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Problema 2 Medula óssea Ref.: Tratado de hemato e Histologia interativa da universidade de Alfenas. A medula óssea é um órgão difuso, no entanto volumoso e muito ativo. No adulto saudável, produz por dia aproximadamente de 2,5 bilhões de eritrócitos (hemácias), 2,5 bilhões de plaquetas e 1,0 bilhão de granulócitos por kg de peso corporal. Essa formação é ajustada com exatidão às necessidades do organismo. No feto, a hematopoese começa durante o primeiro trimestre no saco vitelínico, continua após o segundo trimestre no fígado e em seguida, no baço. Durante o sétimo mês de vida intra uterina, a medula óssea se torna o sítio primário de hematopoese, onde permanece durante a vida adulta. A medula óssea é uma fonte de células-tronco para outros tecidos, onde podem produzir diversos tecidos, e não apenas células sanguíneas. A medula óssea consiste em: (1) células-tronco hematopoiéticas, células multipotentes capazes de auto renovação; (2) células precursoras comprometidas (célula-tronco mielóide e célula-tronco Iinfóide); (3) células em maturação. As células-tronco hematopoiéticas possuem a capacidade de auto renovação, e produzem duas células precursoras comprometidas: a célula-tronco mielóide e a célula-tronco linfóide, que se desenvolvem em suas progenies celulares diferentes. A auto renovação é uma propriedade essencial das células-tronco, fornecem progenitores mielóides comuns e progenitores Iinfóides comuns para a via de diferenciação ou maturação. As células-tronco mielóides e linfóides são células multipotentes (que diferenciam-se em apenas alguns tecidos), são comprometidas com a formação de células sanguíneas e dos órgãos linfóides. As células em maturação se desenvolvem a partir de células chamadas Unidades Formadoras de Colônias (UFCs). A célula-tronco mielóide produz as UFCs responsáveis pela regeneração dos eritrócitos (UFCs eritróides), plaquetas (UFCs megacariocíticas), basófilos (UFCs basófilas) e eosinófilos (UFCs eosinofílicas). Os monócitos e neutrófilos derivam de uma célula progenitora comprometida em comum (UFCs de granulócito-macrófago). A célula-tronco linfóide gera a progênies de células B na medula óssea e as progênies de células T no timo. Eritropoiese A partir da célula-tronco, a eritropoiese passa pelas células progenitoras até o primeiro precursor eritroide com estrutura identificável na medula óssea, o proeritroblasto. Essa célula tem a capacidade de se dividir e, em condições normais, sofre três divisões celulares sucessivas. Como resultado dessas divisões, o tamanho das células diminui progressivamente ocorrendo ao mesmo tempo a expansão dessa linhagem. Assim, o volume do parênquima eritroblástico da medula óssea cresce após o estímulo da eritropoiese. O número de eritroblastos basófilos corresponde ao dobro dos proeritroblastos, e o número de células seguintes, eritroblastos policromatófilos e eritroblastos ortocromáticos também dobra. Os eritroblastos ortocromáticos são incapazes de se dividir. O núcleo dessas células é degenerado em um processo denominado cariorréxis. O que sobra da célula sem núcleo é o eritrócito jovem recém formado, carregado de hemoglobina: o reticulócitos. Os reticulócitos atravessam os capilares sinusóides do baço para sofrerem a ação dos macrófagos esplênicos e, assim, tornarem eritrócitos maduros. A diminuição da quantidade de oxigênio cedida pelo sangue aos tecidos leva à secreção de uma substância de nominada eritropoetina (EPO), que atua sobre a medula óssea, levando ao aumento da produção de eritrócitos. Trombopoese As plaquetas são produzidas na medula óssea por fragmentação do citoplasma dos megacariótos. O megacarioblasto, precursor do megacariócito, surge por um processo de diferenciação da célula- tronco hematopoiética. O megacariócito amadurece por replicação endomitótica sincrônica, aumentando o volume do citoplasma à medida que o número de lobos nucleares aumenta em múltiplos de dois. As plaquetas formam-se pela fragmentação das extremidades das extensões do citoplasma do megacariócito. O principal regulador da produção de plaquetas é a trombopoetina, produzida pelo fígado e pelos rins. Ela desempenha o efeito de aumentar o número e o ritmo da maturação dos megacariócitos para a produção de mais plaquetas Granulopoiese e monopoiese Os granulócitos e monócitos do sangue são formados na medula óssea a partir de uma célula precursora comum. Na medula óssea existe um grande número de bastonetes e neutrófilos segmentados, que formam uma reserva granulocítica medular. Após liberação da medula óssea, os granulócitos permanecem de 6 a 10 horas na circulação antes de migra�rem para os tecidos onde desempenham sua função fagocítica. Na corrente sanguínea, os neutrófilos se distribuem em dois compartimentos ou pools de tamanho aproximado. Existe o pool circulante, que aparece nas contagens expressas no hemograma e o pool marginal, que não aparece nas contagens do hemograma. Nos tecidos, essas células permanecem de 4 a 5 dias até serem destruídos durante mecanismos de defesa ou por senescência. Muitos fatores de crescimento são envolvidos no processo de maturação da granulopoiese e monopoiese. Nesse sentido, fatores como IL-1, IL�3, IL-5, IL-6, IL-11 e os fatores estimulantes de colônias granulocítico-macrofágicas (GM-CSF), granulocíticas (G-CSF) e monocíticas (M-CSF) desempenham um papel importante. Leucemias agudas Ref.: fundamentos em hematologia e tratado de pediatria. Leucemias são um grupo de doenças caracterizadas pelo acúmulo de leucócitos malignos na medula óssea e no sangue. Podem ser classificadas em quatro subtipos: agudas ou cônicas e mieloides ou linfoides. As leucemias agudas são mais agressivas. A transformação maligna ocorre em células-tronco da hematopoese ou em progenitores primitivos. Acredita-se que o dano genético envolva vários passos bioquímicos básicos, resultando em: o Aumento da velocidade de produção; o Diminuição da apoptose; o Bloqueio na diferenciação celular. Juntos, esses eventos causam um acúmulo de células hematopoiéticas primitivas, os blastos. A leucemia aguda é definida pela presença de mais de 20% de blastos na medula óssea na apresentação clínica. A linhagem dos blastos é definida por imagem microscópio (morfologia), imunofenotipagem, análise citogenética e análise molecular. Isso definirá a origem mieloide ou linfoide dos blastos e localizará o estágio de diferenciação. A LLA origina-se a partir de uma alteração somática em uma célula linfoide B ou T progenitora, levando ao crescimento desordenado e à proliferação clonal dessa célula (blasto), o que faz que as células normais da medula óssea tenham sua produção alterada, resultando em anemia, sangramento e infecções. O mesmo ocorre na LMA, porém as células afetadas são os precursores mieloides, eritroides ou megacariocíticos. Epidemiologia: A leucemia aguda representa 25 a 30% dos casos de câncer em pediatria. A LLA responde por 80% dos casos; a LMA, por 15 a 20%, e a leucemia mieloide crônica (LMC), por 5%. No Brasil, em cada 10 a 15 casos de câncer em menores de 15 anos de idade, 4 são de LLA. A LLA tem seu pico de incidência entre 2 e 4 anos de idade, com maior incidência para o sexo masculino e raça branca ; na LMA, no entanto, ocorre maior acometimento em crianças com menos de 1 ano de idade e em adolescentes. Etiologia: Tanto a LLA como a LMA podem estar associadas a fatores ambientais ou genéticos. Radiação ionizante, quimioterapia, produtos químicos, fumo, ingesta de álcool materno e dieta com excesso de inibidores de topoisomerase II (frutas e vegetais com flavonoides; chá, vinho e chocolate com catequinas; cafeína) podem estar associados a um maior risco de LMA ou síndrome mielodisplásica. Várias síndromes estão associadas à LLA ou LMA, como as de Down e de Bloom, anemia de Fanconi, ataxia telangiectasia, entreoutras; no entanto, essas síndromes respondem por menos de 10% de todos os casos de leucemia em pediatria Fisiopatologia: A LLA surge a partir de mutações espontâneas que podem ocorrer durante o desenvolvimento normal dos linfócitos, já que existe atividade mutagênica no processo de rearranjo gênico e a taxa de multiplicação dessas células é alta. As alterações podem estar na expressão de proteínas dos genes p53 (supressor de tumor), MDM2 (inativa p53), p16 ou p15, etc. O gene p53 é importante na LLA; ele sofre mutações (deleções ou rearranjos gênicos) que levam à produção de proteína p53 alterada. As alterações genéticas e de imunofenotipagem são importantes como fatores prognósticos para o tratamento e para a sobrevida. Aspectos clínicos: O quadro clínico depende do grau de infiltração da medula óssea e de extensão de doença extramedular, e geralmente resulta de anemia, plaquetopenia e neutropenia, podendo estar presente há dias ou meses. Portanto, deve-se atentar a palidez, fadiga, anorexia, sangramentos, febre, hepatoesplenoadenomegalia e, especialmente, dor óssea, artrite e artralgia. A linfonodomegalia está presente em aproximadamente 50% das crianças com LLA. Distúrbios de coagulação são mais frequentes na LMA. Diagnóstico diferencial: Levando em conta que as leucemias agudas têm sintomas inespecíficos, o diagnóstico diferencial deve ser feito com doenças benignas e malignas que infiltram a medula óssea Mononucleose infecciosa, citomegalovírus, infecção aguda com linfocitose, neutropenia congênita e adquirida, etc. Benignas. Neuroblastoma, retinoblastoma, etc. Malignas. Aspectos laboratoriais: O diagnóstico adequado das leucemias depende do hemograma, do mielograma, da imunofenotipagem, da citogenética e do líquor. o hemograma: encontra-se desde leucopenia até hiperleucocitose com blastos, geralmente associada a neutropenia, anemia e plaquetopenia. o mielograma: presença de células atípicas no sangue periférico; depressão inexplicada de mais de uma série no sangue periférico; linfonodomegalia ou hepatoesplenomegalia inexplicada, associada a citopenias, sugerem a necessidade de realizar o mielograma. o imunofenotipagem: estuda as características imuno�lógicas das células hematopoiéticas normais e das doentes o citogenética: as alterações cromossômicas numéricas ou estruturais estão presentes em 60 a 85% dos casos de LLA. Leucemia mieloide aguda Patogênese: O genoma de LMA contém uma média de 10 mutações dentro dos genes codificadores de proteína. As mutações mais comuns são em: FLT3, NPM1 e DNMT3A. elas ocorrem em apenas um dos dois alelos para o gene e podem ser “perda ou ganho” de função. Ela é mais comum em adultos e constitui uma fraçãopequena das leucemias na infância. A LMA é classificada em 6 grupos principais: 1. LMA com anormalidades genéticas recorrentes: reúne subtipos com translocações cromossômicas ou mutações genéticas específicas; 2. LMA com alterações relacionadas a mielodisplasias: o prognóstico é pior do que os do primeiro subgrupo; 3. T-LMA- relacionadas a tratamento: consequência dos fármacos alquilantes, por exemplo; 4. LMA não especificada separadamente: ausência de anormalidades citogenéticas; 5. Sarcoma mieloide: assemelha-se a um tumor sólido, mas é composto por blastos mieloides; 6. Proliferações mieloiides relacionados a S.Down: mielopoese anormal transitória e LMA. Aspectos clínicos: o São dominados pelo quadro de insuficiência hematopoiética global, causado pelo acúmulo de células malignas na medula óssea. o Sangramento decorrente de trombocitopenia; o Coagulação intravascular disseminada (caracyerística da variante promielocítica de LMA); o Acometimento da pele e do SNC: características dos subtipos mielomonocítico e monocítico. Exames laboratoriais: Os exames hematológicos mostram, na grande maioria dos casos, anemiam normocrômica e normocítica e trombocitopenia. Costuma haver leucocitose e a microscopia da distensão sanguínea mostra um número variável de blastos. o Para o diagnóstico de LMA, é preciso ter, no mínimo, 20% de blastos na medula óssea ou a presença de qualquer alteração citogenética característica (por exemplo, t(8;21), AML1- ETO), independentemente do número de blastos. Citogenética e genética molecular: Anormalidades citogenéticas são usadas na classificação da maioria dos casos de LMA. Duas das mais comuns, t(8;21) e inv(16) associam-se a bom prognóstico. A leucemia promielocítica aguda é uma variante de LMA que contém a translocação t(15;17), em que o gene PML, no cromossomo 15, funde-se com o gene receptor alfa do ácido retinoico no cromossomo 17. Tratamento: 1. Tratamento de suporte: inclui a inserção de um cateter venoso central. Suporte hemoterápico e prevenção da lise tumoral. A contagem de plaquetas deve ser mantida acima de 1000 e a hemoglobina acima de 8. Qualquer episódio de febre deve ser imediatamente tratado. 2. Finalidade do tratamento: visualiza a remissão completa (<5% de blastos na medula óssea, hemograma e status clínicos normais); 3. Tratamento específico de LMA: é determinado pela idade, performance status do paciente e pelas alterações genéticas das células. Costuma ser feito em 4 blocos de uma semana cada, e os fármacos usuais são: citarabina e daunorrubicina (ambos doses convencionais ou altas), idarrubicina, mitoxantrona e etoposido são usados em vários protocolos. Prognóstico e estratificação do tratamento: Define-se remissão completa (<5% de blastos na medula óssea, hemograma e status clínicos normais). Um importante progressp no tratamento da ÇMA é o de basear o tratamento individual no grupo de risco. Uma citogenética favorável e uma remissão obtida depois de apenas um ciclo de quimioterapia predizem um bom prognóstico. Mas, monossomia 5 ou anormalidades de 7 dentre outras, colocam o paciente em um grave risco. Transplantes de Células-tronco (TCT): Reduz a frequência de recidiva da LMA e é oferecido em primeira remissão em casos selecionados de risco intermediário e de alto risco. Leucemia linfoide aguda A LLA é causada pelo acúmulo de linfoblastos na medula ósseae é a doença maligna mais comum na infância. Predominan os casos de linhagem de céluls B, com 85%, com incidência igual em ambos os sexos. 15% são casos de linhagem de células T, com predominância masculina. A incidência é máxima entre 3 e 7 anos, com 75% dos casos. A patogênese é variada, uma proporção de casos de LLA da primeira infância inicua-se de mutações genéticas ocorridas durante o desenvolvimento in útero. As crianças com alto nível de atividade social, têm uma incidência reduzida de LLA. Classificação: Aspectos clínicos: Decorrem das duas consequências principais da proliferação leucêmica: Insuficiência da medula óssea: 1. Anemia (palidez, letargia e dispneia); 2. Neutropenia (febre, mal estar, infecções da boca, da garganta, da pele, das vias aéreas, da região perianal, entre outras. 3. Trombocitopenia (equimose espontânea, purpura, sangramento gengival e menorragia). Infiltração de órgãos: 1. Linfonodopatia; 2. Hepatoesplenomegalia; 3. Síndrome meníngea (cefaleia, náuseas, vômitos, visão turva e dipoplia). Achados laboratoriais: O hemograma mostra anemia normocítica e trombocitopenia. O número de leucócitos pode estar normal, diminuída ou aumentada. A medula óssea é hipercelular com >20% de blastos leucêmicos. Exames radiológicos podem mostrar lesões ósseas líticas e massa mediastinal causada por aumento do timo ou dos linfonodos meadistinais, característica da LLLA-T. Diagnóstico diferencial: Inclui mononucleose, anemia aplástica, LMA, etc. Citogenética e genética molecular: Os casos são estratificados pelo número de cromossomos das células tumorais (ploidia) ou por anormalidades genéticas moleculares específicas. Os dois parâmetros definem a doença de bom ou mau prognóstico. As células hiperploidestêm >50 cromossomos e geralmente implicam em bom prognóstico. Em casos de hipoploidia <44 cromossomos têm mau prognóstico. Tratamento: 1. Tratamento de suporte; 2. Tratamento específico: é feito com quimioterapia, as vezes com radioterapia, e os protocolos são complexos e ajustados ao risco do paciente. Remissão: o objetivo é destruir rapidamente a maioria das células tumorais e levar à remissão; Consolidação: altas doses de quimioterapia com múltiplos fármacos para diminuir a carga tumoral. A níveis muito baixos ou eliminá-las. Profilaxia craniana: dirigidos aos SNC. Leucemia mieloide crônica Caracteristicamente uma doença que surge entre a quarta ou quinta décadas de vida, a leucemia mieloide crônica (LMC) raramente ocorre na faixa etária pediátrica. A LMC é uma desordem mieloproliferativa associada ao cromossomo Ph e/ou à fusão do gene BRC-ABL (BCR no cromossomo 22 e ABL no 9. Sua biologia tem a origem clonal e a presença de rearranjo cromossômico específico no estágio primitivo da maturação da célula-tronco hematopoiética. Essa leucemia se distingue das leucemias agudas por manter sua capacidade de maturação com acúmulo de células com características maduras, geralmente granulócitos e plaquetas, aparentando processo crônico. A LMC apresenta- se como síndrome mieloproliferativa crônica, oligo ou assintomática na fase crônica. Os sintomas dessa fase são relacionados à contagem leucocitária alta e à proliferação mieloide extramedular, com hepatoesplenomegalia. A LMC tem curso clínico trifásico, sendo que a fase crônica está presente ao diagnóstico em aproximadamente 85% dos casos. Na fase acelerada ocorre falha progressiva na diferenciação neutrofílica, e a contagem de leucócitos é mais difícil de ser controlada. Na agudização ou crise blástica, há falta de diferenciação dos blastos mieloides ou linfoides, uma condição que lembra a leucemia aguda. Epidemiologia: A LMC representa 5% das leucemias diagnosticadas em crianças até 15 anos de idade e é relatada em todos os países20. Não há fator etiológico determinado, porém a exposição à radiação ionizante, como a que ocorre em acidentes atômicos, aumenta a frequência da LMC. Aspectos clínicos: Esse tipo de leucemia apresenta nenhum ou poucos sintomas. Quando presentes, estão relacionados à alta contagem leucocitária e à hepatoesplenomegalia, a qual também pode ser de pequena monta, mas com capacidade de atingir grandes proporções, com comprometimento da expansibilidade torácica. Pode haver sintomas inespecíficos, como mal-estar, sudorese, cansaço fácil, inapetência, emagrecimento e aumento do volume abdominal, com plenitude pós-prandial. A proliferação de células precursoras hematopoiéticas fora da medula óssea é responsável pelo aumento do fígado e do baço. A fase em que os sintomas são escassos e o hemograma não apresenta células imaturas ou blásticas é denominada de fase crônica. Geralmente, o diagnóstico é suspeitado pelo achado de hepatoesplenomegalia e o hemograma mostra leucocitose acentuada, podendo chegar a mais de 100.000 leucócitos/mm3 , com predomínio de neutrófilos maduros. Nas fases acelerada e de agudização, ocorre aumento da contagem de células imaturas (blastos), podendo haver anemia e plaquetopenia. Na evolução, surge a fase chamada de agudização, em que os sintomas são mais aparentes, especialmente de falência medular, com sangramento, infecções e quadro hematológico semelhante ao de uma leucemia aguda. A transformação aguda (<20% de blastos no sangue ou na medula óssea) pode ocorrer rapidamente em dias ou semanas, mas é mais comum haver antes a fase acelerada, com anemia, trombocitopenia, basofilia, blastos no sangue e blastos de 10 a 19% na medula óssea, o baço baço pode estar aumentado, apesar da contagem de leucócitos no sangue estar contida. Nos casos em que a doença já se encontra com sinais clínicos, os aspectos gerais são os seguintes: 1. Sintomas relativos a hipermetabolismo (ex.: perda de peso, lassidão, anorexia ou suores noturnos). 2. Hepatoesplenomegalia, associada ao desconforto abdominal, dor ou indigestão. 3. Sintomas de anemia, como palidez, dispneia e taquicardia. 4. Equimose, epistaxe, menorragia e hemorragia em outros locais devido ao defeito funcional das plaquetas. 5. Gota ou insuficiência renal causada pela hipeuracemia do catabolismo excessivo de purina. 6. Sintomas raros incluem distúrbios visuais e priapismo. Aspectos laboratoriais: Muitas vezes, o diagnóstico da LMC é ocasional, uma vez que os sintomas são escassos na fase crônica: o Hemograma: a leucometria pode ser moderadamente alta (acima de 25.000/mm3 ) ou atingir cifras de milhões/mm3 , sendo que 50% dos pacientes têm leucometria acima de 100.000/mm3 19. Há predomínio de granulócitos maduros, podendo apresentar algumas formas imaturas sem escalonamento (“hiato leucêmico”), bem como número aumentado de basófilos. o Aspirado e biópsia de medula óssea: o aspirado de medula óssea mostra medula hipercelular com predomínio de formas maduras de granulócitos, o Citogenética: o exame citogenético da medula óssea é essencial no diagnóstico, pela presença da translocação clonal balanceada entre o cromossomo 9 e o 22. o Exame molecular: outro exame que pode ser realizado do aspirado de medula óssea é a detecção molecular desse transcrito quimérico BCR-ABL, geralmente por meio da técnica de reação da polimerase em cadeia (PCR) por transcriptase reversa (RT-PCR). Esse exame pode ser quantitativo e serve de acompanhamento da resposta ao tratamento. Estadiamento: O mais usado é o escore de Sokal, que leva em conta a idade, porcentagem de blastos, dimensões de baço e contagem de plaquetas. Atualmente, a medida prognóstica mais relevante é a velocidade de resposta ao tratamentoo com um inibidor de tirosinoquinase. Tratamento: Quimioterapia: Tratamento com hidroxicarbamida pode controlar e manter a contagem de leucócitos na fase crônica, mas não reduz a porcentagem de células BCR-ABL1 positivas, esse tratamento foi substituído por TKis. O transplante de células-tronco alogênicas pode ser curativo e também utilizado como recurso contra doença avançada. Neutropenia febril Ref.: Atalia e SBP. Esta síndrome é considerada uma emergência médica e deverá merecer atenção clínica imediata para avaliação e administração de antibioterapia empírica e de largo espetro. Apesar da evolução contínua na prevenção de infeção, a neutropenia febril (NF) mantém-se como uma complicação frequente de doentes oncológicos sob quimioterapia. A NF conduz, frequentemente, a reduções de dose e adiamentos de tratamento, comprometendo o prognóstico de doença oncológica potencialmente curável. O quadro infecioso poderá evoluir rapidamente com instabilidade hemodinâmica, sendo que é recomendado o início de terapêutica antibiótica até 1 hora após a documentação de febre. A Infectious Diseases Society of America (IDSA) define febre num doente neutropénico como uma única medição de temperatura oral ou timpânica ≥38.3ºC, ou uma temperatura =38.0ºC por mais de uma hora. A definição de neutropenia não é consensual. É normalmente definida como um número absoluto de neutrófilos abaixo de 1.0 x 10^9/L. Neutropenia grave é definida como um número absoluto de neutrófilos abaixo de 0.5 x 10^9/L ou um número absoluto de neutrófilos que seja expectável que diminua abaixo de 0.5 x 10^9/L em 48 horas. Neutropenia severa como valor abaixo de 0.1 x 10^9/L4 . O risco de infecções bacterianas aumenta exponencialmente com valores abaixo de 0.1 x 10^9/L e com uma duração da neutropenia de mais de 7 dias. A neutropenia torna-se clinicamente importante nos pacientes com câncer quando a contagem absoluta de neutrófi los for inferior a 500/mm3 ou inferior a 1.000/mm3 , com previsão de queda nas próximas 48 horas. O risco relativo de infecção está relacionado ao grau e à duração da neutropenia3,6.É importante, no entanto, o pediatra estar ciente que o paciente com doença oncológica possui risco aumentado de infecção, mesmo quando a contagem de neutrófilos é normal, pois essas crianças possuem alterações hematológicas qualitativas, ou seja, apresentam a chamada ‘’neutropenia funcional’’. Em alguns pacientes ao invés de febre, pode ocorrer hipotermia, hipotensão arterial ou confusão mental. SÍNDROMES DE NEUTROPENIA FEBRIL A International Immunocompromised Host Society (IIHS) classifica em 3 categorias os síndromes de NF iniciais: • Infecção documentada microbiologicamente – NF com um foco clínico de infeção e um patogénio associado. • Infecção documentada clinicamente – NF com um foco clínico de infecção mas sem o isolamento de um patogénio associado. • Febre não explicada – NF sem um foco clínico de infecção e sem o isolamento de um patogénio asso�ciado. Patogênese: Fatores relacionados com a patogênese de NF incluem: • Efeito directo de quimioterapia no sistema imunológico e nas barreiras mucosas • Falhas nas defesas do doente em relação com a doença oncológica subjacente. Sendo as mucosas do sistema gastrointestinal constituídas por epitélio em constante proliferação, são também das mais afetadas por terapêutica citotóxica antineoplásica. A mucosite induzida por quimioterapia ocorre por todo o sistema gastrointestinal. Obstrução de linfáticos, vias biliares, árvore brônquica, sistema urinário ou gastrointestinal pelo(s) tumor(es) ou secundária a procedimentos cirúrgicos são também causas comuns de infecção. A administração de quimioterapia não só contribui para a diminuição do número de neutrófilos como provoca defeitos funcionais nas células, nomeadamente defeitos de fagocitose. • O risco de diferentes tipos específicos de infecção é influenciado pela neoplasia subjacente e pelos défices imunológicos associados de defesa humoral ou celular. • O risco de sepsis a organismos encapsulados maior em doentes com produção anormal de anticorpos – mieloma múltiplo ou leucemia linfocítica crónica, por exemplo. Defeitos na função de células T (por exemplo, em linfomas) levam a um maior risco de infecção por organismos intracelulares (Listeria monocytogenes, Salmonella, Cryptococcus neoformans, e Mycobacterium tuberculosis). Epidemiologia: As infeções bacterianas são a maior causa identificável no desenvolvimento de febre e infeção no doente neutropénico. O espectro de patogénios bacterianos mais frequentemente identificados em doentes com NF também se foi alterando ao longo dos anos. A prevalência de agentes Gram negativos na década de 1960 evoluiu para uma maior prevalência de Gram positivos ao longo de 1990. Em 2013, o agente mais frequentemente isolado em hemoculturas foi Staphylococcus coagulase negativo. Apenas em 20- 30% dos episódios de NF se consegue identificar microbiologicamente o agente infeccioso A evolução do espectro microbiológico no doente neutro�pénico surge em relação com algumas alterações na prática clínica: introdução de cateter venoso central (CVC) e outros meios invasivos terapêuticos e diagnósticos, uso de regimes de antibioterapia empírica em NF com intuito de cobertura de pseudomonas aeruginosa, uso de antibioterapia profilática primariamente ativa a agentes Gram negativos e o uso de novos esquemas de quimioterapia. Infeção fúngica é raramente a causa de um primeiro episódio febril no doente neutopénico. Ocorre, mais frequentemente, no evoluir da situação clínica, como causa de febre persistente ou recorrente após a primeira semana de neutropenia. As infeções virais são raras em doentes de baixo risco. Em doentes de alto risco são comuns episódios de reativação de vírus Herpes Simplex 1 e 2 ou Varicela Zóster. Diagnóstico: Clínico: O pediatra deve questionar sobre o tipo histológico da neoplasia, a data da última quimioterapia, tipo de quimioterapia utilizada, comorbidades associadas, causas concomitantes não infecciosas de febre (como recebimento de produtos sanguíneos), uso de antibiótico ou antifúngico recente (terapêutico ou profilático), presença de infecção prévia e sobre o uso de cateter intravascular, ou a presença de outros dispositivos. Os sinais vitais devem ser monitorados, pois podem ser o único indicador a chamar a atenção para a possibilidade de infecção grave, mesmo que a criança mantenha aparente bom estado geral. No exame físico, o pediatra deve ter atenção especial à avaliação da pele, mucosas, fâneros, região genital, anal, oral e locais de inserção de cateteres, visando a identificação do foco infeccioso. Laboratorial e imagem: Hemograma completo, provas de função renal e hepática, eletrólitos, lactato, proteína C reativa, procalcitonina (quando disponível), exame qualitativo de urina em menores de 5 anos de idade, hemocultura e cultura de secreções ou de feridas, quando presentes, são fundamentais na avaliação desses pacientes. A hemocultura deve ser repetida caso a criança permaneça febril após o início da antibioticoterapia empírica, ou se houver mudança do quadro clínico, ou se a febre retornar após a defervescência inicial em resposta à antibioticoterapia empírica. – Hemocultura (HMC) de todos os lumens do CVC: forte recomendação científica e baixa qualidade de evidência. – Hemocultura do sangue periférico concomitante com a do CVC: fraca recomendação e moderada qualidade de evidência. – Coleta de urina pela técnica do jato médio com urocultura: fraca recomendação e baixa qualidade de evidência – Radiografia de tórax somente para os pacientes com sinais e sintomas respiratório. – Realizar tomografia computadorizada (TC) de pulmões: forte recomendação, baixa qualidade de evidência. – Exames de imagem de abdome, em pacientes sem sinais ou sintomas de localização: fraca recomendação, baixa qualidade de evidência. Manejo terapêutico: • Estratificação de Risco: Adotar uma estratégia de estratificação de risco validada e incorporá-la à prática clínica. As escalas de risco devem ser validadas em cada hospital conforme sua capacidade localmente instalada. Por este motivo, não existe internacionalmente uma escala que seja recomendada de forma universal. Para isso é preciso fazer análises laboratoriais e sintomatológicos. • Antibioticoterapia empírica 1) Neutropenia febril de alto risco: a) Monoterapia com um β−lactâmico antipseudomonas, cefalosporina de quarta geração ou carbapenêmico como terapêutica empírica; b) Reservar o acréscimo de um segundo agente anti- gram negativos ou glicopeptídeo para pacientes que estão clinicamente instáveis, quando se suspeita de uma infecção resistente ou em centros com alta taxa de germes patogênicos resistentes. 2) Neutropenia febril de baixo risco: a) Considerar manejo inicial ou progressivamente ambulatorial, somente se a infraestrutura local permitir a supervisão cuidadosa e acompanhamento contínuo; b) Considerar administração de antibiótico por via oral se a criança consegue ingeri-los de forma confiável. Nos pacientes com neutropenia febril, após quimioterapia, é fundamental que o antibiótico empírico seja imediatamente iniciado até que se aguarde o resultado dos exames complementares, pois as infecções no hospedeiro imunocomprometido progridem rapidamente. Alterações orais da quimioterapia em pacientes com LLA Ref.: Lucas Caldas, et al. O tratamento quimioterápico pode ocorrer associado ou não à radioterapia corpórea, em casos nos quais se faz necessário o transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) Apesar de destruir as células malignas, esses compostos quimioterápicos atingem também as células regulares do organismo, principalmente aquelas pouco diferenciadas ou com alto metabolismo, causando efeitos colaterais. Na cavidade oral, essa modalidade terapêutica é responsável por complicaçõesagudas e tardias, que ocorrem em cerca de 40% dos pacientes oncológicos. Os efeitoscolaterais podem ocorrer em virtude da estomatotoxicidade direta e/ou indireta, a primeira corresponde aos efeitos diretos sobre células mióticas de cavidade oral. A segunda, é uma consequência dos efeitos em células específicas, a exemplo das células constituintes da medula óssea o qu promovea mieloablação, e favorece o aparecimento de infecções e hemorragias. Além disso, a imunossupressão também agrava o quadro. Os achados clínicos na cavidade oral ocasionados pelo quadro de LLA são a palidez na mucosa, hiperplasia gengival, petéquias, hemorragia gengival espontânea e linfadenopatia. Dentre os agravos à saúde do paciente oncológico em virtude do tratamento quimioterápico, pode-se destacara mucositeoral,xerostomia, disfagia, disgeusia/hipogeusiaeinfecções oportunistas. Monocosite oral: são lesões inflamatórias na cavidade bucal, com acometimento principal da mucosa não ceratinizada, com consequente alteração de cor e textura, que surge, geralmente, nos primeiros 10 dias após iniciar o tratamento quimioterápico. Hipossalivação e xerostomia: sensação de boca seca e a hipossalivação, compreende a produção incompetente da saliva. Disgagia: dificuldade de deglutição. Disgeusia/hipogeusia: diminuição do paladar ou alteração dos 4 paladares por período indeternado,. A disfagia e a xerostomia altera as papilas gustativas. Doenças oportunistas: ocorrem devido a imunossupressão, a Candida é a mais frequente. Comunicação de más notícias Ref.: Ana Gesser. 1 – Ambientação (S – Setting up): esta etapa descreve uma maneira eficiente de iniciar a comunicação, através do ensaio mental. Ela consiste em revisar o plano da transmissão da notícia que será repassada ao paciente e o preparo do médico para responder às possíveis reações emocionais e perguntas difíceis. O ambiente em que irá se desenrolar a informação precisa oferecer privacidade e condições favoráveis a uma discussão focada e sem distrações. Além disso, deve-se permitir que o paciente selecione e inclua a participação de uma ou duas pessoas que considera importantes neste momento, haja vista que grande parte deles desejam estar acompanhados em ocasiões como esta. Recomenda�se que o médico se sente e que faça o possível para que não existam barreiras físicas entre si e os agentes, a fim de colaborar com o fortalecimento do vínculo. O comportamento assumido pelo profissional carece de neutralidade, contato visual e a dissimulação de sinais de ansiedade. Estabelecer contato físico como tocar no braço do paciente ou segurar sua mão podem ser atitudes reconfortantes, as quais representam acolhimento. 2 – Percepção (P – Perception): tanto na etapa 2, quanto na etapa 3 do protocolo, a máxima “antes de contar, pergunte” deve ser implementada. Em outros termos, antes de iniciar a transmissão da má notícia, o profissional deve verificar o quanto o enfermo sabe acerca da gravidade de sua situação médica e como ele a entende. Dessa forma, será possível identificar as lacunas existentes entre as expectativas e a realidade e, a partir delas, adequar a informação conforme a compreensão do paciente. Para essa prática, torna-se ideal o uso de questionamentos abertos, alguns exemplos são: “quais informações você já recebeu a respeito do seu quadro clínico até o momento?” e “você sabe o motivo da solicitação dos exames realizados?”. Com base nesses conhecimentos, desinformações poderão ser retificadas e moldadas para que se anuncie a má notícia. 3 - Convite à participação (I – Invitation): sugestiona que o paciente seja convidado antecipadamente para receber as informações que o médico dispõe. Embora a maioria dos pacientes demonstre o desejo de saber plenamente sobre seu diagnóstico e todos os detalhes pertinentes a ele, outros não o fazem. Assim, pacientes e familiares desfrutam do direito de escolher se pretendem ou não saber sobre sua situação médica, sendo que essa opção deve ser sempre considerada e respeitada pelo profissional. Essa abordagem pode ser feita através de perguntas como: “de que maneira você gostaria de ser informado sobre os resultados dos seus exames?”. Caso o paciente opte por não conhecer os detalhes, o ideal é que o médico se coloque à disposição para esclarecimentos futuros. 4 - Conhecimento (K - Knowledge): esta fase inicia com o preparo do paciente, anunciando que más notícias serão reveladas. Isso dará alguns segundos a mais para que ele se prepare psicologicamente para o que vai ouvir. É necessário introduzir o assunto aos poucos e verificar periodicamente o entendimento do receptor, pois isso ajudará no processamento da má notícia e na redução de impactos emocionais. Exemplos de advertências incluem: “sinto informar, mas as notícias não são das melhores...” ou “infelizmente preciso lhe dizer que...”. Expor as informações em pequenas doses requer que o médico se certifique de que o paciente tenha compreendido cada pedaço. Isso poderá fazer com que o profissional repita várias vezes uma informação, principalmente quando o paciente parecer perturbado e mesmo se disser que compreende a situação. Neste momento, evita-se o uso da linguagem técnica e científica, tornando-se essencial o emprego de termos que se aproximem das expressões usadas pelo paciente, para que entenda claramente a notícia. À medida que as reações e emoções surgirem, deve-se reconhecê-las e respondê-las. 5 - Emoções (E - Emotions): as reações emocionais dos pacientes podem ser muito diversas, e a resposta a esses comportamentos é um dos maiores entraves da comunicação em más notícias. O método mais útil para a transmissão é a chamada “resposta empática”, que pretende desenvolver uma conduta afetiva através de três subetapas: (1) primeiramente é necessário ouvir e identificar a emoção experimentada pelo paciente. Quando existirem incertezas acerca da emoção, deve-se estabelecer perguntas exploratórias como “o que você está sentindo?”; (2) observa-se uma ligação entre a emoção e o motivo que a desencadeou, o qual, provavelmente, será o recebimento da má notícia. Caso não seja possível essa relação, é recomendado que o profissional utilize perguntas abertas para obter do próprio paciente o que ele está sentindo; (3) após conceder um tempo para que a pessoa expresse suas emoções, o profissional deve demonstrar que foi sensibilizado pelo paciente. 6 – Estratégia e resumo (S – Strategy and summary): nesta etapa o profissional aborda um plano de tratamento após realizar um resumo de tudo que foi comunicado ao paciente, permitindo que o mesmo exponha suas dúvidas e garantindo esclarecimentos a respeito da notícia transmitida. Analisar o nível de compreensão do paciente acerca do que foi discutido é importante para evitar problemas relacionados à adesão ao tratamento. O ato de compartilhar deveres com o paciente na tomada de decisão pode diminuir qualquer sentimento de insucesso que o médico venha a sentir caso o tratamento não seja bem aceito. Além disso, precisa-se questionar o paciente se o momento em que se encontra é a melhor ocasião para tratar do assunto e se ele está preparado para tal conversa. O protocolo poderá ser finalizado com um plano claro das próximas decisões e das obrigações que ambos cumprirão ao executá-las. As fases do luto de acordo com Elisabeth Kübler-Ross Ref.: José Netto. A primeira fase do luto, de acordo com o “Método Kübler-Ross” é a negação. Quando uma pessoa recebe a notícia de que um ente querido morreu, sua primeira reação, na maioria das vezes, é dizer “não”, ou ainda “isso não pode ser verdade”. (KÜBLER-ROSS, 2008; KÜBLER-ROSS E KESLLER, 2005). A segunda fase é a raiva. Kübler-Ross e Kessler (2005) apontam que a raiva não é um sentimento que possua muita lógica, na medida em que ele pode ser direcionado para qualquer coisa ou pessoa que o sujeito enlutado queira. Por exemplo, a raiva pode ser direcionada para a equipe de saúde que não conseguiu salvara vida de seu ente querido; pode ser direcionada para si própria por não conseguir fazer nada para reverter a situação; pode ser direcionada para a vida por ser tão injusta e também pode ser direciona para Deus, na medida em que se questiona: “Por que, meu Deus? Por que você fez isso comigo?”. A terceira fase é a barganha. Aqui o sujeito começa a suplicar a Deus, a fazer promessas e juramentos de que não fará mais as coisas como antes, de que tudo será diferente. Frases como “Por favor, Deus. Se eu tiver apenas mais uma chance...”. A culpa geralmente vem acompanhada da barganha, em que o sujeito acredita que poderia ter feito algo diferente para a situação não ter chego onde está. A barganha é um sentimento que muda de maneira frequente e constante. Em um instante, o sujeito enlutado pode barganhar com Deus no sentido de pedir que seu ente querido não morra, e no outro, algum tempo depois, quando o processo de aceitação se aproxima, ele pode barganhar com Deus pedindo que, já que seu ente querido irá morrer, que seja de maneira indolor, sem causar sofrimento (KÜBLER-ROSS, 2008; KÜBLER-ROSS E KESLLER, 2005). A quarta fase é a depressão. Kübler-Ross e Kessler (2005) apontam que é muito importante se ter em mente que depressão aqui não deve ser compreendida como um estado patológico, que requeira a intervenção de medicamentos. A depressão, neste momento, deve ser compreendida como uma reação normal e apropriada após a perda de um ente querido. Os autores chamam a atenção, ainda, para a questão da medicalização do luto, do sofrimento que o sujeito está vivenciando neste momento de sua vida; a medicalização só deverá ser prescrita em casos de extrema necessidade e ainda ser combinada com psicoterapia, para um melhor resultado. A quinta e uma última fase é aceitação. Kübler-Ross e Kessler (2005) e Kübler-Ross (2008) destacam que essa fase é caracterizada como a aceitação por parte do enlutado da realidade. Ele passa a aceitar que seu ente querido não está mais entre ele, fisicamente, e que agora as coisas mudaram. É importante estar atento para a ideia de que aceitação não significa que tudo está bem e resolvido. A aceitação propicia que o sujeito passe a encarar sua nova realidade e a dar significado a ela, na medida em que novas relações podem ser estabelecidas e que se possa aprender a viver sem a pessoa que se foi. “Nós aprendemos a viver sem aquele que se foi. Nós começamos o processo de reintegração, tentando colocar de volta nossos pedaços que haviam sido arrancados” (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2005, p. 25, tradução nossa).