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Engenharia e Desenvolvimento de Produto Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcio Nunes Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Oportunidades e Planejamento • Introdução • A Busca pela Oportunidade de Mercado • Planejamento do Produto · Compreender as duas etapas do processo de desenvolvimento de um produto: busca das oportunidades de mercado e planejamento do produto. · Discriminar as principais características de cada uma dessas etapas, seus principais pontos críticos e problemas OBJETIVO DE APRENDIZADO Oportunidades e Planejamento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Oportunidades e Planejamento Contextualização O desenvolvimento de um produto começa com uma ideia, mas nem sempre essa ideia pode ser transformada em um produto de sucesso. Para que este objetivo seja atingido, ou seja, para que um produto possa ser bem-sucedido e rentável, uma análise profunda do mercado deve ser feita. Você já deve ter ouvido falar das pesquisas de mercado encomendadas por algumas empresas, ou até mesmo ter tido a oportunidade de participar de algumas delas. O mercado quase sempre é definido em função das necessidades dos consumidores. Conhecendo seus desejos e necessidades, o lançamento de um produto tem maiores chances de sucesso. O planejamento de um produto também tem suas características. Planejar um produto significa criar condições para que seu desenvolvimento seja realizado com a maior eficiência possível, no menor tempo e com o menor custo, resultando em um produto funcional, de boa qualidade e preço de mercado compatível. Para reunir todas essas características, um bom planejamento deve ser feito. 8 9 Introdução Nesta Unidade veremos como é realizada a identificação de uma oportunidade de negócio para o início do desenvolvimento de um produto. Serão analisadas as principais etapas a serem seguidas na tarefa de escolher qual a melhor configuração para o produto. Veremos como é realizada a metodologia do planejamento do produto como um processo passo a passo, cujo objetivo é simplificar a apresentação para melhor compreensão. No entanto, a reflexão e a crítica da coerência e do ajuste devem constituir um processo contínuo. Vamos ordenar o desenvolvimento de forma que cada etapa do processo pode e deve ser executada simultaneamente para garantir que o planejamento e as decisões sejam consistentes entre si e também com as metas, capacidades e restrições da empresa. A Busca pela Oportunidade de Mercado Vimos na Unidade I que o processo de desenvolvimento de um produto começa por uma ideia ou por uma oportunidade de mercado. Uma oportunidade é uma ideia para um novo produto. É uma descrição do produto em forma embrionária, uma necessidade recém-detectada, uma tecnologia recém-descoberta ou uma correspondência estrita entre uma necessidade e uma possível solução. No estágio inicial do desenvolvimento, a incerteza obscurece o futuro, de modo que uma oportunidade pode ser pensada como uma hipótese sobre como o valor pode ser gerado. Para uma empresa de produtos de consumo como a Procter & Gamble, por exemplo, uma oportunidade pode ser um novo tipo de produto de limpeza sugerido por um cliente. Para uma empresa de produtos químicos, como a Rhodia, pode ser um novo polímero com propriedades incomuns. Algumas oportunidades acabam se tornando novos produtos, enquanto outras nunca garantem um desenvolvimento substancial. Uma oportunidade para um novo produto geralmente é articulada com menos de uma página de informações, muitas vezes incluindo apenas um título descritivo, uma narrativa explicando a ideia, e às vezes incluindo um esboço de um conceito de um possível produto. Embora existam muitas maneiras de categorizar as oportunidades, duas questões são particularmente úteis: a) até que ponto a equipe está familiarizada com a solução que provavelmente será empregada? b) até que ponto a equipe está familiarizada com a necessidade que a solução exige? Para os produtos baseados em tecnologia, essas questões também podem ser pensadas como conhecimento da tecnologia e conhecimento do mercado. Essas duas dimensões são ilustradas na Figura 1, a seguir. 9 UNIDADE Oportunidades e Planejamento Como o risco de fracasso aumenta à medida que as oportunidades se desviam do que a equipe já conhece bem, podemos dividir o cenário de oportunidade em categorias baseadas no “horizonte de incerteza” enfrentado pela equipe. Identificamos três horizontes. As oportunidades do Horizonte 1 são em grande parte melhorias, extensões, variantes e reduções de custos dos produtos existentes para os mercados existentes. São oportunidades de baixo risco. As oportunidades do Horizonte 2 emergem em territórios menos conhecidos em uma ou em ambas as dimensões do mercado ou da tecnologia. As oportunidades do Horizonte 3 representam tentativas de explorar oportunidades que, de alguma forma, são novas para o mundo, incorporando o mais alto nível de incerteza. Novas necessidades Necessidades existentes que não são atendidas Necessidades correntes Horizonte 1 Horizonte 2 Horizonte 3 Soluções existentes e correntes em utilização Soluções existentes que não são utilizadas Soluções novas NÍVEL DE CONHECIMENTO DA SOLUÇÃO NECESSIDADES DO MERCADO Riscos e Oportunidades Figura 1 – Riscos e oportunidades Fonte: Acervo do Conteudista As oportunidades variam amplamente em valor, porém esse valor é perseguido pela incerteza. Por isso, é muito útil identificar um conjunto de oportunidades e, em seguida, selecionar um subconjunto delas para um desenvolvimento futuro. Este processo pode ser pensado como sendo comparado a um torneio de inovação, onde apenas as melhores ideias prevalecem. Na maioria dos cenários, dezenas, centenas ou mesmo milhares de oportunidades são consideradas para cada sucesso comercial. Um processo de filtragem seleciona um subconjunto para desenvolvimento adicional e, a partir daí, escolhe-se as mais relevantes, que serão lançadas como esforços de desenvolvimento de produtos completos. Embora tanto o processo de identificação de oportunidades como o processo de desenvolvimento 10 11 de produto consistam em etapas de desenvolvimentoe etapas de seleção, os objetivos gerais das duas atividades são bastante diferentes. Na identificação de oportunidades, o objetivo é gerar um grande número de oportunidades e eliminar aquelas que não são dignas de investimentos. No processo de desenvolvimento do produto, o objetivo é aproveitar a oportunidade articulada na declaração da missão e fazer todo o possível para garantir que ele se torne o melhor produto que pode ser feito. Embora a identificação de oportunidades e o desenvolvimento de produtos possam ser pensados como atividades separadas, há claramente alguma sobreposição entre eles. Considerando que as grandes oportunidades são raras, como pode o processo de identificação de oportunidade ser gerenciado para aumentar o número de oportunidades excelentes? A resposta pode ser dada de três maneiras básicas: 1. Gerar um grande número de oportunidades. Quanto mais oportunida- des forem produzidas, maiores as chances de sucesso. A lógica é simples: em média, se você encontrar uma pessoa de 2,2 m de altura em 100.000 pes- soas, você encontrará duas entre 200.000. Criar mais oportunidades (sem sacrificar a sua qualidade média) é, portanto, uma alavanca fundamental para encontrar as poucas excepcionais; 2. Buscar alta qualidade nas oportunidades selecionadas. A adoção de melhores métodos para gerar oportunidades e seleção de melhores fontes de oportunidades pode aumentar a qualidade média das oportunidades em consideração, o que também aumentará a qualidade das melhores ideias resultantes do processo de seleção; 3. Criar grande variação na qualidade das oportunidades. Esta é uma im- plicação direta, embora não imediatamente óbvia, das estatísticas. Mantendo a qualidade média e o número de oportunidades constantes, você gerará mais oportunidades excelentes em um processo que exibe maior variabilida- de. Gerar ideias malucas aumenta a chance de que, pelo menos, uma das oportunidades será excepcionalmente boa. O processo de identificação de oportunidade pode ser dividido em seis etapas, vistas a seguir. Etapa 1 – estabelecer um portfólio de possibilidades: As organizações criam novos produtos para alcançar metas tais como aumentar as receitas dos clientes existentes, preencher um vazio em uma linha de produtos ou entrar em novos segmentos de mercado. Os empreendedores que iniciam novas organizações também têm objetivos tais como criar um novo produto relacionado a uma área de interesse pessoal. Etapa 2 – gerar e analisar diversas oportunidades: Com base em um levantamento de empresas em muitas indústrias, cerca de metade das oportunidades de inovação é gerada internamente a uma organização e cerca de metade é reconhecida de clientes e outras fontes externas (ULRICH; EP- 11 UNIDADE Oportunidades e Planejamento PINGER, 2012). Portanto, recomenda-se que a equipe se concentre nas fontes de oportunidades internas e externas. Tipicamente, a equipe quererá identificar deze- nas se não centenas de oportunidades cruas. Felizmente, essa tarefa assustadora é facilitada pela aplicação de algumas técnicas estruturadas, que descreveremos aqui. Para algumas pessoas criativas, não há nada mais divertido do que chegar com novas ideias. No entanto, descobrimos que a maioria das pessoas apresenta dificuldades quando solicitada a gerar algumas oportunidades promissoras. Para tais pessoas, o problema de inventar algo novo é simplesmente muito abstrato, muito desestruturado e tem muitos graus de liberdade. A seguir estão sete técnicas básicas para estimular a identificação de oportunidades. A maioria funciona bem em ambientes empresariais e corporativos. São elas: · Seguir uma paixão pessoal. Liste suas paixões – esforços que o mantêm acordado(a) com entusiasmo – e, em seguida, considere como as tecnolo- gias, tendências e modelos de negócios emergentes podem influenciá-las. Ou identifique as necessidades não satisfeitas que você tem em conexão com um interesse pessoal; · Compilar uma lista de defeitos. Os inovadores bem-sucedidos costumam ser eternamente insatisfeitos com o mundo à sua volta. Eles percebem as ne- cessidades não satisfeitas dos usuários, incluindo eles próprios. Liste (ou foto- grafe) cada aborrecimento ou frustração que você encontrar ao longo de um período de dias ou semanas e, em seguida, escolha os mais universais e vexa- tórios e idealize soluções. Qualquer problema é uma oportunidade. Um abor- recimento que dá à luz a oportunidade não precisa ser seu obrigatoriamente; em vez disso, você pode obtê-lo através de queixas de clientes ou pesquisa de mercado. Uma maneira poderosa de entender os aborrecimentos dos outros é mergulhar no mundo das pessoas usando seus produtos ou serviços; · Explorar competências. As teorias de vantagem competitiva são abundan- tes, mas a maioria brota da ideia de que as empresas obtêm lucros acima da média explorando recursos exclusivos. Para fornecer vantagem, um recurso deve ser: · Valioso. Para ser valioso, um recurso deve permitir que uma empresa al- cance um desempenho maior do que os concorrentes ou reduzir uma fraqueza em relação aos concorrentes; · Raro. Dada a concorrência, um recurso valioso deve ser raro; · Inimitável. Para que o valor e a raridade persistam, um recurso não deve ser facilmente imitado; · Não substituível. Mesmo se valioso, raro e inimitável, um recurso que for- nece vantagem não pode ser facilmente substituído. Essa perspectiva pode ser usada para definir alvos, articulando primeiro um inventário de recursos e, em seguida, usando o inventário como uma lente para geração de oportunidade. A Apple Computer, por exemplo, usou estes recursos para agregar excelência em seu design industrial. 12 13 · Estudar os clientes. As oportunidades podem ser identificadas por meio do estudo de clientes em um segmento de mercado selecionado. Esses estudos (também chamados de antropologia do usuário ou etnografia do consumi- dor) fornecem uma compreensão mais profunda das necessidades reais do cliente do que você pode obter por meio de pesquisas. Nos Estados Uni- dos, a empresa Shimano, fabricante de componentes de bicicleta tais como pedais e freios, encomendou um estudo de antropologia de usuário para entender por que poucas pessoas no País andavam de bicicleta. A aborda- gem tradicional para este problema teria sido criar uma pesquisa de mercado perguntando aos clientes com que frequência eles andam e quais os atribu- tos de uma bicicleta que mais valorizam. Muito provavelmente, a maioria dos norte-americanos diria que eles andam regularmente (o que para alguns pode significar uma vez por ano) e que eles querem bicicletas mais leves com muitas marchas. Esses, afinal, são os atributos do produto enfatizados em quase todas as lojas de bicicletas. Infelizmente, o que as pessoas dizem aos pesquisadores e o que eles realmente fazem pode diferir substancialmente. Ao passar muitas horas observando potenciais ciclistas, incluindo o tempo em que eles não estão andando de bicicleta, os pesquisadores da Shimano descobriram que muitos consumidores queriam bicicletas que fossem tecni- camente simples, fáceis de montar e desmontar, fácil de encontrar e, surpre- endentemente, fora dos atributos valorizados pelos próprios fabricantes de bicicletas, que geralmente estão focados no setor esportivo. A antropologia do usuário ajudou a Shimano a identificar um conjunto de necessidades la- tentes. Quando uma necessidade latente é identificada, ela se torna um alvo para o processo de criação de oportunidade. Uma vez identificados os fato- res que mantinham muitos clientes potenciais mais tempo dentro de seus au- tomóveis do que sobre suas bicicletas, tiveram a oportunidade de redefinir a categoria do produto. No caso da Shimano, esses esforços levaram à criação de bicicletas voltadas especificamente para o lazer, ou seja, as pessoas po- deriam alugar uma bicicleta durante sua viagem familiar anual para a praia; · Considerar os impactos das tendências de mudanças nas tecnologias,na de- mografia ou nas normas sociais geralmente acabam resultando em oportuni- dades de inovação. Um serviço de telefonia móvel onipresente, por exemplo, permite uma ampla variedade de serviços de entrega de informações. A cres- cente população de língua espanhola nos Estados Unidos, outro exemplo, permitiu novos tipos de mídia em língua espanhola. A crescente conscienti- zação ambiental cria um mercado para produtos e serviços verdes; · Copiar e aperfeiçoar. Quando uma empresa inova com sucesso, ela efeti- vamente publica a localização de sua “galinha dos ovos de ouro”. Você pode explorar essas informações, considerando soluções alternativas que pode- riam atender a mesma necessidade ou identificar necessidades alternativas que poderiam ser tratadas com a mesma solução. Aqui estão algumas fontes de oportunidades neste sentido: 13 UNIDADE Oportunidades e Planejamento · Atividades de marketing de outras empresas. Digitalize a mídia e monitore as atividades de outras empresas participando de feiras comerciais e, por exemplo, após a apresentação de patentes. Articule a necessidade e a so- lução associadas a qualquer inovação que você identificar; · “De-commoditize” um produto. Muitas vezes, a concorrência de preços caracteriza uma categoria de produto, e as ofertas em si acabam se tro- nando commodities. É o caso do hambúrguer antes do McDonald’s e do café antes do Starbucks. Uma situação como esta cria uma oportunida- de para a inovação. Para perseguir esse tipo de inovação, liste todos os produtos baratos ou indiferenciados ou serviços em uma categoria e, em seguida, considere a possibilidade de produzir versões de luxo desses pro- dutos, por exemplo. · Implementar uma inovação “down market”. Nos Estados Unidos, qua- tro empresários ligados ao setor de brinquedos e doces inventaram uma escova de dentes elétrica denominada Crest SpinBrush, em 1998. Eles acreditavam que sua vantagem competitiva era a criação de dispositivos pequenos, baratos e movidos a bateria. Eles se basearam na variedade de escovas de dentes elétricas existentes no mercado, muitas sendo vendidas por cerca de US$ 100, mas nenhuma mais complexa do que um simples motor elétrico acoplado à escova. Eles decidiram criar uma escova de dentes elétrica que pudessem vender por US$ 6. Sua SpinBrush se tor- nou a escova de dentes mais vendida de todo o mercado. Para seguir seu exemplo, liste os produtos ou serviços considerados “top de linha” em uma categoria e, em seguida, imagine versões muito mais baratas que ofereçam os mesmos benefícios; · Importar inovações geograficamente isoladas. As inovações são frequen- temente isoladas geograficamente, especialmente se introduzidas por em- presas de menor dimensão. Transportar a inovação de uma região geo- gráfica para outra pode ser uma fonte de inovação. Por exemplo, a bebida energética Red Bull começou como um produto para motoristas de ca- minhão na Tailândia. O fundador da Starbucks, Howard Schultz, criou a cadeia depois de visitar Milão e se apaixonou por sua cultura de café e bebidas à base de café expresso. · Vasculhar suas fontes. Lembre-se que cerca de metade das oportunidades de produtos surgem de fontes dentro de uma organização e cerca de metade vêm de fontes externas. Como resultado, você se beneficia de cultivar fontes externas de ideias. Essas fontes incluem o seguinte: · Usuários líderes. As empresas têm amplos incentivos para inovar. A inovação, afinal, pode resultar em novas fontes de dinheiro. Mas os usuários líderes e os inventores independentes podem ter incentivos ainda maiores. Usuários líderes são pessoas ou empresas que têm ne- cessidades avançadas que podem não ser atendidas por produtos ou serviços existentes. Os usuários líderes devem tolerar suas necessida- 14 15 des não atendidas ou inovar para enfrentá-las. Muitos dispositivos e procedimentos em cuidados de saúde foram inventados por clínicos. Por exemplo, uma veterinária da Universidade da Pensilvânia realiza transplantes de fígado em felinos utilizando utensílios cirúrgicos co- muns e não apropriados. Seu mérito está no desenvolvimento de uma nova técnica operatória de sucesso, o que lhe garante altos rendimen- tos. Se ela inventasse utensílios especializados, ela estaria criando uma oportunidade para novas inovações por uma empresa fornecedora desses equipamentos; · Representação em redes sociais. Outra maneira de aguçar sua per- cepção do mercado é garantir que você está conectado às redes so- ciais apropriadas. As instituições sociais de todos os tipos facilitam a comunicação entre os inovadores. Algumas destas instituições podem não estar relacionadas com a vida profissional. Comunidades de redes sociais on-line e fóruns de discussão também podem promover a co- municação entre os inovadores; · Universidades e laboratórios governamentais. Estudantes, pesquisado- res e professores procuram continuamente novas soluções para desa- fios irritantes. Em muitos casos, as soluções identificadas em univer- sidades e laboratórios governamentais podem ser comercializadas por terceiros, incluindo empresas existentes e novas empresas. As universi- dades de pesquisa e os laboratórios governamentais têm organizações de transferência de tecnologia para facilitar esse processo; · Apresentação de ideias on-line. Oportunidades podem ser coletadas de clientes e não clientes através de sites da web. Por exemplo, a em- presa de computadores Dell disponibiliza o site IdeaStorm para solici- tar oportunidades de inovação de clientes. Etapa 3 – rastrear oportunidades: O objetivo do rastreio é simplesmente eliminar oportunidades que são altamente improváveis de resultar na geração de valor e focar a atenção nas oportunidades que merecem uma investigação mais aprofundada. O objetivo não é escolher a única melhor oportunidade. Como existem outras oportunidades para serem rastreadas, o processo deve ser relativamente eficiente, mesmo considerando certo sacrifício. Para esta etapa, um critério de rastreio muito eficaz é o julgamento holístico por um grupo de indivíduos que não participaram ativamente do processo de escolha. A aplicação separada de critérios de rastreio múltiplos (por exemplo, necessidade do mercado, viabilidade tecnológica, alinhamento com as estratégias da empresa) tende a afundar o processo em discussões desnecessárias. Há dois métodos considerados eficazes para o rastreio: inquéritos baseados na web e workshops com possibilidade de votação. Ambos os métodos dependem de julgamentos independentes de um grupo de pessoas. Normalmente, esse grupo inclui membros de sua organização, mas poderia ser uma equipe de empreendedorismo estendido, ou mesmo amigos e familiares com conhecimentos relevantes. É claro que o grupo que realiza a 15 UNIDADE Oportunidades e Planejamento avaliação deve ter conhecimentos relevantes, mesmo que essa experiência varie em tipo e profundidade. Uma interface baseada na web pode garantir que os participantes não conheçam o autor de cada ideia, o que acaba resultando em uma votação menos tendenciosa. Independentemente do método de votação escolhido, sugere-se que se considere avançar não apenas as ideias que receberam mais votos, mas também as que têm apenas alguns apoiadores muito entusiasmados. Opiniões fortes apontam frequentemente para ideias excepcionais. Lembre-se que seu objetivo é eliminar eficazmente oportunidades que não são dignas de mais investimentos, mas para evitar matar uma ideia potencialmente grande. Etapa 4 – desenvolver oportunidades promissoras: Raramente se deve apostar em uma única oportunidade. Há muita incerteza nas perspectivas de sucesso. Após a triagem das oportunidades, a equipe deve investir níveis modestos de recursos no desenvolvimento de algumas delas. Algumas tarefas adicionais que muitas vezes vale a pena completar incluem entrevistas com clientes, testes de produtos existentes, geração de conceitos, protótipos rápidos e estimativas de tamanhos de mercadoe taxas de crescimento. Você pode investir alguns dias ou semanas em cada uma das várias oportunidades promissoras. Ao desenvolver oportunidades promissoras, o objetivo é resolver a maior incerteza em torno de cada uma com o menor dispêndio de tempo e dinheiro. Uma maneira de estruturar esta etapa é listar as principais incertezas sobre o sucesso de cada oportunidade, elencando assim as tarefas que você poderia tomar para resolver as incertezas e o custo aproximado de cada uma. Em seguida, executar as tarefas que resolvem a maior incerteza ao menor custo. Por exemplo, uma oportunidade baseada em um conceito inteligente pode não ser viável se uma patente é improvável. Uma rápida pesquisa de patentes leva apenas um par de horas, e por isso é uma tarefa que deve ser concluída no início do processo de desenvolvimento da oportunidade. Etapa 5 – selecionar oportunidades excelentes: Uma vez que algumas oportunidades foram desenvolvidas com pouco investimento dos recursos da empresa, a escolha das oportunidades excelentes deve ser feita sobre o processo de redução das incertezas. Só estas últimas é que poderão receber um investimento significativo no desenvolvimento de produto. Três questões deverão ser respondidas ao selecionar oportunidades: · A oportunidade é real? Existe um mercado real para receber o produto? Os critérios de seleção incluem o tamanho do mercado, preços potenciais, disponibilidade de tecnologia e a probabilidade de o produto poder ser entregue no volume necessário ao custo exigido; · Há ganhos com essa oportunidade? É possível estabelecer uma vantagem competitiva sustentável? É possível patentear a ideia? Sua empresa é mais capaz de executá-la do que os concorrentes? 16 17 · A oportunidade vale a pena financeiramente? Sua empresa possui os recursos necessários (financeiros e de desenvolvimento) e você está confiante de que o investimento será recompensado com retornos adequados? Passo 6 – refletir sobre os resultados e o processo: A equipe deverá aguardar ansiosamente a resposta do mercado, que será um indicador-chave do sucesso de seu processo de identificação de oportunidades. Planejamento do Produto O processo de planejamento do produto ocorre antes que um projeto de desenvolvimento do produto seja formalmente aprovado, antes que recursos substanciais sejam aplicados e antes que uma equipe de desenvolvimento maior seja formada. O planejamento do produto é uma atividade que considera o portfólio de projetos que uma organização pode sustentar e determina quais subconjuntos desses projetos serão atendidos durante o tempo de desenvolvimento. A atividade de planejamento do produto garante que os projetos de desenvolvimento de produtos apoiem a estratégia de negócios mais ampla da empresa e abordem as seguintes questões: · Quais projetos de desenvolvimento de produtos serão realizados? · Qual combinação de produtos, plataformas e produtos derivados, funda- mentalmente novos, deve ser considerada? · Como os vários projetos se relacionam uns com os outros? · Qual será o cronograma e a sequência dos projetos? Cada um dos projetos selecionados é então completado por uma equipe de desenvolvimento de produtos. A equipe precisa conhecer sua missão antes de começar o desenvolvimento. As respostas às seguintes questões críticas são incluídas em uma declaração de missão para a equipe: · Quais segmentos de mercado devem ser considerados na concepção do produto e no desenvolvimento de suas características? · Quais novas tecnologias (se houver) devem ser incorporadas ao novo produto? · Quais são as metas e restrições de fabricação e de serviço? · Quais são as metas financeiras para o projeto? · Qual é o orçamento e o prazo para o projeto? Veremos aqui como uma organização pode maximizar a eficácia de seus esforços de desenvolvimento de produtos, considerando primeiramente o conjunto de projetos potenciais que ela teria condições de realizar, decidindo quais projetos são mais desejáveis e lançando cada projeto com foco em uma missão. Apresentamos um processo de planejamento de cinco etapas, começando com a identificação de oportunidades e resultando em uma declaração de missão para a equipe do projeto. 17 UNIDADE Oportunidades e Planejamento A empresa identifica o portfólio de produtos a serem desenvolvidos pela organização e o momento de sua introdução no mercado. O processo de planejamento considera oportunidades de desenvolvimento de produtos, identificadas por muitas fontes, incluindo sugestões de marketing, pesquisa, clientes, equipes de desenvolvimento de produtos atuais e benchmarking de concorrentes. Dentre essas oportunidades é escolhido um portfólio de projetos, são delineados os projetos e os recursos são alocados. O plano do produto é atualizado regularmente para refletir mudanças no ambiente competitivo, mudanças na tecnologia e informações sobre o sucesso dos produtos existentes. Os planos de produtos são desenvolvidos com os objetivos, capacidades, restrições e ambiente competitivo da empresa em mente. As organizações que não planejarem cuidadosamente os seus portfólios de projetos de desenvolvimento acabam incorrendo em ineficiências, tais como: · Cobertura inadequada dos mercados-alvo com produtos competitivos; · Falta de cronograma de lançamento de produtos no mercado; · Desfasamento entre a capacidade de desenvolvimento e o número de projetos em andamento; · Fraca distribuição de recursos, com alguns projetos com excesso de pessoal e outros sem; · Iniciação e posterior cancelamento de projetos mal concebidos; · Mudanças frequentes nas direções dos projetos. Quatro tipos de projetos de desenvolvimento de produtos podem ser distinguidos: · Novas plataformas de produtos. Este tipo de projeto envolve um grande esforço de desenvolvimento para criar uma nova família de produtos baseada em uma nova plataforma comum. A nova família de produtos abordaria mercados e categorias de produtos conhecidos; · Derivados de plataformas de produtos existentes. Estes projetos estendem uma plataforma de produto existente para atender melhor a mercados familiares com um ou mais produtos novos; · Melhorias em produtos existentes. Estes projetos só podem envolver a adição ou modificação de alguns recursos em produtos existentes para manter a linha de produtos atualizada e competitiva; · Produtos fundamentalmente novos. Projetos desta natureza envolvem tecnologias de produção ou produto radicalmente diferentes e podem ajudar a lidar com mercados novos e desconhecidos. Tais projetos envolvem inerentemente mais riscos. No entanto, o sucesso a longo prazo da empresa pode depender do que é aprendido através destes importantes projetos. 18 19 Identi�cação das oportunidades Avaliação e priorização de projetos Portfólio de projetos Planejamento do produto Estabelecimento da missão Múltiplos projetos Alocação de recursos e planejamento do tempo Planejamento completo do pré-projeto Processo de desenvolvimento do produto Figura 2 – O processo de planejamento do produto Fonte: Acervo do Conteudista A Figura 2 ilustra as etapas do processo de planejamento do produto. Em primeiro lugar, são priorizadas as múltiplas oportunidades selecionadas previamente e é selecionado um conjunto de projetos promissores. Os recursos são alocados para esses projetos e em seguida são agendados. Essas atividades de planejamento se concentram em um portfólio de oportunidades e projetos em potencial e às vezes são referidas como gerenciamento de portfólio, planejamento agregado de produtos, planejamento de linha de produtos ou gerenciamento de produtos. Uma vez que os projetos foram selecionados e os recursos alocados, uma declaração de missão é desenvolvida para cada projeto. A formulação de um plano de produto e o desenvolvimento de uma declaração de missão, portanto, precedem o processo de desenvolvimento do produto real. Embora tenhamos mostrado o processo de planejamento essencialmentelinear, as atividades de seleção de projetos promissores e alocação de recursos são inerentemente iterativas. As realidades dos cronogramas e dos orçamentos muitas vezes obrigam a uma reavaliação das prioridades e a um maior aperfeiçoamento ou até a eliminação de projetos potenciais. O plano de produtos é, portanto, reavaliado com frequência e deve ser modificado com base nas informações mais recentes das equipes de desenvolvimento, laboratórios de pesquisa, produção, marketing e organizações de serviços. Na prática, as pessoas menos envolvidas no processo são muitas vezes as primeiras a perceber que algo sobre o plano geral ou a missão de um projeto é inconsistente, inviável ou desatualizado. A capacidade de ajustar o plano do produto ao longo do tempo é vital para o sucesso a longo prazo da empresa. Para desenvolver um plano de produto e declarações de missão do projeto, sugere-se um processo de cinco etapas: Etapa 1 – identificar oportunidades: O processo de planejamento começa com a identificação de oportunidades de desenvolvimento de produtos, conforme visto acima. Etapa 2 – avaliar e priorizar projetos: A segunda etapa do processo de planejamento do produto é, portanto, selecionar os projetos mais promissores para prosseguir. Sete perspectivas básicas são úteis na avaliação e priorização de oportunidades para novos produtos: 19 UNIDADE Oportunidades e Planejamento · Estratégia competitiva. A estratégia competitiva de uma organização define uma abordagem básica para mercados e produtos em relação aos concorrentes. A escolha das oportunidades pode ser orientada por esta estratégia. A maioria das empresas dedica muita discussão em nível de diretoria às suas competências estratégicas e às formas pelas quais elas pretendem competir. Várias estratégias são possíveis, tais como: · Tecnologias atuais. Para implementar esta estratégia, a empresa dá grande ênfase à pesquisa básica e desenvolvimento de novas tecnologias e à implantação dessas tecnologias através do desenvolvimento de produtos; · Custos relevantes. Esta estratégia exige que a empresa recorra à eficiência da produção, seja implementação de economias de escala, uso de métodos de fabricação superiores, mão de obra de baixo custo ou melhor gerenciamento do sistema produtivo; · Foco no cliente. Para seguir esta estratégia, a empresa trabalha em estreita colaboração com clientes novos e existentes para avaliar as suas necessidades e preferências. Produtos-plataforma cuidadosamente projetados facilitam o rápido desenvolvimento de produtos derivados com novos recursos ou funções de interesse para os clientes. Essa estratégia pode resultar em uma ampla linha de produtos com alta variedade para atender às necessidades de segmentos heterogêneos de clientes; · Imitar a concorrência. Esta estratégia envolve seguir de perto as tendências no mercado, permitindo aos concorrentes explorar quais novos produtos são bem-sucedidos para cada segmento. Quando oportunidades viáveis foram identificadas, a empresa rapidamente lança novos produtos para imitar os concorrentes bem-sucedidos. Um processo de desenvolvimento rápido é essencial para implementar esta estratégia de forma eficaz. · Segmentação de mercado. Os clientes podem ser considerados úteis como pertencentes a segmentos de mercado distintos. A divisão de um mercado em segmentos permite que a empresa considere as ações dos concorrentes e a força dos produtos existentes da empresa em relação a cada grupo bem definido de clientes. Ao mapear os produtos dos concorrentes e os produtos da empresa em segmentos, a organização pode avaliar quais oportunidades de produto melhor atendem às fraquezas de sua própria linha de produtos e que exploram fraquezas nas ofertas dos concorrentes; · Trajetória tecnológica. Em negócios de tecnologia intensiva, uma decisão-chave de planejamento de produto é quando se adota uma nova tecnologia básica em uma linha de produtos. Por exemplo, no negócio de documentos, a questão tecnológica-chave na virada do século foi a mudança para processamento de imagem digital e impressão. A decisão de planejamento do produto foi quando se desenvolveu produtos digitais, ao invés de desenvolver outro produto baseado na tecnologia analógica. As curvas S da tecnologia constituem uma ferramenta conceitual para ajudar a pensar sobre tais decisões. Normalmente, as tecnologias evoluem desde 20 21 o surgimento, quando o desempenho é relativamente baixo, passando por um rápido crescimento do desempenho com base na experiência e, finalmente, aproximando-se da maturidade, onde algum limite tecnológico natural é alcançado e a tecnologia pode tornar-se obsoleta; · Planejamento da plataforma do produto. A plataforma de um produto é o conjunto de recursos compartilhados em um conjunto de produtos. Por exemplo, na indústria automobilística a Volkswagen do Brasil produziu, na década de 1980, os modelos Gol, Voyage, Parati e Saveiro, todos com o mesmo chassi, painel de instrumentos, câmbio, motor e outros componentes. Uma plataforma eficaz pode permitir a criação de uma variedade de produtos derivados de forma mais rápida e fácil, com cada produto proporcionando as características e funções desejadas por um determinado segmento de mercado. Uma vez que os projetos de desenvolvimento de plataformas podem levar de 2 a 10 vezes mais tempo e dinheiro que projetos de desenvolvimento de produtos derivados, uma empresa não pode se dar ao luxo de fazer uma nova plataforma para cada projeto. A decisão estratégica crítica nesta fase é se um projeto irá desenvolver um produto derivado de uma plataforma existente ou desenvolver uma plataforma inteiramente nova; · Decisões sobre as plataformas de produtos estão muito estreitamente relacionadas aos esforços de desenvolvimento de tecnologia da empresa e às decisões sobre quais tecnologias a empregar em novos produtos. Uma técnica para coordenar o desenvolvimento tecnológico com o planejamento do produto é o roteiro da tecnologia. Um roteiro tecnológico é uma maneira de representar a disponibilidade esperada e o uso futuro de várias tecnologias relevantes para o produto considerado. Este método tem sido utilizado pela Motorola, Philips, Xerox e outros líderes em indústrias de tecnologia de ponta. O método é particularmente útil para o planeamento de produtos em que os elementos funcionais críticos são bem conhecidos de antemão. Para criar um roteiro tecnológico, várias gerações de tecnologias são rotuladas e organizadas ao longo de uma linha de tempo. O roteiro da tecnologia pode ser aumentado com o tempo de projetos e aqueles que utilizariam esses desenvolvimentos tecnológicos; · Avaliar novas oportunidades de produto. Além de poder lançar novas versões de produtos em categorias de produtos existentes, a empresa enfrenta muitas oportunidades em novos mercados ou tecnologias fundamentalmente novas. Investir recursos escassos no desenvolvimento de produtos usando novas tecnologias ou para novos mercados é bastante arriscado, porém alguns desses investimentos são necessários periodicamente; · Rejuvenescer o portfólio de produtos. Alguns critérios para avaliar fundamentalmente novas oportunidades de produto incluem: 21 UNIDADE Oportunidades e Planejamento · Tamanho do mercado (unidades/ano versus preço médio); · Taxa de crescimento do mercado (base anual); · Intensidade competitiva (número de concorrentes e seus pontos fortes); · Profundidade do conhecimento existente da empresa sobre o mercado; · Profundidade do conhecimento existente da empresa sobre a tecnologia; · Ajustar com outros produtos da empresa; · Ajustar-se às capacidades da empresa; · Possibilidade de patentes, segredos comerciais ou outros obstáculos à concorrência; · Existência de um produto líder de vendas dentro da empresa. Embora esses critérios sejam particularmente úteis na avaliação de novas oportunidades de produtos, eles também se aplicam geralmenteà avaliação de qualquer oportunidade de produto. Esses critérios podem ser usados em uma matriz de triagem simples para avaliar a atratividade geral e os tipos de risco para qualquer oportunidade; · Balancear o portfólio. Existem muitos métodos para ajudar os geren- tes a gerenciar o portfólio de projetos de desenvolvimento de uma orga- nização. Vários desses métodos envolvem o mapeamento do portfólio ao longo de dimensões úteis para que os gerentes possam considerar as implicações estratégicas de suas decisões de planejamento. Um mapea- mento particularmente útil, sugerido por Ulrich e Eppinger (2012), traça o portfólio de projetos em duas dimensões específicas: a extensão em que o projeto envolve uma mudança na linha de produtos e a extensão em que o projeto envolve uma mudança nos processos de produção. Essa perspectiva pode ser útil para esclarecer desequilíbrios na carteira de projetos em consideração e para avaliar a consistência entre um portfólio de projetos e a estratégia competitiva. Por exemplo, uma empresa pode descobrir que não identificou essencialmente nenhuma oportunidade de inovação ou que não tem projetos voltados para melhorias incrementais de produtos existentes. Não existem procedimentos gerais para decidir exatamente como o portfólio deve ser. No entanto, a escolha da estratégia competitiva da empresa deve afetar a forma da carteira de desenvolvi- mento de produtos. Por exemplo, uma empresa que segue uma estratégia de baixo custo espera que a carteira contenha mais projetos de melhoria de processos de produção. As empresas que seguem uma estratégia que exige uma variedade elevada de produtos teriam de desenvolver muitos produtos derivados com base nas plataformas existentes. As empresas que implementam uma estratégia baseada na superioridade tecnológi- ca podem precisar ter uma carteira que inclua mais desenvolvimento de tecnologia e projetos inovadores, mesmo sabendo que nem todos esses projetos de risco resultarão em novos produtos comercializáveis. Observe 22 23 que o planejamento de atividades de pesquisa e desenvolvimento tecno- lógico não está estreitamente associado ao processo de planejamento de produtos, mas geralmente fora dele. Etapa 3 – Alocar recursos e planejar o tempo: É muito provável que a empresa não possa se dar ao luxo de investir em cada oportunidade de desenvolvimento de produtos de seu desejado portfólio equilibrado de projetos. Como o tempo e a alocação de recursos são determinantes para os projetos mais promissores, muitos projetos competirão invariavelmente por poucos recursos. Como resultado, a tentativa de atribuir recursos e planejar o cronograma quase sempre resulta em um retorno à etapa de avaliação prévia e de priorização para reformular os projetos a serem considerados. · Alocação de recursos. Muitas organizações assumem muitos projetos sem considerar a disponibilidade limitada de recursos de desenvolvimento. Como resultado, engenheiros qualificados e gerentes acabam se envolvendo cada vez em projetos, resultando que a produtividade cai drasticamente, os proje- tos demoram mais para serem concluídos, os produtos chegam com atraso no mercado e os lucros caem. O planejamento agregado ajuda uma organi- zação a fazer um uso eficiente de seus recursos, buscando apenas os projetos que podem ser razoavelmente completados com os recursos orçados; · Estimar os recursos necessários para cada um dos projetos força a organi- zação a enfrentar a realidade de recursos finitos. Na maioria dos casos, os recursos primários a serem gerenciados referem-se ao esforço da equipe de desenvolvimento, geralmente expresso em horas-homem ou mês-homem. Outros recursos críticos também podem exigir um planejamento cuidadoso, como instalações para o modelo, equipamentos de prototipagem rápida, li- nhas de produção piloto, instalações de teste, e assim por diante. As estima- tivas dos recursos necessários em cada período dependem dos recursos dis- poníveis para calcular um índice de utilização da capacidade total (demanda/ capacidade), bem como as utilizações por tipos de recursos. Onde a utiliza- ção exceder 100 por cento, não há recursos suficientes para executar todos os projetos planejados no cronograma. De fato, para permitir contingências e permitir a capacidade de resposta, a utilização planejada da capacidade deve situar-se abaixo de 100%. No processo de planejamento agregado, uma or- ganização pode achar que possui um excesso de recursos, mas essa é uma situação perigosa. Portanto, a organização deve decidir, na fase de plane- jamento, quais projetos são mais importantes para o sucesso da empresa e levar avante somente aqueles considerados viáveis com os recursos disponí- veis. Outros projetos podem precisar ser eliminados ou deslocados no tempo. · Cronograma do projeto. Determinar o cronograma e a sequência de proje- tos, às vezes chamado de gerenciamento pipeline, deve considerar uma série de fatores, incluindo: · Contagem regressiva para o lançamento do produto. Geralmente quanto mais cedo um produto for lançado no mercado, melhor. No entanto, lan- 23 UNIDADE Oportunidades e Planejamento çar um produto antes que sua qualidade seja atestada pode prejudicar a reputação da empresa. Algumas empresas, no intuito de preservarem a reputação, lançam alguns produtos com marcas diferentes; caso produto seja um fracasso de vendas, o nome da empresa estará preservado. Por exemplo, o pneumático marca Seat foi fabricado pela Pirelli Brasil; · Atualização tecnológica. A robustez das tecnologias utilizadas desem- penha um papel crítico no processo de planeamento. Uma tecnologia comprovada e robusta pode ser integrada em produtos com muito mais rapidez e confiabilidade; · Preparação para o mercado. A demora no lançamento de um produto determina se os consumidores irão comprar um produto com tecnologia inferior com um preço mais baixo ou se comprarão um produto com tec- nologia de ponta, oferecido a um preço inicial elevado. Liberar produtos precocemente pode frustrar os clientes. Por outro lado, demorar no lan- çamento de novos produtos leva ao risco de ficar atrás dos concorrentes; · Concorrência. O lançamento de novos produtos pelos concorrentes pode acelerar o cronograma dos projetos de desenvolvimento. · Plano de produtos. O conjunto de projetos aprovados pelo processo de planejamento e sequenciado no tempo, torna-se o plano de produtos. O plano pode incluir uma mistura de produtos fundamentalmente novos, projetos de plataformas e projetos de derivados de tamanhos variados. Os planos de produtos são atualizados periodicamente, usualmente em base trimestral ou anual, como parte das atividades de planejamento es- tratégico da empresa. Etapa 4 – planejamento completo do pré-projeto: Uma vez que o projeto tenha sido aprovado, mas antes que recursos substanciais sejam aplicados, uma atividade de planejamento pré-projeto deve ser levada a cabo. Esta atividade envolve uma equipe pequena e multifuncional de pessoas, muitas vezes conhecida como a equipe principal. A fim de fornecer orientações claras para a organização de desenvolvimento de produtos, geralmente a equipe formula uma definição mais detalhada do mercado- alvo e dos pressupostos sob os quais a equipe de desenvolvimento irá operar. Essas decisões são condensadas em uma declaração da missão, conforme descrito a seguir. · Declarações da missão. A declaração de missão pode incluir algumas ou todas as seguintes informações: · Descrição sucinta (uma frase) do produto. Esta descrição identifica a função básica do produto, evitando entrar em detalhes. Pode, de fato, ser a declaração de visão do produto; · Benefícios do propósito. Este elemento da declaração da missão arti- cula os poucos motivos críticos pelos quais um cliente compraria o pro- 24 25 duto. Até certo ponto, esta é uma hipótese, que será validada durante o processo de desenvolvimento do conceito; · Principais objetivos dos negócios. Além dos objetivosdo projeto que subsidiam a estratégia corporativa, esses objetivos geralmente incluem metas de tempo, custo e qualidade (por exemplo, cronograma do lan- çamento do produto, desempenho financeiro desejado, metas de par- ticipação de mercado etc.). · Pressupostos e restrições. Ao criar a declaração da missão, a equipe considera as estratégias de várias áreas funcionais dentro da empresa. Entre as muitas estratégias funcionais possíveis a serem consideradas estão as de fabricação, os serviços e problemas ambientais. Uma visão alternativa é que as decisões sobre estas questões devem surgir a partir das necessidades do cliente para o novo produto e não deve ser determinada com antecedência. Primeiro, para projetos extremamente complexos ou que contenham alta tecnologia, o projeto do sistema de manufatura é um projeto de magnitude similar ao design do próprio produto. Como resultado, as instalações de fabricação envolvidas no produto precisam ser identificadas na fase inicial do processo. Em segundo lugar, alguns requisitos do produto não podem ser derivados estritamente das necessidades do cliente. Por exemplo, a maioria dos clientes não expressa diretamente a necessidade de baixo impacto ambiental. No entanto, muitas empresas têm optado por adotar uma política corporativa de design ambientalmente responsável. Nesses casos, a declaração da missão deve refletir tais objetivos corporativos e restrições; · Dotação de pessoal e outras atividades de planejamento pré- projeto. A atividade de planejamento pré-projeto geralmente também aborda a equipe de projeto e liderança. Isso pode envolver a obtenção de membros-chave da equipe de desenvolvimento para “se inscrever” para um novo projeto, ou seja, para concordar em comprometer-se a liderar o desenvolvimento do produto ou de um elemento crítico do produto. Os orçamentos também são geralmente estabelecidos durante o planejamento do pré-projeto. Para produtos fundamentalmente novos, os orçamentos e os planos de pessoal serão apenas para a fase de desenvolvimento do conceito de desenvolvimento. Isso ocorre porque os detalhes do projeto são altamente incertos até que o conceito básico para o novo produto tenha sido estabelecido. Um planejamento mais detalhado ocorrerá quando o conceito estiver mais desenvolvido. Passo 5 – refletir sobre os resultados e o processo: Nesta etapa final do processo de planejamento e estratégia, a equipe deve fazer várias perguntas para avaliar a qualidade do processo e dos resultados. Algumas perguntas sugeridas são: 25 UNIDADE Oportunidades e Planejamento · O funil de oportunidade coletou um conjunto atraente e diversificado de oportunidades de produto? · O plano de produtos apoia a estratégia competitiva da empresa? · O plano de produto aborda as oportunidades atuais mais importantes que a empresa enfrenta? · Os recursos totais alocados para o desenvolvimento do produto são suficientes para aderir à estratégia competitiva da empresa? · Foram consideradas maneiras criativas de desenvolvimento, tais como o uso de plataformas de produtos, joint ventures e parcerias com fornecedores? · A equipe central aceita os desafios da declaração da missão resultante? · Os elementos da declaração da missão são consistentes? · As suposições listadas na declaração da missão são realmente necessárias ou o projeto está sobrecarregado? · A equipe de desenvolvimento terá liberdade para desenvolver o melhor produto possível? · Como melhorar o processo de planejamento do produto? Como a declaração da missão direciona o trabalho da equipe de desenvol- vimento, uma “verificação de realidade” deve ser realizada antes de prosseguir com o processo de desenvolvimento. Esta fase inicial é o momento de corrigir as falhas conhecidas, para que elas não se tornem prejudiciais à medida que o processo se desenvolve. 26 27 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Projeto e Desenvolvimento de Produtos BARBOSA FILHO, A. N. Projeto e desenvolvimento de produtos. São Paulo: Atlas, 2009. Elaboração de Projetos da Introdução a Conclusão CONSALTER, M. A. C. Elaboração de projetos da introdução a conclusão. [S.l.]: Ibpex, 2013. Moderno Gerenciamento de Projetos DALTON. V. Moderno gerenciamento de projetos. 2. ed. [S.l.]: Pearson, 2015. Inovação em Ambientes Organizacionais: Teorias, Reflexos e Práticas LOURES, R. C. R.; SCHIEM. M. Inovação em ambientes organizacionais: teorias, reflexos e práticas. [S.l.]: Ebpex, 2012. Desenvolvimento de Novos Produtos e Serviços PAIXÃO, M. V. Desenvolvimento de novos produtos e serviços. [S.l.]: Ibpex, 2013. O Gestor de Projetos RICHARD, N. O gestor de projetos. 2. ed. [S.l.]: Pearson, 2010. Product Design and Development ULRICH, T. K.; EPPINGER, S. D. Product design and development. New York: McGraw-Hill, 2012. 27 UNIDADE Oportunidades e Planejamento Referências BAXTER, M. Projeto de produto: um guia prático para o design de novos produtos. São Paulo: E. Blücher, 2011. ROTONDARO, R. G.; MIGUEL, P. A. C. Projeto do produto e do processo. São Paulo: Atlas, 2010. ROZENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2014. SLACK, N.; CHAMBERS, C. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 2012. ULRICH, T. K.; EPPINGER, S. D. Product design and development. New York: McGraw-Hill, 2012. 28
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