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1 Alimentação do Lactente com Fórmulas Lácteas Profa Patrícia Simões É utilizada nos casos em que a amamentação é contra indicada e quando todas as alternativas de estimular o aleitamento materno falharem. Leite de vaca (LV) é o mais utilizado, devido ao menor custo e facilidade de acesso! Consequências da introdução Leite de vaca RGE; Pneumonia (17x mais risco que o LM); Alergias e intolerâncias; Deficiência de ferro (LM também tem baixo teor, mas alta biodisponibilidade); Sobrecarga de soluto renal (Na, Cl e K) e sobrecarga protéica; Baixa oferta de PUFAS (Ácido araquidônico e DHA) – associado à menor escore de função cognitiva; Não oferece licopeno e poucos carotenoides; No intestino haverá predomínio de enterococus e coliformes e não bifidobactérias como àqueles alimentados com LM; Maiores gastos para a família; Maiores gastos para o setor de saúde; Não possuem Lactoferrina, Lisozima, L. bifidus e IgA. Critérios para seleção do leite ou da fórmula: • Condição sócioeconômica da família • Preparação da mamadeira muito diluída → desnutrição • Contaminação durante o preparo → risco de infecções intestinais → desnutrição • Condições de conservação do leite fluido; • Idade, maturidade e condições de saúde da criança (alergia e intolerância alimentar). Fórmulas a base de soja: • Recomendação: - Crianças cuja a necessidade nutricional não é preenchida pelo LM; - Dieta vegetariana; - Crianças com galactosemia* ou deficiência de lactase; - Crianças com alergia ao LV; - Soja é pobre em metionina, o que interfere no crescimento adequado, logo não são indicadas as “fórmulas caseiras”. As industrializadas são acrescidas de metionina; - Não recomendado para prematuros, pois pouco de sabe sobre a absorção e utilização destas fórmulas nesta fase. * Doença hereditária que impossibilita metabolizar galatose em glicose. • O crescimento de bebês alimentados com soja é igual àqueles alimentados com LV. 2 Leite desnatado O leite desnatado é contra-indicado para a criança → densidade energética baixa e deficiência de ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. Possuem mais proteína, potássio e sódio – maior sobrecarga renal Baixo teor de lipídeos e energia – essencial ao crescimento e desenvolvimento do SNC; Não é indicado para o tratamento de sobrepeso e obesidade em lactentes e pré-escolares; Dan (2009) também contra indica o leite semi desnatado. Leites achocolatados presença de antinutricionais (polifenóis e ácido fítico) no chocolate → redução da utilização da proteína, ferro e cálcio do leite. Leite de Cabra - Possui composição com maior teor de proteína, cálcio cloreto, potássio quando comparado ao LV – maior sobrecarga renal - Baixo teor de Folato; - Alto custo; - Crianças alérgicas ao LV podem desenvolver reação alérgica cruzada ao Leite de Cabra. Fórmulas isentas de Lactose • Indicada para lactentes com deficiência de lactase ou má absorção de lactose; • Carboidratos: Maltodextrina - Elimina complicações como diarreia e má absorção e são menos susceptíveis à fermentação das bactérias intestinais. Fórmulas a base de hidrolisado protéico Recomendação: - Crianças impossibilitadas de digerir ou alérgicas à proteína intacta do LV ou soja; - Proteína hidrolisada = hipoalergênica; - Má absorção importante no TGI, diarreia crônica; - Qualquer idade. Composição: - Isentas de glúten, sacarose, lactose e acrescidas de polímeros de glicose; - A gordura é representada pelo TCM e óleos poliinsaturados; Desvantagem: - Alto custo; - Osmolalidade; - Palatabilidade. A partir de 1 ano 3 Fórmulas elementares Recomendação: - Distúrbios absortivos moderados a graves, alergia alimentar (ao leite de vaca, à soja, a hidrolisados e a múltiplas proteínas); - Qualquer idade. Composição: - AA livres. Desvantagem: - Alto custo; - Osmolalidade; - Palatabilidade. Fórmulas Anti-regurgitação (Anti-refluxo) Recomendação: - Lactentes com doença refluxo gastro-esofágico (DRGE). Composição: - Princípio: Substituição parcial da lactose por amido de arroz ou milho pré- gelatinizados. - O pH estomacal Gelatinização: “espessamento” (maior resistência ao conteúdo gástrico). Fórmulas infantis modificadas 1ª conduta antes da prescrição da fórmula infantil modificada: – buscar justificativa para esta situação e incentivar o aleitamento materno; – observar a amamentação durante a consulta e se necessário, corrigir a técnica. São elaboradas com LV, mas possuem modificações: - teor de proteínas e eletrólitos; - Substituição de parte dos lipídeos por óleo vegetal; - Adição de carboidratos (maltodextrina e sacarose); - Adição de vitaminas, minerais, taurina e ferro; - É a melhor opção para a criança que não é amamentada com LM; - São categorizadas em: - “Fórmula infantil” indicadas para a alimentação no 1º semestre de vida; - “Fórmula infantil de seguimento” indicadas para o 2º semestre de vida; - “Fórmulas para prematuros ou pré-termos” visa suprir as necessidades nutricionais dos bebês prematuros, considerando sua capacidade gástrica restrita; Alta densidade energética; Lipídeos: Perfil diferenciado devido à imaturidade fisiológica - TCM. Fórmulas infantis modificadas Principais falhas encontradas no preparo das fórmulas - Erros de diluição; - Utilização de água não fervida; - Erro no armazenamento de fórmula preparada; - Adição de cereais e açúcar. Orientação de complementação da alimentação similiar à criança alimentada com LM; Sinais de flatulência, constipação, regurgitação, vômitos e diarreia são indicativos de intolerância e a fórmula deverá ser suspensa e o quadro investigado. 4 Cálculo do volume de mamadeiras: Método teórico: • Calcular a necessidade calórica do lactente; • Determinar a capacidade gástrica da criança; • Verificar a fórmula a ser utilizada em função da idade; • Calcular a composição da mamadeira; • Dividir a necessidade energética total pelo valor energético da mamadeira para obter número de mamadeiras/dia; • Transformar a fórmula em medidas caseiras. Cálculo do volume de mamadeiras: Exemplo 1: • Cálculo do volume de mamadeira para lactente, idade de 45 dias pesando 4,1 Kg 1. Recomendação energética diária: 110 Kcal/ Kg/ dia x 4,1 Kg = 451 Kcal/dia 2. Capacidade gástrica: 25 a 30 ml/Kg/mamada → 102 a 123 ml 3. Fórmula escolhida: NAN 1, que é reconstituído com 1 med para cada 30 ml de água, então escolhemos o múltiplo de 30 mais próximo = 120 ml. 4. Formula a ser utilizada; NAN 1 – 67 Kcal/100 ml – 1 medida/30 ml água 5. Composição da mamadeira: 100 ml - 67 Kcal 120 ml - x x = 80,4 Kcal 6. No de mamadeiras/ dia: 451/ 80,4 Kcal/ mamadeira = 5,6 = 6 mamadeiras/ dia, com 120 ml e 4 medidas niveladas do pó. Leite de vaca - É o que menos atende a recomendação da criança e requer cuidados com o uso. 1º cuidado: Leite fluido pasteurizado deve ser fervido para eliminar bactérias. O leite esterilizado pode sofrer apenas aquecimento; O leite fluido ao ser fervido melhora a digestibilidade; O aquecimento acarreta perda de nutrientes: C, B1, B12, ácido fólico; Não deve ser aquecido no microondas – risco de queimaduras. 2º cuidado: O leite deve ser diluído para reduzir o excesso de proteínas e eletrólitos. Desvantagem: redução da densidade energética e níveis de nutrientes (ácido linoléico, ferro, zinco, iodo, cobre, manganês e vitaminas hidro e lipossolúveis, AA) Deve-se adicionar carboidrato (farinha de cozimento ou instantâneas e açúcar) ao leite e introduzir a alimentação complementar (frutas e vegetais). Leite de vaca Esquema de adaptação de leite de vaca segundo a idade do lactente% calculado sobre o volume da mamadeira Preparo de Leite de vaca fluido • Uso de farinha de cozimento: após ser fervido para esterilização do produto; acrescentar a farinha de cozimento e, depois de pronto, adicionar o açúcar. • Uso de farinhas instantâneas: os complementos energéticos (farinha e açúcar) devem ser acrescentados depois. Leite de vaca em pó • Não deve ser fervido. • Uso de farinha de cozimento: o leite será adicionado com o açúcar somente após o cozimento da farinha com a água. • Uso de farinhas instantâneas: junta-se todos os ingredientes na água fervida previamente. Tipo de LV 0-30 dias 1-4 meses Após 5 meses fluido - diluição ao meio - HCO 8% (3% açúcar + 5% farinha) - diluição a 2/3 - HCO 8% (3% açúcar + 5% farinha) - leite integral - desnecessárias adições em pó - reconstituição 6,5 % - HCO 8% (3% açúcar + 5% farinha) - reconstituição 8,5 % - HCO 8% (3% açúcar + 5% farinha) - reconstituição 13 % - desnecessárias adições 5 Esquema de adaptação de LV segundo o Dez Passos para Alimentação Saudável (Ministério da Saúde) - Diluição a 2/3 (LV fluido) ou 10% (LV em pó) até os 4 meses; - Não indicado acréscimo de farinhas ou açúcar em < 4 meses completar a densidade calórica com acréscimo de óleo vegetal a 3% (1 colher chá para cada 100ml = 27 calorias); - Após os 4 meses não há necessidade de diluição e óleos. A criança receberá também outros alimentos. Cálculo do volume de mamadeiras: Método teórico: • Calcular a necessidade calórica do lactente; • Determinar a capacidade gástrica da criança; • Calcular a composição da mamadeira; • Dividir a necessidade energética total pelo valor energético da mamadeira para obter número de mamadeiras/dia; • Transformar a fórmula em medidas caseiras. Exemplo de cálculo utilizando LV diluído, farinha e açúcar: 9,5 – 48cal 1. cálculo do volume de mamadeira para lactente, menino de 45 dias pesando 4,1 Kg 2. Recomendação energética diária: 110 Kcal/ Kg/ dia x 4,1 Kg = 451 Kcal/dia 3. Capacidade gástrica: 25 a 30 ml/Kg/mamada → 102 a 123 ml (utilizaremos 120 ml) 4. Formula a ser utilizada: diluição a 2/3 5. Composição da mamadeira: Leite de vaca = 80 ml = 46 Kcal Água – 40 ml = 0 Kcal Açúcar – 3% = 3,6 g ~ 4 g = 16 Kcal Farinha (Mucilon Milho) – 5% = 6 g = 22,6 Kcal // VET = 84,6 Kcal OU (usando leite em pó) Leite em pó – 8,5% = 10,2g = 51,5 Kcal Água – 120 ml = 0 Kcal Açúcar – 3% = 3,6 g ~ 4 g = 16 Kcal Farinha (Mucilon Milho) – 5% = 6 g = 22,6 Kcal // VET = 90,1 Kcal 6. No de mamadeiras/ dia: 451Kcal / 84,6 Kcal/ mamadeira = 5,3 ~ 5 mamadeiras/ dia (contendo 80ml de leite integral, 40ml de água, 4 medidas de açúcar e 6 medidas de Mucilon de milho). Leite de vaca Forma de preparo e administração da fórmula - Devem ser preparadas antes de servidas; - Os bicos não devem ser alargados; - A criança não deve consumir a fórmula sozinha – risco de engasgo e sufocamento; - Se armazenadas – no máximo 24h na geladeira; - Desprezar restos de fórmulas; - Panelas, colheres e recipientes - uso exclusivo para o preparo da fórmula. - Utensílios devem ser esterilizados (bicos, mamadeiras) seguindo a seguinte regra: - Lavar com água quente e detergente com auxílio de uma escova; - Ferver mamadeiras por 10 minutos e bico por 3 minutos; - Escorrer, deixar secar naturalmente e guardar em pote com tampa. Esquema de alimentação complementar ao LV (Dan, Accioly) - A criança alimentada com fórmulas lácteas caseiras deve ter a introdução de novos alimentos mais cedo atender necessidade de vitamina C e A; - Ao 2º mês deverá ser introduzida 1 fruta; - A 1ª refeição salgada somente a partir do 4º mês devido à imaturidade do TGI do lactente. A papa salgada poderá conter gema de ovo para aumentar o aporte calórico e de Ferro. Esquema de alimentação complementar ao LV (10 Passos para Alimentação Saudável, MS) Menores de 4 meses De 4 a 8 meses Após 8 meses Após 12 meses Alimentação láctea Leite Leite Leite e fruta ou cereal ou tubérculo Alimentação láctea Papa de fruta Fruta Fruta Alimentação láctea Papa salgada Papa salgada ou refeição básica da família Refeição básica da família Alimentação láctea Papa de fruta Fruta Fruta ou pão simples ou cereal ou tubérculo Alimentação láctea Papa salgada Papa salgada ou refeição básica da família Refeição básica da família Alimentação láctea Leite Leite Leite 6 Considerações em caso de uso do LV 2 meses: suplementação com vitamina C (30mg/ dia) – suco de fruta ou medicamentoso 2 a 3 meses: suplementação com Ferro (1 a 2mg/ Kg/ dia) até que a alimentação complementar seja introduzida e supra as necessidades. Se a criança estiver recebendo fórmula infantil industrializada, não há necessidade de suplementação com Ferro e vitaminas, pois já são suplementadas.