela conformidade do fornecimento em si. Por meio dos dados obtidos por avaliações periódicas, se pode traçar tendências e identificar fatores que requerem correções. Usualmente esta avaliação é realizada através de inspeções de recebimento de materiais e são analisados: • Pontualidade na entrega; • Quantidade fornecida; • Qualidade; • Preço de compra; e • Documentação. Com a inspeção de recebimento, é possível gerar indicadores para classificar o desempenho dos fornecedores. Esta classificação pode variar de acordo com a empresa, tendo como exemplo ótimo, bom, regular e insatisfatório. Os fornecedores devem ser sempre comunicados de seu desempenho, para que possam tomar as medidas corretivas e preventivas necessárias. No entanto, avaliar fornecedores pode vir a ser um trabalho caro e ineficiente se não for realizado de maneira adequada. Do ponto de vista analítico, muitas abordagens são incapazes de suprir a compreensão necessária a tomada de decisão e aumento de performance. Elas tendem a fornecer somente resultados e métricas pós-fato ao invés de identificar as causas-raízes dos problemas e desempenho, sem as quais fica difícil implementar ações de melhoria de desempenho. Conhecer o desempenho dos fornecedores pode tanto ajudar a prevenir problemas como facilitar a melhoria deste desempenho. TEMA 5 – CADASTRO DE FORNECEDORES Um banco de dados com cadastros de fornecedores é uma ferramenta importante para o setor de compras. É a partir dele que se inicia o processo de busca de alguém que possa suprir as necessidades da empresa compradora. É importante ter em mente que o ato de comprar produtos ou serviços é uma tarefa complexa e exige conhecimento a respeito do objeto da compra, como: especificações, padrões, normas aplicáveis, critérios e inspeção e aceitação, até uma extensa busca de fontes de suprimento que garantam o fornecimento do produto desejado, no tempo certo e quantidade desejada (Gonçalves, 2013). 17 Quando uma empresa fecha um contrato de fornecimento de um produto ou serviço, com determinada empresa fornecedora, se busca um parceiro de negócios e não comprar um problema. Por isso, os fornecedores de grandes empresas, são na verdade parceiros delas. Por meio de alianças estratégicas visando a objetivos comuns é que se pode garantir a qualidade, tempestividade e regularidade no suprimento dos produtos e serviços, consequentemente, a sobrevivência da empresa no mercado. Crédito: Fizkes/Shutterstock. Com a globalização da economia, é possível ter uma diversificação no leque de possibilidadesde fornecedores – fato esse que deve ser levado em consideração devido a viabilidade e flexibilidade de encontrar, nas transações comerciais, parceiros de diversas partes do mundo. Saber identificar os fornecedores de produtos e serviços, e conhecer suas potencialidades são atribuições do departamento de compras. Por isso, ter um cadastro de fornecedores é vital para o suprimento, tanto de materiais quanto de serviços. De acordo com Dias (2009), é possível classificar os fornecedores de uma maneira genérica, conforme a seguinte divisão. • Fornecedor monopolista: são fabricantes de produtos exclusivos dentro do mercado. 18 • Fornecedores habituais: normalmente são aqueles fornecedores tradicionais que sempre são consultados em uma cotação de preços. Geralmente são os que prestam melhor atendimento, pois sabem que existe concorrência e que o volume de vendas está ligado a qualidade de seus produtos e ao atendimento ao cliente. • Fornecedores especiais: são aqueles que ocasionalmente vão fornecer serviços, mão-de-obra a até mesmo fabricação de produtos, que requerem equipamentos especiais ou produtos específicos. Em um primeiro momento, caberá ao setor responsável pelo cadastro de fornecedores, coletar informações das fontes de suprimentos disponíveis no mercado. Selecionar essas fontes detalhando-as em uma seleção das melhores fontes de fornecimento é a principal função do cadastro. Na seleção, uma série de requisitos deverá ser atendida, como: • responsabilidade; • estabilidade; • habilidade de negociação e comércio; • experiência no fornecimento do produto ou serviço procurado; e • atuação no mercado. Adicionalmente, uma classificação dos fornecedores deverá ser realizada, de acordo com critérios previamente estabelecidos pela empresa, envolvendo uma série de fatores: • tipo de produto que fabrica ou vende; • capacidade de produção ou de atendimento; • facilidade de comunicação e de relacionamento com seus clientes; e • localização geográfica; situação da fábrica. Outra maneira de classificação foi proposta por Handfield et al. (2000), que propõe uma matriz para identificar insumos estrategicamente críticos. Esses são aqueles comprados em alto volume e que apresentam alta oportunidade e alto risco para organização, conforme Figura 6. 19 Figura 6 – Matriz de portfólio de insumos Fonte: Handfield et al. (2000). De acordo com os autores, a empresa deve empregar esforços de desenvolvimento de fornecedores apenas para aqueles que se encontram no quadrante superior direito. Esse desenvolvimento dos fornecedores seria obtido por meio de atividades como: • identificação de fornecedores críticos (os que fornecem insumos localizados no quadrante superior direito da matriz); • encontro com a alta direção dos fornecedores críticos, visando estabelecer três fatores fundamentais para o processo de desenvolvimento – alinhamento estratégico, avaliação do fornecedor e profissionalismo; • definição de detalhes do acordo, com as métricas para monitoramento do sucesso do plano de desenvolvimento, marcos e prazos para implantação das melhorias, assim como a divisão de responsabilidades entre a organização e o fornecedor; e • monitoramento do andamento do projeto de melhoria e modificação de estratégias, devido a ajustes de prioridades. Com esse processo de classificação, os trabalhos de pesquisa das fontes de fornecimento serão facilitados, podendo inclusive desenvolver um banco de dados que possua um processo de dupla entrada, conforme Figura 7. 20 Figura 7 – Exemplo de banco de dados com dupla entrada Fonte: Vieira, 2022. Este tipo de banco de dados é caracterizado por disponibilizar, dado um determinado item de material, quais são seus fornecedores e, dado um determinado fornecedor, quais os materiais poderá fornecer, este processo facilita a vida do responsável pela aquisição dos itens. A análise de informações disponíveis com o objetivo de criar um cadastro de fornecedores é uma nova especialização de mercado que vem surgindo. O exercício desta nova especialidade necessita de uma base multidisciplinar, que envolve técnicas de análise econômica e financeira, métodos matemáticos e, em alguns casos, pesquisa operacional, exigindo executivos com probidade, maturidade intelectual e visão estratégica dos problemas nacionais e internacionais (Gonçalves, 2013). FINALIZANDO Estudamos sobre a evolução do mercado, diferenciando as estratégias de verticalização (fabricar) e horizontalização (terceirizar), mostrando as vantagens e desvantagens dessas duas estratégias. Vimos que a dinâmica de compras e o mercado fornecedor está presente em todas as empresas, onde decisões devem ser tomadas todos os dias para obter produtos e serviços que supram as necessidades organizacionais. A escolha de um fornecedor está cada vez mais sendo reconhecida como uma decisão crítica para a gestão da cadeia de suprimentos, pois se tornou um 21 elemento essencial para a redução de custos na aquisição de materiais e para atingir os tempos de entregas necessários. Em uma empresa que busca a melhoria contínua, do ponto de vista do gerenciamento de fornecedores, a cadeia de suprimentos é responsável por um alto índice de desperdício e custos que ficam ocultos. Por isso, é importante avaliar os fornecedores de produtos e serviços, para garantir itens no tempo, quantidade, custo e qualidade adequados as necessidades das empresas. Também vimos que ter um banco de dados com cadastros de fornecedores é uma ferramenta importante para o setor de compras. É a partir dele que se inicia o processo de busca de alguém que possa suprir as necessidades da empresa compradora 22 REFERÊNCIAS ABERDEEN GROUP. 2005. Outsourcing portions of procurement now a core strategy. 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