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1 DOENÇAS CÍSTICAS DO RIM: Os tumores do rim representam cerca de 2 a 3% de todos os tumores malignos no adulto, com frequente acometimento de pacientes entre 50 e 70 anos. Trata-se do câncer urológico mais letal, com aproximadamente 35% dos pacientes falecendo da doença em 5 anos. No Brasil, o risco de desenvolver câncer de rim é de 1 em 63 pessoas (1,6%), o qual é maior em homens que em mulheres. Esses tumores podem ter origem parenquimatosa ou de via excretora (pelve renal), além de ser sólidos, císticos ou mistos (complexos), malignos ou benignos, primários ou metastáticos, simples ou múltiplos e uni ou bilaterais. TUMORES RENAIS BENIGNOS: Os tumores benignos podem originar-se de qualquer um dos múltiplos tipos celulares que compõem o rim. Os mais comuns são o cisto cortical simples, o angiomiolipoma, o oncocitoma e o adenoma, e, raramente, o leiomioma, o lipoma, o hemangioma e os tumores das células justaglomerulares. CISTOS SIMPLES: Talvez, os cistos renais simples sejam as lesões renais benignas mais comuns, ocorrendo em cerca de 25% da população. Além disso, são mais frequentes em pacientes acima de 50 anos e em homens. Aproximadamente 65 a 70% das massas renais incidentais são cistos simples, na sua maioria sem significado clínico. Podem ser únicos ou múltiplos e uni ou bilaterais. Em geral, o diagnóstico se realiza por meio de ultrassonografia, TC e, eventualmente, RM, confirmando a lesão em aproximadamente 98% dos casos. Apresentam-se como uma cavidade em geral arredondada, de paredes finas e revestida por epitélio cujo interior contém líquido seroso claro. Têm maior importância quando são volumosos, podendo causar sintomas clínicos como dor lombar, microhematúria e massa palpável em flanco. Em seu crescimento, podem comprimir o parênquima renal e causar certo grau de destruição tecidual, embora a função renal esteja preservada na maioria dos casos. As formas de tratamento cirúrgico, quando indicado, incluem: cirurgia aberta clássica por meio da exérese do cisto, marsupialização ou, em alguns casos, a nefrectomia parcial ou total; abordagem por técnicas videolaparoscópicas e robótica, atualmente mais empregadas por sua menor morbidade e pelo maior conforto do paciente; e, finalmente, a punção percutânea com aspiração e injeção de agentes esclerosantes, como o álcool a 95%, hidroclorito de minociclina, tetraciclina, etanol a 96%, entre outros, com taxas de sucessos variáveis. TUTORIAL 09 Cisto simples de polo renal superior observado na ultrassonografia 2 ANGIOMIOLIPOMA: Também denominados hamartomas, trata-se de tumores mesenquimais benignos constituídos de tecido muscular liso, vasos sanguíneos e tecido adiposo, que representam cerca de 3% dos tumores renais sólidos. Acometem com maior frequência mulheres entre a 5ª e a 6ª década da vida, tendendo a ser solitários e unilaterais em 80% dos casos. Em cerca de 20% das vezes, estão associados à esclerose tuberosa, doença de caráter familiar e hereditária, que se caracteriza por retardo mental, epilepsia e adenoma sebáceo. Em geral, as manifestações clínicas da doença são escassas, cursando eventualmente com quadro de dor lombar, massa palpável em flanco, hipertensão arterial e hematúria, observada em cerca de 30% dos casos. Na presença de tumores grandes, acima de 4 cm, a ruptura pode levar a profuso sangramento, com formação de grande hematoma retroperitoneal, e, por vezes, ao choque hipovolêmico. A grande maioria, no entanto, é assintomática e diagnosticada incidentalmente por meio de ultrassonografia ou TC solicitadas por motivos outros que não a patologia renal. Esses exames de imagem revelam frequentemente a natureza da lesão com bastante eficácia. A ultrassonografia pode demonstrar área hiperecogênica e bem-delimitada, enquanto a TC revela áreas hipodensas, representadas pelo alto teor de gordura característica dos angiomiolipomas. Esses sinais radiológicos, contudo, não são específicos e requerem cautela quanto à sua interpretação. O tratamento dessas lesões está diretamente relacionado com o tamanho do tumor e as suas manifestações clínicas. Os tumores pequenos tendem a causar menos sintomas e, em geral, são acompanhados clinicamente por meio de exames de imagem anuais. Nos tumores grandes, a possibilidade de sangramento e dor lombar pelo volume tumoral é maior, exigindo, com frequência, alguma forma de terapia. Em pacientes sintomáticos e na vigência de sangramento, empregam-se condutas mais agressivas, por meio de embolização do tumor, nefrectomia parcial ou total. ONCOCITOMA: Esse tumor do córtex renal é comumente detectado de modo incidental em estudos radiográficos, representando cerca de 3 a 7% dos tumores renais sólidos. Normalmente solitários e unilaterais, podem, no entanto, acometer os dois rins. Em geral, são pequenos e assintomáticos; contudo, hematúria, massa em flanco e dor abdominal podem estar presentes. Enquanto os oncocitomas esporádicos são geralmente unilaterais, oncocitomas únicos, múltiplos e bilaterais têm sido descritos em pacientes com complexo de esclerose tuberosa (TSC). Comumente, empregam-se ultrassonografia, TC, RM e angiografia na tentativa de detectar sinais sugestivos da lesão. Em geral, apresenta-se como uma massa bem-delimitada, encapsulada, de ecogenicidade homogênea, podendo revelar, à TC, imagem central de baixo padrão de atenuação que corresponde a uma área de fibrose com aparência de estrela conhecida como sinal da cicatriz. A fase arterial da angiografia pode revelar uma configuração típica dos vasos em “roda de carroça” ou fístulas arteriovenosas. Esses sinais, no entanto, não são patognomônicos dos oncocitomas e podem ser identificados também no carcinoma de células renais. O aspecto macroscópico dos oncocitomas é bastante característico. Apresentam-se, em geral, com coloração castanho-escura com cápsula fibrosa bem-definida e, por vezes, uma pseudocápsula que preserva 3 o parênquima renal adjacente. Não se evidenciam áreas de hemorragia ou necrose, porém bandas fibrosas densas de tecido cicatricial no centro da lesão são típicas. Microscopicamente, esses tumores compõem-se de uma população pura de oncócitos, que são grandes células neoplásicas, bem diferenciadas, com citoplasma granular e eosinofílico com grande número de mitocôndrias. A nefrectomia é, ainda, o método mais seguro de terapia para os oncocitomas renais, em virtude da dificuldade de diagnóstico preciso nos exames complementares. Deve-se considerar nefrectomia parcial se factível, principalmente em situações especiais nas quais a cirurgia radical está contraindicada (rim único, função renal global prejudicada) ou em tumores pequenos, bem-delimitados, menores que 4 cm e confinados a um dos polos do rim. ADENOMA: O adenoma cortical constitui a lesão parenquimatosa renal benigna mais comum e tem sido motivo de discussão quanto à sua real natureza e comportamento. Atualmente, são consideradas adenomas as neoplasias com padrão papilar e grau nuclear baixo. Sabe- se, no entanto, que raramente se identificam esses tumores quando pequenos e que são observados principalmente em achados cirúrgicos ou estudos de necropsia. Os adenomas são também relativamente frequentes em pacientes submetidos à hemodiálise. Raramente ocasionam sintomas, sendo a hematúria a manifestação clínica mais comum, principalmente em virtude da invasão tumoral do sistema coletor ou dos vasos adjacentes. Tumores de 1 a 3 cm são considerados carcinomas com baixo potencial de malignidade e representam um dilema quanto à sua abordagem. Ressecção parcial ou nefrectomia radical permanecem ainda como alternativas de tratamento, devendo suas indicações ser avaliadas individualmente. Quando maiores, são de difícil diferenciação com o adenocarcinoma renal, situação na qual devem ser sempre tratados como tais. TUMORES RENAISMALIGNOS: CARCINOMA DE CÉLULAS RENAIS: Epidemiologia: Também chamado de adenocarcinoma renal, o CCR constitui cerca de 80 a 90% dos tumores renais malignos nos adultos, sendo raro na infância e na adolescência (menos de 1%). A maior incidência se dá entre os 50 e os 70 anos de idade, com predominância no sexo masculino na proporção de 2:1. Os CCR compreendem cerca de 3,8% de todos os novos casos com idade média ao diagnóstico de 64 anos. Dos tumores renais, 90% são CCR, e destes, aproximadamente, 80% são células claras. Cerca de 10% dos pacientes com insuficiência renal avançada tratados com hemodiálise ou transplante desenvolvem CCR, evento 2.500 vezes mais comum nesses casos do que em indivíduos com função renal normal. Essa tendência, que se associa ao aparecimento concomitante de cistos renais múltiplos em cerca de 45% dos casos, apresenta algumas peculiaridades passíveis de identificação: Os tumores parecem originar-se de lesões inicialmente císticas; 4 Esses tumores podem ter comportamento agressivo, com aparecimento de metástases em 6% dos casos; Os tumores tendem a ser múltiplos e bilaterais; A neoplasia é diagnosticada em pacientes submetidos à diálise por períodos que variam de 3 a 8 anos (média de 3,6 anos); Os cistos e, consequentemente, os tumores parecem originar-se de substâncias não dialisáveis acumuladas após a instalação da insuficiência renal, o que pode favorecer a identificação de fatores implicados na gênese dos carcinomas renais. Etiologia: O CCR tem origem nos túbulos contornados proximais, a mesma célula que origina os adenomas renais. O tabagismo representa a maior causa isolada de câncer renal. Exposição aos compostos com arsênico nas indústrias ou ingestão de água contaminada pelo agente elevam o risco de câncer renal em 30%. A doença renal avançada, que torna necessária a diálise, também aumenta o risco de CCR. A hipertensão predispõe ao desenvolvimento de CCR, o que parece independer de medicamentos anti-hipertensivos ou da obesidade. Patologia: Os CCR são normalmente arredondados, variando de tamanho desde poucos centímetros até o preenchimento quase completo do abdome. Na maioria das vezes, são sólidos, fazendo saliência na superfície do rim, em geral em um dos polos. Com frequência, não apresentam uma cápsula histológica verdadeira, porém são envoltos por uma pseudocápsula composta de parênquima comprimido e tecido fibroso. Após secção do tumor, encontram-se áreas de necrose e hemorragia interpostas por tecido de aspecto amarelado ou pálido. Não raramente, múltiplos cistos são observados, provavelmente como resultado de necrose segmentar e reabsorção. O sistema coletor é geralmente deslocado, podendo ser invadido. Células de vários tipos podem ser encontradas em um mesmo tumor, e as mais frequentes apresentam citoplasma abundante (células claras) e núcleo excêntrico, lembrando túbulos renais; podem, todavia, ser completamente indiferenciadas 5 Biologia molecular e Imunologia: O CCR acontece em duas formas: uma esporádica e uma familiar ou hereditária (menos frequente). Cerca de 4% dos carcinomas renais têm um componente hereditário. O comportamento biológico do carcinoma renal apresenta duas características que devem ser destacadas. Em primeiro lugar, têm-se relatado regressões espontâneas parciais ou completas. Isso sugere a existência de uma participação importante do sistema imune na gênese, no controle da evolução e na progressão desses tumores. História Natural Cerca de 30% dos pacientes com CCR apresentam-se com metástases a distância quando do diagnóstico, comportamento relacionado com o tamanho do tumor. Metástases são encontradas em 8% dos casos com tumores de diâmetro igual ou inferior a 5 cm e em 80% dos casos com tumores de mais de 10 cm de diâmetro. Os tumores maiores e mais agressivos podem causar invasão local, propagando-se diretamente às estruturas vizinhas, como o duodeno e o diafragma. Via hematogênica, atingem com maior frequência os pulmões (40 a 60%), o fígado (30%) e os ossos longos (20 a 30%). Via linfática, podem comprometer os linfonodos lombares junto aos grandes vasos (20 a 35%). O crescimento do tumor no interior da veia renal não é raro (10 a 30%), podendo atingir a veia cava e até mesmo o coração. 6 De maneira geral, esses tumores tendem a crescer lentamente, pelo grande tempo de duplicação de suas células. A sobrevida depende basicamente da extensão da doença no momento do diagnóstico, variando entre 60 e 80% nos tumores localizados e entre 0 e 10% nos tumores metastáticos (sobrevida de 5 anos). Diagnóstico: Quadro Clínico: Nas fases iniciais, o CCR não apresenta sintomas e sinais característicos, dificultando o diagnóstico precoce. Atualmente, é mais comum um achado incidental em exame clínico de rotina, cirurgias abdominais ou exames para outras finalidades. Hematúria, microscópica ou macroscópica, representa a principal manifestação clínica e é observada em 60% dos pacientes. Geralmente, não é acompanhada de dor e outros sintomas miccionais. Pode ser contínua, mas, na maioria das vezes, é intermitente, levando, nos intervalos, à falsa impressão de cura do processo. Surge dor lombar em aproximadamente 40% dos casos, comumente tardia. A dor é sentida no ângulo costovertebral, motivada pela distensão da cápsula renal, podendo haver quadro de cólica nefrética pela passagem, ao longo do ureter, de coágulos ou restos necróticos do tumor. Massa palpável no flanco é achado menos frequente (25 a 30%) e difícil de detectar, principalmente em obesos. Está associada a tumores em polo renal inferior, sendo uma massa geralmente firme, homogênea e que se movimenta com a respiração. A tríade clássica do carcinoma renal – dor lombar, hematúria e massa renal palpável – é encontrada em somente 10% dos casos e, quando presente, indica doença avançada. Emagrecimento também é um achado comum, ocorrendo em 28% dos pacientes. Observa-se varicocele aguda geralmente do lado esquerdo, em até 11% dos casos em homens com CCR. Sua presença reveste-se de grande importância, pois indica extensão neoplásica e trombose da veia renal ou da veia cava inferior. Manifestações paraneoplásicas são encontradas em cerca de um terço dos casos de CCR e resultam da secreção de polipeptídios e fatores humorais pelo tumor. Exames Laboratoriais: Não existe nenhum exame que seja patognomônico e marcador tumoral. O hemograma pode mostrar eritrocitose; anemia acentuada ocorre nas fases adiantadas da doença. A velocidade de hemossedimentação (VHS) está elevada em cerca de 75% dos casos. Hipercalcemia está geralmente associada à presença de metástases. Proteína C reativa e desidrogenase láctica (DHL) encontram- se elevadas em cerca de 30% dos pacientes. O exame de sedimento urinário pode mostrar presença de hemácias. Exames de Imagem: Adquiriram importância fundamental no diagnóstico precoce do CCR e, consequentemente, alteraram seu prognóstico. 7 A ultrassonografia representa um método não invasivo, pouco oneroso e útil para diferenciar lesões císticas das sólidas. Os critérios ultrassonográficos para diagnóstico de cisto simples incluem ausência de ecogenicidade no interior, parede lisa e bem-delimitada, além de forma arredondada. Quando houver dúvida ou alguns desses dados não forem encontrados, dever-se-á realizar TC para melhor avaliação da lesão. A TC de abdome é o método de escolha para demonstrar a natureza da lesão expansiva e auxiliar no estadiamento do tumor, exibindo eventual acometimento linfático, venoso e de estruturas vizinhas, como comprometimento de suprarrenal, além de avaliar a função e a morfologia do rim contralateral. A ressonância tem importância pois avalia a invasão neoplásica da veia renal e da cava inferior.Além disso, apresenta maior precisão para detectar tumores de polo superior do rim direito, visto que a TC, por vezes, não define precisamente a existência de infiltração hepática. Diagnóstico Diferencial: O principal diagnóstico diferencial se dá com o cisto seroso simples, que geralmente pode ser identificado com auxílio da ultrassonografia. Abscesso intrarrenal também pode simular tumor, porém, nesse caso, há presença de febre, dor lombar e leucocitúria, e outras neoplasias. Estadiamento: O estadiamento da lesão é útil para definir a extensão da neoplasia, tornando-se importante no planejamento terapêutico e no prognóstico do paciente. Para estadiamento clínico, além da anamnese, do exame físico e de TC de abdome, deve-se solicitar radiografias de tórax, provas de função hepática e cálcio sérico. 8 Tratamento: O planejamento terapêutico nos casos de CCR é feito principalmente em razão do estadiamento clínico da lesão. Cerca de 70% desses casos apresentam-se inicialmente em estádios I, II e 30% nos estádios III e IV. A cirurgia permanece como único método efetivo de tratamento do carcinoma renal primário, pois esses tumores são caracteristicamente resistentes à radioterapia e à quimioterapia, devendo o objetivo desse procedimento ser a excisão completa da lesão com margem cirúrgica adequada. Nos tumores localizados ou localmente avançados (estádios I, II e III), o tratamento indicado corresponde à nefrectomia, podendo ser radical (NR), incluindo a ressecção em bloco do rim, gordura perirrenal, fáscia de Gerota e adrenal, ou parcial (NP). A indicação para a linfadenectomia (LND) com a NP ou NR ainda é discutida. Do ponto de vista técnico, a NR pode ser realizada por meio de diferentes vias de acesso. A incisão varia de acordo com o tamanho e a localização do tumor, o tipo físico do paciente e a preferência do cirurgião. A lombotomia é utilizada quando a lesão tem menos de 5 cm de diâmetro e nos pacientes com maior risco cirúrgico. A incisão transperitoneal anterior (mediana, subcostal ou Chevron) representa a melhor forma de abordar as neoplasias renais, pois possibilita a inspeção completa de todo o abdome, bom campo cirúrgico para ligadura precoce da artéria e da veia renal, realização de linfadenectomia e remoção segura de um possível trombo na veia cava inferior. A toracofrenolaparotomia é indicada para lesões volumosas e/ou invadindo a veia cava inferior com extensão além das veias supra-hepáticas. Existem algumas variações de técnica cirúrgica, dependendo do lado do tumor. Em caso de NR esquerda, deve-se ter cuidado especial com o baço e o duodeno (no momento da dissecção medial do cólon) e atentar às veias gonadal, adrenal e lombares (durante dissecção da veia renal). Em caso de nefrectomia direita, deve-se ter cuidado especial com o fígado, as veias hepáticas e a vesícula biliar durante a dissecção medial do cólon. Atualmente, as técnicas minimamente invasivas têm ganhado cada vez mais espaço, tornando-se as técnicas cirúrgicas mais utilizadas. Estudos demonstraram que na NR laparoscópica (VLP) × NR aberta, foram encontrados resultados oncológicos semelhantes, sendo que, na primeira, o tempo de internação hospitalar, 9 a necessidade de analgesia mais potente, o sangramento intraoperatório e o tempo de convalescência foram significativamente menores. Atualmente, a maioria dos autores indica NP para pacientes com tumores ≤ 7 cm (T1b) e para aqueles em risco de perda significativa da função renal se tecnicamente viável. CÂNCER RENAL AVANÇADO: Nefrectomia: Também denominada cirurgia citorredutora, na presença de tumor de rim metastático, é indicada em casos selecionados no tratamento dos sintomas locais, como dor e hematúria, melhora na qualidade de vida e, como demonstram estudos mais recentes, parece melhorar a resposta ao tratamento sistêmico. A nefrectomia isolada como forma de tratamento da doença metastática resulta em resposta pouco significativa quando relacionada com a sobrevida do paciente. Seu papel parece ser mais bem observado quando seguida de agentes sistêmicos, como a imunoterapia e os agentes antiangiogênicos. Pacientes com metástases ressecáveis, com bom desempenho físico, sem comorbidades significativas, são candidatos à cirurgia citorredutora. A nefrectomia deve ser considerada quando houver o benefício no aumento de sobrevida e em pacientes candidatos para terapia sistêmica antes ou depois da cirurgia. Tratamento Molecular do Câncer Renal: Cerca de 30% dos pacientes com câncer renal localizado apresentarão recorrência e progressão da doença, necessitando de terapias adicionais. A classificação de risco, baseada nos critérios do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (MSKCC), avalia a ocorrência de cinco fatores adversos: estado clínico geral do paciente; nível sérico da DHL; cálcio sérico; [Hb] menor que o normal; e nefrectomia prévia. Com base na presença ou ausência desses fatores prognósticos, classifica-se se o paciente tem prognóstico favorável, intermediário ou desfavorável – orientando, desse modo, a melhor escolha terapêutica no paciente metastático. A imunoterapia confere uma pequena, mas significativa sobrevida geral no CCR metastático, ainda que em somente uma minoria dos pacientes, isto é, em 20% daqueles com bons fatores prognósticos. A imunoterapia com doses elevadas de interleucina 2 (IL-2) pode induzir remissões duradouras em longo prazo em aproximadamente 10% dos pacientes, no entanto seu uso requer um centro especializado, pela alta toxicidade decorrente do tratamento. Essa nova modalidade de tratamento, que se denomina terapia-alvo, conta com agentes com propriedades antiangiogênicas, incluindo os inibidores de pequenas moléculas-alvo e o anticorpo monoclonal bevacizumabe. Esses agentes têm demonstrado atividade antitumoral e se tornado a terapia-padrão para muitos pacientes. Controle de Cura: Até o momento, não foram identificados marcadores específicos para o CCR. No entanto, em alguns pacientes surgem alterações como aumento dos valores de hemossedimentação, elevação de DHL, de proteína C reativa e de alguns hormônios (eritropoetina, renina) ou hipercalcemia. A remoção completa do tumor deve 10 acompanhar-se de normalização dessas alterações, e dosagens pós-operatórias repetidas desses marcadores podem indicar precocemente persistência ou recorrência da doença. Os locais mais frequentemente envolvidos por recorrência tumoral após o tratamento inicial são o pulmão, a loja renal, os ossos, os linfonodos mediastinais e o fígado. Por isso, os pacientes com CCR tratados devem ser submetidos à avaliação semestral nos primeiros 5 anos e, posteriormente, à avaliação anual. Prognóstico: A sobrevida de 5 anos é de 65% para todos os estádios – 89% em doença localizada, 62% em doença com extensão regional e 9% em doença metastática. SARCOMAS: Constituem cerca de 2 a 3% dos tumores malignos do rim. Em geral, originam-se do seio ou da cápsula renal, diferentemente dos CCR, de origem parenquimatosa. Entretanto, as manifestações clínicas podem ser bastante semelhantes entre esses tumores. Dor lombar, massa palpável em flanco e hematúria são sintomas frequentemente observados. Os tipos histológicos mais frequentes são fibrossarcoma, lipossarcoma, hemangiopericitoma e leiomiossarcoma, cujo comportamento biológico é, em geral, extremamente agressivo, de crescimento rápido e prognóstico reservado. A TC pode ser útil para avaliar se a massa renal tem origem no parênquima, na cápsula ou no seio renal. Pode-se observar densidade de gordura nos lipossarcomas, porém com frequência apresenta-se com densidade de tecidos moles. A ausência de linfonodomegalia retroperitoneal em paciente com grande massa renal é também mais sugestiva de sarcoma que de carcinoma. A cirurgiaradical é o único método potencialmente curativo de tratamento desses tumores. Embora recorrências local e a distância sejam comuns, pode-se obter significativa sobrevida somente com a ressecção completa desses tumores. TUMOR DE BEXIGA: INTRODUÇÃO: O principal tumor de bexiga e vias urinárias é o carcinoma de células transicionais, sendo que 90% desses tumores ocorrem na bexiga, 8% na pelve renal e 2% no ureter e uretra proximal. EPIDEMIOLOGIA: Acomete principalmente os homens (5 homens para 2 mulheres), tendo uma prevalência aumentada acima dos 60 anos, com surgimento de casos entre os 40. Além disso, outros fatores de risco para carcinoma são: Raça branca; Tabagismo; Abuso de analgesicos derivados de fenacetina; Cistites crônicas; Cálculo vesical; Ciclofosfamida; 11 Exposição a tintas artificiais; Exposição industrial a aminas aromáticas. PATOLOGIA: A maioria dos cânceres de via urinária se apresentam como tumores superficiais, não tendo invasão muscular, sendo só 20% músculo-invasivos que se infiltram na camada muscular própria do músculo detrusor. Desses, 5% evoluem para metástase, se disseminando por contiguidade através de vias linfáticas e hematogênicas, criando metástase no fígado, pulmões e ossos geralmente. Além disso, esses tumores podem crescer com formatos diferentes, podendo ser papilar, planos ou séssil (lesão sólida), tendo relação com o prognóstico. QUADRO CLÍNICO: A manifestação principal é a hematúria macroscópica indolor, podendo estar associada a disúria, polaciúria e urgência urinária. Deve-se pensar em neoplasia vesical na presença de massa sólida palpável e falha no enchimento em exames de imagem. ESTADIAMENTO: Baseia-se na extensão do tumor T, acometimento de linfonodos N e metástase à distância M. 12 DIAGNÓSTICO: É realizado com um exame de Imagem (TC ou USG) de vias urinárias que permite a visualização tanto o enchimento vesical, quanto da existência de infiltração de estruturas adjacentes. Porém o diagnóstico é confirmado somente com a Cistoscopia com biópsia, em que um endoscópio entra pela uretra e vai até a bexiga, onde é feita uma inspeção da mucosa vesical e retirada de múltiplos fragmentos vesicais (alcançando até a musculatura própria) para realização da histologia. Obs: Para investigar se há metástase pode ser usado o Raio-X de tórax e a cintilografia óssea em caso de sintomas TRATAMENTO: É dividido conforme a classificação do tumor. Tumores Superficiais (Ta, TIS e T1): Possuem altas taxas de cura, sendo o tratamento baseado na ressecção transuretral via cistoscopia junto da terapia intravesical, que consiste em uma injeção local de quimioterápicos ou imunomoduladores para tumores solitários e de baixo grau. o Em caso de recidiva, é indicada a cistectomia. Tumores Localmente Invasivos (T2/3): A conduta é a Cistectomia Radical com Quimioterapia Pré-operatória (MVAC) e Pós-operatória para pacientes com altas chances de recidiva. Além da retirada da bexiga, retira-se também a próstata, vesículas seminais, vasos deferentes e uretra proximal no homem. Enquanto nas mulheres retira-se a uretra, útero, trompas, ovários e parede vaginal. Além disso os linfonodos são retirados previamente e biopsiados, no caso de metástase, a cistectomia é completa. Nesse caso o cirurgião cria uma nova “bexiga” com parte do íleo do paciente pela técnica de Suter (Neobexiga Ortotópica) ou de Bricker (neobexiga heterotópica – bolsa ü). Tumor Metastático (T4 e T5): Se baseia na quimioterapia sistêmica isolada com Gencitabina + Cisplatina ou M-VAC.