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Terapia Nutricional nas Doenças Hepáticas Profa. Dra. Luiza Antoniazzi Disciplina de NUTRIÇÃO CLÍNICA AVANÇADA 2020 UNIVERSIDADE PAULISTA ➢ DHGNA: depósito de lipídios nos hepatócitos, SEM consumo excessivo de álcool (<20g de etanol); ➢ Distúrbios metabólicos, especialmente a síndrome metabólica DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) NASH: nonalcoholic steatohepatitis Escore de fator de risco para DHGNA: - IMC > 28 kg/m2 - Idade > 50 a - Aumento ALT ou (2x o normal) - TG> 150 mg/dL - * alanina aminotransferase (ALT) ou TGO (transaminase glutâmica oxalacética) Excesso da ingestão calórica Obesidade Excesso de gordura dietética Oxidação hepática de AG Fluxo de AG De novo lipogênese adiponectina RI e hiperinsulinemia Esteatose hepática DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) Abordagem nutricional visa: ➢Redução do peso (controle das comorbidades→ CAUTELA) ➢Estímulo à detoxificação hepática ➢Controle da RI ➢Melhora do perfil lipídico ➢ Incentivo à alimentação saudável Recomendação TN: perda gradativa de 10% do peso corporal (em 6 meses): 25 kcal/kg/dia (ou - 500 a 1000 Kcal/d) + 6h de AF aeróbia/semana DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) Nutriente Ingestão recomendada Gordura total ≤ 30% VCT AG saturados 8-10% VCT AG monoinsaturados > 15% VCT AG poli-insaturados > 10% VCT Colesterol < 300 mg/dia Proteína Aproximadamente 15 % VCT Carboidrato Aproximadamente 55% VCT Cloreto de sódio Aproximadamente 6 g NaCl Cálcio 1000-1500 mg/dia Fibras 20-30 g/dia DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) Fibras Fontes Solúveis Pectina Maçã, casca de frutas cítricas, morango Gomas Aveia, leguminosas secas Algumas hemiceluloses Psylium Fruto-oligossacarídeos Alho, cebola, banana, tomate, alcachofra, produzido a partir da inulina, massas Insolúveis Celulose Farinha de trigo integral, feijões, ervilha, maçã, farelo, repolho, raízes, vegetais Hemicelulose tipo β Farelo, cereais, soja, grãos integrais Lignina Vegetais maduros, trigo Fontes de carboidrato: atenção com índice glicêmico dos alimentos DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) ➢ Alimentação rica em antioxidantes (não existem recomendações específicas para DHGNA) ➢ Uso de alimentos funcionais: SOJA (PTN, fibras e isoflavonóides), AVEIA (fibras solúveis) e compostos organossulfurados (como os vegetais brássicos), fontes de flavonóides. ➢ AG ômega-3: efeitos benéficos especulados ➢ Poucos estudos com uso de suplemento de ɯ-3 (óleo de peixe) → estímular o consumo de peixes ❖ Insuficiência hepática aguda (citotoxicidade ou colestase, infecção viral – hepatite B, hepatite C) ❖ Insuficiência hepática aguda fulminante (encefalopatia hepática em no máximo 15 dias após instalação da IH) ❖ Insuficiência hepática crônica (danos repetitivos ao parênquima hepático – doença de Wilson, Hemocromatose hereditária, galactosemia, cirrose, etanol, infecção viral, acúmulo de gordura citoplasmática ou doença autoimune) ❖ Insuficiência hepática aguda subcrônica (redução abrupta da função hepática em paciente com diagnóstico prévio de hepatopatia crônica) Insuficiência hepática (IH) = Lesão hepatocelular com redução da capacidade funcional ≥ 80% PACIENTE HEPATOPATA CRÔNICO ↑ risco de desnutrição Ingestão inadequada • Anorexia, náuseas, uso contínuo álcool, restrições dietéticas Má absorção/ má digestão • Colestase, doenças intestinas/pancreáticas, medicações Alterações metabólicas ↑ demanda energética • Hipermetabolismo, ↓ estoque glicogênio, alterações síntese proteica • Infecções, hemorragias, paracenteses Parâmetros nutricionais Fatores que alteram a avaliação Peso corporal Ascite, edema, diuréticos Antropometria Variações do estado de hidratação Bioimpedância Variações do estado de hidratação Proteínas séricas Dieta, drogas, má-absorção, inflamação Avaliação subjetiva global Necessidade de testar com indivíduos hepatopatas Child-Pugh, CONUT Inclui alterações das doenças hepáticas Relacionada ao prognóstico do hepatopata Índice de Risco Nutricional (IRN) • IRN = (1,519 x albumina plasmática [g/ dL]) + 41,7 x (peso atual/ peso usual). • O peso usual foi definido como o peso mais estável do paciente em seis ou mais meses anterior à avaliação. • Pontos de corte para o diagnóstico de desnutrição: • IRN > 100 - Indica ausência de desnutrição, ou seja, o paciente é bem nutrido; • IRN = 97,5 a 100 - Indica que o paciente é levemente desnutrido; • IRN = 83,5 a 97,4 - Indica que o paciente é moderadamente desnutrido; • IRN < 83,5 - Indica que o paciente é gravemente desnutrido. Índice de Maastricht (IM) • IM = 20,68 – (2,4 x albumina plasmática [g/dL]) – (0,1921 x pré-albumina [mg/dL]) – (0,00186 x linfócitos totais [células/mm3 ]) – (4 x [peso atual/peso ideal]) • O Peso Ideal (PI) para cálculo do percentual de peso ideal foi obtido pela equação: PI = 22 x (altura [m]2). • Pontos de corte para o diagnóstico de desnutrição: • IM > 0 a 3 - Indica que o paciente é levemente desnutrido; • IM > 3 a 6 - Indica que o paciente é moderadamente desnutrido; • IM > 6 - Indica que o paciente é gravemente desnutrido. Classificação de Child-Pugh INR = International Normalized Ratio Heidelbaugh e Sherbondy, 2006. Critérios de classificação de Child-Pugh Encefalopatia hepática Ausente Grau I - II Grau III - IV Albumina > 3,5 2,8- 3,5 < 2,8 Bilirrubina total < 2,0 2,0 – 3,0 > 3,0 Ascite Ausente Leve Moderada, grave ou refratária Tempo de protrombina ou INR <4 < 1,7 4-6 1,7 – 2,3 >6 > 2,3 Pontuação 1 2 3 Resultado da classificação Child A: 5-6 pontos Child B: 7-9 pontos Child C: 10-15 pontos CONUT (CONtrolling NUTritional status) Fukushima et al., 2011. Variáveis Albumina (mg/dL) ≥ 3,5 3,0 – 3,49 2,5 a 2,99 < 2,5 Escore 0 2 4 6 Linfócitos totais (cel/mL) ≥ 1600 1200 a 1599 800 a 1199 < 800 Escore 0 1 2 3 Colesterol total (mg/dL) ≥ 180 140 a 179 100 a 139 < 139 Escore 0 1 2 3 Interpretação do estado nutricional Escore total 0 a 1 2 a 4 5 a 8 9 a 12 Diagnóstico nutricional Sem desnutrição Desnutrição leve Desnutrição moderada Desnutrição grave Alterações bioquímicas Indicadores Albumina, pré-albumina, proteína carreadora de retinol Reduzida ALT (alanina aminotransferase) ou TGP (transaminase glutâmica pirúvica) Aumentada AST (aspartato aminotransferase) ou TGO (transaminase glutâmica oxalacética) Aumentada Fosfatase alcalina e a gamaglutamiltransferase (gama-GT) Aumentadas Bilirrubina total e direta Aumentada Ceruplasmina Aumentada indicando inflamação e níveis aumentados de ferritina Ferritina e Ferro Elevados podem representar inflamação e necrose Ácido úrico Elevação relacionada a inflamação, RI e DHGNA Recomenda-se investigação dos níveis plasmáticos de magnésio, zinco, cálcio, fósforo, vitamina B12 e folato, pois fornecem dados complementares sobre a adequação nutricional de micronutrientes. Terapia Nutricional Objetivos: ➢ favorecer a aceitação da dieta e melhorar o aproveitamento dos nutrientes administrados; ➢ suprir substratos energéticos suficientes para atender as necessidades orgânicas e favorecer ganho de peso; ➢ prover substratos energéticos e proteicos suficientes para controlar o catabolismo proteico muscular e visceral; ➢ garantir o quantitativo de aminoácidos adequados para manter balanço nitrogenado e a síntese de proteínas de fase aguda; ➢ prevenir a encefalopatia. Terapia Nutricional ➢Necessidades proteicas Antigamente… Fazia-se restrição de proteínas, pois pensava-se que a proteína facilitava a instalação da chamada Encefalopatia hepática. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA (EH) • Origem multifatorial • Excesso de amônia (NH₃)→ papel fundamental na ocorrência dos distúrbios associados à essa complicação Encefalopatia Hepática (EH) EH grau I - Alteração do comportamento e do ritmo sono-vigília. - Pode haver sonolência ou euforia. EH grau II - Maior predomínio da sonolência eaparecimento de flapping ou asterixe. EH grau III - Dorme a maior parte do tempo, mas responde a estímulos verbais. Confuso, voz arrastada. Asterixe evidente. EH grau IV - Paciente comatoso, podendo responder ou não a estímulos dolorosos. Asterixe ausente. Terapia Nutricional na EH ➢ Limitação da ingestão de PTN de origem animal ➢Utilização de AACR (isoleucina, leucina e valina) ➢Reduzir aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina e fenilalanina) ➢Terapia redutora de amônia (lactulose, probióticos e simbióticos) Objetivos principais: • Evitar/controlar a perda de peso • Regular produção entérica de amônia • Controlar o catabolismo proteico Proteína na EH EH grau I e II - Proteína animal (10 a 30 g/dia) e o restante de proteína vegetal EH grau III e IV - Nutrição enteral exclusiva com solução rica em aminoácidos de cadeia ramificada na proporção 3:1 (aminoácidos ramificados/aminoácidos aromáticos) Tratamento da EH baseado na redução da amônia plasmática Diminuir inflamação e evitar produção de amônia via glutamina Terapia principal: Lactulose Rifamicina Terapia complementar: Probióticos, diálise com albumina se EH grave e refratária. Terapia nutricional Aminoácidos de cadeia ramificada Estimular ciclo da ureia Suplementação com zinco Grupos de alimentos Teor reduzido de aminoácidos de cadeia aromática Teor elevado de aminoácidos de cadeia aromática Frutas Maçã, mamão, manga, goiaba - Legumes, verduras Brócolis, couve-flor, pepino, abóbora, rabanete, cebola - Leguminosas Soja, lentilha, feijão - Leite Leite de ovelha, de cabra e de soja Lácteos oriundos de leite de vaca Carnes Miúdos de carneiro, peixes, camarão, lagosta Carne de vaca, carne de porco, frango e derivados, gema de ovo Walsh, Alexander, 2000 TRANSPLANTE HEPÁTICO Única terapêutica realmente eficaz para pacientes em estágio final da DHC Sobrevida pós TX é ↑ quando há adequado Estado Nutricional Indicações: Insuficiência hepatica aguda (Bilirrubina Total > 20 mg/dL; Tempo de protrombina > 50s ou RNI > 3,5, EH grau 3) Doença hepatica crônica avançada Contra-indicações: Absolutas → Metástase, doença cardiopulmonar avançada, infecção ativa extra-hepatica. Relativas → Alcoolismo ativo, uso abusivo de drogas, HIV, positividade virus Hepatite B, DRC avançada. TRANSPLANTE HEPÁTICO ➢ Pré TX • Correção dos déficits nutricionais de micronutrientes e das DEP → reduzir risco de infecções no pós-operatório ➢ Pós TX imediato • Atingir as necessidades energéticas e proteicas para melhor regeneração celular após o trauma cirúrgico, favorecer a cicatrização • Tratar as alterações hidroeletrolíticas comuns (K, P, Mg, Na, Ca) ➢ Pós TX tardio • Prevenir complicações comuns como a obesidade, hiperlipemia, HAS, DM, osteoporose, decorrente do efeito de drogas imunossupressoras (esteróides e ciclosporina) Objetivos da TN: Hepatopatia Proteína (g/kg/d) Energia (kcal/kg/d) CHO (% VET não PTN) LIP (% VET não PTN) Objetivos Hepatite aguda ou crônica 1 a 1,5 30 a 40 67 a 80 20 a 33 Prevenir desnutrição Favorecer regeneração Cirrose compensada ou descompensada 1 a 1,5 30 a 40 67 a 80 20 a 33 Prevenir desnutrição Favorecer regeneração Desnutrição 1 a 1,8 30 a 50 72 28 Tratar desnutrição Colestase 1 a 1,5 30 a 40 73 a 80 20 a 27 Tratar má absorção Encefalopatia Suprir necessidades nutricionais sem piorar EH Grau 1 ou 2 0,5* a 1,2 25 a 40 75 25 Grau 3 ou 4 0,5* 25 a 40 75 25 Transplante Restaurar ou manter o estado nutricionalPré 1,2 a 1,75 30 a 50 70 a 80 20 a 30 Pós 1 30 a 35 > 70 ≤ 30 Fonte: McCollough et al, 1998. In: Cuppari, 2014 Diretrizes da TN nas doenças hepaticas: Macronutrientes *Adicionar 0,25g/kg/dia de AACR. Nutrientes Pré-transplante Sódio AI (pode ser necessária restrição maior – edema) Cálcio 800-1200 mg/dia Potássio Controle diuréticos Magnésio Manter equilíbrio Suplementação Vitamina A 2500 UI/dia Vitamina D 50.000 UI/dia Vitamina E 400 UI/dia Zinco 50 mg/dia Água 1000—1500 mL/dia Restrição hídrica indicada dependendo do edema Adaptado de Campos et al., 2002. In: Carvalho et al., 2013 Diretrizes da TN nas doenças hepaticas: Micronutrientes • Jesus RP et al. Doenças Hepáticas. In: In: Cuppari L. Nutrição clínica no adulto. 3.ed. Barueri: Manole, 2014. p.413-454. • Jesus RP et al. Insuficiência Hepática Aguda e Crônica. In: Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 5.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. p. 1769-1842. • Mazza et al.. Doença Hépática Crônica. In: Cuppari L. Nutrição: nas doenças crônicas não-transmissíveis. Barueri: Manole. 2009. p. 331-433. • Silva SMC, Mura JDP. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia - 2 Ed. Roca. 2011. Referências