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Mayara Vianna de Menezes Microbiologia dos alimentos Fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano nos alimentos Fatores intrínsecos: fatores relacionados a características próprias do alimento Atividade da água (Aa), acidez (pH), potencial de oxi-redução (Eh), composição química, presença de fatores antimicrobianos naturais, interações entre microrganismos Fatores extrínsecos: fatores relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra Umidade, temperatura, composição química da atmosfera O conhecimento desses fatores permite prever a “vida de prateleira” dos alimentos, a estabilidade microbiológica. 1. FATORES INTRÍNSECOS - ATIVIDADE DA ÁGUA (Aa): mede a disponibilidade de água para a multiplicação A água é necessária para os microrganismos sobreviverem, para o metabolismo (água disponível, pois a água ligada a macromoléculas não está disponível para agir como solvente e participar de reações químicas). CONCEITO: relação existente entre a pressão parcial de vapor da água contida na solução/alimento (P) e a pressão de vapor da água pura (Po) em determinada temperatura. Aa = P/Po (valores variam de 0 a 1. Água pura (Po) = 1,00) Adição de sais, açúcar ou outras substâncias leva a redução do valor de Aa porque reduz o valor de P. A redução do valor da Aa também pode ser por remoção de água (desidratação) e congelamento. Na maioria dos alimentos frescos, o valor da Aa >0,95 Para multiplicação, os microrganismos possuem um valor mínimo (0,60) e um valor máximo de Aa, sendo esse valor máximo ligeiramente menor que 1, já que esse é o valor da água pura e os microrganismos não se multiplicam em água pura. Necessidade de Aa: bac G- > bac G+ > fungos Aa, temperatura e disponibilidade de nutrientes: são interdependentes A qualquer temperatura, a capacidade de multiplicação abaixa quando a Aa abaixa. Quanto mais próximo da temperatura ótima, maior a faixa de Aa que permite o crescimento bacteriano. A presença de nutrientes amplia a Aa. Outros fatores que podem agir e interferir na Aa limitante: pH do meio, potencial de oxi-redução, presença de fatores antimicrobianos naturais ou adicionados. Quanto mais esses fatores provocarem afastamento das condições ótimas de multiplicação, maior será o valor de Aa necessária. Diminuição da Aa a um valor inferior ao considerado ótimo (valor onde há maior crescimento): aumento da fase lag de crescimento, diminuição da velocidade de multiplicação e do tamanho da população bacteriana final (alteração das atividades metabólicas, porque altera as reações químicas dependentes de água. Controlar a Aa do alimento, sabendo a Aa dos microrganismos que podem contaminar esse alimento, pode ajudar no controle da contaminação (adição de sal, desidratação, remoção de O2, etc) Ainda assim, pode haver o crescimento de alguns tipos de microrganismos, pois é impossível remover todos: Microrganismos osmofílicos: precisam de muito açúcar Microrganismos osmofílicos: precisam de ambiente com muito sal Microrganismos xerofílicos: gostam de ambientes secos - ACIDEZ (pH): Os microrganismos possuem valores mínimos, ótimos e máximos de pH (pH neutro entre 6,5 e 7,5 é mais favorável para a maioria, porém existem aqueles favorecidos pelo meio ácido, outros pelo meio alcalino) Tolerância ao pH baixo: bolor > levedura > bactérias (patogênicas são mais exigentes). Podem ser influenciados por outros fatores do meio, assim como acontece com Aa. OBS: carnes de animais fatigados deterioram mais fácil do que de animais descansados, porque quando o animal morre o glicogênio estocado é transformado em ácido lático, reduzindo o pH. Quando o animal passa por estresse antes do abate, esse glicogênio começa a ser convertido em ácido lático antes da morte do animal, e com isso, o pH não reduz tanto após a morte. Com o pH mais alto do que de animais descansados, o pH encontra-se mais adequado para uma maior gama de microrganismos. Classificação dos alimentos de acordo com acidez: Alimentos de baixa acidez: pH > 4,5 - pH mínimo para multiplicação de Clostridium bottulinum São os mais sujeito a contaminação e multiplicação bacteriana (patogênicas ou deteriorantes) Alimentos ácidos: pH entre 4,0 e 4,5 Predomínio do crescimento de leveduras, bolores, algumas bactérias láticas e Bacillus Alimentos muito ácidos: pH < 4,0 - pH mínimo para a maioria das bactérias -e de 4,0 Só há multiplicação de bolores e leveduras, pois o valor mínimo para bactérias é 4,0 O pH adverso afeta a multiplicação dos microrganismos porque afeta a respiração, pois altera ação das enzimas respiratórias e o transporte de nutrientes para dentro das células microbianas pH desfavorável provoca da fase lag de crescimento, assim como com Aa. Quando estão em pH diferente do neutro, a capacidade de multiplicação dependerá da capacidade do microrganismo alterar o pH que está adverso para ele. - POTENCIAL DE OXI-REDUÇÃO (Eh): Troca de elétrons entre compostos químicos. Corresponde a facilidade com que determinado substrato ganha (redução) ou perde (oxidação) elétrons. Quanto mais oxidado é um composto, mais positivo é o potencial e quanto mais reduzido, menor. Microrganismos aeróbios: Eh positivos entre +350 e +500mV (bolores, leveduras oxidativas, bactérias deteriorantes). Microrganismos anaeróbios: requerem valores baixos de Eh (< -150mV): bactérias patogênicas, algumas deteriorantes. Bactérias microaerófilas: aquelas que multiplicam-se melhor em condições ligeiramente reduzidas (lactobacilos e estreptococos) Fungos: bolores são aeróbios e leveduras são anaeróbias facultativas ou aeróbias Alimentos vegetais: Eh entre 300 e 400 mV Carnes em grandes pedaços: Eh -200mV / carnes moídas: Eh até +200mV Esses valores de Eh dos alimentos é importante para saber quais microrganismos são mais propensos de multiplicar nesses alimentos, de acordo com o Eh favorável do microrganismo. - COMPOSIÇÃO QUÍMICA: Nutrientes necessários: água, fonte de energia, fonte de nitrogênio, vitaminas, sais minerais Fonte de energia: açúcares (amido, celulose), álcoois, aminoácidos, lipídios Vitaminas: importantes fatores de crescimento pois são cofatores em coenzimas Complexo B, biotina, ácido pantotênico (G+ são mais exigentes que G- e bolores) Minerais: essenciais para multiplicação pois são cofatores Sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, cobre, manganês, molibdênio, zinco, cobalto, fósforo, enxofre - FATORES ANTIMICROBIANOS NATURAIS: Ajuda a manter a estabilidade do alimento frente ao ataque dos microrganismos, podendo retardar ou mesmo impedir a multiplicação. Ex: condimentos (possuem óleos essenciais com atividade antimicrobiana), clara do ovo (além desses fatores possui pH desfavorável - entre 9 e 10, é rica em lisozima - enzima que destroi parede celular bacteriana, e outros fatores), leite (imunoglobulinas, lactoferrina), barreiras mecânicas (cascas, peles, películas) e compostos químicos adicionados intencionalmente, para conservar e estender a vida útil. - INTERAÇÃO ENTRE MICRORGANISMOS: Um microrganismo ao se multiplicar produz metabólitos, que podem afetar a sobrevivência e multiplicação de outros microrganismos no alimento, podendo ser essa interação benéfica ou não. Pode também ter a adição de microrganismos inofensivos ao produtos para estimular processo competitivo entre os componentes da microbiota presente, fazendo com que o patogênicos fiquem desfavorecidos e sejam eliminados ou não multipliquem (exclusão competitiva, sendo muito usado no controle de contaminação de aves com Salmonella e Campylobacter) - promove a colonização da superfície epitelial do TGI das aves RN com microrganismos inócuos retirados de aves saudáveis. Importante em aves alimentadas com ração com antibiótico, pois o antibiótico altera a microbiota do TGI, facilitando a colonização de patógenos. 2. FATORES EXTRÍNSECOS: - TEMPERATURA AMBIENTAL: Fator mais importante. Faixa de multiplicação é muitoampla (-5°C até 90°C). Classificação: Psicrófilos: temperatura de multiplicação entre 0-20°C (ótimo entre 10 e 15°C) - alimentos refrigerados Psicrotróficos: 0-7°C - alimentos refrigerados Europsicrotrófico: não formam colônias visíveis até o 6-10° dia entre 0-7°C Estenopsicrotrófico: formam colônias visíveis em 5 dias nessa faixa Mesófilos: temperatura ótima entre 25-40°C (mínima 5-25°C / máxima 40-50°C). Grande maioria dos patógenos Termófilos: temperatura ótima entre 45-65°C (mínima 35-45°C / máxima 60-90°C) - maioria: Bacillus e Clostridium deteriorantes e patogênicas Fungos: possui faixa de crescimento mais ampla que bactérias (leveduras são mais mesófilas e psicrófilas) - UMIDADE RELATIVA DO AMBIENTE (UR): Tem correlação com a Aa; Quando o alimento está em equilíbrio com a atmosfera, a UR é igual a Aa x 100 Alimentos conservados em ambiente com UR > Aa = absorvem umidade (aumento da Aa) Alimentos conservados em ambiente com UR < Aa = perdem água (diminuição da Aa) Altera a capacidade de modificação, já que esta depende da Aa e a UR afeta a Aa. - COMPOSIÇÃO GASOSA DO AMBIENTE: Pode determinar os tipos de microrganismos que vão crescer naquele ambiente. Presença de O2: microrganismos aeróbios são favorecidos e vice-versa Modificações nessa composição são capazes de alterar a microbiota de determinado alimento. “Atmosferas modificadas”: ambientes/embalagens onde o O2 é total ou parcialmente substituído por outros gases, sendo isso usado como recurso tecnológico para aumentar vida útil dos alimentos. - ex: embalagem à vácuo (ausência de O2) Essa composição pode ser afetada pela temperatura. Assim se o alimento estiver com composição gasosa adequada, mas não for acondicionado em temperatura adequada, pode haver cancelamento da ação biostática promovido pelo CO2, que é um efeito antimicrobiano promovido pelo CO2 nos alimentos. OBSTÁCULOS DE LEISTNER: O conhecimento dos fatores isoladamente é pouco útil, devido a interação que existe entre eles. Deu origem à tecnologia dos obstáculos, que se baseia na utilização simultânea de uma ou mais formas de controle microbiano, como salga, acidificação, processamento térmico, conservantes, etc. Objetivo: obter produtos alimentícios estáveis, de prolongada vida de prateleira e seguros à saúde.
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