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Aula 2- Clínica de Pequenos Animais- 12/03/2021 Valvopatias adquiridas: do diagnóstico ao tratamento Degeneração Mixomatosa Valvular Mitral Antigamente era chamada de endocardiose, hoje mais comumente chamada de degeneração mixomatosa da válvula mitral > cardiopatia mais comum em medicina veterinária. Características Gerais Doença cardíaca mais comum em cães > corresponde a cerca de 75 a 80% dos casos de ICC. É uma doença crônica e degenerativa e de lenta progressão > a válvula mais comumente afetada é a mitral; e muitas pacientes com degeneração demoram tempo para apresentar sinais. ➔ Prevalência: a mitral é a mais afetada, mas qualquer uma pode ser acometida. 62% valva mitral 32,5% valva mitral + tricúsipde 1,3% valva tricúspide Degeneração apenas de aorta ou pulmonar chega a ser menos de 0,3%. Os animais pre dispostos são animais de pequeno porte de idade a adulta a idosa (mais de 7 anos). A raça Cavalier King Charles pode ter doença valvar crônica de mitral a partir dos 2 ou 3 anos de idade > mas tem poucos animais dessa raça no BR. Poodle e Dachshound também são raças pre dispostas. Dependendo da raça do animal, a progressão da doença se difere> no poodle, por exemplo, a progressão é mais lenta enquanto no Dachshound tem progressão mais rápida e sintomas mais agressivos. Em um estudo que foi feito, cerca de 90% dos cães a cima de 13 anos apresentavam algum grau de degeneração dessa valva; mas apenas 30% desses cães acometidos progrediram para ICC. Essa doença tem prevalência maior nos machos (2:1) também é mais agressiva do que nas fêmeas. Fator genético: quando os pais apresentam essa doença valva, a progênie tem chances muito maior de também apresentar. > a gravidade da doença também é Natália Gomes Bernardo transmitida geneticamente > então se o pai apresentou essa doença e teve sinais clínicos, provavelmente a progênie será assim. Fisiopatologia O aparato valvar mitral é constituído por folheto e pelas cordoalhas tendíneas que fazem a inserção do folheto no músculo papilar. A degeneração, na doença valvar crônica, pode ocorrer em qualquer componente valvar; mas o componente mais afetado é o folheto valvar. A letra ‘P’ indica a localização dos músculos papilares. Função da válvula mitral: durante a diástole ventricular esquerda – momento em que o coração recebe o sangue da circulação pulmonar- a valva tem que abrir e permitir que o sangue passe do AE para o VE; enquanto eu durante a sístole ventricular, essa válvula mitral fecha e impede que que o sangue regurgite do ventrículo para o átrio, garantindo que siga para aorta. O sangue tem a tendência de ir do local de maior pressão para o de menor pressão; sendo assim, no momento da sístole ventricular, a pressão no interior do VE é maior que no AE e, por isso, a tendência é que o sague retorne -> folhetos das mitrais se fecham (1ª bulha cardíaca: o sangue contra o folheto valvar). Devido uma desordem genética, principalmente no metabolismo de glicosaminoglicanas, o tecido da válvula mitral se torna mais frágil > devido essa fragilidade o folheto se projeta em direção do interior do AE devido ao choque do sangue (durante a sístole ventricular) > mas isso ainda não é insuficiente > prolapso valvar mitral: demonstra que a válvula tem fragilidade; as vezes é possível identificar no ecocardiograma. O choque do sangue contra o folheto frágil cria lesões na borda da válvula, e o tecido que se acumula para cicatrizar é justamente o mixomatoso> ( tecido mixomatoso substitui tecido fibroso) > conforme ocorre deposição de tecido mixomatoso ocorre enrugamento que impede o devido fechamento da válvula > com isso, durante a sístole ventricular, parte do sangue é ejetado para a aorta, mas parte é regurgitado para o AE. O sangue passa no orifício regurgitante em alta velocidade e turbilhonando, o que da o som do sopro. A válvula tem que ser clarinha e translucida; tudo isso em amarelo (nódulos amarelados) é o depósito de tecido mixomatoso; o tecido mixomatoso se deposita em maior quantidade nos folhetos valvares, mas tem parte nas cordoalhas. A deposição de tecido mixomatoso nas cordoalhas tendíneas pode levar a ruptura dessas. > dependendo do calibre da cordoalha, não agrava tanto os sintomas > rompimento de cordoalhas de maior diâmetro (como da foto) colaboram para o aumento da regurgitação mitral que aumenta. Fisiopatologia Parte do sangue é ejetado para aorta e parte retorna para o AE; dependendo da quantidade regurgitada, não diminui o DC e o animal apresenta leve sopro, porém a regurgitação é pouca e, por isso, não afeta o DC. A partir do momento que a regurgitação aumenta e a maior parte do sangue em vez de seguir para aorta retorna ao AE > redução do DC e ativação dos sistemas neuro-hormonais (principalmente do sistema nervoso simpático e do sistema renina angiotensina aldosterona) > animal retem líquido > agravamento do remodelamento cardíaco > agravamento de ICC. Independente da droga de escolha para o tratamento, esse medicamento não atua diretamente na válvula, então a válvula vai continuar degenerada. A redução do DC ativa ainda mais mecanismos compensatórios > a ativação desses mecanismos causa taquicardia, vasoconstrição e fibrose miocárdica > agrava ainda mais o remodelamento que deixa o coração ainda mais insuficiente, reduzindo ainda mais o DC que ativa ainda mais mecanismos compensatórios. O tratamento de escolha para degeneração de válvula é valvoplastia ou a troca valvar, mas ainda não é muito disponível; no BR o tratamento em Med Vet ainda é medicamentoso. Normal: O sangue sai dos pulmões e por meio das veias pulmonares adentra no AE> o sangue segue para o VE > ocorre sístole ventricular > sague sai pela aorta. Valvopatia de mitral: parte do sangue saí pela mitral, mas parte retorna ao AE > dependendo da quantidade regurgitada causa uma sobrecarga no AE porque vai conter esse regurgitado e o sangue (normal) que chega das veias pulmonares > sobrecarga de volume > dependendo da magnitude e tempo que o átrio é exposto a essa sobrecarga ocorre aumento do AE > sendo assim um dos primeiros sintomas que o animal apresenta é a tosse > AE comprime brônquio principal esquerdo e carina da traqueia que estimula reflexo de tosse. A tosse pode ser mais recorrente a noite porque com animal deitado tem-se melhor retorno venoso e isso sobrecarrega mais o AE; e com animal deitado em decúbito esternal comprime o tórax e estimula ainda mais a tosse. No frio pode aumentar mais a tosse porque aumenta a vasoconstrição e aumenta a pós carga> nesse caso também pode aumentar edema pulmonar. Animais que apresentam tosse e não possuem aumento do AE pode ser devido colapso de traqueia, bronquite, ou outros problemas respiratórios. Na degeneração mixomatosa de válvula mitral primeiro o AE aumenta de tamanho, mas a progressão leva ao aumento do VE também> entretanto, radiologia não é o melhor exame para ver aumento do volume de forma geral do coração, ecocardiograma é melhor. Não é comum ocorrer evento tromboembólico no cão por cardiopatia, no gato é mais comum. Além do AE, também ocorre dilatação das veias pulmonares > chega um ponto em que a pressão hidrostática – a pressão dentro dos vasos- é tão grande que o líquido extravasa para os pulmões > edema pulmonar cardiogênico. Diagnóstico O diagnóstico é dividido pelo exame clínico (achados do exame físico) e exames de imagem (radiografia e ecocardiografia). Manifestações Clínicas: ▪ Paciente assintomático: é o cão que possui sopro de pequeno grau sistólico no foco na válvula mitral e pode ter também sopro – de pequeno grau- sistólico no foco da válvula tricúspide Geralmente, nessa doença a gravidade do sopro está relacionado coma gravidade da doença > então os animais sintomáticos de insuficiência já têm sopro de grau 3 para cima. ▪ Paciente sintomático: o Tosse: está relacionada com aumento do AE. Geralmente após a tosse o animal pode fazer menção de vomitar – e alguns até mesmo chegam a vomitar- porque o centro da tosse fica próximo ao centro do vômito. o Cansaço fácil: no início o cansaço está relacionada quando o animal faz atividade física ou está brincando com tutor – porque nesse momento o organismo necessita de um débito cardíaco maior para satisfazer as necessidades metabólicas – o Dispneia: está relacionada com edema pulmonar > nesse momento o animal fica cansado em repouso ou durante as atividades rotineiras também. > em quadros de dispneia o animal adota posição ortopneica, A radiografia mostra aumento de AE; mas também mostra uma região radiopaca (onde tem a mãozinha da seta) nos lobos caudais do pulmão (é o primeiro local no cão que ocorre edema pulmonar). Exame Eletrocardiográfico ▪ Podem ter distúrbios no ritmo cardíaca, ou seja, podem apresentar arritmia tanto de origem atrial como de origem ventricular. O sangue regurgitado volta para o átrio em alta velocidade e pressão e se choca contra a parede do átrio esquerdo; esse contrato crônico pode ocasionar lesões na parede do AE (no miocárdio atrial)> tecido fibroso > formam focos arritmogênicos> mas só o fato do átrio do átrio se distender/dilatar já ocorre formação de tecido fibroso > isso associado pode aumentar as chances de arritmia. A arritmia também pode ser de origem ventricular: o VE (miocárdio ventricular) também pode acabar dilatando e ter formação de tecido fibroso > focos de arritmia. Exame Ecocardiograma Fornece informações anatômicas e hemodinâmicas (o quanto a doença valvar crônica de mitral está afetando paciente) do coração. Pelo ecocardiograma é possível ver a degeneração valvar e se te aumento de AE ou VE. Na primeira imagem da esquerda é possível ver, na ponta da seta (‘mãozinha’), que a válvula mitral está espessada e projetada para dentro do átrio (prolapso valvar) e que já há formação de orifício regurgitante.e que as câmaras esquerdas estão aumentadas, principalmente o AE. Na segunda imagem é possível ver o sopro. A primeira imagem é de um coração normal, mostrando o átrio esquerdo; enquanto a segunda imagem mostra um átrio esquerdo aumentado. > quanto maior o AE maio o sopro e maior o volume de sangue represado dentro desta cavidade e por consequência menor o DC e maior a chance de edema pulmonar. Ou seja, quanto maior o AE, pior a manifestação clínica e pior o prognóstico. > Importante mensurar o tamanho do AE com tamanho da aorta. > essa relação tem que ser menor que 1,6. Quando é igual ou maior que esse valor, é um indicativo que se deve iniciar o tratamento no paciente. > ecocardiograma é importante para estadiar o animal e não tanto para diagnosticar a doença. Tratamento Para tratar é importante estadiar o paciente primeiro. Não é todo paciente que tem a doença que tem sintoma, e o tratamento é baseado nos sintomas. Então não é todo paciente cardiopata que necessita de tratamento. Apenas pacientes do estágio B2 para frente devem ser tratados. B1: paciente assintomático, mas tem o sopro, não tem remodelamento ou tem remodelamento não expressivo. > não trata, faz avaliação a cada 6 meses a 1 ano. B2 é assintomático (sem sinas de ICC), mas tem aumento da silhueta cardíaca, principalmente do AE; sopro sistólico maior ou igual a 3 e, portanto, mais audível no foco da mitral; relação AE/aorta deve ser igual ou maior a 1,6; remodelamento ventricular (ventrículo maior que 1,7) > ecocardiograma é importante para estadiar o animal e não tanto para diagnosticar a doença. O tratamento para pacientes B2 é feito apenas com Pimobendan > Pimobendam aumenta a força de contração e causa vasodilatação arterial, ou seja, aumenta o DC e diminui a regurgitação. > em um estudo mostrou que essa droga retardou o aparecimento de edema pulmonar em cerca de 15 meses. Graus do foco: - grau 1: tem que estar bem em cima do foco para auscultar. - grau 2: um pouco mais fácil de auscultar que o grau 1, mas ainda tem o ruído mais baixo; quando saí do foco já não se ausculta mais o sopro. - grau 3: é possível auscultar o sopro mesmo quando sai do foco e vai para outro foco do mesmo antímero. - grau 4: a diferença desse para o 3 é a intensidade. - grau 5: ao pegar animal pelo tórax é possível sentir o frêmito do sopro na mão. - grau 6: ao desencostar o estetoscópio do tórax do animal ainda é possível auscultar o sopro. C1: é o paciente que tem congestão, ou seja, tem edema pulmonar; se for edema pulmonar agudo (que necessita de manejo hospital) o tratamento inclui: - Oxigênoterapia Butorfanol 0,1 -0,3mh/kg/IM > geralmente os pacientes são agitados e não toleram o uso de máscara ou de cateter nasal e, por isso, é importante fazer a sedação e o sedativo de escolha é o butorfanol que não causa tanta alteração hemodinâmica. - Furosemida (diurético de escolha) 2mg/kg/IV Máximo 8mg/kg a cada 1 hora Infusão contínua 0,6-1mg/kg/hora Máximo de 12mg/kg/dia - Pimobendam 0,25mg/kg/VO > quando animal tem condições de tomar medicamento VO se fornece pimobendam e quando não, se oferee dobutamina. - Vasodilatadores Nitroprussiato de sódio 1-5 μg/kg/min >vasodilatador arterial e venoso para ser utilizado apenas em casos de pressão arterial normal> na emergência é usada por meio de ifusão contínua. - Inotrópicos positivos Dobutamina 2,5-10 μg/kg/min C2: é o paciente que era C1 no hospital e foi para a casa; em casa utiliza as seguintes medicações: tratamento - Pimobendam - Associação de iECA a Espirolactona (2mg/Kg/24horas) Espirolactona > embora seja diurético, tem efeito cardioprotetor> espirolactona é antagonista da aldosterona> nos rins: impede que a aldosterona ligue nos túbulos renais e faz com que o paciente não retenha líquido> no coração: a aldosterona liga nos cardiomiócitos e induz a apoptose (morte) celular e com isso forma fibrose; espirolactose faz contração contra esse efeito da aldosaterona. Então inibidor da ECA bloqueia conversão de angiotensina 2 e consequentemente diminui liberação de aldosterona (diminui a taxa de fibrose miocardia); mas o organismo converte aldosterona por outras vias além da ECA> espirolactona para fazer bloqueio sequencial. - Furosemida > na menor dose eficaz, cada paciente tem uma dose. > avaliação essa dose através da aferição da frequência respiratória do animal em casa (quando tranquilo, calmo e sem ter realizado atividade física) > FR menor que 40. > a cima de 40/50 movimentos respiratórios por minuto > aumentar a dose de furosemida. Geralmente a dose de furosemida é de 2mg/kg/12horas, mas com o tempo será necessário aumentar a dose ou trocar essa droga por outro diurético de alça. D1: Tratamento: - Diurético: Furosemida> aumentar a dose, ou substituir a dose VO por via subcutânea (porque aumenta a biodisponibilidade da droga). Pode trocar a furosemida por torsemina (outro diurético de alça) 0,1-0,2 mg/kg/VO a cada 12 ou 24 horas. - Associação de vasodilatadores: amlodipina com hidralazina > afim de diminuir a regurgitação. - Em caso de arritmia supraventricular pode-se utilizar digoxina. - Sildenafil é utilizado para realizar o controle da pressão arterial pulmonar. - Associação de diuréticos: Hidroclorotiazina